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Dolores está na parte de trás do bar onde há o que parece ser um enorme jardim em formato circular repleto de uma pitoresca planta rasteira com folhas verdes e flores em formato de sino de coloração amarelo-bordô, quase lilases. A planta tem ainda pequenas formações que parecem pequenos ouriços do mar.
Dolores, ou a coisa que está possuindo seu corpo está parada no meio da planta e uma coisa está acontecendo.
Dionísio e Fernando estão vendo luzes vermelhas e amarelas pairando no ar ao redor dela. Os olhos do doutor brilham de euforia, uma euforia que Dionísio não sabe que ele está sentindo.
O rapaz se aproxima lentamente. Todo seu corpo estremece, como se estivesse muito frio.
As lâmpadas ao redor começam a piscar até apagarem completamente, jogando o ambiente ao redor na plena escuridão. A única claridade agora provém da estranha luz que rodeia Dolores.
Dionísio olha para o doutor Fernando e esse faz sinal o encorajando a prosseguir. Ele respira fundo e avança. Tremendo de medo, para a uns dois metros de Dolores.
— Do...Do... Dolores.
Dolores olha para ele, mas aquela não é mais sua namorada. O rosto meigo e lindo de Dolores foi substituído por uma máscara bizarra e macabra. Os olhos são vermelhos como sangue, as veias saltam da pele e ele consegue ver o coração roubado de Dolores bombeando o sangue freneticamente através delas.
Dionísio dá um passo para trás.
— Homlezh. Mhe zaclifizith! - Diz a coisa e sua voz é tenebrosa, embargada de malignidade.
Naquele momento Dionísio sabe que não há mais salvação para sua amada, ele pondera que talvez a única solução para ela agora é o descanso da morte.
Dionísio olha para trás esperando ver o doutor. Seus olhos se arregalam. Ele leva uma pancada na cabeça e mergulha na escuridão.
💀
Osório e Viana chegam na segurança das viaturas. Um grupo de policiais entrou no bar quando eles saíram. Eles tentaram impedí-los mas já era tarde. Eles ainda podem ouvir os gritos vindos de dentro do bar onde o terror agora reina.
Seu pé está latejando, ele está exausto, e tremendo de medo. Alguma coisa terrível está acontecendo, mas ele não tem ideia do que possa ser.
Viana, nas mesmas condições, após reunir fôlego, pergunta:
— O que ... O que vamos fazer?
Osório olha para o bar no momento em que as lâmpadas se apagam. A única claridade advém agora da tênue luz do luar que reincidi sobre a noite. Mas lá no fundo do terreno, provavelmente atrás do prédio, há uma forma bruxuleante e estranha de claridade.
— Pegue a porra do rádio. Chame reforços e chame uma ambulância também.
— Onde você vai?
— Vou ver uma coisa ali.
Osório abre sua viatura e pega uma espingarda calibre 12, procura uma lanterna no porta-luvas e acha uma bem velha. Ela é tão velha que ele acha que não vai funcionar, e de fato não funciona.
— Mas que puta que pariu! Tem uma lanterna aí Douglas?
Viana balança a cabeça.
— Bosta!
Osório pensa em uma solução.
Ele vê um pedaço de pau caído no chão e o pega. Abre o porta-malas de sua viatura velha e pega uma mangueira e um galão de gasolina surrado.
Pega a chave do veículo e abre a tampa do tanque de combustível. Enfia a mangueira lá dentro e suga.
O resultado: ele engole um pouco de gasolina.
A coisa desce queimando por sua garganta e o faz tossir.
— Filho da puta! Caralho!
Osório cospe. Pensa que terá uma queimação terrível em breve, mas por hora está concentrado em outra coisa.
Consegue tirar um pouco de gasolina. Ele tira o casaco que está usando e rasga um pedaço. Enrola na ponta do pau e molha com gasolina. Tira seu isqueiro do bolso e acende. Agora ele tem uma tocha.
Olha para Viana e diz:
— Chame reforços. Eu já venho.
Osório começa a caminhar.
💀
Dionísio abre os olhos e tenta falar, mas um terrível cheiro de bosta o faz tossir. O cheiro entra por suas narinas e o faz engasgar.
Ele experimenta um momento de horror. Tenta se mexer e percebe que está amarrado.
Dionísio olha para a frente e seus olhos saltam da órbita. O que ele vê é bizarro, ele queria morrer sem ver aquilo, ele deseja que alguém ali lhe arranque os olhos.
O Doutor Fernando está pelado, nu em pêlos. O pênis murcho se sobressai em meio a uma floresta de pêlos pubianos, e ele está cagando. Por Deus! Ele está cagando! Ver aquilo é ainda pior que o cheiro de bosta. Aliás, de onde vem aquele cheiro de bosta? Ele pondera e então percebe que vem dele mesmo. Dionísio percebe que está coberto de bosta humana dos pés à cabeça. Ele olha para a frente e vê que o doutor continua defecando e está passando a merda toda no próprio corpo. A coisa é horrenda demais, seu estômago não aguenta e Dionísio, começa a vomitar. Uma aflição tenebrosa toma conta de si e por um momento ele pensa que vai morrer.
Então o doutor Fernando olha para ele. Mas aquele não é o arqueólogo que ele conhece, aquele é um homem dominado pela loucura, o olhar insano enche Dionísio de agonia.
— Dionísio, você acordou!
— O que... O que está... Fazendo ...dou... Doutor?! Cof cof cof.
— Me desculpe por isso. Desculpe mesmo. Não é nada pessoal. Mas é necessário, em nome de um bem maior! Isso que está acontecendo é um feito histórico sem precedentes.
— Por que... Estou amarrado?!
— Precisamos de alguém para o sacrifício, Dionísio. A merda é necessária porque representa a imundícia do pecado, e Tlazoltéotl veio purificar os pecados, a comedora de imundície! Ela vai purificar os pecados do mundo, Dionísio, e isso graças a você. Você deve ver isso como uma benção, meu jovem! Seu sacrifício trará a deusa ao mundo!
Dionísio pôde ver que o doutor está completamente louco, e se não fizer alguma coisa vai morrer bem ali, e o pior, coberto de bosta.
Começa uma luta intensa pela sobrevivência. Dionísio tenta desesperadamente se soltar.
Doutor Fernando agora está munido do que parecia ser um livro antigo.
Dionísio olha para onde Dolores está e vê que ela está abaixada comendo um monte de excremento.
— Oh meu Deus! Dolores!
O doutor abre o livro e começa a falar naquele idioma estranho:
— Oh Tlazoltéotl. Vezgh cetlenga.Tlazoltéotl e delzh. Tlazoltéotl zenhoh dh imetlh. Oh Tlazoltéotl!
Alguma coisa começa a acontecer e Dionísio começa a gritar. As luzes que estão ao redor de Dolores ficam intensamente brilhantes e no meio delas Dionísio consegue ver uma coisa bizarra, hedionda e indescritível. Dolores desapareceu, o que existe agora é aquela coisa imunda, profana. A coisa assemelha-se a algo que mistura aranha e serpente. A cabeça daquilo fica onde deveria estar a vagina de Dolores.
Dionísio está gritando e o doutor também:
— Isso, minha deusa! Venha ao mundo! Receba o sacrifício, senhora da depravação, comedora de toda devassidão humana! Venha Tlazoltéotl...
É quando um forte estampido é ouvido. Dionísio vê a cabeça do doutor explodir. O corpo cai como um tolete de bosta. Dionísio olha para trás e vê Osório, o policial. Ele está segurando uma enorme espingarda e uma tocha, os olhos vidrados de horror.
— Ave Maria, cheia de graça! - Grita ele. - Volta para o inferno demônio!
Osório atira a tocha e imediatamente a coisa que antes era Dolores começa a queimar.
Dionísio grita não mas já é tarde. Ele vê a calcinha vermelha virar uma tocha, queimando aquela horrenda coisa, e com ela Dolores.
— Não! Dolores! Meu Deus! Não!
Mas agora não há mais nada a fazer.
💀
Osório se aproxima de Dionísio que está caído no chão no meio de um monte de bosta. Ele faz cara feia, o cheiro daquela merda toda é de embrulhar o estômago.
Ele acende um cigarro e pergunta:
— Você está bem meu chapa?
—Sim. - Responde Dionísio com uma certa dificuldade. - Me desamarra.
— Nem fodendo.
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