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16☕Nem todos os sorrisos são eternos

Betado por ephemerar



Keanu Reeves — um dos atores favoritos de Jungkook — disse, provavelmente em algum programa de televisão norte-americano, que se um homem pode fazer uma mulher rir, então ele estará tendo a oportunidade de contemplar a coisa mais linda já vista em toda a terra de Deus...

Jungkook fez a manobra com o Chevrolet Onix, estacionando-o com cuidado na vaga destinada aos funcionários de sua cafeteria e desafivelou o cinto de segurança. A frase dita pelo ator veio em sua mente como um clarão repentino, quase tão forte quanto o raio que corta o céu durante uma tempestade tropical, assim que Kang Haeyon, ao seu lado, abriu a porta do carona ainda sem conseguir conter a crise de risos que lhe invadiu abruptamente há algum tempo atrás.

E tudo porque o carro de Jungkook ficara sem gasolina e ele havia esquecido o celular em sua residência, consequência da estúpida pressa para chegar ao Burket's. O aparelho de Haeyon estava descarregado — já que ela havia conectado o carregador ao celular, mas esqueceu-se de colocá-lo na tomada —, fazendo com que ambos viessem a ficar quase vinte e cinco minutos exatos parados em um acostamento qualquer. Foram longos e árduos minutos de procura por uma alma caridosa que pudesse lhes emprestar um celular com bônus para ligações de voz para que se comunicassem com algum posto de gasolina.

Certo, na hora a situação toda havia sido extremamente constrangedora na presença dela, porque como se já não bastasse a falta de combustível — algo que nunca havia lhe acontecido desde que fora aprovado nas aulas de direção —, Jungkook ainda tivera o desprazer de presenciar os olhares desagradáveis que o funcionário do posto lançava discretamente para a silhueta traseira de Haeyon, porém indiscretamente para ele. Afinal, Jungkook era homem, e apesar de isso ser meio errado, ele sabia muito bem como funcionavam essas coisas. Todo o conjunto de olhadas insensíveis que alguns pervertidos lançavam quando estavam diante de qualquer mulher — atitudes que infelizmente aconteciam e muito por aí.

O rapaz disse a si mesmo que não precisava ficar totalmente bravo com aquilo. Que logo aquele homem iria embora e os dois seguiriam até o Burket's. Não era preciso sentir ciúmes. Afinal de contas, ele e Hae estavam juntos agora, e ainda que não fosse há tanto tempo quanto gostaria, sabia que deixar esse tipo de sentimento lhe dominar, apenas contribuiria para desentendimentos futuros na relação que mal haviam iniciado — formalmente pelo menos, porque Jungkook só havia sido apresentado aos pais dela como o chefe que havia levado um presente de aniversário para Ha Na, a irmã mais nova de Hae. Ainda faltava conhecê-los como Jeon Jungkook, o homem que queria algo sério com ela.

— Pelo visto essa situação toda foi uma piada pra você — disse ele.

Agora, enquanto caminhava em direção à entrada da cafeteria, Jungkook apenas entregava-se às gargalhadas de Kang, sem se preocupar em tentar adivinhar o que raios ela havia visto de tão engraçado em ficar sem gasolina logo pela manhã em uma rua estupidamente bem movimentada.

A frase dita por Reeves lhe veio à mente outra vez, e ele nunca havia escutado algo tão verdadeiro em toda a sua vida. Sem sombra de dúvidas, a satisfação de poder ver Haeyon sorrir e saber que o ato havia sido unicamente por sua causa — ainda que indiretamente, de certa forma — era um sentimento forte, vivaz, que extrapolava todas as barreiras do extraordinário humano e o fazia se sentir nostálgico, com o coração aquecido, acelerado e tomado por uma forte sensação de alumbramento que o revirava de dentro para fora, virando-o às avessas repetidas vezes de segundo a segundo.

Jeon semicerrou os olhos por um vago momento, ativando o alarme do veículo e colocando a chave no bolso frontal de sua calça. Os olhos do rapaz fitaram a face de Hae, tratando de observar cada minúsculo detalhe de seu rosto conforme ela tentava recuperar-se da crise de risos quase incessante. As maçãs do rosto da Kang que ficaram protuberantes de repente, erguendo-se minimamente, e seus olhos fechando-se por instinto junto com os lábios levemente esticados, seu semblante tornando-se algo etéreo de observar.

— Desculpa, Jungkook. Mas é que esse tipo de coisa só acontece comigo — disse Haeyon, arrumando o cabelo castanho em um espelho de formato arredondado, o qual havia retirado da bolsa bege. — Parece que tenho um imã pra essas coisas, sabe? Aconteceu tantas vezes que nem lembro mais.

Jungkook riu soprado. Ao seu lado, ele apenas limitava-se a decorar, manter intacta em sua mente a figura extraordinária que ela exibia estando distraída, envolvendo os dedos em toda a extensão de suas madeixas, alinhando-as perfeitamente no lugar, os olhos amendoados concentrados na tal arrumação, antes de voltar à posição inicial, unindo as sobrancelhas automaticamente ao vê-lo com a atenção fixa em si.

— O que foi, hein? — Franziu o cenho. — Perdeu alguma coisa?

— Só estou te admirando. — Jungkook sorriu, os lábios comprimindo-se um no outro de repente. — Observando a sua linda alma.

— Você só está falando isso porque nunca me viu acordando mal humorada em plenas seis horas da manhã e correndo como se fosse piloto de fórmula um. Tudo pra não correr o risco de perder o busão.

Jungkook levou um certo tempo para entender que busão era uma abreviação — usada comumente como gíria — da palavra ônibus, que Haeyon havia aprendido com um amigo de nacionalidade brasileira, ainda na época da faculdade. Na realidade, ele se surpreendeu ao constatar que o vocabulário dela era diversificado, repleto de expressões peculiares originárias de países americanos — era essa a parte favorita de ter amigos estrangeiros no campus.

Em pouco tempo, Jeon já havia aprendido muita coisa com Haeyon, no que dizia respeito à forte personalidade da moça.

Tudo estava correndo perfeitamente bem entre os dois até então, bem até demais, considerando as circunstâncias emocionais nas quais Jungkook sabia que a própria Haeyon se encontrava. De alguém que ainda considerava um tanto hesitante a ideia de se apaixonar novamente, ou de destruir muros para criar futuros relacionamentos.

Ele sabia que podia ser difícil para ela, assim como tinha noção de que também podia ser para si mesmo. Afinal, ambos tiveram seus relacionamentos passados totalmente frustrados e agora precisavam lidar com a ideia de redescobrir a confiança perdida apostando um no outro.

— É sério? — Ele questionou depois de um tempo, curioso sobre como seria a imagem dela ao acordar da forma apontada.

"Seria algo interessante de observar", pensou ele, mas meneou a cabeça de repente. Por algum motivo, a ocasião em que teria essa tal "visão" de Haeyon pareceu meio incorreta em sua mente.

— Claro. — Ela o olhou com incredulidade. — Você está pensando o que? Nem todo mundo nasce em berço de ouro ou tem uma vida de burguês como você, Jeon Jungkook. Eu já precisei usar muito transporte público nessa vida, sabia? Principalmente na época da faculdade. Teve uma vez em que o meu ônibus deu prego em plena segunda-feira de manhã e eu tive que andar quase uma hora até chegar na faculdade, porque só tinha dinheiro para pagar a passagem de volta. Minhas pernas doeram tanto nesse dia e eu vou te falar, nem sei como consegui voltar para casa viva depois disso.

— Eu não tive uma "vida de burguês" desde que nasci, Haeyon. Meu pai sempre me ensinou que eu devia trabalhar para conseguir ser alguém na vida, e não ficar à toa só porque tinha tudo do bom e do melhor. Apesar de ter sim uma boa condição financeira, eu não contrato pessoas para fazer a supervisão geral na abertura de uma nova cafeteria, como esta. Prefiro eu mesmo fazer isso. Quero que cada segundo do meu trabalho possa valer a pena.

Aquelas haviam sido as mais belas palavras que já tinha ouvido-o falar.

— Tenho certeza de que seu pai deve ter muito orgulho do homem que você é hoje, Jungkook. — Haeyon disse com sinceridade. — Não importa onde ele esteja agora, sei que está feliz por ter criado um homem tão bom quanto você.

— Você ainda pode conhecê-lo, de qualquer forma. Nós dois só precisamos...

Naquele instante, quando já estava prestes a adentrar o salão principal do Burket's, o ronco do motor de um veículo Renault Sandero fez Jeon cessar a fala abruptamente, como se sua voz tivesse sido desligada em um interruptor. O sorriso foi morrendo em sua face ao visualizar Namjoon saindo do veículo. Os braços do Kim encontravam-se cruzados em frente ao peito enquanto mantinha os olhos fixos em Haeyon, caminhando sutilmente em direção aos dois.

— Que cena romântica. Acho que vocês dois deviam escrever um livro de romance dramático, não acham? — Namjoon parou assim que chegou em frente a ex-namorada, os olhos castanhos sondando os dela.

Havia um sorriso desdenhoso desenhado em seus lábios, enquanto continuava a fitar Haeyon.

— Me espera lá dentro — disse Jungkook, tampouco se importando com o tom de sua voz.

O corpo da mulher ao seu lado estava tenso e suas mãos suavam gradativamente. Ela percebeu a expressão de Jeon mudar rapidamente. Seu rosto havia ganhado um ar sério, quase assustador.

— Vou ficar — contrariou Haeyon. Jungkook resolveu não insistir.

— Veio procurar confusão? — indagou, sem quebrar o contato visual com o amigo.

Namjoon apenas riu. Os fios loiros balançando e as covinhas nas bochechas tornando-se visíveis repentinamente.

— Eu não estou atrás de confusão, Jungkook. Você é quem vai estar se não ouvir o que tenho a dizer.

— Você veio até aqui para me ameaçar, hyung? É sério?

Jungkook ergueu as sobrancelhas. Era como se estivesse tentando decifrar até onde iria a coragem e a cara de pau delineada na face do Kim.

— Não resolvo meus assuntos no braço, como você provavelmente faz, Jungkook — Namjoon disse, fazendo-o lembrar da forma como o tinha "ameaçado" alguns dias atrás. — Eu tenho que trabalhar, assim como os dois pombinhos, mas só insisti em vir até aqui porque apesar de tudo, você é meu melhor amigo, Jeon, e eu preciso abrir os seus olhos enquanto há tempo. Preciso que fique alerta quanto a um assunto em particular. Daí, se você vai levar isso como uma possível ameaça, o problema é seu, não meu.

Jungkook observou-o dar de ombros, a fala final saindo através de seus lábios de forma escarniosa. O mais novo franziu o cenho, confuso e ao mesmo tempo curioso sobre qual assunto em particular ele queria tratar.

Seria aquele mais um de seus joguinhos?

— Você não está falando coisa com coisa — disse Jeon, comprimindo os lábios.

Namjoon riu, outra vez, coçando a ponta do nariz com a unha do dedo indicador.

— Tudo bem, vou direto ao ponto: você e a Haeyon não vão ficar juntos por muito tempo.

Jungkook deu um passo à frente, por instinto. Haeyon chegou a pensar que ele realmente compraria uma briga com o amigo, pois seu semblante exibia uma expressão que ela nunca havia visto até então. Ela também deu um passo à frente, ficando ao lado dele. Seu coração batia forte naquele momento.

— Espera um pouco. — A Kang meneou a cabeça. — E agora me diz por que não? Está com peso na consciência porque isso te lembra que a Sojin era minha amiga, ou incomoda o fato de que talvez eu esteja saindo com alguém bem melhor do que você?

— Não tem nada a ver com o Jungkook ser melhor do que eu. — Namjoon riu, sem ânimo. — Eu só quero deixar bem claro, para ele, que você só está tentando me deixar maluco, saindo com o Jungkook de propósito. Eu sei que você só aceitou isso, ou seja lá o que for, para tentar me atingir de alguma forma. Jungkook precisa perceber isso de uma vez e acabar logo com esse circo.

— Quem diabos você acha que eu sou, afinal? Quatro anos de namoro não foram suficientes para te fazer entender que se eu quiser fazer qualquer coisa, eu faço, e homem nenhum vai me impedir? O que te faz pensar que eu estou com ele para te causar remorso? Sua consciência pesada me assusta, sabia?

Os olhos de Haeyon faiscavam. E talvez a raiva eclodindo em seu interior fosse perceptível. No entanto, ela contou mentalmente até três e suspirou, dizendo a si mesma que precisava se acalmar. Era isso que Namjoon queria. Vê-la fora de si, com o sangue fervendo por culpa dele. Hae disse a si mesma que não lhe daria aquele gostinho. Não da forma que ele gostaria.

— Se afasta do Jungkook, Hae. — Namjoon interveio outra vez. Jungkook começava a se irritar. — Faz isso antes que você acabe magoando-o.

— O único homem que manda e desmanda em mim, é meu pai. O resto que lute, entendeu? Além do mais, eu não sei do que você está falando. Você ficou louco ou está bêbado?

— Você se acha muito esperto porque acha que pode ter alguma coisa com a Haeyon, não é? — O Kim ignorou as palavras dela como se ela tivesse falado com um completo estranho, causando mais irritação dentro da Kang. Agora, o foco de sua atenção era Jungkook. — Pois bem! Saiba que ela ainda gosta de mim. E se não gostasse, nós não discutiríamos tanto sempre que nos encontramos. Pense nisso, Jeon, a Haeyon vai voltar para mim quando se cansar de você, quando ver que você não sou eu. Quando isso acontecer, eu posso garantir que você vai repensar tudo o que acabei de te dizer, aqui e agora.

Haeyon comprimiu os lábios entre si. Ela só queria entender o porquê de Namjoon estar falando dela na terceira pessoa, agindo como se a Kang não estivesse ali. Isso a irritava mais do qualquer outra coisa, porque ele costumava tratá-la dessa mesma forma, nas brigas que ambos tinham no antigo relacionamento — causadas pelo próprio Namjoon, na maioria das vezes.

Jungkook respirou fundo, as mãos indo até o cabelo castanho e puxando os fios levemente para trás. O ar esvaiu lentamente através de seus lábios. E por fora ele parecia extremamente calmo. Mas por dentro Jeon era como um vulcão prestes a entrar em erupção.

Ele não queria ser o homem que causaria ainda mais estranhezas entre Haeyon e o ex-namorado — por mais que o próprio Kim contribuísse para isso. Jungkook ainda o tinha como amigo, apesar de sua atitude imperdoável com a própria Hae, mas ele não deixaria aquilo se tornar algo mais tóxico do que já era.

Portanto, dentre todas as coisas que podia lhe dizer, Jungkook escolheu a mais lógica e apropriada de todas elas:

— Isso não diz respeito a você.

Em seguida, seus olhos miraram os de Haeyon e retornaram até Namjoon, mil e um sentimentos distintos reverberando em seu interior. Seu peito havia retorcido de repente, ao lembrar-se das palavras do Kim e repeti-las para si mesmo mentalmente. Ele apenas respirou fundo e deixou os dois para trás, adentrando a cafeteria.

— Você já conseguiu o que queria. Agora vai embora — disse Hae, e deixou Kim Namjoon a sós, ao lado de fora do Burket's.

As mãos dela giraram a maçaneta da porta de entrada com rapidez, gesticulando às cegas para Seulgi, que arrumava alguns panfletos espalhados acima do balcão. Seguiu até os fundos do estabelecimento. Mas ao invés de adentrar seu próprio escritório, Haeyon rumou em direção ao de Jungkook. Não se preocupou em bater na porta ou perguntar se podia entrar. Estava nervosa demais para isso.

— Ei, Jungkook? — Haeyon caminhou até ele, tocando-lhe o ombro. A ponta dos dedos apertando os músculos da região e virando-o para ficar em frente a si. — O que foi?

Jungkook fixou os olhos amendoados nos dela, tendo a visão de suas orbes pequenas e curiosas o fitando na mesma intensidade que ele.

Hae elevou a mão direita para tocar a lateral de seu rosto. Entretanto, Jeon desviou-se de seu toque, voltando a ficar com o rosto para a janela a sua frente, de costas para ela.

— O que foi agora? — Ela questionou outra vez. — Não me diz que você está remoendo o que Namjoon disse. Fala que não é por isso que você está com essa cara, por favor.

Haeyon não podia ver sua face na posição em que estava. Mas viu seus músculos parecendo um pouco tensos de repente. O coração da Kang estava apertado dentro do peito e sua respiração saía desregulada.

Céus, por que ela tinha um péssimo pressentimento sobre aquilo?

— Acho que Namjoon... — Jeon parou no meio da frase, os lábios prendendo-se entre os dentes de repente. — Acho que ele pode ter um pouco de razão ao afirmar que você ainda tem sentimentos por ele.

Os olhos de Hae quase saltaram das órbitas oculares. O que raios ele acabara de dizer?

— Do que é que você está falando, Jungkook? — A Kang apertou-lhe o ombro outra vez, com um pouco de força agora, fazendo-o voltar-se para si. — Me diz o que você sabe sobre nosso antigo relacionamento, além de tudo o que eu já te contei. Fala pra mim tudo o que você sabe sobre o que aconteceu. Me explica quem diabos é o Namjoon.

— Olha Hae, você diz que o odeia e que não sente mais nada por ele. Mas sempre estão discutindo quando se encontram, de qualquer forma. Eu acho que você ainda gosta do Namjoon, ou deve ter algum tipo de sentimento positivo por ele e não quer admitir ou talvez não perceba isso.

A Kang massageou a têmpora direita, os lábios apertando-se um no outro. Ela colocou as mãos na cintura e riu soprado.

— Eu não acredito nisso! — Balançou a cabeça. — Você está se ouvindo? O que aconteceu com você, hein? Como pode achar que ainda tenho sentimentos pelo Namjoon depois do que ele me fez, e de tudo o que aconteceu entre a gente, nos dias passados? Eu te levei na minha casa, e tudo bem que não foi do jeito certo, mas apresentei você aos meus pais, deixei você se aproximar de mim da forma que queria, apesar de ter ficado um tanto hesitante com toda essa história. Eu não te impedi de me beijar quando bem entendeu e nem de dizer todas aquelas coisas para mim. Achei que nós dois iríamos tentar ao menos nos relacionar normalmente como dois adultos psicologicamente estáveis que não precisam ficar vivendo à sombra de uma maldita paranóia só por conta de um relacionamento frustrado por duas pessoas que não valem uma moeda de um centavo! Depois daquele dia, no lar das crianças, eu realmente acreditei que dar um passo à frente podia ser bom para você e para mim, que o sentimento era recíproco. Agora você aparece com essa conversa fiada, na maior cara de pau, acreditando que eu ainda gosto do cara que pôs um par de chifres bem no meio da minha cabeça, depois de tudo que houve entre nós dois nos últimos dias? Se a sua resposta para isso ainda for sim, você só pode ter perdido o juízo, Jeon Jungkook!

Jungkook deixou o silêncio permear o ambiente por um momento, antes de respondê-la.

— Eu sinto muito, Haeyon. Mas Namjoon disse uma coisa que me deixou preocupado. — Hae ergueu uma sobrancelha, induzindo-o a continuar. — Ele falou que você só está comigo para atingi-lo, e que ainda tem sentimentos por ele. Eu sei que o que vocês dois tiveram foi intenso e não pode ser apagado da sua mente assim tão rápido. Também sinto que enquanto essa situação não se resolver, você e eu não teremos paz. Me desculpa por te fazer passar por tudo isso. Você é uma mulher que eu gosto, e o hyung é meu amigo de longa data. Não o perdoo pelo que ele fez a você, é claro, mas não quero colocar tudo a perder, entende? Essa perseguição a você só está acontecendo por minha culpa, e eu não quero nós três vivendo um inferno por causa disso. Sei que Namjoon-hyung não nos deixará em paz assim tão fácil. Mas me perdoa, Kang Haeyon... Até essa situação se resolver, a gente não pode mais continuar saindo juntos.

Os lábios de Hae se entreabriram e ela recuou involuntariamente. O coração parecia bater mais devagar agora, e sua respiração tornara-se ofegante.

— Como é? Não estou acreditando que estamos realmente falando sobre isso, seu idiota! Eu acho que realmente devo falar grego, sabe? Já te disse mil vezes que Namjoon e eu somos ex-namorados! Eu não sinto mais nada por ele. Nada. É tão difícil assim acreditar?

Jungkook não respondeu, mesmo quando Haeyon repetiu a pergunta segundos depois. E mais uma vez.

Ele estava irredutível. Ela sabia apenas em observar o semblante neutro que ele demonstrava para si. Haeyon nunca chegou a imaginar que se sentiria daquela forma outra vez: com o coração partido.

O mais velho, por outro lado, até sentia o mesmo que ela, porém a razão lhe dizia que precisava agir com cautela a partir dali. Afinal, Namjoon ainda a perseguia, e tudo por culpa dele.

Jungkook era o tipo de pessoa que abriria mão do que fosse necessário, se isso garantisse a felicidade de alguém que ele gostava. E ele gostava de Hae, mas não podia permitir que ela continuasse presenciando situações constrangedoras como a de minutos atrás.

Ele não faria isso.

— Eu sinto muito, Haeyon. — Balançou a cabeça em negatividade. — Não posso continuar assim. Isso... Isso aqui acabou.

•••


Haeyon sentiu-se resfolegar no instante que parou em frente a porta de um apartamento, do outro lado de Hongdae. Seus olhos castanhos miraram o olho mágico entalhado na madeira branca em um desenho de coloração prateada. Ela ergueu a mão direita para tocar a campainha da residência que pertencia a Kim Namjoon — e um dia pertencera a ela também, ainda que indiretamente.

Engoliu em seco enquanto observava a ponta da unha do dedo indicador, um pouco hesitante, agora sem estar totalmente repousada sobre o botão. Ela segurou a respiração, mil e um flashes passando em sua mente de repente. Todos no mesmo segundo.

As memórias nada agradáveis da última vez em que esteve ali reverberavam em sua mente ao mesmo tempo em que Haeyon tentava afugentá-las. No entanto, a tentativa havia sido inútil e quando ela menos esperou, as lembranças de encontrar Sojin naquele mesmo apartamento, na cama que um dia pertenceu a ela, nua e agarrada ao corpo do — na época — namorado, corriam soltas através de seu cérebro. Naquele dia, seu coração fora quebrado em mil pedaços, seus sentimentos pisoteados e os planos para um futuro a dois totalmente jogados pelo ralo, como se cada um deles não tivesse valido absolutamente nada nos quase cinco anos em que a Kang dedicou-se ao namoro com Namjoon.

Naquele dia, Haeyon soube que nem todo mundo é o que parece ser. Às vezes o que algumas pessoas mostram por fora, é apenas a ponta de um iceberg mortal que existe por dentro, a parte que ninguém mostra a princípio. A parte ruim da coisa. E naquele mesmo dia, Haeyon soube que tudo havia sido falso até então. As palavras afetuosas, os "eu te amo" comumente ditos entre gemidos baixos e suspiros, todas às vezes em que faziam sexo, as juras de amor intercaladas entre uma xícara de café e outra, na cafeteria Burket's de Seocho, assim como a promessa fútil de cantar Everything I Do, do Bryan Adams, sempre que ela estivesse deprimida.

Tudo. Tudo havia sido falso e inútil. Sem valor algum. E pensar que há algum tempo atrás ela o amara com todo o coração...

Respirando fundo, tragando a maior quantidade que conseguia de ar para seus pulmões, a Kang engoliu em seco, apertando as pálpebras fortemente e abrindo-as um segundo depois.

Seria difícil encarar aquele lugar e as memórias que ainda residiam ali. Mas Haeyon precisava encará-las se quisesse pôr um fim definitivo em toda aquela situação na qual estava metida.

Agora não era hora para covardias.

Ela apertou a campainha novamente. Uma, duas, três vezes. E quando Hae estava prestes a apertar a quarta, a porta foi parcialmente aberta. Ela mal podia ver o rosto do Kim através da fresta.

— Vai me convidar para entrar ou prefere conversar comigo aqui fora?

O homem uniu as sobrancelhas, seu rosto adquirindo uma expressão de grande confusão. De todas as pessoas que ele esperava receber àquele dia — raras delas, no caso —, Kang Haeyon era a última em que pensaria.

— O que você está fazendo aqui? — questionou ele, sem atender ao pedido de Hae.

— Quero conversar com você. Um assunto sério. A menos que você queira me ver despejando tudo aqui no corredor, pode abrir a droga dessa porta e garanto que não tomarei nem um segundo a mais do seu tempo.

Namjoon abriu a porta, finalmente, oferecendo espaço para que ela pudesse passar. E nesse momento a visão que a Kang teve foi de fazê-la franzir o cenho automaticamente e engolir em seco.

Havia livros de literatura e outros de matemática avançada espalhados acima do sofá de dois lugares. Uma das lâmpadas no teto estava queimada e precisava ser trocada com urgência. A televisão estava ligada em um canal que saía do ar a cada dois segundos e o cheiro de alguma coisa queimada invadia o ambiente vindo diretamente da cozinha. As almofadas do sofá estavam jogadas perto da estante onde deveriam ficar os livros do Kim, e as cortinas da janela estavam tão sujas que sequer era possível visualizar a coloração original do tecido.

Céus! O apartamento todo estava um caos.

— Vai me dizer o que te traz aqui?  Não pensei que viria assim tão rápido, depois do que conversamos hoje de manhã. — O horário atual marcava quase seis e meia da noite.

Namjoon não lhe ofereceu água ou coisa parecida, e tampouco perguntou se ela gostaria de sentar. Sabia que ela recusaria. Portanto, ele apenas acomodou-se no sofá, sem se importar em estar sentado em cima de alguns livros e em meio a tanta desordem.

Tentando ser rápida e clara a fim de não ter de passar mais tempo ali do que gostaria, Haeyon cruzou os braços em frente ao peito, respirou fundo e disse:

— Quero saber por quê você falou aquele monte de merda pro Jungkook e bem na minha frente, como se eu não estivesse ali. E quero saber agora!

— Que monte de merda, Haeyon? — O mais velho fez-se de desentendido. — Você enlouqueceu?

— Não, eu não enlouqueci ainda. — Suas bochechas estavam vermelhas de irritação. — E isso é um milagre, porque eu estou fula da vida e uma pilha de nervos! Você já me viu irritada de verdade, não é? Sabe muito bem que não deve bancar o desentendido comigo nessas condições, porque eu já sou de maior e não quero ser presa por fazer uma besteira contigo. Então, para o seu próprio bem, fala logo de uma vez o que diabo você pretende tentando fazer a cabeça do Jungkook contra mim?

— Ah.... Então vocês conversaram sobre isso? — O maior riu soprado. Tentava manter-se irônico por fora, mas estava devastado por dentro.

Vê-la em seu apartamento depois de tudo o que aconteceu entre ambos, especialmente nos bons momentos que tiveram juntos ao longo de todos os anos passados, ainda o fazia sentir-se péssimo, como o pior homem do mundo. E de fato ele era, para ela, porque o que fez consigo era imperdoável. Era maduro o suficiente para admitir aquilo.

— Não faz essa cara pra mim. Quero guardar os palavrões para outro momento, não tô afim de usá-los com você. Fala logo quem diabos você pensa que é pra me humilhar daquela maneira? Você tem noção do que fez? Responde por que ainda não me deixou em paz.

— Porque eu não quero você com o Jungkook, Haeyon — disse ele por fim. — Você tem noção do quanto é difícil imaginar ele junto de você, beijando e tocando em você?

— E você imaginou que podia ser duas vezes pior para mim, quando fodeu com a minha melhor amiga? E na mesma cama onde nós dois fazíamos amor? Você chegou a pensar nisso enquanto tirava a roupa dela? Enquanto beijava ela da maneira que nunca me beijou? Disse eu te amo pra ela, como dizia para mim? Você fez com ela tudo o que não fazia comigo?

— Hae, eu não queria que isso acontecesse entre a gente. A culpa foi...

Haeyon interrompeu a fala do Kim, observando os olhos marejados do ex-namorado.

— Não venha colocar a culpa só nela. Vocês dois acabaram com a minha confiança no passado e eu não vou deixar isso acontecer outra vez, entendeu? Você foi um erro na minha vida, Namjoon. Um erro que me deu experiência de alguma forma, e eu estou disposta a te perdoar por tudo. Mas você tem que me deixar em paz. — Suspira, nada mais do que um ato para exprimir sua frustração. — Naquele dia, em Seocho, você disse que ainda queria que fossemos amigos, mas como espera que eu faça isso se você continua agindo como um babaca possessivo e perseguidor? Suas atitudes estão te destruindo. Eu não aguento mais, Namjoon. Você está transformando a minha vida num inferno.

— Eu não consegui pensar em nada naquela época, Hae. Agora eu consigo ver o quão idiota fui em me deixar levar. Eu realmente te amei, e ainda amo. Não posso te esquecer facilmente, não importa o quanto me peça isso. Eu não posso.

— Você me destruiu, Namjoon. Você destruiu todos os planos que eu tinha para nós dois. Mas olha só, eu estou vivendo uma das melhores fases da minha vida graças a você.

Haeyon respirou fundo, caminhando até o Kim. Ela deixou a bolsa bege pender de seus ombros até cair no chão frio da sala de estar. Os olhos mirando os de Namjoon com intensidade. Ela o amou um dia, mas agora não mais. E ele precisava compreender aquilo de qualquer forma.

— Agora eu finalmente sei que coisas boas podem surgir em meio a percalços do destino, entende? Você ter me chamado para ir ao Burket's àquele dia foi a melhor coisa que me aconteceu depois de tanto tempo. Namjoon, só agora eu estou finalmente pensando em ter um relacionamento com alguém de novo, mesmo que eu esteja assustada com tudo isso. Jungkook me disse para não ter raiva de você, para guardar apenas os bons momentos que tivemos juntos. Você acha que alguma outra pessoa diria isso? Não, Nam. Ninguém mais faria isso e sabe porquê? Porque Jungkook é uma boa pessoa que passou pela mesma coisa que eu. Em vez de ficar contra ele, você devia apoiá-lo. Você não sabe o quão difícil é se dedicar a alguém e no final essa pessoa jogar os seus sentimentos pelos ares. Não faça isso, Namjoon. Você não será feliz se continuar me perseguindo assim! Se você tem algum sentimento por mim, como diz ter, repense as suas atitudes e não faça coisas que provavelmente vai se arrepender depois. Não coloque tudo a perder.

Haeyon pôs-se de joelhos no chão da sala de estar, à frente de Namjoon. Observou uma lágrima pender dos cílios pequenos e desmanchar-se nas bochechas dele. Ela não queria ficar nem um segundo a mais, entretanto também esperava não precisar ter aquela mesma conversa com ele novamente. Os dois só iriam se machucar assim, tal como a Jungkook, que era inocente em toda aquela história.

O Kim viveu alguns dos melhores dias de sua vida ao lado de Haeyon, enquanto ainda a tinha para si. Mas, por culpa de seus próprios erros, aprendeu da pior maneira possível que nem todos os sorrisos são eternos.

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