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Betado por ephemerar
A xícara de café que Haeyon havia levado consigo para o quarto, após o jantar, estava quase pela metade quando ela sentiu o sono a dominar — outra vez. Suas pálpebras tremiam, os olhos doíam e ela quase não conseguia sentir a ponta de seus dedos ao segurar o lápis.
O relógio pendurado no alto da parede ao seu lado marcava exatamente dez e quarenta e três de um sábado noturno e provavelmente agitado em algum lugar da cidade que, com certeza, não era o seu quarto. Apenas o mesclar de tédio, ansiedade e muita — muita — sonolência permaneciam no cômodo pequeno.
Ha Na dormia serenamente no quarto de seus pais, possibilitando que Haeyon pudesse trabalhar sem qualquer interrupção. Não que a presença da irmã não fosse bem vinda. Pelo contrário. Além da concentração dobrada que exercia para não errar absolutamente nada, Hae precisava da iluminação no quarto acesa por, aproximadamente, uma hora e mais alguns minutos a mais. Como a Senhora Kang fazia questão de colocar a filha mais nova na cama antes das dez horas da noite, Haeyon sabia que se ela ficasse consigo ali, certamente teria seu sono prejudicado — o que não era bom para a saúde da garota, sem dúvidas.
A sala de estar, assim como a cozinha, não era o melhor lugar da casa onde ela podia sentar-se e trabalhar à vontade, tanto pela iluminação fraca quanto porque a mesa de jantar não era propícia àquilo. E estava grata no fim das contas, porque pelo menos os pais a entendiam e não se importavam em permitir que a pequena Ha Na dormisse no quarto de ambos, dividindo a velha cama de casal com os dois.
Ela com certeza estava melhor do que a própria Hae atualmente. Não havia dúvidas quanto a isso.
A Kang mais nova certamente encontrava-se perfeitamente aninhada nos lençóis grossos de seus pais, envolta nos cobertores quentinhos e convidativos que pareciam estar de pé em seu próprio quarto, na mente de Haeyon. Ela podia visualizá-los sendo postos sobre sua cama. A maciez dos tecidos clamavam por sentir suas costas cansadas em toda a extensão. O contraste entre eles era perfeito, o colchão quente ansiava para que ela desse um tempo a si mesma. Era quase fim de sábado e a jovem não precisaria acordar tão cedo na seguinte manhã de domingo.
A cama parecia cantarolar seu nome e, além do mais, Hae estava com tanto sono...
— Merda! — A mulher murmurou, às cegas, no instante em que o sonho se desfez.
Era a quinta vez que sua cabeça tombava levemente para o lado quando o sono a atingia e suas pálpebras fechavam-se por reflexo, quase fazendo-a cair da cadeira, onde estava sentada desde algumas horas atrás.
As mãos pequenas foram até o rosto e retiraram o óculos de grau, deixando-os acima da mesinha que servia como apoio para todo o seu material de trabalho, além das folhas que estavam constantemente espalhadas sobre a mobília. Com os dedos polegar, indicador e médio, tratou de massagear levemente a área de seu rosto onde o óculos ficava posicionado, bem acima de seu nariz.
Hae fechou os olhos e, ao abrí-los, deu três batidas fracas em cada uma de suas bochechas, como que para manter-se acordada por mais tempo, sem correr o risco de desmaiar de sono ou algo assim.
Ela não podia dormir. Não ainda, pelo menos.
A Kang soprou o ar com força através de seus lábios, com os olhos lacrimejando conforme ela apertava suas pálpebras em reflexo. A ardência leve na região ocular só sanaria quando ela finalmente pudesse repousar a cabeça no travesseiro acolchoado. Suspirando, voltou sua atenção até a planta recém concluída na mesinha do quarto, sua visão ainda turva, normalizando-se aos poucos. Bocejou, em seguida, como se o simples ato pudesse dissipar o cansaço e a sonolência que sentia.
Alguns minutos depois de dizer a si mesma, em voz alta, que dentro de alguns instantes ela finalmente poderia descansar, Haeyon observou a planta oficial de iluminação do Burket's, a qual estava completamente finalizada.
"Céus!", pensou ela, visivelmente estagnada com o quão trabalhosa sua profissão era, ao fim das contas.
Luminotécnica era mais complicada do que parecia. Não era apenas escolher luminárias esteticamente aceitáveis para um ambiente qualquer. Tudo, tudo mesmo, precisava ser analisado com minuciosidade: cada mínimo feixe de luz natural que conseguia iluminar o local, tal como a mobília do estabelecimento em si e as cores e artigos de decoração. Tudo deveria ser levado em consideração e talvez por isso fosse tão trabalhoso assim.
Elaborar um projeto de arquitetura para um residencial luxuoso era difícil, mesmo para os profissionais mais experientes, mas elaborar um a fim de suprir a carência de luz natural era uma tarefa duas vezes mais árdua. E Hae quase não conseguia acreditar que o projeto oficial do Burket's estava finalmente pronto para ser executado, colocando em prática todo o esforço e coração que ela havia despejado nele enquanto o fazia.
O celular estava jogado acima da cama mas Hae conseguia ouvi-lo tocar mesmo com o volume baixo, anunciando insistentes mensagens de Louisa — soube disso graças a notificação personalizada. Haeyon a responderia sem falta no dia seguinte. Ainda precisava enviar um relatório para o email comercial de Jungkook, além de exportar e lhe enviar o arquivo salvo em pdf, como o próprio Jeon havia pedido que fizesse nos primeiros dias de trabalho. Lalisa podia esperar — ela disse a si mesma, amargamente.
Na verdade, três semanas haviam se passado desde que Ha Na havia tido alta do hospital, após dar um susto daqueles na família, e quase um mês inteiro no qual a Kang sequer possuía tempo para visitar ou sair com Manoban nas noites de sábado e domingo, como fazia no passado. A última vez em que Haeyon vira a loira tinha sido um dia antes de aceitar a proposta de Namjoon sobre visitar a cafeteria Burket's — quando ela sequer sonhava que o dono fosse Jeon Jungkook — e isso parecia ter acontecido há um ano atrás, fazendo Hae se sentir a pior das amigas em todo o universo.
Mas em contrapartida, ironicamente ou não, este não era o único ponto em particular que lhe deixava atônita, sempre que parava para pensar sobre como sua vida havia mudado desde então. Após o episódio no qual Jungkook a acompanhou até o hospital, ao mesmo tempo em que Haeyon se distanciava de Lalisa devido ao excesso de trabalho, ela e Jeon se tornaram cada vez mais próximos, de um jeito que a Kang jamais pensou que seria algum dia — principalmente com ele.
Nos últimos dias, o jovem já havia levado-a para casa pelo menos três ou quatro vezes após o fim de seu expediente, e fazia questão de deixá-la religiosamente na porta, sem se importar com o quão estranho e um pouco suspeito aquilo provavelmente parecia ser para a mãe de Haeyon. Ela sempre estava na janela, aguardando a chegada da filha mais velha, e o senhor Kang certamente estava noticiado de tudo — Jungkook se sentia meio nervoso quando pensava na probabilidade de encontrá-lo à sua espera, por assim dizer, em alguma noite aleatória.
Mas não era apenas aquilo que havia acontecido entre os dois.
Ambos almoçaram juntos algumas vezes, nos momentos em que Jungkook não estava tão sobrecarregado com o trabalho quanto ela, aliás. No fundo, Hae sabia que por ser o chefe todas as responsabilidades e obrigações acerca da franquia Burket's recaíam apenas sobre ele e mais ninguém. Ela nem conseguia imaginar o quão estressante tudo isso era para Jungkook, por mais que ele fosse discreto e sequer demonstrasse algum sentimento de repulsa ou irritação na cafeteria. Na verdade, era impossível distinguir quando o chefe estava preocupado com alguma coisa, porque sua personalidade sempre era a mesma.
O homem estava rotineiramente sorridente e exalava um bom humor palpável, o qual tornara-se algo extremamente perceptível por ela há dias atrás, especialmente após ele acompanhá-la até o hospital com Ha Na, três semanas antes.
Eles já haviam até trocado números de telefone um com o outro, passo que fora dado pelo próprio Jungkook, apesar de que não haviam tido conversa alguma ainda.
Haeyon sentiu-se nervosa no instante em que ele entregou o aparelho celular em suas mãos delicadas, em um dia cujo haviam acabado de deixar um restaurante nas proximidades do Burket's. Estavam aos risos, como se ambos fossem amigos de longa data tomando cerveja barata em um bar qualquer, enquanto contavam desastres engraçados sobre a vida adulta. Toda a emoção cômica desencadeada por culpa do jovem que contara sobre a comédia adolescente que fora seu ensino fundamental e médio.
A Kang se surpreendeu ao saber que Jeon fez parte do famigerado "clube dos garotos excluídos da classe por serem considerados nerds demais", o qual fora criado por algum colega de turma desprovido de cérebro, até o terceiro ano do rapaz. Ela esperava que ele fosse o tipo pegador, jogador de algum time esportivo do colégio, popular em um nível que lhe permitia namorar uma garota diferente a cada dia e talvez até um pouco inteligente. Mas não. Seu ensino médio havia sido mais normal do que ela imaginava — ainda que normal não queira dizer exatamente normal em todo o significado.
A verdade era que Jungkook era uma maldita caixinha de surpresas que suplicava por ser aberta o mais rapidamente possível e sem hesitações pelas mãos da própria Kang Haeyon. O pouco que ela conheceu sobre ele, mesmo em um espaço tão curto de tempo, acabou fazendo a mulher se sentir cada vez mais atraída, disposta a descobrir ainda mais sobre quem ele realmente era, assim como o que exatamente tornava-o tão especial.
Talvez fosse a forma com a qual ele despertava sentimentos calorosos dentro de si, anunciando emoções que ela não imaginou que sentiria outra vez, pelo menos não tão cedo. Talvez fosse a maneira como fazia seu coração acelerar as batidas dentro do peito a cada vez que lhe fitava, ou como incendiava seu corpo inteiro apenas com a melodia cândida proveniente de sua bela voz. A eufonia de seu timbre possuía o grau certo para permitir que Haeyon se agraciasse, desejando ouvi-lo sempre que possível, mais vezes do que o recomendado. Talvez pudesse ser culpa de sua pele quente e como seus braços a envolviam tão bem, como se o abraço alheio fosse destinado somente a ela, mais ninguém.
Jungkook a atingia com essas sensações tão peculiares e tinha de haver algo inumano nele, porque era especial demais para ser considerado real. Ele era tão gentil, confiável e atencioso, um verdadeiro cavalheiro extinto nos tempos modernos. O tipo de homem com quem Hae adoraria se relacionar caso tivesse a oportunidade...
"Relacionar..."
Haeyon colocou a mão esquerda sobre o peito, sentindo seu corpo mover-se na cadeira em um ato involuntário e sua respiração tornar-se irregular por um momento. A sensação de ter os pensamentos vindo até si tão rapidamente daquela forma era assustadora, apesar de não ser nem um pouco surpreendente ou alarmante para a jovem. Tendo em vista os ocorridos dos dias anteriores e o fato de que o futuro é como um jogo de cartas que você não tem a mínima idéia se vai ou não ganhar, Haeyon ficaria surpresa se isso não acontecesse.
— Maldição... — Ela resmungou outra vez, talvez um pouco alto demais para o momento em questão.
Levantou-se da cadeira às pressas, andando em círculos pelo piso de seu quarto, como um robô comandado para fazer aquilo pela eternidade. Ela não sabia como parar, porque tudo, todas as peças do quebra-cabeça se encaixavam facilmente agora, quando seu coração relatava a si mesma sobre o porquê de estar tão atraída por Jeon Jungkook, de uma maneira que ela não deveria estar. Foi inevitável.
A Kang pressionou as unhas em tamanho médio livres de esmalte em seus próprios punhos, sem se importar com a dor mínima causada pela perfuração leve em sua epiderme. Resfolegava, elevando sua respiração de segundo a segundo. Mas não conseguia senti-la de todo o modo, como antigamente. Era mais como se sua alma tivesse deixado-a naquele momento, restando somente a casca corporal consigo. Mais nada.
Haeyon se sentia atônita, nervosa e ansiosa. Um pouco preocupada, ressaltou mentalmente.
Ela já suspeitava que algo assim pudesse acontecer, embora não pensasse muito a respeito. Agora as coisas estavam diferentes de dias atrás e Haeyon sentiu que os sentimentos se intensificaram quase o triplo do tamanho desde o episódio no hospital com sua irmã, e posteriormente, de quando Jungkook surgiu em sua casa no dia seguinte. Ela jamais esqueceria o que ele havia feito por Ha Na, porque era impossível, e se não fosse por sua bondade, sabe-se lá se a menina não teria voltado ao hospital nos dias seguintes.
Haeyon pensava muito a respeito, e fazia questão de agradecê-lo sempre que podia — embora Jungkook dispensasse palavras como aquela, como sempre. E isso sequer lhe deixava desconfortável, de alguma maneira.
Ele era um homem "perfeitamente imperfeito", Hae argumentava consigo mesma, uma vez que era realista demais para usar somente a primeira palavra. Ninguém era totalmente perfeito.
Mas era exatamente isso que lhe fazia gostar tanto de sua presença: o fato de saber tudo e nada ao mesmo tempo. De conhecer coisas sobre ele que talvez ninguém mais conhecia. Entendê-lo de uma maneira única, que ninguém mais entendia. E, fora isso, tudo aquilo que ela ainda precisava saber. Sem pressa, sem obrigações.
Haeyon mordeu o lábio inferior quando uma pontada leve em sua têmpora esquerda a fez despertar rapidamente com a memória de algo que havia lido em um livro qualquer.
O dizer era sobre o fato de que ninguém no mundo escolhe por quem realmente deve se apaixonar, quem deve amar e coisa parecida. Você pode escolher com quem namorar e casar, mas não pode saber como vai ser exatamente, ou se o amor vai ou não durar tanto tempo. As pessoas não mandam no coração, e tudo acontece porque simplesmente precisa acontecer. No tempo que tem de acontecer. O destino fala por si próprio e não permite interferência terceira, não importa o quanto tente moldá-lo.
Se tiver de ser, será. Não era assim que diziam por aí?
Ninguém escolhe se decepcionar com algo, muito menos com alguém que ama ou tem afeto — não seriam loucos o suficiente para o fazer. Mas alguns dos momentos ruins são válidos para contribuir com o amadurecimento e aprendizado humano, além de que situações assim fazem os bons momentos serem duas vezes mais especiais, simplesmente porque ninguém nunca sabe o quanto eles podem durar.
Se decepcionar com uma atitude tomada ou escolha feita aleatoriamente não é tão ruim quanto parece. Na verdade, isso meio que ajuda a compreender o erro e as consequências que trouxe. Desse modo, se você teve seus sentimentos magoados por alguém que acreditava amar, a lição que fica é unicamente sobre a atenção dobrada e os cuidados em quem realmente é digno de confiança ou não.
Nada no mundo havia sido tão claro e aceitável para ela quanto aquilo. Haeyon acreditava que essa linha de pensamentos estava certa. Se algo estiver programado para acontecer no futuro, acontecerá, e ela não poderia evitar, apesar de tudo.
Um exemplo era sobre como ela reconhecia seus sentimentos com uma clareza tão límpida. Como se tudo em sua mente tivesse sido finalmente explicado com coerência absoluta, pegando-a de surpresa por afirmar que sim, Haeyon estava começando a gostar de Jungkook. Gostar do mesmo jeito que as pessoas se gostam quando desejam namorar.
E apesar de ser um sentimento reconfortante, também era um pouco ruim, visto as experiências que tivera no passado.
Ela sabia que não devia viver à espreita do fantasma chamado "fui traída por alguém que amava", para sempre, porque Haeyon não era a única que passava por isso. Além de que nenhum relacionamento é totalmente eterno e casais iniciam e terminam laços de namoro e matrimônio por diversos motivos, mais vezes do que se pode imaginar.
Mesmo assim, ainda que dissesse a si mesma que não podia comandar seu coração porque o sentimento era uma mudinha pequena que já havia sido plantada em seu peito, pior do que se apaixonar por Jeon Jungkook era se apaixonar por ele sendo seu chefe. Alguém com uma vida totalmente diferente da dela e melhor amigo de Kim Namjoon, seu ex-namorado.
Sojin costumava ser sua melhor amiga. E Jungkook ainda era amigo de Namjoon. E esse ponto tornava a situação inteiramente mais complicada do que realmente era por si só.
Só que a presença dele surgiu para fazer com que Haeyon voltasse a sentir-se especial de alguma forma — indiretamente no começo, porém claramente agora.
Estar tão próxima era reconfortante, acolhedor. Era como se ela tivesse descoberto algo totalmente novo em sua vida. Algo que há muito tempo não conseguia reconhecer. Um pedaço de si que havia perdido e Jungkook apareceu sorrateiramente para ajudá-la a encontrar.
Ela não sabia como as coisas seriam a partir dali. Se ele lhe correspondia, se ela estava mesmo gostando dele ou se era apenas confusão mental... "Fogo em palha", como Lalisa nomeava os próprios relacionamentos, os quais acabam antes mesmo de sequer começar.
Mas de uma coisa Kang Haeyon tinha certeza: lutar contra aquele sentimento era como travar uma guerra contra si mesma. Uma árdua batalha que ela tinha ciência de que não podia vencer.
•••
Kim Namjoon não conseguia se lembrar da última vez em que estivera em um bar durante uma noite de sábado, acompanhado de alguns de seus amigos. Para falar a verdade, em seu íntimo, ele até conseguia puxar à mente, mas não queria.
Tudo isso porque, da última vez em que frequentara um estabelecimento como aquele, Kang Haeyon ainda estava consigo. Os dois tomavam soju junto com seus amigos aos finais de semana, e ele sempre a ajudava a manter o foco, visto que a tolerância de Hae para o álcool era extremamente baixa. Jamais permitiu que ela bebesse ao menos uma gota a mais do que seu corpo conseguia sustentar, relatando a moça que o fazia para protegê-la, porque prezava sobre o bem estar da namorada.
Bom, ex-namorada, para falar a verdade, uma vez que aqueles tempos foram deixados para trás e não existia mais "nós" entre eles, apenas o triste e solitário "eu", oriundo de um relacionamento já finalizado.
Haeyon estava sem ele, alegre com a família e o bom emprego que tinha, em sua própria casa, trabalhando talvez, sem se importar com como Namjoon se sentia agora.
Ela era uma mulher forte e mais cheia de garra do que ele imaginava, mesmo tendo convivido com sua presença por anos. Ela podia cuidar de si mesma e de suas emoções, coisa que ele próprio era incapaz de fazer.
— Já se passaram semanas desde que isso aconteceu. Por quê você simplesmente não esquece tudo de uma vez? — A voz de Kim Seokjin afastou Haeyon de sua mente por um momento, fazendo-o relembrar do que havia contado ao amigo dias e segundos atrás
— Porque eu não quero! — esbravejou o loiro. Seokjin balançou os fios de cabelo castanho e acenou para o bartender do local. — Não posso fazer isso, sacou? Jungkook chamou a Haeyon de Hae, Jin. De Hae! Você acredita nisso?
— Ué — Jin poderou a respeito, virando-se no banco do balcão para fitar o amigo mais novo ao seu lado. — Todo mundo chama a Haeyon de Hae, Namjoon. Até eu. É o nome dela, né? — perguntou, erguendo as sobrancelhas de forma óbvia.
Era claro que era o nome dela, mas, ao ver de Namjoon, o apelido carinhoso havia sido dado exclusivamente por ele. Ele! Irritação era presente em todo o seu ser.
— Entende, porra — disse, balançando o copo de vidro contendo soju, em suas mãos, sua voz um pouco elevada em consequência do álcool. — Ele chamou a minha ex-namorada pelo apelido carinhoso que eu mesmo dei a ela no começo do namoro, cacete. E bem na minha cara. Imagina só como eu fiquei! Praticamente fui desrespeitado pelo Jungkook como se ele fosse o meu hyung, cara. Quer humilhação melhor que essa?
— Eu tenho uma, sabia? — O moreno precisou aumentar o volume de sua voz também para que fosse ouvido no refrão final da música eletrônica que ressoava em todo o bar. — A resposta está bem na sua cara, Nam. Olhe ao redor. Não vê o que fez com a Hae? Acha que essa não foi uma humilhação e tanto pra ela? Você só tá' pensando em você, no fim das contas. Para de ser tão egoísta.
— Eu não estou sendo egoísta, que saco! — O copo foi batido no balcão de madeira de um jeito que quase o teria feito estilhaçar. O bartender olhou torto em direção aos dois. Seokjin suspirou, impaciente. — A Haeyon e eu tivemos um relacionamento duradouro. Eu conheço o jeito sedutor do Jungkook quase tão bem quanto ele próprio, e escuta o que eu estou dizendo... Ele não vai ficar com a Hae só porque se divorciou daquela estrangeira. Eu não vou deixar. Eu sei o que ele quer, mas se depender de mim, isso vai acontecer só por cima do meu cadáver. Você entendeu, Seokjin? Tá do lado do Jeon talarico, também?
Namjoon estava bêbado. Muito bêbado. E ele sequer dava-se conta de suas próprias palavras. O Kim mais velho teve vontade de chacoalhar seu corpo como se Nam fosse feito de pano.
— Se continuar falando merda, vai virar uma privada, sabia? — Jin bebeu um pouco do whisky pedido segundos atrás. Estava de saco cheio daquela conversa fiada de seu amigo. — Você não é mais namorado da Haeyon. E mesmo que fosse, isso não te tornaria dono dela, porra. Pensa direito, ela nunca vai voltar a namorar com você, mas ainda há uma possibilidade de tornarem-se amigos outra vez, se ela te perdoar ou sei lá... Eu conheço a Haeyon. Afinal ela também é minha amiga, e duvido muito muito que vá te odiar para sempre. Mas se você continuar agindo como um babaca, ela não vai suportar nem ficar perto de você.
Namjoon balançou a cabeça fortemente. O álcool em sua corrente sanguínea fazia todas as emoções tornarem-se cinco vezes mais fortes. Ele sentiu que se bebesse mais alguma coisa, a bebida ingerida poderia transbordar pelos olhos em forma de lágrimas salgadas e regadas de arrependimento.
— Eu ainda sinto falta da Hae. Porra, eu sinto tanta. A gente vivia tão feliz... E tudo isso acabou por conta da maldita amiga dela. Foi culpa da maldita Sojin! — Seu punho direito atingiu a madeira com força, mas a dor em seu coração era maior do que a física naquele momento. — Eu queria tanto que ela me perdoasse, Jin. Tanto...
Seokjin suspirou.
Namjoon havia sido um idiota com Haeyon. E agora queria que ela o perdoasse? Ele conhecia a amiga e sabia que ela até podia o fazer, mas não seria facilmente.
— Ah, então foi culpa da Sojin? — Os olhos do mais velho lhe fitaram, repletos de sarcasmo. — Só dela? Com aquele porte físico ela te amarrou na cama, colocou uma arma na sua cabeça e te obrigou a transar com ela?
— Claro que não, porra.
— Então não é culpa só dela. Mas sua também. Vocês dois foderam com a Haeyon de um jeito imperdoável. Entende isso. Você acha mesmo que ela voltará pra você? Cara, você tá sendo mais burro do que eu imaginava.
— Ela não pode namorar com o meu melhor amigo. Jungkook é meu amigo. — Namjoon levou as mãos até seus fios loiros desesperadamente.
— A Sojin também era amiga da Hae, e você nem pensou nisso antes de ir pra cama com ela, no quarto onde a Haeyon também se deitava para dormir com você.
— Você não sabe do que tá falando.
— Você é quem não sabe do que tá falando. Eu conheço muitos como você, Namjoon. Que acham que é normal pegar a ex de algum amigo, mas se ela faz o mesmo com você, então ela é uma sem vergonha e coisa assim, né? Você é meu amigo, mas isso não me impede de dizer que você é um escroto filho da mãe por agir assim. Hae pode namorar quem ela quiser, sair com quem quiser e não é da conta de ninguém. Você traiu ela. Ela te amava, mas você não, porque se amasse mesmo a Kang Haeyon que eu conheço, jamais teria feito uma coisa tão baixa com ela.
Jin estava certo. E aquela era a voz sóbria na consciência de Namjoon — apesar da quantidade exorbitante de álcool que havia consumido — falando. Haeyon o odiava com motivos, isso era fato. E Namjoon não tirava sua razão.
Ele havia mentido para ela, traido-a com sua melhor amiga na cama que pertencia aos dois. Escondera que Sojin o seduzia de propósito há tempos atrás, e preferiu dar voz a seus desejos do que à fidelidade por Haeyon. Ele jurou, no início do namoro, que a respeitaria para sempre, mas havia quebrado a promessa na primeira oportunidade.
Como diabos Haeyon voltaria para seus braços? Ele seria louco se pensasse firmemente naquilo. Ela tinha outra vida agora. Era uma mulher diferente, em um ambiente repleto de pessoas diferentes.
Kim Namjoon sabia, no fundo, que Jungkook possuía um caráter melhor que o seu e talvez fosse o tipo de homem com quem Hae seria feliz. Era uma verdade dolorosa e não muito fácil de se aceitar, mas que ele precisava e tentava compreender, apesar de jurar que não permitiria que Jeon ficasse com ela. Talvez fosse efeito da bebida alcoólica, talvez não. Era difícil saber.
Seokjin voltou a falar, despertando-o daquelas emoções.
— Coloca uma coisa na sua cabeça, cara. Haeyon e Jungkook são adultos e, por isso, se ele quiser ter alguma coisa com ela, não é você quem irá impedir. Não tô dizendo que vai acontecer. Mas veja isso como um "e se?".
Namjoon preferiu ficar em silêncio, pensativo. O ciúme crescia segundo após segundo.
Naquele momento, Onze e onze da Taeyeon começou a tocar no bar. A melodia suave da canção era completamente contraditória ao ambiente em questão, e Namjoon meneou a cabeça algumas vezes, tentando entender se estava alucinando ou não.
Ele não sabia ao certo o porquê. Mas apenas se perguntava o motivo pelo qual uma música repleta de toques românticos como aquela estava tocando do nada.
Não precisava de muito para se concluir que as letras da canção faziam jus à como ele se sentia. A música se moldava a situação a qual se encontrava de uma maneira premonicente, como se tivesse sido composta exclusivamente para ele — e Kang Haeyon.
Tudo em sua vida ainda tinha o cheiro e as lembranças dela. O sol, o mar, um sorriso alheio qualquer, porta-retratos que ele ainda guardava em uma caixa de papelão embaixo da cama, fotos no celular, roupas que ela provavelmente não sabia que estavam esquecidas em sua casa. Músicas, assuntos sobre arquitetura, livros de romance de época, aroma de lírios do campo, cheiro de lavanda, morango e alecrim. Os lençóis da cama, o travesseiro, a programação da televisão, o som da chuva, a brisa com toques de terra molhada que soprava após uma garoa em tardes ensolaradas, o arco-íris, a lua, as estrelas, uma cor, um sabor, desenhos, gargalhadas, crepúsculo e o nascer do sol religiosamente todas as manhãs nas quais ele acordava.
Tudo em seu cotidiano possuía Haeyon como ponto de partida. Namjoon não conseguia evitar. Mesmo sabendo que ela jamais o amaria outra vez e que, agora, insistir nesse maldito sentimento seria como abraçar-se à um cacto para sempre.
Quanto mais se unisse a ele, mais iria machucar.
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