05☕Estranho
Betado por ephemerar
O primeiro dia de trabalho havia sido estranhamente tranquilo para o gosto de Haeyon.
Não que ela estivesse totalmente pessimista quanto àquilo, já que o Burket's era calmo e possuía um ambiente harmônico e acolhedor. Mas esperava, no fundo, que algo diferente fosse acontecer, considerando que era seu primeiro dia atuando como parte dos funcionários da cafeteria. E levando em conta a forma estúpida com a qual a má sorte parecia caminhar ao seu lado, a Kang não estranharia se viesse a se atrasar, tropeçar nos próprios saltos e coisas parecidas que a fariam ser motivo de piada. Mas, muito ironicamente, tudo estava sendo pacífico até então.
Jungkook já estava lá quando ela chegou ao Burket's no horário estipulado por ele, até lhe ofereceu café instantâneo feito por suas próprias mãos — deixando-a alarmada no primeiro segundo após ele proferir tais palavras. Jeon Jungkook realmente parecia ser uma caixinha de muitas surpresas. Ele mostrou a ela cada lugar da cafeteria, assim como os funcionários que ajudavam a dar vida àquele lugar. Além dela e Seulgi, haviam quatro homens: três arquitetos que possuíam o próprio escritório no estabelecimento e um gerente que, segundo o Jeon, tomaria as rédeas do local quando ele não estivesse presente.
O tal Hoseok era sorridente e tinha sido bastante amigável consigo, assim como um loiro chamado Kim Taehyung. Yoongi havia lhe dado às boas de maneira excessivamente formal e reclamou algo sobre estar sem tempo para cumprimentos mais informais. Mas o outro homem, Jackson Wang, como ela descobriu ser seu nome, era o único entre todos que não lhe transmitiu uma "boa" primeira impressão. Haeyon havia percebido os olhares nada amistosos e desagradáveis que ele lhe lançou até que ela virasse de costas, caminhando até os fundos da cafeteria, onde ficaria seu suposto escritório pessoal.
"Pelo menos terei privacidade aqui" pensou ela, agradecida por aquilo.
Depois de lhe repassar todas as informações sobre como ela trabalharia ali, Jungkook insistiu em inspecionar o trabalho de Haeyon — segundo ele por se tratar de um ambiente novo, caso ela tivesse dúvidas ou precisasse de ajuda ele já estaria lá —, mesmo que a Kang tivesse lhe dito que não precisava. Claramente Jeon não deu ouvidos e, no fim das contas, Haeyon não conseguia se concentrar no projeto de iluminação.
Por um momento a jovem se sentiu aliviada por ter escolhido roupas menos coladas ao corpo, assim Jungkook talvez não viesse a perceber a forma como ela transpirava involuntária e excessivamente fora do normal.
O escritório parecia claustrofóbico e o olhar de Jungkook fixo em si era extremamente desconfortável. As paredes lhe tragavam o ar e faziam sua cabeça latejar de forma desconhecida. Estranha, para falar a verdade, pois Kang sentia como se aquele simples olhar do homem à sua frente estivesse prestes a abduzi-la a qualquer mínimo movimento que fizesse. E se a situação fosse outra, se ele fosse outro funcionário qualquer, Hae com certeza já teria pedido educadamente para ele se retirar. Mas não havia nada que ela pudesse fazer naquele momento, afinal, Jeon Jungkook era seu chefe. Ele mandava nela, não o contrário.
— Com licença — disse Haeyon com um ar de gentileza, esforçando-se ao máximo para parecer neutra —, vou pegar água. Aceita?
Jungkook balançou a cabeça de um lado para o outro em negação.
— Estou bem, obrigado.
— Tá bom. — Haeyon engoliu em seco, desviando o olhar. — Quer dizer... Com licença.
Jeon assentiu positivamente, mantendo o contato visual mesmo sem ser devidamente retribuído.
As bochechas de Hae estavam coradas e ela arrumou a haste do óculos de grau em seu nariz demoradamente após levantar-se da poltrona — quase derrubando-a durante o processo —, nitidamente envergonhada e escondendo o rosto de Jungkook.
Ele arriscaria dizer que ela estava até mesmo tremendo, talvez arrepiada ou coisa assim. Quem sabe. Jungkook tinha noção de que sua presença surtia aquele e muitos outros efeitos nas mulheres à sua volta. Sabia que era o ar masculino que ele exalava naturalmente. A beleza envolvente e extasiante que emanava dele como um todo, em cada poro existente em si, e todos os outros pontos que lhe compunham, desde os contornos de sua face e músculos bem distribuídos por todo o corpo até a personalidade.
Da adolescência até o casamento, Jungkook havia gostado de se sentir assim: desejado e cobiçado por todas, por mais que fosse fiel e só tivesse olhos para uma única mulher. No entanto, depois do divórcio — embora a ideia de acabar com os longos anos de casamento tivesse partido da própria Amanda —, Jeon passou a ignorar tal fato.
Para ele tanto fazia. Sabia que deixava algumas nervosas, outras com desejos sexuais à flor da pele, enquanto o resto ficava sem graça na frente dele. Tudo sempre esteve muito bem para o rapaz e ele nunca mais tinha chegado a se importar com o que despertava em mulheres aleatórias.
Até aquele momento, pelo menos.
Jungkook não sabia ao certo como ou por que estava sentindo aquilo outra vez. Mas tudo acontecia tão repentinamente que era impossível cogitar a ideia de evitar as emoções que lhe tomavam, como a correnteza de um rio que o levava para longe sem opção de qualquer parada ou defesa. Portanto, Jeon permitiu-se apenas senti-las, ainda que superficialmente.
Depois que a mulher deixou definitivamente a sala, fazendo ecoar um baque ruidoso na porta de madeira, os cantos dos lábios de Jungkook curvaram-se num meio sorriso quase tímido ao lembrar da face dela ao sair do escritório. Uma pergunta involuntária surgiu em sua mente:
Por que Kang Haeyon parecia tão bonita até mesmo envergonhada?
•••
— Preciso respirar... Preciso de ar! — Haeyon sussurrou para si mesma, ao chegar no bebedouro do outro lado do corredor.
Pegou um copo descartável na mesinha ao lado e bebeu a água o mais depressa possível, sentindo o líquido gelado descer como navalha cortando sua garganta. Após se certificar de que havia bebido toda a quantidade, Hae jogou o copo no cesto de lixo e cambaleou até a parede, apoiando-se nela. Fechou os olhos e respirou fundo, só abrindo-os novamente ao sentir mãos esguias apertando seu ombro. Virou-se num sobressalto, pensando que se tratava de Jungkook sentiu seu estômago revirar, mas logo relaxou quando viu que era apenas Kang Seulgi.
— Está passando mal? — indagou a moça, observando a face corada de Haeyon com atenção.
Hae arrumou a haste do óculos em seu nariz, franzindo o cenho.
— Não. Ou acho que não... — murmurou para si mesma a última parte, levando o indicador até o queixo, pensativa.
Droga. Por que Jungkook tinha de ser tão… Ela não sabia ao certo o que exatamente ele era, uma vez que o homem era a junção perfeita de diversos adjetivos numa frase só. Mas por que ele havia causado sensações tão estranhas nela apenas com um simples olhar? Por que e como ele fizera aquilo? Era proposital? Será que estava brincando com ela? Haeyon não sabia responder aquelas indagações, mas sabia que o que ele a fez sentir não era normal, era extremamente preocupante.
— O que deu em todo mundo hoje? — Seulgi cruzou os braços, examinando a figura da colega de trabalho que parecia estar em outro mundo. O da lua, talvez.
Haeyon ergueu as sobrancelhas, confusa.
— Como é?
— Sei lá. Estão todos bem estranhos, sabe? Yoongi está entusiasmado com sabe-se lá o que, meu telefone não tocou nada desde quando acordei, o chefe Jeon está supervisionando o trabalho de alguém pela primeira vez e você tá aqui, falando sozinha. Me pergunto: sou eu ou tem alguma coisa que todos vocês estão escondendo?
Haeyon arrumou sua postura, sem fazer a menor ideia do que Seulgi estava falando.
— Eu não sei. Para mim não tem nada acontecendo. Está tudo perfeitamente normal, normal até demais, sabe? Então, não faço a menor ideia se tem algo acontecendo ou não.
Seulgi franziu o cenho, comprimindo os lábios enquanto permanecia lhe fitando. Kang Haeyon era uma pessoa legal — ela sentia em seu íntimo, apesar de conhecê-la há pouco tempo —, mas agora agia como se alguma coisa a incomodasse. Alguma coisa ruim. Muito ruim.
— Então por que falava sozinha? — questionou e Haeyon gaguejou ao formular a primeira frase.
— Estou… Estou um pouco tensa, apenas. Acho que é normal para um primeiro dia de trabalho.
"Tudo corria perfeitamente bem até alguns instantes atrás", sua mente completou sorrateiramente, mas Hae afastou o pensamento o máximo que pôde.
— Você entende, não é?
— Talvez, apesar de que nunca me aconteceu. Autocontrole é essencial nesses momentos, portanto essa sensação vai passar antes que se dê conta. — A mulher alta sorriu. — Vai almoçar em algum lugar específico daqui a pouco?
As palavras da colega de trabalho fizeram Haeyon arregalar os olhos, checando o horário no relógio de pulso e certificando-se de que faltavam pouco menos de duas horas para o horário de almoço.
Arrumando a haste do óculos de volta em seu nariz, respondeu:
— Não tinha pensado nisso ainda. Mas talvez eu vá naquele mini restaurante do outro lado da rua.
— Ótimo! Vou com você. — Seulgi disse às pressas, parecendo animada enquanto falava, sem ao menos perguntar se podia acompanhá-la ou não. Haeyon jamais negaria se ela pedisse, mas achou um pouco estranho aquela intimidade toda. — Tô animada agora que você está aqui. Sabe, eu sempre almoço sozinha e ter uma mulher trabalhando no mesmo ambiente torna tudo menos solitário.
Haeyon murmurou um "ah" baixo e Seulgi meneou a cabeça, fitando-a através dos óculos de grau como se indagasse finalmente "posso ir?". Tratou de respondê-la rapidamente.
— Claro. — Esforçou-se para parecer simpática da mesma forma que Seulgi era com ela. — Pensando bem, acho que eu também não gostaria de almoçar sozinha. Assim que bater o horário, nos vemos no salão principal.
— Tudo bem. Aproveitando a deixa, preciso te contar algumas coisinhas sobre essa cafeteria — Seulgi sussurrou enquanto Hae começava a caminhar de volta para seu escritório, por um instante esquecendo-se de que Jungkook ainda estava lá. — Você sabe, assuntos de mulheres.
"Não, não sei", foi tudo o que Haeyon pensou ao passo que as mãos de Seulgi apertavam seus ombros e a mais alta sorria abertamente.
Ao adentrar a sala outra vez, a sensação de torpor se duplicou na garganta de Haeyon quando Jungkook tornou a pousar os olhos sobre si, fazendo-a desejar sair dali o quanto antes.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro