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9. Júlia

Se eu ligasse pra Alê e contasse o que aconteceu ontem, minha irmã ia rir da minha cara até passar mal. O Braga está me entupindo de sanduíches e não quer me beijar. Ele prefere me deixar na vontade e ir pegar uma mulher no bar.

Minha irmã ia dizer que é culpa desse meu jeito de menina certinha. Ela diz que eu sou muito certinha, os caras não querem me magoar. Eu sempre achei isso uma coisa terrível de se dizer, porque, bem, não é verdade.

Meu primeiro namorado foi um idiota comigo, me traiu váááárias vezes. E eu nem percebia! Tive que passar a humilhação de descobrir através do meu irmão que ele estava me enganando...

O Hugo só ligava para a minha existência quando estávamos em público, quase não me dava atenção, e... O nosso término foi a pior coisa que já aconteceu comigo. Muito pior que passar o dia inteiro sentindo o cheiro de lixo, porque ele fez com que eu me sentisse o próprio lixo. O que o Hugo fez comigo, com a minha autoestima... Até hoje não sei se eu superei aquilo. Até hoje não consigo falar sobre o que aconteceu. Até hoje não contei para ninguém por que eu terminei um namoro de mais de um ano por mensagem. Até hoje eu não consigo olhar na cara dele sem querer me trancar num quarto escuro e esquecer tudo o que eu vivi.

E o que ele fez comigo... Não é algo que se faria com uma menina certinha. Na verdade, não é algo que se faça com qualquer pessoa.

Dane-se o Hugo.

Será que eu não consigo que um homem como o Braga me leve pra porcaria da casa dele? Fico me olhando no espelho, pensando se tenho como parecer menos "certinha". Aquela menina no bar estava com uma meia-calça arrastão, um decote incrível, ela estava uma deusa... E eu tenho essa franjinha.

Uma franjinha!

Pelo amor de Deus, eu tenho 26 anos e uma franjinha. Afasto a franja e encaro a minha testa.

É que eu não consigo tirar essa franjinha. Eu sempre tive... Quando eu era criança, Alê dizia que eu era cabeçuda. Isso ficou na minha cabeça.

Isso tudo é muito idiota. Eu não sou cabeçuda. Eu fico bem de franjinha, que se dane o Braga e suas mil mulheres.

Não quer me beijar? Sou muito comportada para a sua cama?

Então, tudo bem. Vou beijar outra pessoa.

Quem estou querendo enganar? Eu não vou beijar ninguém.

Estamos no meio de uma pandemia, eu mal saio de casa sem ser para trabalhar... Desde que eu parei de sair com Roberto, há mais de um ano, a língua do Miguel no meu lábio é o maior contato que eu tenho com um homem. Estremeço lembrando daquela carícia, do calor que eu senti pelo meu corpo, mas aí fico com raiva.

Ele me deixou praticamente implorando.

Que babaca! 

Ainda nem tomei café da manhã e já pensei tudo isso. Às vezes, é exaustivo ser eu, mas imagino que todo mundo se sinta assim. As palavras do Miguel contra a minha boca voltam do nada e eu quase derrubo meu café.

"Vou provar que tenho valor. Vou provar que pode confiar em mim".

O que ele quer dizer com isso?

Se ele está achando que precisa me enganar, me fazer acreditar que ele é um cara sério que quer ter um relacionamento só pra me levar pra cama, ele está muito enganado.

Não é só porque eu tenho cara de tonta que eu vou cair nesse papo.

Eu sei muito bem quem ele é.

Eu sei muito bem que eu nunca arrebatei o Miguel com meu 1,60m e a minha franjinha. Fala sério, o cara nem me viu na primeira vez que eu estava no mesmo ambiente com ele!

Com certeza, o Miguel está tendo alguma dificuldade pra transar, por causa desse covid desgraçado e eu sou a mulher que está bem na cara dele. E ele não precisa me enganar, eu quero estar com ele.

Pera. Eu decidi isso?

Há uma semana, eu não suportava esse cara. Agora, estou deixando o Miguel lamber minha boca, abrir a porta do meu carro e me mandar mensagens... É o maldito cheiro falando, percebo.

Dormi com o cheiro do Miguel no meu nariz e ele ainda está aqui. E o cheiro está me deixando maluca. Eu marquei um encontro com o Miguel... Foi antes ou depois dessa loucura com os cheiros? Agora, não me lembro, mas também não me importo.

Estou há um ano sem ficar com ninguém. Eu mereço ficar com alguém. E daí se eu transar com o Braga? Essa cidade inteira já transou com ele. Vou só estar por dentro do que todo mundo está falando. Eu não vou me apaixonar por esse cara, né?

Júlia, você não pode se apaixonar por esse cara.

Não pode.

Nem pensar.

Tá bom. Estou mentalizando isso. Não vou me apaixonar. Vou dormir com ele. Só isso.

Pera, não é dormir.

É transar. Vou só transar com ele. Trepar e pronto.

O Braga não dorme com ninguém. Todo mundo sabe disso.

Tá legal. Sem me apaixonar, sem dormir, sem sentimento.

Mentalizo isso repetidas vezes até me sentir confiante.

Preciso de uma roupa pra hoje. Tem que ser uma roupa que dê pra trabalhar e depois ir para o encontro, porque, como dois donos de restaurante, nosso encontro vai ser 1h da manhã, logo depois que fecharmos...

Abro meu armário e vejo uma explosão de cores. É quase como se um ursinho carinhoso tivesse vomitado lá dentro.

Calça jeans? Não, nada de calça. Quero facilitar a minha vida e a dele. Quero que ele pegue na minha perna, quero as mãos dele na minha coxa... Meu Deus, esse cheiro...

Volto um minuto depois com uma xícara de café e enfio meu nariz lá dentro.

Agora posso tomar uma decisão racional.

Pego um vestido azul escuro. É estampado com flores, mas elas também são mais escuras, meio amarelas, laranjas e beges. Tem um decote profundo na frente e outro nas costas. As mangas são meio largas e vão até os cotovelos. Não é sensual, mas é fresco, mostra a minha pele nos lugares certos e, principalmente, é fácil de tirar. Calço minhas botinhas favoritas. Por um momento, hesito aqui... Não sou muito alta, mas também não quero passar o dia inteiro de salto só pra agradar ao Miguel. Ele quem me chamou para sair depois do trabalho, é isso que tem para hoje. Antes de sair de casa, pego um cachecol mostarda. Ainda está meio frio.

Faço um trajeto insano para ir para o trabalho e estou me achando genial. Não vou encontrar o caminhão de lixo. Não tem como eles passarem por aqui. Estou dando uma volta desnecessária, mas não quero me arriscar. Não posso passar mais um dia com esse cheiro de lixo no meu nariz.

Estou dentro da minha cozinha e tudo está correndo perfeitamente bem quando, de repente, ele está aqui.

O cheiro de lixo. Do nada.

Não estou acreditando nisso. Eu fiz tudo para evitar isso. Eu fiz um trajeto 20 minutos mais longo... O cheiro me seguiu? O cheiro me arrebata e eu olho para o peixe na minha frente e só tenho tempo de chegar até o banheiro antes de vomitar.

Me sento em um banquinho na cozinha, com os olhos cheios de lágrimas por ter vomitado, minha garganta doendo. Edu traz uma água pra mim. Quero chorar.

O cheiro é absurdo, é terrível, insuportável.

Estou com raiva. Olho para os lados, querendo ver se alguém passou com um saco de lixo na minha cozinha, mas sei que não. Meus funcionários não fariam isso.

Meu café da manhã não está mais no meu estômago e não consigo almoçar. Escovo os dentes uma vez, duas, três, na tentativa de tirar esse cheiro de dentro de mim. Sei que só eu estou sentindo isso.

O que está acontecendo comigo?

No final do dia, não estou me sentindo tão legal quanto eu gostaria, queria estar com o cheiro do Miguel. Cheiro café direto da xícara, direto do pó, mas não adianta nada.

Pelo jeito o lixo não tem mais hora nem regra para aparecer. Ele vem e vai quando ele bem quer.

Quando o Miguel entra pela porta do meu restaurante, ainda tem um casal de namorados comendo a sobremesa. Ele está lindo demais, usando uma blusa preta que se ajusta ao seu corpo de um jeito... Fico imediatamente sem graça com o rumo dos meus pensamentos. Ele se senta no bar, seus olhos são tão profundos e escuros, eu me perco por um momento, enquanto fecho o caixa. Minhas pernas estão bambas. Quero dar uma boa cheirada nele para sair do lixão, mas não sei como fazer isso com aquele casal ainda ali. 

O Edu leva a maquininha do cartão para o casal, que paga e logo sai. Amém.

Depois, pega a mochila dele e vai embora com um: - Até logo, Seu Miguel. Até logo, Dona Julinha. Melhoras.

- Melhoras? Está se sentindo mal? – pergunta o Miguel, imediatamente.

Levo a mão ao pescoço para pensar e, quando vejo, ele já está do outro lado do balcão, colocando a mão na minha testa. Aproveito para inspirar e...

Graças a Deus! Obrigada, homem lindo e cheiroso! Estou fora do lixão! Saí e agora posso voltar à minha nova vida de ninfomaníaca.

- Não, o Edu se preocupa demais. Estou bem.

Isso não é verdade. Não estou bem. Estou ficando louca. Sinto cheiros que não existem. Passo metade do dia passando mal e a outra metade subindo pelas paredes.

- Mas o que houve? – ele quer saber.

- Nada. Estou faminta – digo. – Não comi nada o dia inteiro só pensando em como você vai me alimentar hoje.

Ele abre um sorriso e logo está gargalhando. Passa o braço por cima dos meus ombros. Seu braço é forte e tatuado, eu viro o rosto e meus lábios tocam a sua pele. Abro os olhos e tem uma pantera me encarando. Levo um susto e recuo. É uma tatuagem no seu braço e ele agora está me olhando com uma cara de puro divertimento.

- Tem medo das minhas tatuagens, Dona Julinha? – ele pergunta, imitando o Edu.

- Não, nem um pouco.

Quero ver todas elas. Vamos pra sua casa, agora.

- Tem medo de mim? – Suas mãos estão no meu rosto agora. Ele está olhando nos meus olhos.

Sim, mas e daí? Me beija logo!

Mas ele não me beija. O homem quer uma resposta.

Sei que meus olhos estão grandes, assustados, cheios dos meus desejos mais profundos. Vou ser verdadeira, então.

- Um pouquinho.

- Por quê? – ele pergunta baixinho.

Porque você é a transa mais famosa dessa cidade. Porque minha vida não é um filme da série 50 Tons de Cinza. Porque minha vida sexual é patética. 

- Porque somos vizinhos.

- Hum... Isso seria um problema, se eu não adorasse ser seu vizinho. Acho que ser perto de você é a melhor característica da minha casa.

Isso me faz rir tanto que acabo com lágrimas nos olhos. Miguel ri também. Seu braço envolve minha cintura e ele fala no meu ouvido: -Vamos pra casa, então, vizinha.

Um arrepio percorre a minha coluna. Não sei se vamos para minha casa ou para a dele, mas é claro que eu quero ir para a dele. Primeiro, porque quero saber como é a casa dele. Segundo, porque vai ser bem mais fácil superá-lo se ele nunca tiver ido na minha casa.

Ops.

Mas não vou precisar superar nada.

Não vou me apaixonar.

Pego a minha bolsa, fecho o restaurante e vamos em direção ao estacionamento. Miguel não me dá a mão, nem coloca a mão nas minhas costas. Ele passa o braço sobre os meus ombros, de um jeito que nenhum homem fez comigo antes. Olho para os lados, mas a rua está vazia. Estamos em Aroeiras, é uma cidade pequena e não sei se é uma boa ideia sairmos por aí enganchados desse jeito.

Tento me desvencilhar quando chegamos ao fim da rua, onde tem um bar com alguns remanescentes. Ele percebe e ouço sua voz rouca no meu ouvido: - Não vou deixar você escapar... Você tem medo de moto?

Me sinto petrificada. Claro que tenho medo. É bem o tipo de coisa que me dá medo.

Não preciso falar nada, ele percebe pelo jeito que eu fico e diz: - Tá legal... Vamos superar esse medo aos poucos.

Quê? Como assim?

Ele abre a porta do meu carro para mim e entra do lado do carona.

O Miguel está no meu carro e agora tudo parece muito definitivo. Estou em um encontro com o Braga. Não sei como estou dirigindo. Tento não pensar em quem ele é, nas farpas que já trocamos, nos peixes roubados, no estranhamento da primeira vez que nos vimos na faculdade... Tento não pensar que ontem mesmo ele estava com outra mulher. De repente, não quero mais ir para a casa dele.

E se essa mulher foi para lá?

De repente, quero que ele vá para a minha casa. Quero ver sua barriga tatuada na minha cama, quero vê-lo com os braços atrás da cabeça no meu travesseiro, quero poder gravar essa imagem na minha mente. Aí poderei imaginá-lo lá. Várias vezes.

Quantas eu quiser.

Ele conta sobre o dia dele. Eu falo amenidades sobre o meu dia. Não conto nada sobre as bizarrices que estou experimentando. Ainda não falei sobre isso com ninguém. Não sei bem o motivo.

Estaciono em frente à minha casa.

- Minha casa ou sua? – pergunto.

- Minha – ele decide, me puxando de novo. Tenho medo de Dona Janete e Marita estarem espionando, mas está tarde para elas. Ninguém está vendo, mas estou indo para a casa do Braga.

Eu nunca tinha pensado muito na casa dele, mas é diferente do que eu imaginaria. É igual a minha, idêntica, mas o sofá é de couro, a mesa é de madeira e tem um tapete fofinho no chão. Cinza claro. Ele tem plantas. Ele tem uma horta de temperos. Ele tem quadros com fotos de praias, trilhas, cachoeiras. Ele mal abriu a porta e meu cérebro já está à mil, registrando todos os detalhes da intimidade de uma pessoa sobre a qual eu sempre ouvi tantas coisas, mas nunca... Nunca imaginei que ele teria plantas. Hesito antes de pisar no chão, acho que tenho que tirar os sapatos. Ele diz para eu ficar à vontade, tiro se quiser, mas já estou tirando. Agora com o covid, todo mundo tira os sapatos na casa dos outros. 

Percebo tarde demais que esqueci de escolher meias apropriadas para um encontro adulto e estou usando uma meia com a cara de um ursinho panda na ponta dos dedos. Tento esconder as meias dentro das botas, mas o Miguel está me olhando. Ele já viu. Tem um sorriso no rosto e um olhar... predatório.

- Belas meias – ele comenta, se dirigindo para a cozinha.

Ele abre uma garrafa de vinho. Isso está acontecendo mesmo.

Ele coloca uma música. Isso está acontecendo demais.

O cheiro dele está na casa inteira. Chegou a minha vez, Aroeiras.

***

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