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2. Miguel

Já passa de 1h da manhã quando eu vejo as luzes do restaurante da Júlia começarem a se apagar. Tento diminuir a minha expectativa, enquanto pego os dois sanduíches que deixei separados no balcão. Natália, a minha última garçonete, ainda está por aqui apesar de não ter motivo para isso. Todos já foram embora.

- Pode ir, Nat. Fez um bom trabalho hoje – Torço para que ela se apresse. Meu plano é chamar a Júlia para vir até aqui, comer esse sanduíche comigo, quem sabe baixar a guarda um pouquinho... Podemos abrir uma cerveja... Se bem que acho que Júlia ia preferir um vinho. Eu prefiro um vinho também, mas como tenho uma hamburgueria, cerveja cai bem.

É claro que eu fui hoje na feira àquela hora só para trombar com a Júlia. E meu plano não era roubar o peixe, mas ela não chegava e eu estava lá com cara de idiota na frente da barraca e aí o José fez uma promoção que era impossível não aceitar... Não quis ser mal-educado com o velho. E aí a Júlia chegou bem na hora e eu não sei o que acontece comigo, mas eu fico que nem um garoto da 5ª série que não sabe falar com a garota que gosta.

Por causa dessa atitude, nos últimos anos, eu convenci a Júlia de que eu sou um babaca. Ela nem aguenta olhar na minha cara, mas eu quero muito que ela mude de ideia, porque...

- Miguel, você vai ficar aí sozinho? Será que eu posso ser sua companhia?

Natália está olhando para mim com uma cara tão sensual que eu quase não acredito.

O que ela está pensando? Eu sou o patrão dela!

- Não, Nat, na verdade, eu tenho um encontro.

- Um encontro? – questiona Nat, curiosa. – Comigo?

Tenho que admitir que ela é ousada.

Evito revirar os olhos e sorrio educadamente, balançando a cabeça, mas nesse momento a última luz no restaurante da Júlia se apaga e ela sai andando pela rua. Antes que eu conseguisse correr entre as mesas, ela passou pela porta do meu restaurante sem nem me olhar.

- Ei, Júlia! – Corro atrás dela, com os dois sanduíches na mão, me sentindo meio idiota. – Ei, ei, espere. Achei que tínhamos um encontro – Abro meu melhor sorriso.

Ela faz uma cara de desprezo.

Droga.

- Estou vendo que você já tem companhia, Miguel – Júlia acena para Natália.

Para meu azar, Natália acena de volta.

- Não, não, Nat é uma garçonete nova, não é nada...

Mas ela já virou as costas e está indo embora.

Que cabeça-dura!

Fico olhando a Júlia se afastar, pensando se eu deveria insistir e lembrando do discurso que minha irmã sempre faz sobre homens tóxicos e insistentes. Ela chega ao carro e o bip do alarme me desperta.

- Ei! – Corro até ela novamente, segurando a porta antes que ela feche: - Ao menos, leve o sanduíche que eu fiz para você.

Ela ergue uma sobrancelha, curiosa.

- Você fez um sanduíche para mim? – sussurra, visivelmente surpresa. Eu aproveito o momento para passar os olhos pela sua roupa colorida e alegre. Júlia está usando um vestido florido, um casaco caramelo imenso com pelos no capuz e um cachecol com várias carinhas amarelas que sorriem. Eu sorrio também. Sempre sorrio quando consigo chegar perto o suficiente para reparar nesses detalhes. Com tanta roupa, não consigo ver nenhum trecho de pele, mas fico perdido no seu rosto, nas covinhas nas suas bochechas, na franja que cai sobre os olhos, o cabelo castanho embolado no cachecol...

- Por que está me olhando assim? – pergunta ela, desconfiada.

Porque eu gosto de você, penso. Sou completamente doido por você, quero responder. Mas sei que não vai colar. Pelo jeito que ela me olha, sei que está pensando em algo horrível. Ela analisa o sanduíche como se eu fosse envenená-la.

- Belo cachecol – respondo, notando que isso pareceu um pouco irônico.

Ela bufa de um jeito adorável e tenta fechar o carro, mas eu ainda estou segurando a porta.

- Foi um elogio – tento consertar.

- Bem, eu precisava de um sorriso depois que você roubou todo o meu peixe.

- Júlia... Eu estava falando sério sobre... – começo a dizer, mas sou interrompido.

- Peguei suas coisas pra você, chefe – cantarola Nat, parando bem do nosso lado.

Júlia revira os olhos e, quando eu me viro para pegar minha mochila, ela já fechou a porta e o carro começa a se afastar. Merda.

Quando estaciono a moto em frente ao meu jardim, observo que as luzes da casa da Júlia, no final da rua, ainda estão acesas. Quero ir até lá, quero terminar de dizer o que eu estava tentando, mas não consigo. Não posso, na verdade. Bater na casa de uma mulher a essa hora... Minha irmã me xingaria por semanas. Me chamaria de abusivo, convencido, arrogante...

Eu posso ser bem convencido e arrogante, mas não com a Júlia. Alguma coisa nessa garota acaba com a minha confiança. E isso não é de agora. Já tem anos que ela me atormenta. Eu lembro perfeitamente quando eu vi a Júlia pela primeira vez.

Era meu último ano no curso de culinária e eu estava no auge. Eu tinha tantas mulheres que eu nem sabia quantas, eu era um completo idiota. Nunca enganei ninguém, mas eu fazia questão de deixar bem claro que eu não ia me envolver com nenhuma delas, como se eu fosse muito especial. Bem, eu construí uma fama ridícula para mim mesmo e agora sou vítima do meu próprio ego.

Que patético.

Como eu era um veterano, eu ia participar de uma aula teste com os calouros. Eles ainda nem tinham começado no curso, era apenas para terem uma ideia de como tudo funcionava, do que iam aprender. Além de mim, o Hugo, um babaca do meu ano que eu detestava, também ia participar. A nossa rivalidade remontava desde o primeiro ano da faculdade e era algo que eu levava muito a sério naquela época. Desde o primeiro semestre, o Hugo tentava me superar. Era quase uma questão de honra para ele, porque no início da faculdade nós fizemos uma demonstração para os pais e... Bem, o pai dele elegeu o meu prato como o melhor. Acho que isso pegou muito mal pra ele... Mas, pra mim, não era uma questão de honra. Eu só não queria que ele me vencesse. Nunca. Então, eu levava a nossa rivalidade muito a sério. Antes desse dia.

A aula consistia na seguinte dinâmica: eu e Hugo escolheríamos os calouros e dividiríamos a turma em equipes. Nós faríamos duas receitas nossas, liderando as equipes. Os professores apontariam os acertos e erros nos processos de cada equipe.

Eu estava aproveitando aquela oportunidade para conhecer as calouras, então eu fui escolhendo as mais bonitas. Enquanto isso, o Hugo ia escolhendo todos os caras. Sim, nem eu, nem ele tínhamos maturidade para liderar qualquer coisa que fosse. O problema todo foi que eu não vi a Júlia. Ela é baixinha, estava no final da sala de aula e usava um chapeuzinho verde como se quisesse se esconder. Ela acabou sendo a única mulher no grupo do Hugo. O Hugo, que consegue ser um babaca ainda maior do que eu, fez uma piada ridícula: - Essa aqui não é boa o bastante para o seu harém, Braga?

Eu nem tinha visto a Júlia!

Mas a sala inteira gargalhou e eu vi que ela estava tão vermelha, mas tão vermelha por baixo do chapeuzinho verde que parecia um moranguinho. Quando ela atravessou a sala e chegou do lado do Hugo, ele passou o braço pelos ombros dela e ela se encolheu, incomodada.

- Aposto que essa baixinha vale mais que todas as suas mulheres, Miguel! – berrou Hugo e todos os caras gritaram em aprovação. A Júlia levantou os olhos para mim e eu vi que ela estava quase chorando. Meu coração deu um salto quando eu vi seu rosto. Grandes olhos castanhos, levemente puxados, pele bronzeada... Achei que eu fosse passar mal.

Assim que a aula acabou, eu fui atrás dela. Me coloquei na frente dela, pedindo um minuto e disparei as primeiras palavras que vieram à minha mente: - Olha, me desculpa. Eu só não te escolhi, porque eu não te vi.

Ela abriu um sorriso tímido que acabou comigo e disse: - Devo ser invisível, então.

- Não, escuta. Eu só queria dizer que, se eu tivesse te visto, eu teria te escolhido.

- Eu não ia querer ser mais uma no seu harém... Miguel, não é? Parabéns por ter vencido a competição – foi a resposta dela e aí ela foi embora, afundando o chapeuzinho na cabeça.

Eu me senti péssimo. E me senti cada vez pior no meu ano de veterano inteiro, sempre que eu via a Júlia. Eu nunca sabia o que dizer para mudar aquela primeira impressão e, depois, para piorar, ela começou a sair com o Hugo. Quase morri de raiva.

Depois disso, quando eu acabei a faculdade, eu viajei, saí por aí trabalhando em bares e hotéis. Só passava em Aroeiras quando estava de férias. Voltei para morar mesmo um pouco antes da pandemia. E aí, no meu primeiro dia aqui na casa nova, eu saí pra correr e quando eu estava voltando, olhei pra cima e vi a Júlia na varandinha do primeiro andar. Achei que fosse um sinal divino. 

Meus amigos me falaram sobre esse novo lugar no centro, perto do campus, que estava bombando, e eu fui visitar para abrir a minha hamburgueria. Eu estava entre esse lugar e um perto do porto, na Beira Oeste, mas aí, quando eu estava no meio da visita, eu olho para frente e bem ali estava ela: calça jeans, camiseta branca, lenço no cabelo, franjinha, tênis coloridos. É claro que eu não fui nem ver o lugar no porto. Fechei o contrato ali mesmo.

Meu plano era perfeito. Eu ia me aproximar da Júlia aos poucos. Eu ia provar que não era esse babaca que ela pensava que eu era. Eu ia mostrar que tinha amadurecido, que eu era um homem agora... Mas aí veio essa pandemia e, quando eu vi, estávamos todos trancados dentro de casa. Me acostumei a ver as luzes da Júlia se acendendo à noite e se apagando de madrugada. Me acostumei a não encontrar meus clientes, pois só tínhamos delivery. Me acostumei a não fazer a barba por dias, a passar semanas sem ver ninguém, até meses.

Minha família mora em uma cidade aqui do lado, mas eu trabalho com delivery. Eu tinha medo de entrar em contato com meu pai, passar a doença para ele. A única pessoa que eu via era a minha irmã.

Mas, agora, os mais idosos estão sendo vacinados, tudo está reabrindo e eu quero... Preciso voltar ao meu plano.

Por isso, agora, à essa hora da madrugada, estou aqui na minha varanda que nem um bobo olhando a janela da Júlia no final da rua.

Será que sou um stalker?

Minha irmã me xingaria por essa atitude.

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