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O novo negócio abre as portas

A obstinação de Diva, alimentada pela ira, a impulsionou a gerir os aspectos mais essenciais do novo negócio com punhos de ferro, atuando como uma verdadeira empreendedora com o auxílio de Morrison que servia bem como um conselheiro. Graças ao seu empenho e dedicação, a longa papelada para o funcionamento do café seguiu sem grandes transtornos e recebeu prontamente a escritura para tratá-lo oficialmente como deles, reduzindo o tempo de espera para começar a trabalhar. Não obstante, operando com proficiência, a mulher escolheu, não somente a estética do lugar, como também os uniformes que os quatro teriam que usar para realizar os atendimentos e estabeleceu regras de conduta que deveriam obedecer a risca.

Em outras circunstâncias, motivada pelo propósito correto e que não o envolvesse negativamente, teria parabenizado Diva pela iniciativa e independência, incentivando seu desenvolvimento como um bom parceiro, entretanto, ela se mantinha firme com essa ideia e convenceu a todo, literalmente, a participar da empreitada: Nico se encarregou do balcão, Diva com a ajuda de Kyrie administrariam a cozinha, sendo as únicas com dotes culinárias que não implicavam um risco a saúde de quem consumia seus pratos, Trish seria recepcionista por mera diversão e os caçadores a linha de frente. Sem alternativa, Dante aceitou seu papel com orgulho e se comprometeria em alavancar a atual, tristemente a única, fonte de renda.

Exalando júbilo, Diva se ocupava de retocar os detalhes mais imprescindíveis do visual dos homens, ajustando o colete de V para, segundo ela, ressaltar a beleza misteriosa do poeta. Dante não gostava da prospectiva de ter que utilizar gravata em expediente, um acessório desconfortável e que não combinava em nada com seu estilo. Por um ângulo menos pessimista e se divertindo com a expressão pouco amistosa do seu gêmeo por ser designado a serviços de atendimento, o meio-demônio se resignou a colocá-lo para o contentamento da mulher que fez questão de arrumar uma para cada um deles de acordo com sua personalidade. Nero parecia o menos aborrecido com o trabalho sob o pretexto de ter mais bocas para cuidar com as crianças que estão em sua responsabilidade, V em toda sua glória e natureza invejável de tranquilidade não se importava muito para se opor tampouco se mostrava contra sendo o mais neutral dos quatro, Vergil agia com seu típico estoicismo, não tão conformado quanto o filho, porém se comprometeu com Diva e, pelo histórico de cumplicidade de ambos, dificilmente rejeitaria lhe brindar apoio.

Também trajada a rigor, Diva franziu o cenho com o rápido diagnóstico ante ao caçador carmesim: a camisa não fechava como deveria na região do peito. Examinou com cautela a peça para se certificar que era o número correto antes de lançar a hipótese de que ele ganhou ainda mais músculo e o peitoral, já generosamente definido, tinha ganhado mais sustância. Não estranhando o contato, apalpou a área arrancando um sorriso convencido do meio-demônio que permaneceu parado para o constrangimento gradual da jovem. O porte físico invejável de Dante sempre foi um tópico que se habituou com o tempo e a intimidade, sobretudo por ele ser um arrogante de pouca vergonha que passeava pela agência seminu, dependendo do caso não chegava a usar por pura provocação.

— Algum problema, doçura? — seu júbilo se elevou, engrandecendo o ego.

— Não, mas seria bom você manter a roupa no lugar. — afastou as mãos de imediato, se concentrando em abotoar, com muito mais esforço do fora aplicado em V e Nero, a camisa. — Prende a respiração.

— Não sei como isso vai ajudar, mas tudo bem. — acatou o pedido dela, entretido com o espetáculo: Diva fazendo o possível para fechar o “decote” dele. Ela não desistiu até que o tecido ameaçasse rasgar e os botões estivessem prestes a arrebentar, o que não demorou a ocorrer assim que liberou a passagem de ar, soltando-os com uma potência surreal. Diva ganiu com um dos pares de botões que a acertou em cheio.

— Merda! — gritou, se encurvando com a mão no olho esquerdo.

— Diva, você está bem? — Nero perguntou bastante impressionado com o nível de bizarrice, beirando ao hilário, da situação.

— Não! — elevou a voz. — Acertou meu olho!

— Venha, Diva. — Dante chamou preocupado com a possibilidade de tê-la ferido gravemente nesse brincadeira. — Preciso ver.

Ela se aproximou e ergueu ligeiramente a cabeça para que todos tivessem uma visão completa do resultado do seu desafortunado acidente. Dante arregalou os olhos, estendendo a mão para os demais e exigindo em um tom urgente:

— Tragam algo gelado.

Nero mecanicamente, como um rapaz solícito, vasculhou a geladeira e entregou ao tio a única coisa gelada encontrada no congelador: um pacote de carne moída. Sem perder tempo com interrogatórios, Dante encostou gentilmente a embalagem gélida na zona afetada da namorada.

— Desculpe por isso, doçura.

— Não foi sua culpa. — solta um gemido dolorido. — O bom de ter uma recuperação rápida é não ter que esperar.

— Quer um beijinho pra curar mais rápido? — tirou as mechas de cabelo da face dela.

— Na frente de todo mundo?

— Está com vergonha? — replicou, rindo da careta dela. — Não estamos fazendo nada de mais, eles podem aguentar a vista — plantou um beijo delicado abaixo do olho magoado e escutou um ruído de protesto constrangido emitido por Diva.

— Agradeço, Dante. — o caçador pôde ver, por fim, um brilho de esperança com o humor apaziguado da jovem com o carinho, contudo, não durou muito. Diva se recompôs, retomando a postura de general diante dos subordinados e orientou para que fosse para seus postos, dessa vez deixando com que meio-demônio ficasse com o generoso decote.

Dante pegou sua caderneta tal qual seu gêmeo mais velho e os dois rapazes mais novos, cada um com um colocando suas engrenagens pra funcionar e servir os clientes que adentrariam a qualquer momento. Como parte do protocolo, todos deveriam agir o mais encantador possível dentro do que abrangesse a personalidade deles, tendo que, inclusive, serem mais receptivos e só saírem do “personagem” se houvesse flagrante desconforto com algum pedido ou a maneira que eram tratados.

Ninguém iria gostar de contrair mais dívidas e ter que pagar uma funerária porque algum espertinho tentou passar a perna em Vergil — que acabou como exemplo de como não tratar a clientela.

Enquanto se ocupava de seus afazeres, Dante percebeu, pela janela, uma pequena figura do lado de fora aparentemente distraída com a música que escutava no headphone de fio, tudo em sua fisionomia gritava em todos os tons “fofura” como uma de suas mais destacáveis características físicas. Assim que ela adentrou, o perfume doce invadiu o espaço e, sem hesitar, o meio-demônio se aproximou para atendê-la.

Nada como começar com o pé direito, pensou prático.

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