3 • For (the rest of) ever
Música: Come to me, Jang HeeWon (salve ao r&b underground coreano muito bem representado)
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For(the rest of)ever
Seul, agosto de 2024.
— E aí, — ele arqueou as sobrancelhas. – quando você vai parar de enrolar ela?
Em seguida, foi a minha vez de arquear as sobrancelhas, mas logo ignorei a "acusação" e dei mais um gole no meu uísque, finalizando o copo, enquanto Hoseok ainda estava na metade da primeira cerveja. Aquilo com certeza deveria estar quente, me dava arrepios só de pensar.
— Vocês já estão namorando há o que, uns dois séculos? Estão durando mais que o Império japonês*... Não sei como ela aguenta você... — eu tive que concordar, também não fazia ideia. Não que ela também fosse fácil, mas qual seria a graça afinal? Qual seria a graça se não fosse exatamente do jeito que é?
— Você fala como se-
— Eu sou excepcional, excelente namorado, até cozinho sem nem deixar bagunça. – ele sorriu orgulhoso como se tivesse ganhado o prêmio de namorado do ano. De fato, nesse aspecto ele era melhor namorado que eu... — Mas sério, Taehyung já casou duas vezes, enquanto você...
— Taehyung gosta da festa de casamento, não do casamento, você sabe... — disse arrancando algumas gargalhadas dele que, após tentar beber a cerveja quente fez uma careta, empurrando o copo para o outro extremo da mesa.
— Não sei por que eu bebo essas coisas... Mas já pensou, e se você morre hoje? Como vão fazer com os seus patrimônios? Vai tudo pra sua família e ela fica como? — era simplesmente patético Hoseok tentando usar os termos jurídicos que aprendia com a namorada e eu nunca deixava barato, nunca.
— Você acha que é formado em Direito por extensão, não é mesmo? E... Por algum acaso, você envenenou meu uísque?
— Não dessa vez... Inclusive, comanda mais bebida pra gente, minha cerveja já está quente...
— Mas se eu morrer hoje ela não fica com nada mesmo? Nem o apartamento? — por um instante me deu um estalo. Pensei na nossa casa, nela de pernas cruzadas no sofá, a sua estante de livros perfeitamente organizada, seus lápis de cor, o mural de fotos que ela fez no corredor, as suas plantinhas no parapeito da janela e em Holly, que já estava velhinho, mas como ficaria sem mim? Meus pais jamais aceitariam cuidar dele... Talvez eu pudesse deixar com o Taehyung, mas alguém havia comentado que a nova esposa dele não gostava de animais.
De fato, se eu morresse hoje eu deixaria algumas pendências, como por exemplo, as demos daquela cantora estreante sem produzir, aqueles livros na cabeceira não terminados, aquelas louças sujas na pia da cozinha, aquelas camisas amassadas na gaveta. E ela: aquela pendência que eu queria que fosse eterna.
Por que raios eu estava pensando nisso?
Maldito Jung Hoseok.
Olhei bravo para ele que já ria das minhas perguntas e do meu estado reflexivo, enquanto pedia mais uísque para mim e soju para si pelo interfone da sala privada do restaurante.
— Pode deixar que o Dr. Jung vai esclarecer os seus questionamentos. — ele debochou de mim, mas não o culpo. Afinal, havia dado abertura quando direcionei minhas dúvidas sobre sucessão patrimonial a ele que, com certeza, não sabia de nada sobre aquilo além do que ouvia da namorada. — Se vocês já moram juntos, acho que há mais de 3 ou 5 anos, alguma coisa assim, já é como um casamento... Mas não tem que casar casar é só... Como se chama? Ah, co-habitar, que é um termo difícil para "morar junto"... — balancei a cabeça realmente impressionado com a utilização de termo "técnicos", ainda que não confiasse 100% no que ele dizia.
— Então, tecnicamente estamos casados? — ele balançou a cabeça e sorriu satisfeito ao ver as bebidas chegaram e que, de certa forma, eu estava dando algum crédito a sua "consultoria jurídica".
(...)
Toda a minha cautela para controlar o meu estado levemente alterado pelo álcool e não fazer barulho, acordando Holly que deveria estar dormindo nos fundos ou acabar derrubando algum dos infinitos enfeites que ornavam a sala, foi absolutamente desnecessária. Quando abri a porta do quarto, lá estava ela: mais acordada impossível, sentada com as costas apoiadas no travesseiro lendo sob a luz amarelada da luminária um daqueles livros com títulos desnecessariamente grandes: você tem o título de verdade, depois os "dois pontos" – nossa, dois pontos é clássico – e depois uma frase de efeito.
Imagine se, ao invés de termos colocado o nome da música de "Idol" tivéssemos tentado, como nesses livros de psicologia social, condensar a ideia da música no título algo como "Idol: Uma música sobre artistas mundialmente famosos da Coreia do Sul", ninguém escutaria, assim como, ninguém lê esses livros, só ela.
Ou talvez nem ela.
— Aigoo, que bom que você chegou, não via a hora de você me atrapalhar... Meu senhor, que livro chato! — ri do seu tom de desespero e atravessei a cama até conseguir atrapalhá-la com sucesso, unindo nossas bocas enquanto sentia o toque gostoso do seu corpo sobre o pijama.
— Estudando até agora? – Miyoung assentiu encostando a cabeça em meu ombro. — Hmmm minha esposa é tão estudiosa...
— Isso é um pedido de casamento? — interrompeu a trilha de beijos que eu depositava no seu pescoço, ela nunca deixava nada passar.
— Hoseok disse que tecnicamente estamos casados, já que namoramos há dez anos...
— Bem... isso se não contarmos todas as vezes que terminamos por que você colocou açúcar no meu café sem me avisar... — observou com um sorriso no rosto, pesando as duas mãos nos meus ombros.
— É, eu não tinha calculado todos esses términos... Então, estamos namorando há o que... duas semanas? — vi o seu sorriso crescer, mostrando as covinhas na bochecha surgirem, quando eu entrei na sua brincadeira. Seus lábios avermelhados, pelo nosso contato recente, estavam ainda mais convidativos.
— Hm, acho que é isso... Você achou que poderia adoçar o café direto na garrafa. Que bom que não estávamos mesmo casados, um negócio desses dá divórcio... — balancei a cabeça rindo dela antes de aproximar do seu sorriso. — Aish, você não acha uma tese de defesa boa? Aposto que a namorada do Hobi pegaria o meu caso...
— Acho que ela não faz essas coisas de divórcio, só crimes, não? — ela se encostou no travesseiro e me aconcheguei do seu lado.
— Ah, mas deveria ser um crime adoçar o café alheio sem autorização! — balancei minha cabeça que estava apoiada em seu colo e procurei por sua mão, ela era terrível, e eu adorava isso.
Perdi as contas de quantas vezes discutimos por isso. No início era mesmo uma discussão, mas com o passar do tempo se tornou só uma simulação para que eu encerrasse a "briga" com um beijo, vendo seu sorriso bonito antes de fechar os olhos. E já tem um tempo — nota-se que não sou bom com esse negócio de tempo — que decidi que esse sorriso seria a primeira e a última imagem que eu gostaria de ver antes de dormir e que as únicas brigas seriam no limite do amargo que ela gostava de beber. Mesmo que eu fizesse uma careta, receber o seu beijo depois transformava qualquer amargo em doce.
Deixamos as brigas sérias para trás. O passado foi tão amargo, quase intragável, que achei que ela não conseguiria beber. Que não conseguiríamos, mas aqui estávamos nós. Entrelacei as sua mão delicada, as unhas curtinhas pintadas de preto, acariciei seus dedos e pensei que eles mereciam um anel nosso e que ela merecia toda aquela paparicação que as noivas recebiam, ela merecia tudo.
— Você não quer mesmo? — ela abaixou a cabeça e as íris castanhas pousaram sobre mim. — Com festa? Véu? Vestido bufante e essas coisas?
— Você acha que eu tenho cara de que gosto de vestido bufante? – ri da sua indignação que chegou até a me tirar do seu colo. — Ah, organizar festas de casamento é muito trabalhoso... Por que temos que fazer isso se já temos mais... Hmmm, 6 festas de casamento, no mínimo, pra ir? — arqueei as sobrancelhas com o resultado do seu cálculo. — Oh, no próximo ano o Hoseok com certeza já tá casado, nunca vi um homem tão apaixonado nossa...
— Ei! — pigarreei querendo o posto de "homem mais apaixonado", porque eu tinha certeza de que merecia e ela só me olhou de forma debochada.
— Você é um tipo de romântico mais contido... Hoseok quando fala da advogada só falta virar um meme cheio de corações em volta... — ela disse fazendo uma mímica com as mãos tentando simular os corações coloridos pulando pra todos os lado e não conseguir não rir. — Mas deixa eu continuar... Tem todos os seus amigos que ainda não casaram, que são 5, e o Taehyung que ainda vai dar algumas festas de casamento para a gente usufruir... Não se preocupa com esse negócio de festa não.
— Hm, ok... Se está tudo bem pra você, pra mim melhor ainda. Eu detesto dar festas, você sabe... — disse aliviado quando conseguir respirar depois da crise de risos que tivemos por causa do seu comentário sobre os possíveis futuros casamentos do Taehyung. — Vou fazer um chá, quer? Hortelã?
Deixei um beijo em sua mão antes de me levantar da cama e ela assentiu com a cabeça.
— Bebeu muito, é? Sabia que esse papo de casamento deveria ter alguma influência alcoólica. — seu sorriso, o que eu iria ver antes de dormir e amanhã quando acordasse, todos os dias, surgiu antes dela resgatar o livro entre os lençóis.
— Nha... você sabe que Hoseok não aguenta nem duas cervejas... Só quero fazer um chá e ficar aqui com a minha esposa.
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Império japonês* : "O Império do Japão foi uma entidade política japonesa que existiu desde a Restauração Meiji em 3 de janeiro de 1868 até sua derrota na Segunda Guerra Mundial e a outorga da Constituição do Estado do Japão, em 3 de maio de 1947 " (Fonte: Wikipedia).
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hellos loves!
Eu estou enlouquecendo vocês com esse vai e vem? Pois fiquem de olhos nos anos. Vamos tomar um chazinho com o casal, respirar, que tudo vai fazer sentido .
Queria saber de verdade verdadeira o que estão achando. Não esqueçam de deixar seu voto e comentário, eles são essenciais para incentivar a autora ❤️
Beijos da Maria
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