Entrevista 5 - ALBERTA CAMPOLINA
"ESCRITOS EM PAPEL DE PÃO narra a trajetória de uma menina, a partir de de 1971, no sul do Rio Grande do sul. A personagem narradora conta como sobreviveu a uma educação machista e o preço que pagou por tal feito."
Essa é a sinopse de um dos livros mais interessantes e originais que acompanho no Wattpad. A temática é trabalhada de uma forma bonita e sutil. É socialmente relevante, e liricamente belo. Acompanhe a entrevista dessa pessoa incrível que é a Alberta!
Nome
Meu nome é Dagma Colomby, mas escrevo com o pseudônimo de Alberta Campolina (user no Wattpad: AlbertaCampolina)
Idade
49 anos
Quem é você?
Eu sou um ser humano que busca um lugar no mundo e escrever é uma maneira de se colocar no mundo.
Escreve desde quando?
Escrevo desde que aprendi a escrever, mas a vontade de ser escritora brotou na exibição da primeira versão da novela A escrava Isaura, exibida na Rede Globo, por volta de 1976
Por que escreve?
Eu escrevo por necessidade. Tenho dificuldade de me mostrar falando, falo demais e acabo não dizendo nada.
Sobre sua obra, ela tem uma linguagem regional, parece que estamos ouvindo a história contada por alguém de verdade, de tão pura e direta a linguagem. Como é seu processo de escrita?
Li muito Simões Lopes, tenho contato com a vida no campo. Tiive um pai que contava histórias para seus filhos e amiguinhos na hora de dormir. Contar histórias é algo comum em minha família. São todos uns fofoqueiros e isso me ajuda muito na hora de escrever, pois quando não há uma verdade a ser escrita eu invento, faço uma fofoca. hahahahaha
De onde tirou as ideias do livro?
Ninguém, absolutamente ninguém é um ser iluminado, que consegue criar sem ter experiências. A gente cria a partir de coisas nossas, do que realmente é e do que a gente gostaria que tivesse sido.
Pretende partir para publicação física?
Eu não sei. Se acontecer... beleza, se não acontecer eu continuarei a escrever.
Excelente!! Sabe, eu gosto demais da forma como você escreve... tem um estilo muito diferenciado. é meu livro favorito no wattpad aha! Cheguei a pensar que fosse autobiográfico. É tudo ficção, né?
O que não dá para ser verdade a gente poetisa. hahahahahaha! Mas tem coisas verdadeiras sim. Creio que em todas as obras há muito dos autores.
Ah, sim, sem dúvida... em algum canto, a alma do escritor se esconde. Você é gaúcha, né?
Tenho escrito pouco porque o trabalho não deixa, mas quando dá a gente investe. Sim, sou gaúcha. Eu gosto muito do sul.
É, o regionalismo é fortíssimo na tua obra. São várias palavras que a gente entende pelo contexto, mas que são incomuns fora do rio grande, e acho tudo muito poético.
Esse linguajar é típico na vida campestre. Muitas pessoas do sul, da cidade, têm essa mesma opinião. Dia desses um amigo disse que eu tinha de colocar o significado para essas coisas de CTG ( eu só entrei em um CTG umas duas vezes. hahahahaha)
É verdade. um "glossário" poderia ser útil pros mais perdidos. mas daria muito trabalho. e dá pra entender tudo pelo contexto, pelas cenas... então é tranquilo. eu moro numa cidade paranaense com forte apelo gaúcho, então sou um pouquinho mais familiarizado tb ehe
Então és um barriga verde? Barriga verde é quem gosta de chimarrão. Mas escrevo artigos também.
barriga verde seria o catarinense, né... ah, aí barriga verde é quem gosta de chimarrão? a gente diz que é quem nasce em santa catarina rs. eu pessoalmente não curto chimarrão (gosto mais de tererê ehe), mas o chimarrão faz parte da paisagem local aqui.
Estou escrevendo sobre as situações de crueldade a que são espostas as pessoas com sobrepeso.
Você publica esses artigos?
às vezes sim
Um tema interessante. Existe toda uma pressão social pra que o povo seja "seco"...
Estou usando como pano de fundo o discurso de ódio endereçado à Preta Gil, por ocasião de seu casamento.
Ah, sim, lembro disso... que foi alvo de fascistas por ser "gorda" e negra, né... eita brasil bizarro.
Quais são suas referências literárias?
Simões Lopes, Cecília Meireles, Machado de Assis, José de Alencar, J. G. de Araújo Jorge, Jorge Amado, Carlos Emílio Faraco. ESCRITOS EM PAPEL DE PÃO possui forte influência da Literatura Simoniana. Mas gosto muito de todos os outros citados e mais alguns. Florbela Espanca. Tenho medo de citar autores e ser injusta com os que, por falta de espaço deixo de citar. Quando penso que vou parar lembro que tem a Lispector, o Neruda, o Galeano. Essa é uma pergunta injusta e cruel.kkkkk Eu sofro de convulsões literárias, tenho melancolias poéticas. Sou dramática por natureza. Gosto também de dramaturgia. Shakespeare: Amegera domada, A tempestade, Hamlet. Sei lá... gente...não posso deixar de citar Ferreira Gullar... E falta muito. Eu poderia falar do Boca do inferno, do Bocage. Não dá pra responder sem ser injusta.
Na sinopse do teu livro, você diz assim: "A personagem narradora conta como sobreviveu a uma educação machista e o preço que pagou por tal feito." Você é/se considera feminista?
Toda a pessoa que, através de algum meio, desconstrói machismo, pode ser considerada feminista. Sim, sou.O livro narra como vai se construindo como pessoa, alguém que nasce em um universo machista.Eu vejo muitas obras de autoras novas que, embora tentem transparecer uma liberdade, inclusive sexual, reforçam estereótipos machistas.
Depois dessa conversa, ainda enveredamos um papo sobre as dificuldades de se emplacar literatura mais crítica ou menos estereotipada, como a da própria Alberta (quem ler seu livro, entenderá). Na verdade, há muita discussão em torno do comercialismo das editoras hoje, e do método de escolha do que será publicado, no mais das vezes com critérios puramente mercadológicos. Claro que a literatura é entretenimento também, mas é, ainda, um meio para propagar mensagens. Sinto falta de um viés mais político/ideológico na literatura, e esse é mais um motivo pelo qual sou fã de "Escritos em papel de pão". Ele fala da vida concreta. Agradeço muito à Alberta (ou Dagma) pelo papo e pela disposição! Espero ver esse trabalho em papel, e com o valor que lhe é merecido ainda. :)
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