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Capítulo Um

29 de fevereiro de 2016


Um meteorito se movimentava rapidamente pelo espaço. Original de uma supernova de eras anteriores, carregado com a mais pura energia cósmica e essência de toda a matéria. Então, atraído por sua gravidade, seguiu em direção a Terra.

No planeta humano, em um grande jardim nos fundos de uma casa em um bairro de São Paulo, um grupo estava comemorando uma festa de aniversário. Podia se distinguir ali a família e parentes mais próximos juntos de amigos e conhecidos do aniversariante.

O jovem que completava 20 anos estava atrás de uma mesa onde velas brilhavam em fogo vivo sobre um bolo decorado e talvez saboroso. Em uma das bordas da mesa estava uma garota que olhava esperançosa pro aniversariante.

- Assopre as velas - disse um amigo.

- Faça um desejo - completou outro. - Pede dinheiro pra gente.

- Paz no mundo - sugeriu uma mulher aos seus quarenta.

- Deseja algo útil, tipo carro com gasolina infinita - continuou um tio

- É melhor dinheiro infinito - o segundo amigo falou.

O jovem riu desconfortável. Ele e seu desejo eram o centro das atenções naquele momento, algo incômodo e nervoso. Ele olhou para a borda da mesa e encontrou os olhos da sua namorada que o incentivava como em uma telepatia.

- Vai! - imaginava sua voz na mente - Carro com gasolina infinita, eu apoio.

Então ele soprou as velas, pensando forte em seu desejo. O grupo parou de falar por três segundos enquanto as chamas tremulavam com sopro do aniversariante. Todos ali acreditavam no mito de que velas de aniversário concediam desejos.

E as velas se apagaram.

- Willian! Willian! Willian! - vibraram todos em um só coro.

O jovem Will sorriu tranquilo para os seus convidados e também para sua namorada que estava tão feliz quanto ele .

- E o primeiro pedaço vai pra? - o pai perguntou animado - Mãe ou namorada?

O grupo olhou pra mãe do aniversariante.

- Eu recebi pedaço de bolo durante 19 anos e isso me deixou gorda– ela respondeu. – Vai querida, pega o pedaço de número 20.

- Nesse caso vem para mim.

A garota na borda da mesa se adiantou e avançou sobre o aniversariante, beijando-o e tomando o prato com um garfo de plástico espetado em um belo pedaço de bolo. Era tanto o aniversário de Will quanto o de um ano de namoro com Beatriz.

- Feliz um ano de namoro - ela disse

- Tecnicamente falando, começamos a namorar dia 01 de março, hoje é 29 de fevereiro.

- Estou só me adiantando. E seria primeiro de março se não fosse ano bissexto.

Os dois sorriram. Os embates lógicos do casal eram poderosos e era isso que os mantinham unidos enquanto o universo permitisse.

Os convidados vibraram com o casal e continuaram a comemorar com o aniversariante seu vigésimo aniversário, quarto se fosse considerar somente as datas fiéis e não as arredondadas. Will tinha nascido em um ano bissexto, mas isso não era um problema pra ninguém ali.

A festa de comemoração durou até o início da madrugada. A família já estava se recolhendo para casa grande enquanto o aniversariante também se organizava para levar os amigos bêbados para suas respectivas casas. O céu limpo e noturno era preenchido pelas várias centelhas de luz das estrelas, algumas nascendo, outras morrendo.

- Sabia que algumas dessas estrelas que nos vemos já estão mortas? - Beatriz perguntou ao namorado.

- Como assim? - Will sabia a resposta, mas adorava a explicação da amada.

- A velocidade da luz é a mais rápida que conhecemos por percorrer qualquer distância de forma veloz. Mas para algumas estrelas, anos-luz nos separam delas - ela dizia entretida com o céu. - Mesmo que esteja só a míseros 100 anos-luz, estamos vendo a luz agora, e essas mesmas estrelas podem estar mortas nesse momento.

Will adorava como a voz de Beatriz soava doce quando ela falava da sua ciência espacial e especial.

- Elas morreram durante a primeira guerra mundial então - Will disse. - 100 anos atrás.

- Exatamente

Beatriz levantou um copo plástico com refrigerante fazendo um brinde.

- Feliz 20 anos de vida, Will. Feliz 100 anos de morte, estrelas.

Então ela virou o copo de refrigerante, fez uma careta e cuspiu na grama.

- Você achou que meus amigos ficaram bêbados tomando refrigerante? - Will perguntou.

- Como eles colocaram álcool no meu copo?

- Coisas da vida.

Sutilmente, no céu escuro, um meteorito ganhava velocidade e entrava na atmosfera terrestre, tomando forma e ao mesmo tempo se desintegrando. Era sútil, mas perceptível suficiente para Beatriz.

- Estrela cadente! - ela comemorou. - Rápido, Will, faz um pedido.

- Acabei de fazer um pedido para uma vela, tenho que fazer um pra uma estrela cadente também?

Beatriz olhou séria para ele.

- Você é um matemático computacional, eu sou uma astrônoma, e nós dois sabemos que se calculamos o espaço amostral de trilhões de situações com esse minúsculo evento que é justamente uma estrela cadente no dia extra de um ano bissexto que também é seu aniversário resulta em uma probabilidade extremamente rara de acontecer - ela parou pra respirar. - Mas está acontecendo! Agora! Então faz um pedido.

Willian deu com os ombros.

Família, amigos, paz e um amor. Will já tinha tudo que podia querer. Então decidiu que seu desejo era guardar aquela chance pra mais tarde, quando precisasse, isso se essa opção fosse possível.

- Eu quero desejar algo sempre que quiser - sussurrou em corpo e alma.

Era primeira estrela cadente que Will via, enquanto para Beatriz era a trigésima quinta. Ela sabia que desejos funcionavam, pois, anos atrás, em sua primeira estrela cadente, ela viu seu pedido se tornar realidade.

Agora era a vez de Will.

E estrela se desintegrou diante deles.

- E agora? – Will perguntou.

- Não sei, agora depende só do que você pediu.

Beatriz olhava intrigada por lugar onde há poucos segundos antes tinha uma estrela.

- Eu só vou saber quando meu desejo se tornar realidade – o jovem concluiu.

- Talvez já tenha se tornando – Beatriz sorriu. – Talvez.

Os dois se olharam e sorriram um para o outro, então se beijaram ali, sob infinitas estrelas e desejos. E o universo, em toda sua infinidade e grandiosidade, via tudo com anseios.

Espaço, tempo, destino. Tudo já estava traçado.

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