Capítulo Quatro
Willian acordou em um sobressalto.
Quarto branco, apitos de batimentos, alguns fios presos ao seu corpo com eletrodos e também uma via de soro em seu braço. O jovem estava com um roupão branco de hospital.
Estava ofegante, parecia que ainda estava em queda livre, demorou algum tempo até normalizar sua respiração e ver que estava seguro.
O quarto estava vazio, somente ele estava ali, pela janela ele via que já tinha escurecido. Devia ter ficado apagado por algumas horas, mas sentia como se tivesse sido por dias.
Então Beatriz entrou no quarto, viu o namorado acordado e correu para abraça-lo.
- Você deu um susto em todo mundo, sabia?
- O que aconteceu? – Willian perguntou.
A garota puxou uma cadeira de plástico e sentou ao lado.
- Eu falei pra todo mundo que você tropeçou em uma raiz e bateu a cabeça, mas a verdade foi que você apagou enquanto fazíamos nossos testes, caiu direto no chão que estava estranhamente macio por sinal – ela riu. – O médico disse que você teve um traumatismo e apagou, quase que um coma.
Pela mente de Will passou a imagem da sua família e amigos, até mesmo de Beatriz, todo ao redor dele desacordado, em seu coma. Só essa imagem já era perturbadora.
- Mas está tudo bem, você se recuperou bem rápido, sem sequelas e nem traumas – ela pegou o seu celular e mostrou a data pra Will. – Só ficou apagado por cinco dias, mas está tudo bem.
- Cinco dias? – o jovem repetiu incrédulo.
- Não perdeu nada, acredite.
- Só cinco dias da minha vida.
- Eu falei, você não perdeu nada.
Willian revirou os olhos. Sua boca estava amarga e o corpo dolorido, agora ele sabia o porquê de estar naquele quarto também.
- O fato é que você se recuperou muito rápido – Beatriz continuou. – Chegou aqui extremamente fraco, mal respirava sozinho. Os médicos te estabilizaram, fizeram diagnóstico e todas aquelas coisas, e então você ficou aqui, até acordar agora.
- O que eles concluíram com o diagnóstico?
- Que você estava quase sem vida.
A garota foi franca, mas estava sendo sincera. Tinha visto tudo e naquele dia seu namorado parecia morto mesmo, mas ali na sua frente ele parecia renovado.
- Mas olhe pra você agora, parece cheio de vitalidade – ela continuou.
- Você acha que...
- Sua habilidade te curou? Sua provável conexão com a energia cósmica restaurou sua própria vida também? – Beatriz falou. – Eu acho que sim. Assim como acho que foi sua habilidade que te trouxe pra esse hospital.
Will olhou confuso para ela, esperando uma resposta.
- Lembra que eu disse que a energia cósmica é vida? – ela começou. – Acho que você faz o processo contrário, transformando sua própria vida em energia cósmica e então usando essa energia cósmica pra canalizar seus desejos e alterar a realidade. Você sacrificou demais essa energia e sua vida, então seu corpo deve ter entrado em um coma de defesa ou algo assim.
Parecia algo bem lógico para os dois. Talvez mais lógico para Beatriz que para Will, mas os dois pareciam entender bem. Will percebeu que tinha acontecido a mesma coisa antes, no seu quarto, quando ele criou um portal.
Sua habilidade tinha limites então. Sua fraqueza era ele mesmo.
- Precisamos testar mais – Beatriz falou.
- Concordo, mas antes disso...
Will fechou os olhos e mentalizou. Sentia realmente sua vida, estava cheio de vitalidade, de vigor, de poder. Sentia exatamente o que Beatriz tinha falado, convertendo sua vitalidade em energia, sua energia em desejos.
- Eu quero um copo de café – desejou.
Instantaneamente um copo da bebida surgiu em sua mão. Quente, fumegante, soltando vapor, e com certa quantidade de açúcar.
- O que é isso? – Beatriz perguntou.
- Queria saber se ainda tinha minhas habilidades, e também queria café mesmo.
Beatriz riu, porém, ainda preocupada. Então saiu do quarto com a missão de achar um médico e providenciar a alta de Will o mais cedo possível.
Dois dias depois, Willian teve alta do hospital.
Sua família esperava ele ansiosamente em casa com uma festa de recuperação e Will fingia estar se recuperando embora se sentisse mais forte do nunca. Beatriz fazia sua escolta para casa, trazendo o pseudo-enfermo no banco do passageiro de seu carro.
Os dois tinham feitos muitos testes no hospital e concluíram que a teoria de Beatriz estava correta. O combustível de Will era sua própria vida, ele poderia morrer usando seus poderes.
- Precisamos achar um jeito de, sabe, você não morrer – a garota disse parando em um semáforo.
- Acha que posso aumentar minha cota de vitalidade?
- Não sei nem se dá para quantificar ela – Beatriz continuou. – Você vai ter que sentir mesmo, e descansar quando sentir ela baixa.
Os dois tinham chegado à conclusão que a vitalidade-combustível de Will sempre restaurava quando ele dormia, se desligando do mundo, e curiosamente também tomando café.
- Vamos achar um jeito de fazer seus desejos gastarem menos energia.
- Eu sinto que os desejos materiais são fixos, com gastos certos – Will disse. – Os outros, como habilidades extra-humanas, parecem que me consomem aos poucos, enquanto manter eles.
- Homens não voam, então você desejar voar é algo extra-humano.
- E isso drena minha energia enquanto eu mantiver eles.
- Estamos progredindo, logo teremos resultados concretos – Beatriz comemorou.
O semáforo abriu, mas a motorista não saiu com o veículo. De trás do carro surgiu uma moto com dois sujeitos com os rostos encobertos que pararam na frente do carro, o garupa da dupla desceu e revelou uma arma em sua cintura.
O casal dentro do carro congelou de pavor.
- E agora?
- O que acha de virar um herói e nos tirar dessa? – Beatriz falou.
Mesmo relutante e receoso, Will gostou da ideia. O garupa se aproximou da janela do lado de Beatriz e acenou para que abaixasse o vidro.
- Algum plano, herói? – disse a garota se preparando para baixar o vidro.
Will montava seu roteiro na mente, pensando nos seus desejos e ações, em cada passo. Parecia perfeito, então ele acenou para Beatriz que baixou o vidro.
- Sai do carro – o assaltante disse sério.
Beatriz abriu a porta lentamente e saiu, Willian fez o mesmo do lado do passageiro. Mas na manga ele já tinha sua arma, ia lutar, e ia se testar também.
- Quero um campo de força em volta de Beatriz e de mim – desejou.
Ele se sentiu isolado do meio, via uma fina camada protetora ao seu redor e também ao redor de Beatriz. Will deu a volta do carro e se aproximou da namorada, juntando os dois campos de energia, deixando ambos seguros. A primeira parte estava feita, era hora de se divertir um pouco.
- Cara – o jovem foi em direção ao assaltante. – O que acha de resolvermos isso como cavalheiros?
O sujeito virou a arma para Willian, apontando ela para sua cabeça. O jovem recuou um passo, mas reuniu coragem e voltou ao seu ponto inicial.
- Tudo bem então, vamos do seu jeito então – ele disse. – Mas antes, eu quero um pouco de força pra lidar com isso – desejou.
O assaltante olhava confuso para ele, foi esse momento de distração que o impediu de perceber o poderoso soco que veio contra ele. O ladrão foi lançado longe, caindo no chão e deslizando até sua moto. O segundo meliante olhou surpreso, então sacou sua arma e apontou para Willian.
- Magnetismo – desejou.
A arma voou em direção ao jovem e encaixou perfeitamente em sua mão. Parecia mágica, e aparentemente magia assustava o ladrão. Will não gostou da sensação de ter uma arma em sua mão e então com um desejo transformou o objeto em um grande arco de luz já com uma flecha apontada para a dupla.
Os dois ladrões subiram na moto e tentaram disparar em fuga. Mas uma flecha de luz atingiu os dois que caíram no chão e rolaram pelo asfalto. Segundos depois, uma viatura de polícia entrou por uma rua lateral e chegou até os sujeitos.
- E eu quero que todo mundo aqui esqueça o que me viu fazendo – Willian desejou. – Exceto Beatriz e eu, claro.
Então os dois voltaram pro carro, salvos.
Beatriz riu, tanto de nervosismo quanto de tranquilidade.
- Isso foi insano! – ela disse.
- Eu sei! E foi muito legal também!
- Você pode ser um herói! – continuou.
- Eu posso mesmo!
Os dois riram e saíram com o carro, relembrando a sensação.
- Cadente – Beatriz disse.
- O que foi?
- O que acha de codinome pra você como herói – ela disse. – Até porque você é quase que uma estrela cadente.
Cadente. Isso ficou ecoando na mente de Will.
- Eu gostei – ele disse. – Cadente.
- A força do desejo – Beatriz completou.
E os dois se entreolharam, feliz e satisfeitos.
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