
Capítulo XLIV -Família Suicida
" Lucy: Pobre criança condenada a viver neste mundo desgraçado e cruel..."
Depois de cerca de uma hora e meia, Jennifer e Zelo foram para uma direção da praia fazer caminhada e eu e Vlad fomos pra outra, e eu estava relutando a idéia de ficar perto dele. Tínhamos nos divertido bastante no restaurante, contando piadas e fazendo brincadeiras, sem contar que comemos até dizer chega, e eu acho que exagerei um pouquinho. Minha raiva do Vlad diminuiu um pouco também, pelo menos o suficiente para que eu não rasgasse sua garganta em público.
Inalei o cheiro carregado de sal vindo da água. Com os saltos na mão, eu envolvi meus pés na areia quente. Um arrepio gostoso subiu pelo meu corpo com a sensação. Vlad estava ao meu lado, também segurando os sapatos, e ficava encarando um ponto fixo nas ondas que bradavam no mar. Ignorando a existência dele eu me agachei, peguei um galho e comecei a desenhar na areia, primeiro fiz dois círculos um ao lado do outro, fiz uma linha meio torcida logo abaixo e então fiz um ponto no centro do desenho, quando acabei mordi o lábio inferior enquanto analisava o esboço de um rosto na areia. Parecia pior que os desenhos do primário que eu fazia, não me contive e dei uma risada, aquele tinha sido o pior desenho que eu já fiz na minha vida. Eu gostava de desenhar, mas nunca tive talento para tal, porém nunca desisti de aprender, sempre com uma frase em mente "O trabalho duro vence o dom natural". E isso era verdade, eu acho. Senti alguém me cutucar e olhei pra trás, e para o meu desgosto, era Vlad. Pensei em esconder o desenho, mas ao me virar eu me desequilíbrei e cai sentada na areia. Sujando minhas pernas e uma boa parte do vestido.
- O que você quer?! - Murmurei enquanto me levantava do chão mau-humorada. Vlad me ofereceu a mão para levantar mas eu o ignorei.
- Queria dizer que você esqueceu de desenhar o formato do rosto. - Disse ele e eu bati nas pernas para tirar a areia do vestido. Olhei para o rosto no chão, com sorriso torto, realmente faltava um círculo em volta pra dar a entender que aquilo era um rosto, ou, ao menos, algo a ver com isso. Vlad pegou o galho da minha mão, se agachou diante do desenho, e com calma ele fez um círculo em volta de tudo, e então virou a cabeça na minha direção e olhou pra mim.
- Acho que ficou bom. - Disse ele me lançando um sorriso carinhoso, e assim que ele arqueou a sobrancelha em dúvida, uma idéia brilhou na minha mente, pensei em me vingar.
- Vlad você esqueceu de uma coisa enquanto mechia no meu desenho.
- Sério? - Perguntou desentendido voltando a encarar o desenho - O que?
- Que eu me sujei por sua culpa. - Falei e antes que seus olhos voltassem a me encontar empurrei seu ombro, e então Vlad caiu sentado na areia sujando tudo a calça preta. Ele olhou para a própria situação e então olhou para mim, e sua careta de indignação foi tão engraçada que eu não consegui me segurar e desatei a rir. Vlad bateu as mãos na areia.
- Está se vingando agora? - Perguntou ele e eu assentiu rindo ainda mais.
- Nesse caso vamos ter que entrar em um acordo. - Disse se levantando, sua calça estava cheia de areia grudada. - Agora eu vou me vingar - Vlad abriu um sorriso brincalhão e veio atrás de mim, e é óbvio que eu não fiquei parada e sai correndo dando risada. Larguei os saltos na areia e corri. Conforme meu pés batiam no chão repleto de areia ela sujava meus pés e tornozelos. E ficava cada vez mais difícil de correr por que a areia parecia segurar meus movimentos.
Quando estava quase sem fôlego eu parei, suada e com sede, apoiei minhas mãos nas pernas e antes que conseguisse puxar o ar necessário para os meus pulmões fui pega, Vlad me alcançou, me virou pra ele mecanicamente, pelo cansaço eu atirei meus braços ao redor dele e ele me ergueu, me rodando no ar. Então me colocou novamente no chão. Uma brisa gelada do mar veio contra nossos corpos e eu senti goticulas de água salgada molharem meus pés. Estávamos perto da água. Vlad não conseguia conter o sorriso que esboçava nos lábios e eu estava mordendo meus lábios para não gargalhar. Parei por um instante, respirando fundo, meu coração estava disparado, e Vlad olhava dentro dos meus olhos. O peito dele subia e descia e ele estava um pouco ofegante. O abraçei e uma onda de calor surgiu em minha nuca atravessando meu corpo, e me anestesiando. Era tão bom relaxar um pouco e esquecer os tantos problemas que me rodiavam. Apertei mais o abraço e inalei o cheiro de Vlad, seu perfume, um pouco de suor e a doce nostalgia da maresia.
- Luciana... - Vlad começou a dizer com a voz rígida e eu afastei um pouco nossos corpos sentindo um cheiro estranho, e não era do Vlad. Era cheiro de madeira velha queimando. Me soltei dos braços de Vlad, ele estava sério, acho que também tinha percebido, girei sobre os pés olhando em volta para ver se encontrava o ponto fixo que Vlad não tirava os olhos naquele momento, e perto do calçadão meus olhos avistaram fogo, ou melhor um incêndio.
Uma casa de madeira estava pegando fogo, em tudo, saia fogo das janelas, pelas frestas das portas, por toda extensão de madeira. Comovida com nervosismo eu sai correndo até a casa, esuqcendo-me de Vlad, porém o mesmo veio atrás de mim. Quando chegamos no calçadão tinha uma multidão de pessoas em frente a casa, algumas ociosas e preocupadas, outras no telefone chamando ajuda. Me aproximei de um homem idoso cabisbaixo e preocupado. Ele não levantou os olhos quando me viu aproximar dele, apenas se manteu quieto e imóvel.
- Será que tem alguém lá dentro? - Perguntei preocupada, as palavras se atropelando por causa da falta de ar depois de correr. O idoso então levantou os olhos olhando para a casa velha em chamas.
- Um casal muito depressivo mora nessa casa, e eles tiveram um neném recentemente. Acho que eles se suicidaram e levaram a alma da pobre criança junto. - O homem falou entristecido e meu coração pesou, enquanto um frio descia pela minha espinha. Uma agonia cheia de pânico se espalhou pelo meu peito.
- Tinha um bebê lá dentro?!! - Perguntei apreensiva e perplexa, minha pele arrepiou e ele assentiu baixando os olhos novamente. O homem parecia muito triste. - Faz quanto tempo que essa casa começou a pegar fogo? - Disparei e o idoso começou a chorar, eu estava prestes a chaqualha-lo pelos ombros desesperada quando Vlad o fez no meu lugar.
- Responde! - Exclamou Vlad e o idoso levantou os olhos cheios de lágrimas.
- Faz uma hora já. - Respondeu o idoso e eu escutei um choro, minha audição estava se aguçando sozinha, sai de perto deles, pensei que o choro fosse coisa da minha cabeça por eu ter ficado comovida demais com a situação, mas então escutei outra vez, o neném ainda estava vivo!
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