As asas dos anjos eram tão brancas e puras que quase não dava para enxerga-las. A luz parecia forte demais para os meus olhos conseguirem confrontar a imagem deles.
Eu fiquei fascinada por aquilo, eles eram lindos demais, eu me sentia como uma criança querendo conhecer um brinquedo novo naquele momento, eu queria chegar mais perto e tocar suas asas, eu queria ver eles de perto. Puxei a mão de Lucy, nós duas já estávamos quase parando de correr, fascinadas com os anjos. Ela não disse nada, eu também não disse.
Paramos de correr e demos um passo a diante, tinha uma fileira enorme de anjos na beira da lagoa e estávamos à dois metros de distância de um dos anjos que choravam, era uma mulher de cabelos vermelhos, curvada diante da lagoa, chorando cheia de tristeza. Demos mais um passo na direção da mulher anjo que parecia ter a pele de porcelana, eu estava tão hipnotizada com aquilo que quase não percebi que o céu se fechou e que tudo ao nosso redor se encheu com um nevoeiro denso. Mesmo assim ainda não conseguimos tirar os olhos da mulher anjo, suas vestes brancas eram tão simples que faziam transparecer toda a sua pureza, uma faísca se ascendia dentro do meu peito e eu estava ficando cada vez mais ansiosa pra poder chegar perto dela. De repente um raio caiu do céu e fez-se um barulho muito alto de trovão, assim que o raio incandescente tocou a lagoa o chão tremeu. Meu coração pulou dentro do peito e eu cambaleei pra trás segurando fortemente a mão de Lucy na minha, eu não estava conseguindo ver direito o que estava se levantando da beira da lagoa, foi quando a calmaria surgiu depois do raio, que então eu vi o rosto dele.
Luciana deu um grito estridente e tropeçou pra trás horrorizada, era o Bang que estava saindo da lagoa e vindo na nossa direção, com correntes nas mãos, vestido com roupas brancas sociais e estampando um sorriso diabólico no rosto. Segurei a mão de Lucy impedindo que ela caísse e nós duas começamos a recuar pra trás, o nevoeiro estava tão espesso ao nosso redor que eu não conseguia saber onde estávamos exatamente, eu havia me perdido, perdido meu foco no exato momento em que me fascinei pelos anjos. E agora o Bang ia nos cercar por um descuido meu. Droga! Olhei para os lados tentando pensar numa saída daquela situação ou algum detalhe ou qualquer coisa que me desse a entender pra que lado estava a caverna, eu não fazia ideia e não dava pra enxergar nada. A merda foi tão bem feita que eu acho que não tem como piorar a situação!

Assim que praguejei em meus pensamentos escutei uma risada histérica, e em seguida outra... Essa não!
Chutei a areia gelada tentando jogar areia em Bang, ele estava a um metro de distância de mim e da Lucy, e as corrente prateadas em sua mão estavam brilhando como se tivessem sendo iluminadas pela luz da lua enquanto eram arrastadas na areia.
- Me entrega a Luciana que você não se machuca. - Impôs Bang e eu dei risada em deboche.
- Mas é claro... - Comecei, e assim que pude ver a silhueta de um dos palhaços assassinos se aproximando, acrescentei - Que eu não acredito em você!
Meu coração disparou, eu tomei a faca do palhaço que estava praticamente do meu lado num movimento repentino, chutei a areia de novo e uma poeira subiu pra cima, sem perder tempo eu avancei sobre Bang empunhando a faca.
- Lucy pega o palhaço! - Gritei para ela e escutei as risadas dos palhaços cessarem, Bang desviou de um golpe que eu fiz com a faca que rasgaria sua barriga e então lançou a corrente de prata sobre mim, ela passou em volta do meu corpo e assim que Bang abriu os braços pra controla-lá eu me joguei sobre ele, consegui enfiar a faca da baixo para cima e senti o pulmão dele ser perfurado pela lâmina, Bang não demonstrou emoção, seu semblante estava ausente de emoções, ele me olhou dentro dos olhos e apenas puxou a corrente, e foi quando ela se enrrolou no meu pescoço que eu percebi o que ele fez, Bang me deu um soco no estômago com tanta força que me fez puxar o cabo da faca pra baixo e largar ela no chão, antes que eu pudesse me recuperar, ele me virou de costas pra ele com rapidez, tentei desviar de seu plano arquitetado e ele puxou a corrente pra cima me enforcando, a prata começou a arder na minha garganta. Tentei dar cotoveladas em Bang e tudo que consegui foi levar outro soco, só que dessa vez na costela direita que me fez grunir de dor.
- Você está atrapalhando meus planos Eva... - Bang sussurrou no meu ouvido e eu segurei a corrente nas mãos tentando puxar o material de prata pra baixo para poder respirar, Bang por ser mais alto, apertou mais a corrente puxando-a para cima e eu comecei a sufocar sem ar, nesse momento avistei Lucy esfaqueando um palhaço enquanto o outro de quem eu havia tomado a faca antes de partir pra cima do Bang agonizava no chão, se debatendo em seu próprio sangue sujo de areia.
- Seus planos são uma merda! - Retruquei com a voz entrecortada, quase sem ar, e então puxei a corrente com mais força pra baixo, ela quebrou nas minhas mãos e eu a tomei das mãos de Bang. Assim que viu que perdeu seu objeto de defesa Bang me soltou, me empurrando pra frente. Me firmei nos pés pra não cair no chão por causa da força dele e então me voltei para o mesmo com um sorriso no rosto. - Está na hora de pagar os seus pecados Bang...
Bang sorriu de volta pra mim como se tivesse gostado da ideia, segurei direito a corrente de prata nas mãos, ela estava queimando entre meus dedos como se eu estivesse segurando uma panela quente que acabou de sair do fogo.
- Me mostre do que você é capaz. - Bang proferiu me desafiando.