Às vezes recorro às boas lembranças para me acalentarem naqueles momentos em que a melancolia rouba a minha energia, porém mesmo sentindo saudades de algumas pessoas que deixaram de fazer parte da vida, não penso em retroceder... já não caibo mais naquela bolha, a consciência se expandiu e ainda há muito a ser feito, sem a exigência do perfeito, sem oportunidade de passar o manuscrito a limpo, porque a palavra de ordem é viver.

Um dia de cada vez, da melhor forma que puder, sem ativar o piloto automático, sem matar o tempo de tédio para preencher as longas horas em que minha única companhia sou eu mesma, sem fugir desse encontro por receio e desagrado do desconforto. A sombra permite analisar a situação sob um prisma diferente, não é possível suprimi-la.

Florescer também é um ato de coragem e entrega, nunca se tem tanta confiança do que irá acontecer, no entanto, o desejo de encontrar a direção do sol acrescenta emoção à jornada. E daqui a dez anos espero ter orgulho dos caminhos que trilhei, dos sentimentos que me permiti viver, por ter me arriscado em vez de continuar em uma (des) confortável posição de desistente, de quem preferiu parar de tentar por receio de fracassar porque os únicos que fracassam são aqueles que se escoram em desculpas, mas ao mesmo tempo são inconformados com a realidade, incapazes de se perguntar o que poderiam fazer para virar a chave.

Eu, não. Eu estou tentando de novo, não porque espero o melhor tratamento do mundo, insisto porque o mundo não muda, mas à medida em que saio do lugar, é o meu mundo que realinha a órbita e nas noites mais claras a lua reacende o brilho no olhar. Não se trata de perfeição, ela nunca foi uma promessa concreta, diz respeito à iniciativa, de sonhar e ter ousadia suficiente para contrariar todas sentenças ruins. Isso diz tudo.

- 14 de fevereiro de 2023