25
Sempre chove no meu aniversário e esse friozinho gostoso acaba me completando mais que uma daquelas noites quentes em que nenhuma posição me conforta. Meu apetite não é tão voraz quanto eu pensava. As borboletas no estômago me recordam isso.
Antes eu me enganava, assistia o que não gostava, cultivava "pessoas" para manter "lembranças" daquilo que nunca tinha existido e de um tempo distante, mas me esforcei para ao menos uma vez ser especial para alguém, não sem antes me odiar um bocado por nunca corresponder às expectativas.
Ilusão de que os problemas eram pequenos e eu, mais alegre. Sei que não passou disso. Outra utopia que alimentei, confundindo de novo os sinais, a exemplo daquilo que aconteceu com aquele garoto por quem pensei estar apaixonada.
Foi bom reconhecer que fiz o papel de otária porque com a dor teria a vergonha na cara que me faltou por tanto tempo, para discernir que eu merecia muito mais que migalhas. Fui observadora em vez de protagonista. Mas que se foda a novela! Todas elas!
Cobrança disfarçada de entretenimento. Arquétipos comportamentais descartáveis. Engoli minha opinião para ter sanidade. A sala de espera me torturou. Passei longe da prateleira onde o destaque era uma série de dicas para ser magra e linda como aquela atriz que está namorando o craque do momento. Mas eu pensei bem se precisava daquilo. Cheguei à conclusão de que não.
Fui me reinventando. Seletividade. Eu precisava de uma palavra-chave que adequasse àquilo que sou agora. Até um pouco casmurra, por que mentir?
Não me sinto tão à vontade em festas de aniversário, nem promovendo qualquer tipo de hipocrisia que me obrigue a sorrir para estranhos.
Não tenho medo de ser diferente, mas de ser apontada como o problema. Porque eu fui condicionada a me rejeitar por não ser como todas as outras. Minha mãe me disse que não se planta um jardim com flores iguais.
O espelho refletia o que aquele programa imbecil de fofocas pregava. Puta merda! Que padrão mais chato!
Quem faz parte dele?
Uma minoria, sem dúvida. Coando, mutilando, oprimindo. Um padrão melancólico e abrasivo do que é certo para alguém, não para mim. Porque não é correto percorrer objetivos que amanhã ou mais tarde se perderão.
Tem um mundo que esperava o meu olhar. Porque se essa tal de verdade suprema é outra balela, descarto as mais insensatas hipóteses e percebo nitidamente que se eu pensar por mim, cabe também decidir de que lado me sentirei bem.
Eu quero fazer o bem, mas essa coisa de posar de santa não me faz a cabeça. Ser boazinha não é comigo, acorda! Acordei!
Normal eu não sou e quem me aponta os dedos imundos em sinal de reprovação também não é.
É praxe rotular. Sem conhecer, principalmente. Aquela coisinha inconsciente, displicente e tão humana. Nem sempre justa, nem sempre condizente.
E de louca e pecadora eu tenho muito, não é pouco.
O que posso ter para brindar? Mal sei beber. Essa coisa de me conter, falo mesmo, é um saco!
Minha boca "suja" é mais limpa do que muitos corações ditos "puros".
Tenho poucos amigos. Pouquíssimos. Confiar plenamente aniquilou minha paciência. Tem gente que abusa desse negócio de intimidade. Um silêncio delineado com o caderno aberto e uma caneta são o meu tesouro bem mais que dinheiro enterrado, brindes com champanhe importado.
25 primaveras e nenhuma flor. Nem me venha com rosa vermelha e frase feita, meu bem, se as intenções por detrás do sorriso são obscuras. Não me chame de "mô", pomba. Não sou o seu amor, não preciso que você me salve de mim mesma.
Quero um amor meu, que ninguém nunca me deu, um amor para chamar mesmo de meu. Até nas mais doidas projeções. Uma história confiada, polida aos mínimos detalhes pela personalidade.
Um poema pela metade ainda vale mais que a dignidade de alguns. Sem ponto nem nada. O primeiro parágrafo pode ser o fim e ninguém sabe.
By Mary <3
*escrito no dia 16/11/2013.
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