EPÍLOGO
Lena tinha um sorriso leve nos lábios e os olhos fechados, parecendo saborear discretamente o toque muito gentil de Marina.
Apesar da tensão durante o torneio, Mari, na verdade, não parecia ter problema algum com sangue ou ferimentos: pelo contrário, estava até lidando muito bem com a tarefa de limpar e trocar o curativo da sobrancelha de Helena.
─ Ai ─ Marina suspirou então, a certo ponto ─ se eu continuar namorando uma lutadora vou ter que começar a criar maneiras de lidar com meu nervosismo.
Lena aproveitou a curta pausa, abriu os olhos e ergueu a cabeça para olhar para Mari, com um sorriso leve em seus lábios.
─ Namorando, é?
Só então Marina percebeu o que havia falado; e, então, soltou uma risada baixa e encolheu os ombros.
─ Bom...
Helena também riu baixo.
─ Eu gosto dessa ideia ─ concluiu, enfim, e voltou a fechar os olhos.
E Marina, ainda com um leve sorriso, se dedicou a terminar o curativo.
─ Nossa, mas você vai ficar muito style mesmo... risquinho na sobrancelha e tudo ─ Mari voltou a rir, pouco depois, logo que terminou de cobrir os três pequenos pontos com a fita micropore.
Lena, por sua vez, armou uma expressão ironicamente convencida no rosto, apesar dos olhos ainda fechados.
─ Tudo pela beleza, baby.
Marina também riu, enquanto juntava os algodões e curativos velhos e deixava tudo de lado. No instante seguinte, saiu do lugar estratégico entre as pernas de Helena e se sentou na cama da garota, ao lado dela.
─ Prontinho. Mais alguma coisa, senhora?
Lena, enfim, abriu os olhos, apenas para perceber que o rosto de Marina estava bem mais perto do que ela imaginava. Ela sorriu e, por alguns segundos, ficou em silêncio, como se tivesse perdido o fio da meada.
Segundos depois, ergueu a mão e correu os dedos por uma das tranças de Mari, que caía pelo seu rosto, logo antes de prendê-la atrás da orelha dela.
─ Cheguei a comentar que você tá linda demais?
Marina riu pelo nariz e corou levemente, balançando a cabeça.
─ Então... hoje é dia de pegar o boletim, né ─ ela comentou, então, para tentar fugir do breve constrangimento.
O sol do fim da manhã entrava pela janela do quarto, anunciando o dia quente de primavera, e iluminava o ambiente todo, assim como as blusas largas que haviam servido como pijamas para as duas. Lena soltou uma risada, que soou mais como um suspiro de alívio.
─ Nem acredito que essa merda toda acabou.
E ela nunca havia sido tão sincera. Ainda era meio espantoso o fato de que não precisaria mais acordar cedo, se enfiar naquele uniforme e andar até o colégio, ou ver a cara de Caio, Isabella, Rafael ou de qualquer um daqueles professores, ou sentar de novo na carteira do canto, ou ter o trabalho de pensar em justificativas para qualquer uma de suas escolhas, caso elas fossem evidenciadas numa gracinha mal-intencionada, ou, inclusive, se enfiar em um moletom na esperança de simplesmente mimetizar com as paredes da sala e desaparecer por alguns instantes.
Bom, na verdade, Helena ainda nem conseguia racionalizar tudo isso, pensar em cada pequeno aspecto do que aquela liberdade nova significava. No entanto, a tranquilidade que se espalhava pelo seu peito, da mesma forma que o sol aquecendo algo congelado, já era o suficiente.
E, àquela altura, o que viria depois ─ o SiSU, sua chance de obter pontuação suficiente para entrar no curso de Ciências Biológicas, o leve nervosismo de Marina em relação ao curso de História, a própria universidade ─ bom, era tudo assunto para depois. Naquele momento, a sensação era de que o pior já havia passado.
Helena, enfim, voltou a realidade e sorriu ao ver o rosto de Mari diante do seu: as bochechas arredondadas, o formato bonito do nariz, o piercing no septo, os olhos muito pretos, as tranças pretas e azuis emoldurando perfeitamente a figura toda.
─ E tá chegando o aniversário de alguém também, né...
Marina sorriu com a lembrança.
─ Eu nem tava pensando nisso, pra ser sincera.
Lena riu baixo.
─ Bom, eu tava. Inclusive, já planejei seu presente.
─ Sério?! ─ Mari ergueu as sobrancelhas. ─ O que é?
Helena deu uma risada.
─ É surpresa.
Automaticamente, o rosto de Marina ganhou uma expressão que misturava curiosidade e um leve ar de irritação.
─ Assim não vale. Eu sou curiosa, baby!
─ Exatamente ─ Helena riu outra vez, divertindo-se com as expressões da garota. ─ Por isso é divertido...
Mari, porém, revirou os olhos.
─ Paciência, gatinha ─ Lena retomou a palavra e roubou um beijo leve dela, apesar dos lábios fechados, numa expressão contrariada. ─ Agora vamos tomar café? Ainda preciso de ajuda, lembra? Só tenho um braço por enquanto...
Marina, enfim, deixou escapar um sorriso leve e se levantou.
─ Eu só vou porque tô com fome...
Helena acenou com a cabeça, ainda observando a manha Mari e se divertindo com a situação.
Naquele pequeno momento, as coisas não podiam estar melhores.
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