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8. Constelação de Orion

A mulher corria com uma velocidade etérea, evitando esbarrar em árvores ou troncos caídos pelo chão. Ela estava habituada a trilhar aquele caminho e a saltar todos aqueles obstáculos, mas naquele momento a situação havia mudado. Anteriormente, não havia motivos para preocupações, mas agora um enorme lobo a seguia, e ela desconfiava que ele não era um simples animal, mas sim um transmorfo.

Quando tomou uma distância segura, dirigiu-se ao pequeno vilarejo que havia erguido com tanto esforço. Morava sozinha ali, embora os animais sempre a visitassem, a solidão era sua constante companhia. Entrou na cabana e vasculhou as prateleiras até encontrar o único item que precisava retirar dali. Era hora de retornar à civilização, de buscar as escolhidas e de convocar os Caçadores de Orion de volta.

Ao pegar o pequeno saquinho de pano marrom, conferiu o conteúdo e o guardou nas vestes, onde permaneceria seguro. Sentia o pulsar do artefato contra sua pele, um lembrete constante de que deveria mantê-lo protegido.

Tomando um novo rumo, distinto do que usara para chegar ali, sabia que se havia um transmorfo atrás dela, precisava redobrar seus cuidados. Voltou a correr e a se embrenhar na mata. Apesar de o lugar se chamar Floresta dos Cristais, a exuberância da vegetação era palpável, repleta de árvores, flores e plantas. Visualmente, parecia uma floresta comum, mas um olhar atento revelaria cristais crescendo junto com a natureza, como se fossem uma extensão dela.

Uma visão mística se projetou à sua frente, fazendo-a parar instantaneamente e assumir uma postura de ataque. O homem ruivo a encarava com um sorriso presunçoso, e ela desejava poder arrancá-lo de seu rosto.

— Fadinha tola — ele rosnou, enquanto a observava com desdém. — Eu quero o cristal.

— Venha buscar, palhaço — ela provocou, rindo, e logo suas asas cintilantes surgiram, enquanto suas vestes mudavam de cor. Lilian era a fada das joias, e suas asas não apenas brilhavam, mas eram adornadas com pequenas pedras preciosas. Suas roupas tinham tons cristalizados e suas botas também eram enfeitadas com joias cintilantes.

— Com prazer — o homem disse e imediatamente se transformou em um urso colossal, investindo contra Lilian.

Esse era Duman, um dos bruxos do Círculo Negro. Seu poder era o de um transmorfo, diferente de um metamorfo, metamorfomago ou animago. Um transmorfo podia transformar-se em qualquer coisa, seja um ser vivo, um objeto ou um líquido.

Como prometido, ele atacou a pequena fada, que se aproveitou da lentidão de um urso para esquivar-se e tentar escapar. Contudo, Duman foi rápido ao se transformar em lobo e morder seu tornozelo, puxando-a com força e lançando-a na direção oposta. Esse era um problema real. Lilian sabia que correr era mais rápido do que usar suas asas, mas agora tinha que enfrentar a situação com um tornozelo ferido.

Uma parede de cristais surgiu, separando-os por um breve momento e dando a Lilian a oportunidade de voar para um refúgio. Precisava alcançar a árvore portal, que a levaria para outra floresta e, de lá, encontraria alguém que pudesse ajudá-la. A Floresta dos Cristais era inabitável; Lilian morava ali há anos e conhecia bem o fato. A árvore portal era antiga e majestosa, possuindo um portal que conectava a qualquer floresta do mundo, mesmo as mais inexploradas. No entanto, apenas aqueles que canalizassem mentalmente o destino do seu desejo poderiam utilizar o portal, um conhecimento que nem todos possuíam.

Lilian voou por poucos minutos, sem saber onde Duman estava, mas desejando que ele tivesse caído em alguma planta carnívora. Quando encontrou a árvore, pousou e mancou até a passagem. No instante em que atravessava, um animal passou rapidamente com ela, deixando pouco tempo para repelir sua presença.

Ambos caíram na borda de uma nova floresta. À frente, erguia-se um imenso castelo, sua presença majestosa contrastando com a desolação ao redor. A ausência de sinais de vida nas proximidades deixou Lilian em um estado de desespero crescente. Duman reapareceu diante dela, enquanto ela permanecia no chão, incapaz de erguer-se e fugir.

— Insolente — ele rosnou, avançando com fúria, mas uma rajada de energia o fez passar por cima de Lilian e se transformar em uma ave para evitar uma árvore.

Duman pousou de volta na forma humana. Entre ele, a fada recém-chegada e o homem, estava o prêmio almejado: o cristal desejado.

— Pense bem no que fará a seguir — disse o homem, fazendo Duman semicerrar os olhos e sorrir de forma enigmática. Ninguém compreendeu por que ele estava sorrindo. Em desvantagem, seu sorriso se ampliou, as palavras saíram e o sangue do moreno ferveu. — Não sou nada seu e muito menos dele, então sugiro que vá embora.

Duman rosnou, relutante em abandonar o cristal, mas ciente de que não venceria Dean em uma luta justa. Então, transformou-se novamente em uma ave e partiu. Lilian tentou se levantar, mas seu tornozelo a fez fraquejar. Dean a segurou antes que ela caísse novamente.

— Obrigada por me ajudarem — disse ela, olhando de Dean para Alice. — Sou Lilian, a propósito.

Alice examinou a mulher até repousar no pulso, onde estava a marca. Observou as asas, as roupas, o rosto; aquela era a terceira criança da profecia. Sua aura revelava a verdade.

— Eu sou Dean e ela é Alice — disse Dean, oferecendo um sorriso acolhedor. — O que ele queria de você?

— Tenho algo que ele deseja, mas que é de extrema importância para mim e para aqueles que procuro — Lilian respondeu, olhando para Dean. Ambos pareciam estar em sintonia, e Dean nem havia notado, mas seu poder não afetara a transformação da mulher, algo estranho, pois ele geralmente alterava magias com apenas um toque.

— Você é a fada dos cristais — Alice afirmou, fazendo Lilian sorrir. Era óbvio, não é? A transformação da fada dizia tudo. — Você é a terceira criança da profecia.

Aquilo era surpreendente, já que ninguém sabia sobre sua identidade. Quem seria aquela fada? Lilian observou o rosto de Alice, franzindo o cenho.

— Eu sou Alice, fada do tempo e sereia guardiã dos portais, a segunda criança da profecia — e, sem rodeios, mostrou a tatuagem do escorpião. — Estávamos esperando por você, Lilian.

O rosto de Lilian assumiu uma expressão grave, enquanto examinava Dean e Alice. Havia esperado muito tempo por aquele momento e não imaginava que encontraria quem desejava quando menos esperava. Como se fosse uma sinfonia cósmica, as outras chegaram à borda da floresta com os especialistas. Todos pareciam confusos, mas as meninas compreenderam imediatamente quando o escorpião em seus pulsos brilhou, e o que restou foram pontos brilhantes, formando a constelação de Orion.

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