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CRISTINA


Gillian observava o trabalho dos socorristas. Tinha os braços cruzados sobre o peito largo e os dentes cerrados pelo desagrado de ter sido passado para trás.

Depois que constatou a fuga de Vanessa e Cristina, ordenou que toda a propriedade fosse vasculhada e se dirigiu com Miles para o portão principal, a fim de verificar a vítima do acidente. Sabia que era desnecessário, mas tinha que ter certeza de que não se tratava de Malena.

Assim como Dimas tinha falado no rádio, a mulher estava morta e, mesmo Malena sendo muito boa em modificar a aparência, não conseguiria encolher vinte centímetros, nem ser tão magra.

— Como será que ela fez? — Miles questionou.

O vento bagunçava os fios ralos e dourados em sua cabeça, enquanto mantinha os braços cruzados, deixando os músculos em evidência por baixo da camisa branca. A gravata preta tinha um nó frouxo e ele enfiou a ponta em uma abertura entre um par de botões, para impedir que esvoaçasse.

Juan se aproximou com passos ligeiros, desviando da multidão de curiosos que assistia ao resgate. A camisa aberta deixava à vista uma camiseta preta que revelava detalhes da cauda de um escorpião tatuado em seu peito. Ele captou a pergunta de Miles e comentou, parando ao lado deles:

— Também gostaria de saber. Seja como for, foi muito limpo. Não há buracos no muro, nem na cerca elétrica. Os portões estão intactos e os vigias não relataram nenhum problema, exceto — apontou com o queixo para o corpo que estava sendo alçado até a maca, enfiado em um saco preto — a "boneca" ali. O cara dos monitores jura que, antes das luzes apagarem, estava tudo limpo, sem movimento nas câmeras, exceto pelos guardas. Ninguém, além daquelas duas, está desaparecido.

Ele coçou o queixo, confuso.

— Quero muito saber como ela fez isso — confessou. — Ela é mesmo surpreendente, matou uma pessoa para resgatar as "pombinhas". Admito que a subestimei. Achei que o que diziam era exagero, mas não esperava por isso.

Gillian avaliou o rosto jovem e sério dele. A expressão de deboche constante que estava sempre presente em sua face havia desaparecido. Pela primeira vez, entendia que a mulher que estavam enfrentando não era uma sortuda e, sim, muito inteligente.

Se voltou para o portão. Havia observado, com cuidado, todos os envolvidos naquele resgate, assim como, as pessoas na multidão e o pessoal da companhia elétrica que tinha acabado de chegar para restabelecer a eletricidade. Como suspeitava, Malena não estava entre eles.

— Ela não fez isso — afirmou.

— Como não?! — Perguntaram os companheiros em uníssono.

Ele deu de ombros, como se tivesse uma montanha de certezas sobre eles, e enfiou as mãos nos bolsos da calça.

— Malena não mata, nunca matou — explicou em voz baixa que, por um breve momento, foi abafada pelo som da sirene de um carro de polícia que deixava o local. — Tirar uma vida nunca foi uma opção para ela. Sempre driblou as dificuldades com sua inteligência. O que aconteceu esta noite foi apenas coincidência. Seja lá como ela fez, foi feito muito antes disso — apontou para a poça de sangue, onde o corpo da esportista atropelada tinha estado um minuto antes. — Aconteceu horas atrás e não percebemos nada!

***

(7 horas antes).

Vanessa fitava o teto branco e sem graça do quarto. Já conhecia cada curva da rachadura no centro dele, porém não se movia, nem sentia necessidade de afastar o olhar.

Estava deitada no centro da cama, com os cabelos em desalinho e as mãos cruzadas sobre a barriga. Parecia estar serena, no entanto, seu interior se revolvia em uma mistura conflitante de sentimentos. Desde que a verdade sobre Diana lhe fora revelada, aguardava o momento em que ela cruzaria a porta daquele quarto. Ansiava confrontá-la.

Sentada, com as pernas cruzadas, sobre a cômoda no canto do quarto, Cristina a observava. A testa franzida de preocupação formando vincos profundos na pele lisa e levemente salpicada de sardas. Suor umedecia os cabelos loiros e rebeldes, trazendo-lhe uma sensação ruim.

Dois dias tinham se passado, após a conversa com Aquiles. Desde que retornaram para o confinamento, a namorada mal falou. Limitou-se a respondê-la com monossílabos e rejeitou todas as suas tentativas de saber mais sobre Diana e o relacionamento que tiveram.

Cristina fingia estar tudo bem e procurava apoiá-la, entretanto a verdade era que estava morrendo de ciúmes. Fosse verdade ou não, era mais que óbvio que Vanessa ainda amava aquele fantasma de seu passado e perguntava-se, com uma frequência assustadora, quanto tempo levaria para ela perceber que não a queria mais em sua vida.

O medo de ouvi-la dizer isso lhe tirou o sono nas últimas noites e até achava o fato engraçado, pois sempre fora uma mulher de aventuras, de sexo e êxtase, não de amores. No entanto, Vanessa a tinha tocado de uma forma inesperada e, agora, seu maior medo era perdê-la.

Decidida, saltou da cômoda, os tênis fazendo um som oco ao tocarem o assoalho de madeira. Iria lutar por ela. Diana era o passado, ela era seu presente e futuro.

Sem cuidado, jogou-se ao lado dela, envolvendo-a em um abraço apertado e sorriu quando foi retribuída com um beijo longo, diferente de todos os que já tinham trocado.

— Você está diferente desde que conversamos com aquele cara. — Observou.

Vanessa a puxou para mais perto, alegre pelo contato da pele dela na sua. Saber que Diana estava viva tinha mexido com seus sentimentos, contudo, o que sentia por Cristina tornou-se mais sólido. Ela era a calmaria após uma tempestade, o sorriso após as lágrimas e não deixaria que Diana estragasse aquele amor também.

Tinha passado aqueles dias remoendo as lembranças de um passado distante, feliz e doloroso até que deu-se conta do quanto aquilo estava lhe fazendo mal.

— Estou apenas esperando — respondeu, pensativa.

Cristina se apoiou no cotovelo para fitá-la.

— Você rejeitou todas as minhas tentativas de falar sobre isso, porém eu preciso saber o que está se passando aí dentro. Olhe pra mim, fale comigo! Grite se for preciso, mas me deixe saber o que está sentindo e o que pensa! Me deixe ajudá-la, ser o seu porto, sua amiga, sua mulher.

Vanessa admirou a face salpicada de sardas suaves e sorriu. Pela primeira vez, em dias, teve vontade de conversar.

— Uma tempestade — respondeu. — Ela só está crescendo, caminhando rumo ao status de furacão. Quando essa porta se abrir e Diana cruzá-la, se é que ela fará isso algum dia...

De repente, percebeu o quanto aquilo devia ser doloroso para Cristina. Sua namorada vinha assistindo-a sofrer por outra mulher e estava agindo com dignidade e benevolência, apoiando-a naquele momento conturbado, arrasador e estranho. Se estivesse em seu lugar, provavelmente, estaria furiosa e triste.

Afagou a face dela, deixando-se envolver pelo carinho que lhe dedicava.

— Eu te amo! Sei que estou te machucando e peço perdão por isso, mas não consigo evitar me sentir e agir dessa maneira. Não depois de tudo que ouvi daquele homem, não depois de ver aquela fotografia. — Deslizou a mão pelos cabelos bagunçados dela. — Esta é a frase mais infeliz que poderia lhe dizer, mas é a verdade que você me pediu: Ela era a minha vida — sussurrou.

De fato, foi a frase mais torturante que Cristina ouviu e surpreendeu-se ao perceber que era muito mais do que achava que podia suportar. Vanessa desviou o olhar para o teto, outra vez. Havia tanta dor naquelas feições, que Cristina se assustou.

— Me desculpa! Eu não queria sentir isso, mas ela faz parte de quem eu sou — afastou-se, prendendo as mãos de dedos longos entre as suas.

— Então, como pode dizer que me ama? — Cristina indagou num sussurro.

— Porque é a verdade. — Vanessa contornou os lábios dela com a ponta dos dedos. — Você é vida, Cris. Estava tão perdida, antes de você chegar. Com você, meu sorriso é de verdade. Ao seu lado, tudo é mais colorido, mais quente — sorriu. — No entanto, estaria mentindo se dissesse que não estou mexida com toda essa história, com a possibilidade de vê-la novamente.

Cristina sentou na beirada da cama e Vanessa a imitou, continuando:

— A minha história com Diana começou quando tínhamos quinze anos. Ela foi meu primeiro amor e eu o dela. Ficamos juntas por sete anos e, quanto mais o tempo se passava, mais sólido era o que sentíamos. Pelo menos, era o que eu pensava, até descobrir que ela se matou.

Não conseguiu evitar as lágrimas que lhe chegaram aos olhos, externando a dor que sentia. Porém, não as deixou irem além deles. Virou o rosto para que Cristina não as visse e quando voltou a fitá-la, estava serena outra vez. Sua voz tinha perdido o calor do sentimento e apenas narrava os fatos, entregue as lembranças. Vendo-as como se fossem a história de outra pessoa.

— Foi devastador — admitiu, após um longo minuto de silêncio. — Não vale a pena falar sobre isso e, também, não quero. Afinal, foi tudo em vão! O que quero mesmo é saber o porquê.

Cristina engoliu em seco, chocada com a fúria que via no verde daqueles olhos.

— Você ainda a ama — afirmou, angustiada.

Vanessa se pôs de pé com as mãos na cintura, e riu com amargura.

— Não. Eu ainda amo a menina que foi a minha primeira namorada, aquela que morreu tão tragicamente. Ela, eu sempre amarei, pois ela me ensinou a viver, a ser eu mesma, a buscar os meus sonhos. Essa estranha que tem o rosto dela, que atende por Malena, Caçadora e sei lá mais o quê, essa eu odeio!

Andou em volta de si mesma por alguns instantes, então se ajoelhou à frente da namorada, uma das mãos sobre a coxa dela, enquanto a outra segurava seu queixo.

— Me desculpe, Cris. Não queria te falar assim, nem jogar todas essas coisas em cima de você, todavia não quero mentir. Preciso que você saiba o que sinto e que, se puder, continue me apoiando como tem feito até agora.

A resposta de Cristina foi dada na forma de um beijo. Estaria com ela até o fim. E quando Diana viesse, se viesse mesmo, estaria preparada para ela.

A porta se abriu, as dobradiças ressecadas rangeram em agonia, mas elas não se separaram e o beijo continuou leve e carinhoso, doce e desejado, por mais um instante.

O recém-chegado, parado debaixo do umbral, limpou a garganta algumas vezes para lhes chamar a atenção e, com uma sensação de desalento, elas se separaram para se depararem com um rapaz magro, usando óculos de grau e terno preto, assim como todos os homens que guardavam a mansão. A gravata listrada estava torta e o terno amarrotado, como se tivesse dormido com aquelas vestes. Davam-lhe um ar desleixado. Parte de uma tatuagem se sobressaia pelo colarinho, enquanto a arma fazia volume em sua cintura, mesmo encoberta pelo paletó folgado.

— Venham — ordenou ele, com uma voz baixa e rouca, ligeiramente anasalada.

As duas se demoraram a fitá-lo, estranhando sua presença, já que Gillian e Miles eram seus únicos contatos desde a noite em que as levaram para aquela casa.

— Não tenho o dia todo — ele reclamou, então Cristina pegou a mão de Vanessa e a ajudou a ficar de pé, fazendo uma careta de desagrado.

— Para onde? — Ela indagou.

O homem se limitou a indicar o corredor, repousando a mão sobre a maçaneta da porta.

— É ela, não é? Diana está aqui — Vanessa questionou, com um friozinho de ansiedade a tomar sua barriga.

Outra vez, o rapaz indicou o corredor, fazendo uma careta de desagrado e desprezando a pergunta que lhe fora feita. Contrariada, Vanessa obedeceu e foi imitada pela namorada. Seguiram por um corredor adjacente, o qual ainda era desconhecido pelo casal.

O sujeito andava com passadas longas e silenciosas, como se fosse um felino. Mantinha-se muito ereto e a mão repousava sobre o cabo da pistola durante todo o caminho. Ele assobiava baixinho, vez ou outra, desviando o olhar para as janelas que se estendiam ao longo de todo o corredor. Assim como Gillian, na noite em que foram levadas até o escritório, ele não se importou em atar as mãos delas.

Desceram alguns lances de escada e se viram na garagem, que se encontrava ocupada por três carros pretos do mesmo modelo, e algumas motos. O espaço era amplo e, tirando algumas manchas de óleo no piso, exageradamente limpo. O capanga se encaminhou para o veículo mais próximo, cuja janela exibiu seu reflexo e ele endireitou a gravata antes de abrir o porta-malas.

— Entrem — ordenou.

Desconfiada, Vanessa olhou para o espaço pequeno e claustrofóbico. Involuntariamente, suas mãos tremeram. Imaginar-se dentro dele a deixou apavorada.

— Está brincando! — Disse, torcendo para que ele confirmasse isso.

O sujeito sorriu, quase maldoso. As lentes dos óculos eram tão grossas que mal podiam enxergar suas pupilas.

— Entre logo — mandou, impaciente.

Cristina deu uma tapinha nas costas de Vanessa dizendo, com o olhar, que tudo ficaria bem e enfiou uma das pernas no veículo. O homem deu um meio sorriso, satisfeito, e fez um gesto para que Vanessa também o obedecesse.

— Eu não vou entrar aí — proclamou ela, com voz trêmula. O pavor em seus olhos era evidente.

O coração de Cristina estava acelerado e as mãos suadas. Sua mente antecipava o momento certo de agir, fazendo projeções do que poderia vir a acontecer. Durante todos aqueles dias, esteve em busca de uma oportunidade como aquela, mas Gillian e Miles eram muito cuidadosos quando iam até o quarto delas. Com certeza, sua tentativa de fuga, logo que chegaram ali, os incentivou a agirem com mais precaução.

O capanga mantinha a mão erguida, apoiada na tampa da mala. O paletó aberto deixava à vista a pistola 9mm no coldre na cintura. O olhar dele estava fixo em Vanessa, aguardando suas ações.

Aproveitando-se da proximidade e da distração, Cristina tentou lhe tirar a arma, mas ao contrário do que imaginou, o homem estava atento aos seus movimentos e deu um passo atrás, tomando uma distância segura. E, antes que pudesse esboçar outra reação, ela usou o piso da mala do carro como apoio, tomou impulso e jogou-se sobre ele.

O rapaz tentou recuar, mas era tarde demais. O peso do corpo dela o fez bater no suporte que estava fixo na parede e sustentava ferramentas para a manutenção dos veículos. O som do metal caindo no chão duro e sujo de óleo, foi ensurdecedor por um instante, e Cristina jogou seu oponente no chão.

Ele bateu com o rosto no piso, sangue espirrou do nariz adunco e um gemido rouco lhe escapou. Porém, ele se recuperou rápido, e usou as pernas como alavanca, trazendo-a para o chão também.

Cristina rolou para o lado, se apossando de uma chave de fenda. Então, desferiu um golpe certeiro no abdômen dele, que liberou um grito fino de dor e a socou no queixo, com tanta força que foi jogada para o lado.

Por alguns segundos, ele manteve-se imóvel, observando o sangue que jorrava para fora do próprio corpo, então captou o olhar ferino de Vanessa que não pensou duas vezes para tomar o lugar da namorada.

No entanto, ele era forte e a projetou no ar, atirando-a de costas contra o chão. O ar lhe faltou por um instante e ela assistiu o sujeito ficar de pé e chutar o rosto de Cristina que engatinhava em direção a pistola que, durante a luta, tinha deslizado para debaixo do carro. Ela bateu a cabeça no veículo e desmaiou.

Preocupada, Vanessa se colocou de pé com um pulo e atirou-se contra o homem, novamente. Todavia, ele se abaixou, deu um passo para o lado e lhe passou uma rasteira, jogando-a de cara no chão. Outra vez, o ar lhe faltou e Vanessa cuspiu um pouco de sangue, dando-se por vencida.

Ela se sentou com a mão na cabeça, estava um pouco grogue. Por alguns instantes, encarou seu oponente até que ele se ajoelhou ao seu lado, uma mancha de sangue tomando a camisa branca que usava.

Ele respirava com dificuldade, mas lhe sorriu, retirando um lenço do bolso do paletó.

— Não era o que eu imaginava de um resgate — disse em meio a um gemido, observando-a unir as sobrancelhas ao ouvir a voz feminina e familiar, que contrastava com seu aspecto masculino.

O rapaz fez um gesto rápido, que abrangeu tudo à sua volta.

— Não era para ser assim, Van. Mas não se preocupe, vou tirar vocês daqui — sorriu, deixando à vista dentes amarelos e pontudos, manchados de sangue. Então, colocou o lenço na face de Vanessa e poucos segundos se passaram até que a moça perdesse os sentidos.

Diana colocou as duas mulheres inconscientes no porta-malas, entre gemidos de dor e desaforos pronunciados em voz baixa. Recolheu as ferramentas caídas, guardando-as no lugar de origem. Tinha de se apressar ou perderiam a carona para fora daquele lugar.

Sentiu tontura e parou por um momento, olhando para o relógio em seu pulso e certificando-se de que ainda tinha tempo. Mas sua vontade era de se voltar para Vanessa e perder-se em um momento de sonho e admiração, já que era a primeira vez que a via, pessoalmente, em onze anos.

O sangue vertia farto do seu corpo, no entanto, após uma rápida averiguação, concluiu que não tinha sido um corte profundo. Praguejou baixinho, catando uma flanela limpa em uma prateleira próxima e colocando-a sobre o local. Não era o melhor dos curativos, mas serviria, por enquanto.

Então, foi até um dos carros e secou um dos pneus traseiros, depois se dirigiu para o carro seguinte. Abriu o capô dele e partiu um dos fios que conectava a bateria. Por fim, ela derramou um pouco de óleo de motor sobre as manchas de sangue fresco e também entrou no porta-malas.

Não era o ambiente mais espaçoso, mas serviria ao seu propósito. Pouco menos de dez minutos se passaram, quando ouviu alguém entrar no carro e dar a partida no motor. Dois minutos mais tarde, avançavam pelas ruas em velocidade moderada.

***

(12 horas depois).

Vanessa acordou ao lado de Cristina.

Estavam em um quarto minúsculo e mal iluminado, que cheirava a peixe e óleo de motor, com um formato estranho e que balançava. O som de água chegou aos seus ouvidos e o enjoo tomou conta de seu estômago ao mesmo tempo em que ouviu a sirene de um navio, ao longe.

Estavam em um barco.

Preocupada, ela passou a mão pela face de Cristina, verificando a respiração e dedicando um pouco de atenção ao galo que a namorada tinha na testa. Então, ficou de pé e deu alguns passos trôpegos até se habituar ao balanço, relembrando o que havia acontecido na garagem. Tinha quase certeza de que ouvira o homem falar com uma voz de mulher, mas não uma voz qualquer, era a voz de Diana.

O cheiro de peixe ficou mais forte quando tropeçou na lona sobre a qual estavam deitadas e percebeu que ela cobria um amontoado de redes de pesca.

Percorreu o lugar em busca de algo que pudesse ajudá-la a se defender. Estava cansada de ser a vítima. Encontrou uma espécie de gancho metálico em um dos cantos. Com cuidado, experimentou seu peso, empunhando-o como se fosse um porrete por alguns instantes. Mais confiante com sua nova arma, subiu os poucos degraus que a separava do convés.

O vento marítimo a recebeu com festa, trazendo-lhe os aromas da marina e o ruído das ondas nos cascos dos barcos atracados no ancoradouro. Sob a luz do luar, divisou alguém sentado na proa. Era, com certeza, uma mulher.

Com a ansiedade dando voltas em seu estômago, ergueu o gancho e se aproximou dela, silenciosamente, e foi surpreendida ao ouvi-la falar:

— Você sempre teve passos leves, mas o seu perfume é inconfundível. — Diana se voltou para fitá-la, apontando para o gancho. — Não vai precisar disso, Vanessa.

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