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A C.O.R

A cama na qual Kaique dormia com Marcelo nunca estivera tão dura quanto agora; ele ficara ali, olhando para o teto do quarto, tinha de tomar a decisão de ir ver aquela mulher ou não.

Kaique detinha a decência de saber o que acontecia aos desertores, e naquele momento ele estava nesse pacato grupo.

O rapaz jogou o corpo para à frente e se sentou na cama.

— O que foi Kaique? — Marcelo levantara ao sentir a movimentação na cama.

— Nada... É só que... Eu não conseguindo dormir.

— Tem a ver com aquela mulher? — A voz de Marcelo tinha um ar de ciúmes.

— Não...! Claro que não... Eu só não estou me sentindo bem... — Kaique tomara cuidado para não contar mais do que devia.

Marcelo o abraçou por trás.

— Do que precisa?

O rapaz tirou a mão do namorado da sua cintura e se levantou.

— Eu vou tomar um ar... — Kaique saíra do quarto.

O rapaz ficara na varanda do seu apartamento durante alguns minutos, será que valia a pena voltar para aquela vida...? Mas sua mãe era refém, sua irmã já estava morta, só ele poderia salvá-la.

Kaique voltou sorrateiramente ao quarto, pôs uma roupa, pegou seu molho de chaves e partiu.

Há alguns anos que Kaique não pisava os pés no Uruguai, assim também como fazia um tempo que ele estava afastado daquela vida. Kaique estacionou o carro ao lado de um galpão, já era por volta de uma hora e meia da manhã quando dois homens, grandes e bombados, vieram na direção de Kaique, ele abaixou o vidro da janela e com as mão atadas falou:

— Vim conversar com Elisa!

— Sai do carro! — A voz de um dos homens era arrastada.

Kaique o obedeceu, saiu do carro e deixou que o homem o revista-se, enquanto o outro mantinha a mira de uma AK-47 no rapaz.

— Vamos — disse por fim o homem que o revistava.

Kaique já sabia o caminho, por isso os homens o mandaram na frente. Elisa estava lá, sentada no meio do galpão, uma mesa recheadas de papéis à sua frente e um chicote nas mãos que estavam repousadas sobre a mesa, Kaique soubera, naquele momento, que Elisa era a torturadora da C.O.R — centro de operações do roubo —, por isso ela foi atrás dele.

— Eu sabia que você não demoraria... — Elisa se levantou.

— Antes de aceitar qualquer coisa eu quero ver minha mãe! — Kaique interrompeu o que parecia ser um longo blá, blá, blá.

— Claro — respondeu Elisa se achando ofendida. Ela estalou os dedos, esse era o sinal para que trouxessem a mãe de Kaique.

Dois homens surgiram de trás de Elisa com a mãe do rapaz, a qual estava algemada, com um pano na boca e chorando. Kaique até tentou correr na direção da mãe, porém, Elisa puxou uma pistola do blazer que usava e a apontou para o rapaz.

— Levem-na daqui! — Elisa dera alguns passos à frente. — Você não manda aqui Kaique... Você escolheu ser um desertor, agora você vai escutar...

Kaique sentira, na voz, o poder que Elisa tinha, agora, dentro da C.O.R. A mulher pegou um pequeno arquivo e entregou a Kaique, o rapaz o pegou e leu:

— A flor que não desabrocha... Que é isso? Outra coisa mística? Já não basta a pedra de morte que nos mandaram buscar?

— Eu lembro bem desse dia... Deveria suspeitar que você e sua irmã nos abandonariam. — respondeu Elisa.

Kaique não respondeu, ele e sua irmã traíram Elisa, pegaram a pedra e a levaram de volta para a Srta. Fur, assim eles se tornaram a primeira opção para as missões, dias depois a polícia invadiu a C.O.R, mataram a Srta. Fur e deixaram a irmã de Kaique muito ferida, depois daquele dia os dois prometeram nunca mais voltar àquela vida.

— Então vocês vão me mandar a San Pelou outra vez? — Kaique odiava a pequena cidade da região metropolitana de Salvador.

— Você acertou — respondeu Elisa rindo —, para ser mais exato você terá de ir a Rua das moças, Morros, n° 112... Luís irá te levar até o armazém, boa sorte.

Um homem, não tão brutamonte quanto os outros, veio na direção de Kaique e o levou.

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