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Capítulo XXIII ⌛

Cielo

Eu sonhei que estava me afogando. O sonho começou perfeito: a praia, o calor, Josh e eu na areia, como dois adolescentes. Foi uma mistura de sonho com lembranças do dia que passamos na praia com Sam, Stevie e as meninas. Então resolvemos entrar na água, Josh me carregou no colo enquanto eu gritava e tentava me soltar, mas ele conseguiu me levar até lá e me jogou. Eu afundei rindo, meu ar se transformando em bolhas, os olhos ardendo por conta do sal. Tentei seguir as bolhas, procurando a superfície, mas por mais que eu nadasse para cima, parecia não sair do lugar. Senti o coração disparar no peito a euforia se transformando em pânico. Comecei a bater os braços e pernas, tentando me impulsionar em direção a luz que brilhava através da água, meus pulmões ardiam e eu sentia um peso no peito.

Abri os olhos arfando, ainda pensando que estava no sonho. Pisquei rapidamente, notando que estava no meu quarto, acordada, mas ainda não conseguia respirar bem. Havia me movido durante o sonho, não estava mais deitada de lado, e era o peso da barriga que estava me dando a falta de ar.

Com um pouco de dificuldade, consegui sentar e tirei um minuto para recuperar o fôlego. Olhei para o relógio no criado mudo e vi que passavam das quatro da manhã. Acendi o abajur e empurrei o cobertor para longe, sentia calor. Um movimento em minha barriga me fez tocá-la de forma involuntária.

– Ei, não reclame, foi você que me acordou. – falei, passando o dedo onde havia surgido o movimento. Esperei um pouco, mas nada mais aconteceu. – Muito fácil para você voltar a dormir, gostaria de ter a mesma sorte.

Coloquei as pernas para fora da cama e levantei, sentindo uma leve tontura, como já era esperado, mas durou só alguns segundos. Ao menos já não tinha tantas câimbras. Lembrei das dores horríveis que apareciam a todo momento e estremeci. A dra. Johannes havia prometido que passaria com o suplemento de magnésio e ela tinha razão.

Caminhei pelo quarto, me esticando. Ainda estava me acostumando com o peso e a mudança da gravidade. Achava aquilo bizarro, como se o meu centro não fosse mais eu. Por vezes quase perdi o equilíbrio, então por via das dúvidas sempre dava uma volta pra lá e pra cá antes de subir ou descer as escadas. Fui até o espelho e dei uma olhada. Não me sentia tão grande, mas sabia que ainda teria o resto do trimestre de desenvolvimento. Puxei a blusa para cima, revelando minha barriga arredondada e a acariciei, recebendo mais movimentos como resposta e vi meu sorriso nascer no reflexo. Imaginei a Cielo de alguns meses atrás me olhando e soltei uma risada silenciosa.

Eu a entendia e não a culpava. Ao perceber o que eu realmente queria, pensei que seria perseguida pelo resto da vida por ter pensado em não seguir com a gravidez, mas não. Foi um momento caótico, foi assustador e confuso. Eu tinha toda a minha vida minuciosamente arquitetada e então tudo desmoronou. Como eu poderia me culpar por querer seguir no meu plano A? Não culpava. O que deixava um gosto ruim em minha boca era lembrar de como eu havia descoberto que queria aquele serzinho dentro de mim.

Charlie.

Ele nunca havia ameaçado me bater durante nosso relacionamento, nunca havia erguido a mão, mas seus gritos, sua fúria no olhar me davam a mesma sensação. Na clínica, quando tive certeza que ele me bateria, eu não pensei em mim. Naquele momento, todo meu instinto se voltou para proteger minha barriga, como se eu mesma não importasse, como se meu corpo se tratasse apenas de um escudo de proteção para o bebê lá dentro.

Quando Charlie foi embora, eu desabei. Minha mente trabalhava naquela nova sensação, até ela se formar em aceitação. Eu o queria. Era simples e nítido, mas mudava tudo. Eu não queria que nada de ruim acontecesse com ele, não queria que parasse de existir. Ele estava ali e já era real. Não sabia se seria uma boa mãe, não sabia se estragaria tudo e ele acabaria me odiando no futuro, mas eu o queria. Queria tentar, queria me dar a chance de errar. Eu daria um jeito de fazer com que tudo funcionasse, não era aquilo que eu fazia de melhor?

Não lembro de quem me ajudou a levantar do chão, não lembro como exatamente saí do hospital, a única lembrança forte era a de sentar no meu carro, recolher os fragalhos do meu plano A e começar a montar o plano B.

– Acho que já sei o seu nome. Que tal Plano B? – perguntei movendo a mão pela curva na minha barriga. – Acho que seu pai não vai gostar, mas eu sou a chefa aqui. – esperei pela resposta, mas estava quieto lá dentro.

Olhei para o meu reflexo mais uma vez, percebendo que ainda sorria. Não estava sendo tão ruim. Os enjoos haviam acabado há tempos, eu era acordada algumas vezes durante a noite, mas nada que uma soneca depois do almoço não resolvesse e meu corpo parecia disposto a aceitar o novo integrante. Torci para que tudo continuasse bem até o final da gravidez, porque era então que a prova de fogo iria começar.

Saí do quarto e desci para o andar térreo. A casa estava escura e quieta, desviei dos móveis no caminho até a cozinha. Abri a geladeira, iluminando o ambiente levemente, e peguei o resto de macarrão que havia sobrado da noite passada. Sentei na mesa e comi enquanto olhava pela janela. Em algum momento meus pensamentos passaram para o seu tema favorito: Josh. Ele andava insistindo muito em se mudar de uma vez para casa, mas eu continuava empurrando a decisão com calma. Eu sabia que nunca mais seria só eu de novo, adorava ter meu espaço, minha quietude e liberdade. Não estava pronta para algo tão oficial, ele teria que aguentar. Suspirei, percebendo que o lado ruim dele não morar ali era que ele não estaria ali sempre que eu quisesse.

Descobrir que queria aquele bebê veio junto com a também descoberta de que eu já tinha afeto por ele, afeto esse que só aumentou com o passar dos meses, e eu tive medo. Tive medo de descobrir que o poder avassalador do amor materno diminuísse o que eu sentia por Josh, mas pareceu ter o efeito contrário. Eu não conseguia me lembrar de um momento em que o amei mais. Era verdade que eu ainda não havia experimentado o tal amor avassalador materno, também era verdade que às vezes eu tinha vontade de bater em Josh com algo bem pesado, mas eu o amava com loucura, de uma forma que parecia física em meu peito. E eu sentia falta dele nos momentos mais aleatórios possíveis: em meio a uma reunião, quando usava o banheiro, enquanto digitava um e-mail ou comia macarrão às quatro da manhã.

Terminei de comer e pensei em voltar para a cama, mas o bebê havia acordado e estava se mexendo. Acabei indo para o sofá e peguei meu notebook para ver se Hanna havia me enviado algo. Chequei os e-mails, mas não havia nada que não pudesse esperar pela segunda-feira. Deixei o notebook e liguei a tv, deitando de lado. Usei as almofadas para ficar confortável e comecei a ver um filme bobo, até sentir as pálpebras pesarem e me render ao sono.

Acordei com o som de pratos na cozinha. Apertei os olhos para a claridade da sala e resmunguei enquanto sentava.

– Josh? – chamei.

Um segundo depois ele apareceu da cozinha, secando as mãos em um pano de prato.

– Hey, bom dia. – ele era todo sorriso. Se inclinou para deixar um beijo em minha testa e outro em minha barriga.

– Você é um invasor de casas. – reclamei.

– Não sou. – ele meteu a mão no bolso de trás e puxou suas chaves. – Você me deu isso.

– Talvez eu as pegue de volta. Você me acordou.

– Por que estava dormindo no sofá?

– Porque alguém aqui me acordou às quatro da manhã, de novo. E me deu fome. E não me deixou dormir depois.

Josh riu e colocou as mãos nos lados da minha barriga.

– Sua mãe é uma tremenda resmungona.

Lhe dei um tapa na cabeça.

– Não fale mal de mim para o bebê!

– Ei!

– Você mereceu.

Josh ergueu a cabeça e me deu outro beijo.

– O que vamos fazer hoje? – perguntou, animado.

– O que fazemos todos os sábados. Sexo matutino, almoço na casa dos meus pais, um passeio para que eu não sinta que estou me tornando sedentária e depois mais sexo.

– Não poderia amar mais o nosso típico plano de sábado, mas eu estava pensando em fazermos algo diferente hoje.

– Podemos ter sexo depois do almoço também.

– Você me enxerga como nada além de um corpo, não é? – ele fingiu decepção.

– Claro que não. Você é o futuro trocador de fraldas do meu filho também.

Ele voltou a atenção para minha barriga.

– Você pode fazer todo o cocô que quiser, eu vou ser o super fralda.

Soltei uma gargalhada.

– Super fralda? Você está se ouvindo?

– Desculpe, Cielo, mas o homem viril e sexy que você conheceu está morto. Agora eu só sou um cara que faz vozes engraçadas enquanto conversa com seu umbigo saltado.

– Meu umbigo não está saltado! – falei, puxando a blusa para conferir.

– Claro que está, parece que ele vai ser arremessado do outro lado da sala.

Lhe dei outro tapa.

– Cala a boca.

Josh me agarrou em um abraço pelos ombros e beijou bem acima da minha orelha.

– Você tem o umbigo saltado mais lindo do mundo, meu amor.

– O que você estava fazendo antes de eu acordar?

– Lavando a louça. Me dê espaço.

Me movi para o lado. Josh deitou no sofá, apoiando a cabeça no meu colo, o rosto voltado para a minha barriga. Ele a olhava como se pudesse enxergar o bebê lá dentro.

– O que você estava pensando em fazer hoje? – perguntei.

– Eu estava pensando que poderíamos sair para dar uma volta e quem sabe comprar algumas coisas.

– Tipo o quê? Não me diga que já perdeu todas as suas palhetas de novo.

– Não, coisas para o bebê.

– Ah.

Ainda não tínhamos nada, era verdade.

– Não sei, me parece cedo.

– Cedo? Você está com vinte e oito semanas, Cielo.

– Exato. Ele vai sair daqui lá pelas quarenta. Qual a pressa?

– Quando você menos esperar não vai mais querer estar andando por aí.

– E daí? Compro pela internet.

Josh me lançou um olhar.

– Você é tão pragmática.

– Isso é ruim?

– Não, mas não vou comprar as coisas do meu filho ou filha pela internet. Quero comprovar a qualidade.

– Claro, claro, Deus nos livre de termos meias com defeito!

Ele apertou os lábios para não sorrir.

– Vamos, Cielo, ao menos o básico. O berço, o trocador, essas coisas importantes.

– Está bem, se você está tão ansioso. – dei de ombros.

– Ouviu, bebê? Você vai ter uma cama! Mas não se preocupe, você não precisa dormir lá se não gostar.

– Do quê você tá falando? É claro que ele vai dormir lá.

– A nossa cama tem espaço para os três.

– Bom, talvez no começo, mas depois não.

– Por quê não?

– Camas de adultos não são para crianças, são para adultos fazerem coisas de adultos.

– Tem razão. Se você quiser um irmãozinho ou irmãzinha vai ter que liberar a cama, bebê.

– Talvez ele tenha um cachorro, com sorte.

Josh aproximou os lábios da minha barriga e sussurrou:

– Vamos fazê-la mudar de ideia.

Sorri, fazendo carinho no cabelo dele. Era tão preto, fazia um contraste lindo com sua pele clara.

– Como você acha que ele ou ela vai ser? Quer dizer, olha pra gente, somos tão diferentes.

Josh me estudou enquanto pensava. Fisicamente falando, não tínhamos nada remotamente parecido. O cabelo dele era escuro e liso, o meu cacheado e castanho. Eu era negra, ele a pessoa mais branca que eu conhecia.

– Não sei, mas espero que se pareça com você.

– Comigo por quê?

– Porque você é linda.

– Você também não é exatamente feio.

– Então teremos um lindo bebê, não importa como ele ou ela seja.

Ficamos quietos por um momento. Josh me abraçou pela cintura, fechou os olhos e cantarolou baixinho por todo um momento. Enquanto eu observava os dois, meus olhos ficaram molhados, a cena me causando ternura.

– Eu quero que ele ou ela seja como você. – continuei. – Bom, fisicamente pode ser como eu, sabe, cromossomo dominante e tudo isso, mas... Eu quero que tenha a sua personalidade. O seu jeito de amar e como faz o impossível pelas pessoas que ama, como abre mão dos seus desejos quando percebe que para o outro é mais importante. Você é fácil de conviver, Josh. Fácil de amar. Eu quero que nosso bebê aprenda a encarar a vida como você faz, “se está chovendo, vamos dançar na chuva". E como você vê o mundo, com esse olhar de que viver é especial e que tudo vai ficar bem no fim das contas. Sua fidelidade e companheirismo... – pousei a mão em seu rosto e sorri, os lábios molhados de lágrimas. – Eu quero que esse bebê venha com o seu coração.

Eu ainda não fazia ideia se seria uma boa mãe, mas não tinha dúvidas que o bebê ficaria bem tendo Josh como pai.


Minha mãe nunca parava de tagarelar sobre o bebê. Não apenas sobre o meu, mas bebês no geral. Falava do que eu deveria esperar, de como me comportar e do papel que Josh teria. Narrava meus primeiros anos de vida como se estivesse lendo um livro, mas eu suspeitei que alguns fatos eram inventados, pois duvidava que ela lembrasse de tudo aquilo. Reclamava todas as vezes por ainda não termos montado o quarto e de como a minha casa ainda não era à prova de crianças, como se o bebê fosse nascer e sair correndo pelas escadas. Mamãe havia assistido a um documentário sobre as crianças da geração alpha e andava ansiosa sobre o poder da tecnologia sobre seu neto ou neta. Mas, acima de tudo, ela choramingava por ainda não sabermos o sexo do bebê.

– Eu sequer posso sair para comprar uma roupinha para o bebê! – mamãe continuou o assunto assim que fechou a porta atrás da gente. Havíamos parado aquela discussão exatamente naquele ponto há alguns dias, e ela continuava o tema como se o tempo não tivesse passado.

Revirei os olhos e coloquei minha bolsa sobre o móvel com mais força do que era necessário.

– Mãe, já expliquei porque não quero saber o sexo.

– Eu não entendi o que você falou, realmente.

– Não quero que o bebê esteja sob os padrões estúpidos da sociedade antes mesmo de nascer.

Passei para a sala, puxando as mangas da blusa até os cotovelos. Ela veio fumaçando nos meus calcanhares, enquanto Josh foi direto para o sofá e ligou a tv. Estava passando algum jogo de futebol.

– E o que isso significa? Por que você tem que ser tão complicada?

– Significa que não quero ser soterrada por coisas azuis ou rosas.

– E o que você prefere? Um quarto branco?

– Talvez.

– Pelo amor de Deus, Cielo, é um quarto de bebê, não um manicômio!

Eu vou acabar em um manicômio antes de parir essa criança..

– Eu apenas gostaria de sair e comprar um presentinho para meu neto. Ou neta.

– Você pode ir e comprar o que quiser, mãe.

– Como? E se eu comprar um vestidinho e for um menino?

– Não compre um vestido.

– Isso também se aplica a brinquedos.

O sangue já palpitava na minha cabeça. Girei, segurei seus ombros e olhei bem no fundo dos olhos dela.

– Mamãe, compre o que quiser. Ele ou ela vai brincar com o que quer que seja.

Ela pareceu ver a faísca de loucura em meus olhos, pois se acalmou.

– Bom, talvez eu compre um bichinho de pelúcia...

– Isso! Ótimo! Ideia fantástica! Um bichinho de pelúcia, adorável. – dei alguns tapinhas em seus ombros e virei de costas, escondendo minha careta. Fui até Josh e sentei no braço do sofá.

– Mas e sobre a mantinha? Você sabe que eu tricotei uma mantinha para todos os bebês da família.

Agarrei o braço de Josh e apertei.

Ai. – ele me olhou confuso.

– Tira.ela.daqui. – falei entre os dentes.

Josh imediatamente ficou de pé.

– Eh, sra. Irvine, encontrei uma receita espetacular outro dia. Que tal fazermos para o almoço?

– Uma receita?

– Sim, mas é melhor nos apressarmos. Venha.

Ele conseguiu arrastar minha mãe para a cozinha e eu respirei aliviada. Peguei o controle e mudei os canais, já sabendo que não encontraria nada interessante. Ouvi a conversa abafada de minha mãe e Josh lá dentro, meu namorado respondendo pacientemente todas as perguntas e suposições que eram atiradas para ele. Josh também estava morrendo de curiosidade sobre o sexo do bebê mas, como sempre, se manteve firme apoiando a minha decisão. Eu sabia que esse comportamento dele estava me deixando mimada, mas não seria algo que eu iria reclamar.

– ... Talvez Cielo pense diferente. – minha mãe ia dizendo. – Cielo? Você pode vir até aqui, por favor?

Levantei e me apressei para as escadas, subindo sem fazer barulho. Papai sempre havia sido o meu refúgio, e nessa época em particular não estava sendo diferente. Estar ao lado dele era relaxante após o estresse gerado pela minha mãe.

– Oi, papai. – falei, fechando a porta com cuidado. Os olhos dele se voltaram para mim, estavam bem atentos.

Sentei ao lado da cama e passei os dedos em seu cabelo. Os lábios dele tremeram.

– Quer dizer alguma coisa? – perguntei segurando sua mão. Houve um aperto. – Quer saber se a mamãe está me deixando louca? Porque a resposta é sim.

Os lábios dele tentaram se erguer em um sorriso. Sua mão apertou a minha, uma, duas, três vezes.

– O quê?

Ele apertou de novo, a boca aberta, tentando falar.

– Não estou entendendo, sinto muito.

Me estiquei para o criado mudo e puxei um lenço da caixinha. Sequei a saliva que começava a escorrer no canto de sua boca. Papai continuava apertando minha mão.

– Você está sentindo alguma coisa? É isso? – dois apertos. – Desculpe, eu não... Quer que eu chame a mamãe? – outro não. – Posso deitar ao seu lado? – finalmente uma resposta afirmativa. Normalmente conseguíamos nos comunicar bem, mas aquelas ocasiões em que eu não entendia o que ele queria dizer, me deixavam angustiada.

Tentei deixar aquilo para lá e deitei de lado, minha barriga quase o tocando. O bebê estava bem quieto lá dentro.

– Me sinto feliz, papai. Minha vida parece completa. A empresa está indo muito bem, e você sabe que esse sempre foi meu sonho, não é? Ser bem sucedida, ainda mais em um mercado puramente machista. Preciso lhe agradecer, aliás, por sempre me apoiar e não me deixar desistir. – encostei minha cabeça em seu ombro. – Eu não queria um relacionamento, acabei escapando de alguns, mas chegou o Josh e... – suspirei. – Ele se encaixou em mim. E tem sido tão certo. Lembra de quando eu era adolescente e você me falou que eu não precisaria experimentar tanto, que quando o garoto certo aparecesse eu saberia? É ele.

Senti um toque em minha barriga. Baixei o olhar e vi meu pai se esforçar, movendo os dedos na direção do bebê.

– Era isso que você queria? – deixei um beijo em sua bochecha antes de pegar a mão dele e colocá-la em minha barriga. – E tem esse bebê. Ser mãe nunca entrou para os meus planos imediatos, mas ao que parece as melhores coisas na minha vida foram as não planejadas.

O bebê se moveu, consegui sentir onde ele estava se movendo, até surgir um pequeno calombo alguns centímetros ao lado do meu umbigo. Peguei a mão do meu pai e a coloquei ali.

– Esse é o seu avô. – falei, minha voz automaticamente adotando o tom de ternura.

O calombo se moveu, esbarrando na mão do papai e continuou até sumir. Fiz carinho, estimulando para que ele continuasse a se mexer e consegui. Era uma sensação engraçada, como se houvesse bolhas dentro de mim, menos quando ele se movia nas costelas, aquilo não era nada divertido.

Ergui o rosto para papai e vi seus olhos transbordando de lágrimas.

Oh, papai. – eu o abracei, passando um braço por cima do seu peito e escondendo o rosto em seu pescoço. – Nada importa, você sabe, não sabe? Você vai ser um avô maravilhoso.

Ficamos abraçados os três. Eu não tinha duvidas que aquele bebê saberia entender o amor de papai, era algo que estava além do físico. Eles teriam a própria conexão, mas eu não podia me impedir de desejar que as coisas fossem diferentes. Queria que meu pai brincasse com ele como fez comigo, que pudesse lhe explicar a vida daquela maneira tão fácil de entender. Eu queria ver os dois no jardim, sujos de terra. Queria passeios, queria viagens e queria memórias. Eles não teriam a oportunidade de caminhar de mãos dadas nem de aprender um com o outro. Eu nunca veria meu filho correndo para o avô e sendo erguido no ar, nunca ouviria a conversa dos dois ou brigaria por papai ter me desobedecido para fazer algum capricho dele. Papai não estaria nas festinhas de aniversários, nem nas formaturas. Ele não o veria andar de bicicleta ou se apresentar na escola.

Os dedos do meu pai se moveram em minha pele. Coloquei a mão sobre a dele e sussurrei:

– Ele também ama você.


– Eu ainda acho que não precisávamos sair para comprar coisas agora. – falei, enquanto andava de mãos dadas com Josh pelo centro.

Havíamos deixado o carro estacionado e decidimos caminhar e desgastar o almoço que pareceu uma ceia de Natal.

– Se esperarmos pelo seu tempo o bebê vai acabar dormindo no tapete do seu quarto.

– Ei, eu sei trabalhar com prazos!

– Quando o assunto é a empresa sim, sem dúvidas, mas de resto você dá passos de tartaruga. – Josh escondeu um sorriso.

– Eu não dei passos de tartaruga com você, foram mais passos de girafa.

– Eu sou uma exceção. Quer dizer, olhe para mim. – ele abriu os braços.

Eu olhei. Josh estava particularmente gostoso em seu jeans novo e moletom cinza. Estava com o cabelo preso, deixando a linha do seu maxilar completamente visível. Mordi o lábio procurando algum lugar discreto onde a gente pudesse se agarrar, infelizmente não havia nenhum.

– Quer voltar para o carro? – perguntei, sorrindo.

Josh desviou o olhar e riu.

– O quê? – quis saber.

– Desculpe, meu amor, mas acho que...

– Que...?

– Acho que não vamos mais conseguir fazer essas coisas no carro.

Olhei para a minha barriga apontando para a frente. Ele tinha razão, as aventuras no banco da frente estavam canceladas. Pelo menos por enquanto.

– Mas e o banco de trás?

Josh soltou minha mão para passar o braço pelos meus ombros.

– Vamos espera chegar em casa, ok?

Revirei os olhos.

- Onde fica essa loja?

Stevie conhecia um cara que tinha uma loja de artigos de bebê. Como ainda estava começando, perguntou se poderíamos dar uma força ao amigo.

– Já estamos chegando.

– Talvez agora minha mãe relaxe um pouco. Ela está me dando nos nervos.

– Ela só está ansiosa.

– Eu sei. – suspirei. – Você acha que deveríamos descobrir o sexo de uma vez?

– Você sabe o que eu acho. Mas vamos fazer do seu jeito, podemos esperar.

– O quanto você quer saber?

Ele me lançou um olhar.

– Sinceramente?

– Claro.

– Está me matando.

Cruzei os braços e caminhamos por um minuto em silêncio.

– Tem certeza que não está nem um pouquinho curiosa?

– Claro que estou, mas não é realmente importante pra mim. Eu gosto da sensação de amá-lo sem mesmo saber qualquer coisa sobre ele ou ela.

– Eu entendo, de verdade, mas estou cansado de chamar o bebê de ela ou... Mas que porra.

Segui o olhar de Josh e vi na calçada um coelho gigante, usando jaqueta de couro e óculos escuros.

– É esse o lugar? – perguntei ao ver pela vitrine vários móveis de criança.

Josh tirou o celular do bolso e conferiu o endereço que Stevie havia mandado.

– Parece que sim.

Olhamos mais uma vez para o coelho e entramos. O lugar claramente ainda estava em reforma. A parte da frente era bem iluminada, as paredes com papel de parede listradas em tons pastéis e os móveis sendo apresentados em conjunto, como pequenos quartos planejados. Já o fundo me fez perceber que há não muito tempo o local havia sido um bar. A última parede estava pintada de vermelho, com um painel de madeira na altura da cintura, a barra do bar ainda estava lá e as prateleiras para bebidas também.

– Vocês devem ser os amigos do Stephen. – um cara mais alto que Josh apareceu, oferecendo a mão. Devia medir quase dois metros, ombros que impediam a visão de tudo o que estava atrás e uma barba ruiva cheia que me fez imaginá-lo cortando lenha em alguma cabana por aí.

– Josh e Cielo. – Josh falou, apertando a mão dele.

– Bela barriga. – o cara falou, apontando seu dedo gigante para mim.

– Obrigada.

– Eu sou o Jack. Primeiro bebê?

– Sim e ainda não temos nada. – falei, olhando ao redor. – Acho que vamos encontrar o que precisamos aqui.

– Tenho certeza que sim. Vocês tem uma lista?

Olhei para Josh.

– Não exatamente, vamos dar uma olhada. – ele falou.

– Ótimo, então. Fiquem à vontade.

Circulamos pelo espaço, haviam móveis bem parecidos com os que eu usei na minha época de bebê e também outros bem mais modernos. Caminhei, passando as mãos nas coisas e tentando imaginar o bebê dentro daqueles berços.

– Gostou de algo em especial? – perguntei para Josh.

– Bom, sim. – ele pegou minha mão e me levou para a entrada. – Eu adorei esse aqui.

Era um berço de madeira, acreditei ser da cor de cerejeira, com trocador e gavetas embutido.

– É bastante bonito. – concordei.

– Quer dar mais uma olhada?

– Não, acho que esse é uma ótima escolha. Vai poupar espaço.

Josh estava animado, eu podia ver pela forma que seus olhos brilhavam. Se eu soubesse que ele ficaria tão feliz não teria adiado tanto aquele momento. Entrelacei nossas mãos e me estiquei para beijá-lo.

– Eu não posso acreditar em tudo isso. – ele falou, a testa apoiada na minha. – Às vezes eu fico olhando pra você e me parece irreal. Você é a pessoa mais incrível que eu já conheci e, por algum milagre, me escolheu. Eu, que não sou nada especial. E juntos fizemos ele ou ela. – suas mãos foram para a minha barriga, ele a contemplou por um segundo, antes de voltar a me olhar. – Obrigado. Obrigado por me fazer perceber o que realmente é ser feliz.

– Oh, Josh... – segurei seu rosto e fiz carinho em suas bochechas com os polegares.

– Cara, isso foi lindo.

Nós dois nos viramos e encontramos Jack com as mãos na cintura e uma cara de quem segura as lágrimas. Foi um pequeno momento incômodo, até que eu quebrei o silêncio.

– Eh, então, vamos levar esse aqui. – falei tocando o berço.

Jack passou as mãos nos olhos e sorriu.

– Preciso do endereço de vocês para a entrega. Vão levar algo mais?

– Aquilo são sapatinhos? – Josh perguntou como se houvesse encontrado filhotinhos de cachorro.

– São sim, cara!

– Podemos dar uma olhada? – ele perguntou para mim, animado.

– Claro, de acordo com o ultrassom nosso bebê tem pés.

Saímos da loja com alguns pares de sapatos minúsculos, alguns bodies e os pedidos maiores que seriam entregues em casa. Josh insistiu em tirar fotos com o coelho na entrada (Jack explicou que era decoração do antigo bar e que havia colocado ali para se livrar dele), usei meu celular pois o dele estava ficando sem bateria, e depois eu paguei duas rodadas de sorvetes para nós.

– Precisamos começar com a reforma no quarto, não queremos que o bebê durma com cheiro de tinta ou cola. – falei, usando a língua para pegar o sorvete que descia pela casquinha.

– Vejam só quem está preocupada com os preparativos.

– Você me fez pensar, admito.

– E o que você prefere? Tinta ou papel de parede?

– Sabe, eu não sou realmente uma expert em decoração para bebês. Você é o experiente aqui.

– Garnett nem mesmo teve um quarto, ele dormia com Jenny na minha cama enquanto eu ficava com o sofá.

Pensei em como seria estar grávida e sem o apoio do pai do bebê, com meus pais do outro lado do país.

– Sinto muito que tudo tenha sido um porre no começo. – falei. Jenny e eu não éramos exatamente próximas, não nos conhecíamos o bastante para isso, mas me parecia uma ótima pessoa e uma excelente mãe.

– O Importante é que estamos bem agora.

– Eu amo como você usa o plural entre vocês, como uma família deve ser.

– Garnett sempre foi mais que meu sobrinho. Eu fui a primeira pessoa a segurá-lo, depois da mãe dele, claro. Ele cabia bem aqui. – Josh esticou o braço, mostrando a parte de dentro. – Eu fui sua companhia em madrugadas infinitas, para que Jenny tivesse algum descanso, eu o alimentei e me limpei quando ele vomitava tudo de volta em mim. – soltou uma risada. – Só eu sabia o melhor jeito de balançá-lo para que adormecesse e dos programas de tv que o mantinham hipnotizado enquanto eu corria para tomar um banho rápido. – Josh colocou a mão sobre minha barriga, me fazendo parar a caminhada. – Esse é meu primeiro filho ou filha, mas Garnett foi meu primeiro bebê.

Meus olhos estavam ameaçando transbordar enquanto eu o olhava, o peito inflado de orgulho e amor. Mas antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, meu celular tocou.

– Que estranho, é um número desconhecido. – atendi. – Alô?

– Srt. Cielo Irvine? – uma voz masculina perguntou do outro lado.

– Sim, sou eu.

– Eu sou o dr. Lansen, obstetra, você está fazendo acompanhamento conosco.

– Ah, sim, olá.

– Então, srt. Irvine, aqui consta que você teve uma consulta no último dia dez.

– Sim, foi o exame da glicose.

– Exatamente. Infelizmente tivemos alguns problemas com o sistema e alguns resultados foram registrados por engano.

– Algum problema? – eu o cortei, entregando meu sorvete para Josh.

– Eu preciso que venha até a clínica imediatamente.

Meu coração gelou.

– Há algo de errado com o bebê?

Vi meu medo em reflexo no rosto de Josh. Ele moveu os lábios, perguntando o que estava acontecendo. Ergui a mão para que esperasse.

– Não se preocupe, conversaremos melhor quando chegar aqui.

O celular de Josh também tocou. Eu o vi desligar e continuar me observando.

– Agora?

– Eu tenho o resto da tarde livre.

– E a dra. Johannes?

– Ela não trabalha nos finais de semana.

Coloquei a mão sobre o celular e olhei para Josh. Havia chegado uma mensagem para ele.

– Preciso ir. – falei.

Ele colocou o celular no bolso.

– Está tudo bem? O que ele falou?

– Que eu preciso ir até lá, mas que eu não me preocupasse.

– Diga que está indo.

Coloquei o celular na orelha outra vez.

– Já estou indo para aí. – falei.

– Ótimo, estou aguardando.

– Obrigada.

– Tem certeza que está tudo bem? – Josh perguntou quando desliguei.

– Acho que sim, não entendi muito bem o que aconteceu com os resultados, parece que houve uma confusão.

– Merda. – o sorvete havia derretido e sujado a mão dele. Josh caminhou até o lixo na calçada e o jogou lá dentro.

– Quem estava tentando falar com você?

– Era Stephen, teve algum problema com um demo importante, vamos gravar de novo.

– Quer levar o meu carro? Eu pego um táxi.

– Não, eu vou com você para a clínica.

– Não precisa, aposto que não é nada demais. Eu me sinto ótima.

– Tem certeza?

– Tenho. Eu ligo pra você assim que receber os resultados. Coloque seu celular para carregar.

Ele hesitou por um momento, me olhando em dúvida.

– Eu vou ligar para o Stevie.

Suspirei e apertei sua mão.

– Está tudo bem, de verdade. Vocês precisam de clientes.

Josh olhou para a rua.

– Tudo bem, mas me mantenha informado.

– Certo.

– Se precisar de mim, me ligue.

– Ligarei.

– Eu vou para a sua casa quando terminar.

– Vamos estar esperando você.

Josh concordou com a cabeça, ainda em dúvida, mas me ajudou a encontrar um táxi e nos despedimos na rua.

A clínica estava bem mais vazia que o normal, com a correria da semana. Subi direto para a recepção obstetrícia e fui encaminhada para o consultório do dr. Lansen. Ele era um homem bem apessoado, na transição de jovem para a maturidade, os cabelos loiros com algumas falhas.

– Antes de tudo eu preciso pedir desculpas pela confusão. – ele falou, quando me sentei em frente a sua mesa.

– Ainda não entendi muito bem o que aconteceu.

– Alguns resultados foram trocados. Estou aqui com os seus. – ele me passou uma folha e eu dei uma olhada, sem entender nada.

– Está tudo bem?

O médico fez uma cara.

– Na verdade não. Seu nível de glicose está bem elevado.

Troquei o olhar entre ele e o papel.

– Quão ruim?

– Bastante, não podemos controlar apenas com uma mudança de hábitos alimentares.

Balancei a cabeça.

– O que eu preciso fazer?

– Vou lhe prescrever a receita de um antidiabético. – o médico começou a escrever imediatamente, lançando olhares para o seu computador.

– Quais riscos para o bebê? – minhas mãos estavam na barriga, acariciando nervosamente.

– Se não controlada pode causar complicações no parto, hipoglicemia neonatal, obesidade ou diabetes na vida adulta. – ele terminou de escrever e me passou a receita. – Mas vamos fazer nosso melhor para controlar a situação. Vou lhe dar a primeira dose agora mesmo, você se encarrega de conseguir o medicamento o mais rápido possível, sim?

– Certo, claro.

O dr. Lansen levantou e abriu seu armário repleto de caixinhas de remédios. Encontrou uma com facilidade e tirou de lá um único comprimido coberto por uma capa metálica.
– Eu tenho água por aqui. – falou, pegando uma garrafa de água mineral lacrada e me passando.

– Obrigada.

– Não engula por enquanto.

Desembrulhei o comprimido e o coloquei na boca. Olhei para o médico e o vi me observar com uma expressão quase de pesar. Quis perguntar se estava tudo bem, mas não podia falar. Ele suspirou e se apoiou nas costas da cadeira.

– Agora só precisamos esperar.

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