Capítulo V ⌛
Alguns minutos mais tarde desci as escadas, encontrando pessoas dormindo no sofá e alguns em sacos de dormir no chão. Precisei desviar de Daniel, estirado por ali e agarrado com uma almofada, para chegar até a cozinha. Holly estava lá.
– Bom dia. – saudei, me inclinando no balcão.
– Olá. – ela ergueu os olhos dos ovos que mexia no fogão. – Perdi você na festa. Coincidentemente Josh também sumiu.
Ok, eu teria que enfrentar aqueles sorrisinhos o dia todo. Dei de ombros e peguei uma torrada da pilha em um prato por ali. Holly continuou.
– Sabe quem mais percebeu seu sumiço? – ela não esperou minha resposta e apontou a colher na direção de Daniel, dormindo.
– Ele é legal, mas...
– Não é tão legal quanto o Josh?
– É...
– Não faz coisas legais como o Josh?
- Holly! – olhei para trás, me certificando que todo mundo ainda estava desmaiado. Ela riu.
– E você e Sam? Se divertiram? – mudei de assunto.
– Acabamos na piscina. Vocês perderam.
– Quem sabe hoje a noite? – falei, enquanto virava a cabeça para ver quem estava descendo as escadas. Era Alex, usando a camisa de Stevie que a cobria até às coxas.
– A festa de alguém durou até hoje pela manhã. – falei. Se eu teria que aguentar as piadinhas, ela também teria.
Alex se espreguiçou fazendo a blusa subir, mostrando que estava com um short estampado por baixo. Ela abriu um sorriso em uma cara bem feliz.
– Melhor maneira de começar o dia. – falou.
– Parem de esfregar os orgasmos de vocês na minha cara. – Holly reclamou.
– Ui, alguém está de mau humor. – Alex deu a volta no balcão e foi espiar os ovos mexidos da amiga.
– Sam apagou ontem.
– Ele parecia bem animado hoje de manhã. – falei, lembrando da maldita buzina.
– Me dá um pouco disso? – Alex pediu, pegando um prato de um dos armários.
Eu as observei enquanto se serviam, eram opostos. Holly era loira, rosto alongado e olhos azuis bem claros. Já Alex tinha o rosto arredondado, cabelo escuro e olhos que ainda não havia identificado a cor, talvez verdes, mas dependia da luz.
– Quer um pouco, Cielo? – Holly ofereceu, erguendo a frigideira.
– Ah, não obrigada. Josh e eu vamos comer fora.
As duas soltaram um "hhhmmmmmm" em uníssono e riram. Eu sorri e olhei para as escadas de novo, daquela vez era Josh. Estava usando uma blusa listrada, preta e branca, shorts jeans escuro e chinelo de borracha. Estava me acostumando com seu estilo casual e simples. Ele veio direto para mim, sorrindo.
– Pronta?
Concordei com um aceno, pegando a mão que ele me oferecia e entrelaçando nossos dedos. Josh notou as meninas.
– Hey, Bom dia.
– Cuidado com a nossa garota, Raven. – Alex avisou. Suas bochechas estavam ainda mais redondas, cheias de torrada e ovos.
– Uau vocês já a adotaram?
– Claro, ela é parte do bando agora. – Holly concordou.
– Prometo trazer ela de volta inteira. – ele prometeu, depois me olhou. – Vamos?
– Droga, esqueci a chave do carro lá em cima. Eu pego em um...
– Não, tudo bem, eu levo a gente.
– Não sabia que você tinha carro.
– Tenho uma moto.
– Não acredito! Eu adoro motos!
Josh sorriu, refletindo minha excitação.
– Sorte ter trazido o Stevie de carona, então estou com dois capacetes. Vamos.
Dei uma olhada nas meninas enquanto ele me puxava. Holly fez uma cara de orgasmo fajuto e Alex caiu na gargalhada. Revirei os olhou. Passamos pela sala, desviando dos corpos adormecidos, e saímos da casa.
– Essa é a minha bebê. – Josh falou, quando paramos em frente da moto prata estacionada do lado da casa. Ele realmente parecia um pai orgulhoso apresentando uma filha.
– Uma Yamaha XJ6. – dei mais um passo para a frente, dando uma olhada nos retrovisores, pareciam originais. Pelo espelho vi a cara dele. – O quê? Eu disse que gostava de motos. Precisou desembolsar muito?
– Não, na verdade eu tive sorte. Comprei de segunda mão de um cara que estava se divorciando e precisava pagar um advogado.
– Está em ótimo estado.
– Não é qualquer bunda que pode chegar perto dela, então se sinta especial.
– Vou falar isso para a minha bunda.
– Eu posso dar o recado mais tarde, se quiser. – ele ofereceu, pegando um dos capacetes presos no guidão com um sorriso safado.
– Ela vai adorar te encontrar.
Peguei o capacete e o coloquei. Josh também colocou o seu e subiu na moto, tirando o apoio. Montei na garupa e passei os braços pela cintura dele. O motor ligou, fazendo a moto ganhar vida entre minhas pernas. Josh acelerou e começamos a nos mover.
As ruas da cidade já estavam bastantes cheias, mesmo sendo relativamente cedo. Josh parecia realmente conhecer o lugar, pois seguiu nas ruas com asfalto, escapando daquelas em que o chão não era tão estável. Não fomos muito longe, cerca de dez minutos depois, senti ele diminuir a velocidade e parar em frente a uma padaria de bairro. Hesitei um segundo antes de ter certeza que ele queria que eu descesse.
– Vamos comer aqui? – perguntei, olhando duvidosa para o lugar. Nem haviam mesas.
– É só uma parada.
Entramos e ele me fez escolher alguma coisa. Peguei alguns croissants e ele dois cafés com creme para a viagem e voltamos para a moto, eu segurando nossa comida no colo. Percebi para onde ele estava me levando quando voltei a ver o mar do lado esquerdo, lá embaixo. Como esperado, Josh pegou uma estradinha de terra e descemos até onde começava a areia da praia. Ele deixou a moto na sombra de uma árvore quase sem folhas, o que não ajudava muito, mas ele pareceu não se importar.
Logo à frente havia uma espécie de barraca, sem paredes, apenas a estrutura feita com madeira e o teto coberto com folhas de palmeiras. Lancei um olhar iluminado para Josh.
– Eu sabia que você ia gostar.
– Eu amei.
Fomos para lá, carregando o saco de papel com nosso café da manhã. A barraca era baixa demais para Josh, então ele precisou dobrar o pescoço para entrar, mas logo sentou no chão. Eu o imitei, sentindo a areia fria em minhas pernas. Olhei o mar logo à frente, calmo e azul. O vento jogava meu cabelo curto na cara, por mais que eu o colocasse para trás, ele voltava.
– Deixe eu ajudar você. – ele falou, pegando algo do bolso. Era um lenço vermelho. Josh o colocou em minha cabeça, mexeu um pouco e o sentir dar um nó no topo.
– Combinou com a minha roupa? – perguntei.
Ele colocou a mão no queixo, examinando meu short jeans, regata branca e blusa de flanela sem mangas por cima. Se eu soubesse que estaríamos indo para a praia não teria escolhido aquilo, mas não estava realmente me incomodando.
– Uma coisa... – ele tirou as sandálias dos meus pés e me viu mexer na areia com os dedos. – Agora está perfeito.
Comemos os croissants quentinhos e tomamos o café ainda mais quente, o que era estranho, já que o clima em si não era frio, mas o vento não nos deixava sentir o calor. Conversamos bastante, nos conhecendo. Sorri para mim mesma ao perceber que havíamos trocado a ordem das coisas. Descobri de onde ele vinha, sobre sua família e onde ele trabalhava. Falei sobre a empresa, um pouco dos meus pais e hobbies. O sol subia no céu enquanto eu me apaixonava por Josh Raven.
Resolvemos dar um passeio para molhar os pés na água do mar, caminhamos de mãos dadas, as livres segurando nossas sandálias, mas não nos afastamos muito do precioso bebê de Josh. Na volta, ele tentou me jogar na água, mas consegui me livrar e corri, com ele atrás. Descobri que ele era estabanado ao tropeçar em mim e nos fazer cair. Acabamos cobertos de areia, deitados de barriga para cima, rindo como dois idiotas.
Ficamos na barraca o dia todo, Josh apenas saiu para pegar mais comida a tarde. Era um lugar bastante calmo, poucos banhistas passaram por ali. Josh contou que passava as férias quando era criança e adolescente com os pais naquele lugar, por isso sabia onde ficava tudo. Aquela barraca era seu lugar especial e secreto. Deitamos na areia, nos beijamos, trocamos lembranças e até cochilei ouvindo as ondas, usando o peito dele de travesseiro. Quando o sol começou a descer no horizonte, eu o olhei triste, não querendo que o dia acabasse.
– Traidor. – resmunguei.
– O que eu fiz? – Josh me olhava um tanto preocupado. Eu estava deitada, as costas entre as pernas dele, a parte de trás da minha cabeça em sua barriga.
– Não você, o sol. Ele está indo embora.
– Ah. – ele voltou a sorrir. – Vamos ficar aqui mais um pouco.
– Vamos?
– Eu disse que queria mostrar a você uma coisa.
– Não era isso aqui?
– Só uma parte.
– Então precisamos ir para outro lugar?
– Só espere mais um pouco, ok?
Acomodei minha cabeça em seu colo e continuei assistindo o mar. Conversamos mais um pouco, havia muita coisa em vinte e poucos anos de vida para contar. Josh havia sido uma criança tímida, mas que ganhara seu espaço no colegial. Eu sempre estive com os populares, mas não presunçosos. Eu era sociável, mas sempre preocupada demais com notas para realmente estar com a galera. Ele ia para todas as festas, mas não passava muito dos limites.
– Então você era festeiro? – perguntei, brincando com os dedos dele sobre a minha barriga.
– Eu ia para qualquer lugar que meus amigos fossem, então pode-se dizer que sim.
– Você era uma maria-vai-com-as-outras.
– Mais ou menos.
– Por quê?
– Meus amigos usavam drogas, eu não.
– Nunca?
– Nunca.
– Cerveja? Algo mais forte?
Ele riu.
– Algumas vezes, sim.
– Por que você riu?
– Lembrei de uma festa, na verdade era um grupo pequeno, estávamos no porão de um amigo quando o irmão mais nova dele nos encontrou. Ele pegou uma cerveja para mostrar para os pais e nós tivemos que correr atrás dele, mas todo mundo estava tão bêbado que mal conseguíamos colocar um pé na frente do outro.
– E o que aconteceu?
– Alguém pegou ele. Compramos seu silêncio com uma revista.
– Que tipo de revista?
– Bom...
– Eca.
Eu o senti dar de ombros.
– Sua vez de contar seus pecados.
– Álcool, drogas e sexo.
Josh se inclinou para me olhar.
– Está falando sério?
Foi minha vez de rir.
– Eu perdi a virgindade na faculdade, o que você acha? Minha vida não foi nada divertida.
A luz foi diminuindo até que já era noite. Fazia cada vez mais frio e o corpo de Josh ao meu redor começava a não ser o suficiente para me manter aquecida. Agradeci quando ele pediu que me levantasse. Josh pegou minha mão e demos apenas alguns passos, até estarmos fora da barraca.
– Olha. – ele apontou para cima.
Ergui a cabeça para o céu repleto de milhares de estrelas. Há alguns anos eu havia ido para o show de uma artista pop qualquer que minha amiga gostava, e lembrei de olhar ao redor, na arena escura, com todos os flashes dos celulares acesos. O céu naquela noite era algo daquele tipo, só que mil vezes mais bonito.
– Eu sei. – Josh respondeu a minha expressão. Sua mão apertava a minha com força.
Era tão lindo, quase mágico. Eu não podia acreditar que era aquele mesmo céu que todas as noites estava sobre o teto da minha casa. Não podia ser. Aquele era um lugar especial, que Josh descobriu e resolveu dividir comigo. Pensando nisso, o abracei pela cintura de lado.
– Obrigada.
Outra festa estava acontecendo quando paramos em frente a casa, mas daquela vez parecia estar acontecendo na parte dos fundos, era de lá que vinha a música e as vozes. Josh deixou a moto ao lado de outra, que não estava ali antes quando saímos. Desci da moto e senti ele esbarrar em mim ao passar apressado, tirando o capacete e se aproximando da outra moto.
– Cacete, é uma Harley Davidson. – ele babou, claramente querendo tocá-la. Me aproximei também.
– Uma fat Bob. – soltei um risinho. – Que nome esquisito para uma moto.
– Não, é uma street Bob. – corrigiu. – De quem será essa máquina?
Dei de ombros.
– Eu vou entrar, preciso fazer xixi. – falei.
– Quer dar um pulo lá atrás depois? Beber alguma coisa?
– Certo, eu já volto.
Corri para dentro e encontrei o espaço vazio, parecia que todo mundo estava no quintal. Lembrei que havia visto um lavabo ao lado da escada e fui para lá. Fiz xixi, observando a areia que ainda estava em mim. Além da areia eu quase podia ver o toque de Josh em minha pele. Sorri, lembrando do nosso dia, das sensações, das estrelas. Foi tudo tão perfeito quanto um livro do Nicholas Sparks. Nunca achei que iria viver algo assim, logo eu que sempre fui tão pragmática, até mesmo nesses assuntos. Mas Josh me fazia sentir diferente, sentia uma necessidade de esquecer das coisas séries e apenas falar bobeira e beijá-lo.
– Cielo, você está perdida. - constatei e incrivelmente não me senti ansiosa ou apreensiva.
Lavei as mãos, notando meu rosto no espelho. Não havia tomado tanto sol, mas estava com o tom mais brilhante e saudável que a pele negra adquire com bronzeamento. Saí do banheiro e encontrei Sam parado ali, sua cara me alertou que algo não estava bem.
– Ei, o que foi? – perguntei, me aproximando. Por reflexo, lancei um olhar para o lado de fora, procurando Josh. A porta estava aberta, ele continuava no lugar onde eu o havia deixado, conversava com um homem não tão alto quanto ele, cabelo bem curto, cor de mel. Aquele cabelo, as roupas, o jeito que se movia enquanto falava com Josh... Meu estômago congelou por um segundo, depois uma onda de calor subiu da ponta dos meus dedos até minha cabeça.
– Cielo, merda, eu não sabia... – Sam estava falando, mas eu não o ouvia.
Minhas pernas se moveram, primeiro como que em câmera lenta, depois eu estava quase correndo. Desci da varanda e coloquei toda minha força nos braços para empurrar o homem perto de Josh.
– Mas que porra você faz aqui?! – gritei.
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