Capítulo III ⌛
Josh
Eu gostava dela.
Enquanto deslizava a lâmina pelo rosto distraidamente e de forma mecânica, eu pensava nela. Cielo era confiante, em tudo o que falava, na forma que se movia, tinha uma certeza sobre si que me fazia sentir um moleque perto de uma adulta, mesmo tendo mais ou menos a mesma idade que ela. Era uma jovem mulher que não só estava construindo uma carreira, mas que fazia isso em sua própria empresa. Ela era inteligente, mas não soberba, era divertida enquanto era provocante e definitivamente tinha a cabeça longe de padrões idealizados. Por enquanto ela era perfeita e eu não via a hora de passar mais tempo com ela para descobrir suas imperfeições também.
Abri a torneira, peguei água com as mãos e joguei na cara, me livrando do resto da espuma de barbear. Me olhei no espelho, decidindo que precisava lavar o cabelo, a maresia, o mar e a piscina estavam tendo seus efeitos.
Tirei o chinelo de borracha dos pés e baixei o short e a cueca, deixando juntos com a blusa sobre a privada. Me olhei mais uma vez no espelho, me perguntando se eu devia ouvir o Stephen e começar a malhar. Definitivamente eu não manteria uma rotina como a dele, de ir para a academia todo dia, mas talvez fazendo um pouco de exercício eu conseguisse um pouco de braço.
Entrei no box e liguei o chuveiro, recebendo choque pela água fria. Deixei que ensopasse meu cabelo. Peguei o shampoo que os proprietários haviam deixado e usei, espalhando o excesso no corpo. Eu era alto demais para aquele chuveiro, então precisava me dobrar um pouco para me livrar da espuma mais rápido. Desliguei a água, deixei que grande parte escorresse e saí do box, passando a toalha pelo corpo, me secando. A esfreguei no cabelo antes de deixá-la na minha cintura.
Me agachei para mexer nos armários sob a pia, achando um secador e agradeci aos proprietários pela casa bem equipada. Odiava cabelo molhado, mesmo no calor. Pluguei na tomada e comecei a secar, o barulho alto me deixando surdo.
No quarto, joguei a toalha na cama e fui até a cômoda, lembrando de Cielo mais uma vez e soltei uma risada. Encontrei a cueca que ela havia pegado e decidi que a usaria, para dar sorte. Nas outras gavetas encontrei uma blusa preta comum e minha calça camuflada. Depois de me vestir, voltei para o banheiro para dar uma última olhada no cabelo, então apaguei todas as luzes e saí.
Lancei um olhar para a porta de Cielo quando passei no corredor, mas segui em frente. O andar de baixo já estava animado, cumprimentei algumas pessoas no caminho, não conhecia ninguém. Sam estava no sofá, o braço sobre os ombros de Holly.
– Joshua Raven! – Holly gritou ao me ver, abrindo os braços mas continuando sentada.
Me inclinei para abraçá-la e dei um tapa no ombro de Sam.
– Como foi a viagem? – perguntei, sentando ao lado dela.
– Eu dormi em toda ela.
– Primeiro ano difícil?
– A faculdade deveria ser divertida.
Ela revirou os olhos e deu um gole na cerveja, então pareceu lembrar de algo e me lançou um sorriso.
– Eu conheci a sua amiga.
– Cielo?
Sam se inclinou para me olhar de frente.
– Se deu bem, hein. – ele sorria e me ofereceu o punho para que eu batesse de volta.
– Cara... – afastei a mão dele. – A gente só...
– Só estavam se esfregando na varanda. – Sam falou, fazendo Holly quase cuspir a cerveja. Ela caiu no colo dele enquanto ria.
– Vocês... – balancei a cabeça.
– Você gosta dela. – não era uma pergunta. Sam me conhecia demais.
– Gosto. Vai mandar eu ir com calma?
– Nah, Cielo sabe o que quer. – ele deu de ombros. – Acho melhor você tomar cuidado. Ela não namora.
– Por quê?
Sam pegou a cerveja das mãos de Holly e deu um gole, depois ficou olhando o rótulo. Pensei que ele não responderia, mas acabou falando.
– O último namorado dela era um babaca. Desde então ela não teve nada sério.
Pensei naquilo por um momento, curioso em saber o quão babaca o cara tinha sido.
– Relaxa, Sammy, não vou pedir ela em casamento.
– Lá vem a não-noiva. – Holly comentou, ainda deitada no colo do namorado.
Olhei para trás e vi Cielo descendo as escadas. Estava usando um vestido preto, sem alças, colado ao corpo. Ela olhou ao redor e logo nos notou no sofá. Começou a sorrir para nós, mas um dos caras novos entrou no meio, falando com ela animado. Cielo respondeu alguma coisa, simpática, então o acompanhou para a cozinha. Estiquei o pescoço, tentando ver os dois, mas tinham pessoas demais no caminho.
– Quem era aquele cara? – perguntei, me virando para Sam.
– Daniel. Amigo do Stevie.
Holly chamou minha atenção, falando sobre uma nova banda que havia conhecido e que achou que eu gostaria. Conversamos um pouco, Sam também estava tagarelando sobre uma nova guitarra que queria comprar, mas que andava sem muito dinheiro. Quando voltei a procurar por Cielo, a encontrei perto da bancada, virando um shot junto com Stevie, Daniel e Alex. Os quatro gritaram ao terminar. Seus olhos encontraram os meus, ela sorriu e ergueu a garrafa de tequila, em um cumprimento. Acenei de volta.
Daniel chamou sua atenção, tocando o braço dela. Eles trocaram algumas palavras, mas ela não parecia muito interessada, continuava trocando o olhar entre ele e eu.
– Vou pegar uma bebida. – falei, levantando.
Uma garota loira esbarrou em mim enquanto eu passava, ela pediu desculpas e voltou a dançar ao som de INXS. Continuei andando até a cozinha e fui direto até a geladeira. Estava lotada, de cima a baixo, de bebidas. Peguei uma Corona and Lime e me juntei ao grupinho do shot.
– Hey, Josh! – Stephen me abraçou de lado, batendo seu copo em minha garrafa.
– Hey, oi Alex. Bom te ver.
Ela se inclinou e me deu um beijo rápido na bochecha.
– Como estão suas coisas? – Alex perguntou.
– Tudo indo bem. E você?
Ela virou o copo minúsculo na boca e fez uma careta.
– A vida é maravilhosa, não é? Vamos dançar. – ela agarrou a mão de Stevie e o levou dali.
Observei os dois e soltei uma risada, me virando para os que restaram.
– Josh. – falei, oferecendo a mão.
– Daniel. – ele a pegou e apertou brevemente. – Essa aqui é a Cielo.
– Já nos conhecemos. – falei, lembrando do episódio na varanda. Cielo pareceu pensar o mesmo, pois me lançou um sorriso cúmplice.
– Então... Quer ir lá fora? Está meio quente aqui. – Daniel perguntou para ela.
– Ah, eu vou ficar aqui mais um pouco.
Virei o rosto, escondendo minha vontade de rir. Daniel se despediu meio confuso e saiu.
– Nunca experimentei essa aí. – ela comentou, apontando para a minha garrafa.
Abri a tampa na ponta do balcão e lhe entreguei. Cielo colocou o gargalo nos lábios e virou a garrafa, os olhos em mim. Porra, ela era sexy.
– E aí? – quis saber, recuperando minha bebida e dando um gole também.
– Tem um gosto bom.
– Mais ainda prefere algo mais forte? – lancei um olhar para a garrafa de tequila.
– Talvez os dois misturados seja melhor.
Ergui as sobrancelhas, confuso. Ela riu, como se eu fosse bobo, e ficou na ponta dos pés, puxando minha cabeça em encontro da sua. Segurei sua cintura enquanto nos beijávamos, o gosto de tequila estava forte em sua boca. Desci as mãos pelos lados do seu corpo, explorando, e acabei apertando suas costas, trazendo ela para mais perto.
– Vamos dançar. – ela falou, me deu mais um beijo rápido e fomos para o meio da sala.
Dançamos um pouco, nos movendo enquanto bebíamos a cerveja. Cielo estava provocante, sem realmente me tocar. Quando a garrafa secou, entreguei para alguém que passava por ali, sem me importar quem, e aproveitei as mãos livres para segurá-la. Ela riu e se deixou encostar contra meu corpo, me beijando.
O ambiente pulsava ao nosso redor. A música alta, os gritos, o cheiro de perfume misturado com álcool. Dançamos mais um pouco, nos beijamos ainda mais. Cielo jogava a cabeça para trás e ria, eu a olhava maravilhado.
– Quer ir ver a lua? – perguntei, desejando escapar um pouco de toda aquela agitação.
Ela se esticou para colar os lábios na minha orelha.
– Eu quero ver você.
Ela estava bêbada. Dava pra notar. Peguei sua mão e fomos para as escadas. Não havia ninguém no andar de cima. A puxei para a varanda, lembrando de fechar a porta quando passamos.
– Ar. – ela falou, erguendo a cabeça, os olhos fechados.
– Estava meio claustrofóbico lá embaixo. – concordei.
Cielo me abraçou pela cintura, estava com a cabeça para trás, me olhando. Seus olhos castanhos eram uma fresta.
– O que estamos fazendo aqui? – perguntou.
– Estamos ficando um pouco sozinhos. – respondi, passando a ponta dos dedos em seu rosto. Ela havia usado maquiagem.
– Podemos ficar sozinhos no meu quarto. – ela baixou o tom de voz, como se contasse um segredo. - Eu tenho uma cama grande. Você não tem.
Eu ri e me inclinei para beijar sua testa. Ela fechou os olhos.
– Quanta tequila você tomou?
– Não muito.
– Certo.
– Me beija.
– É uma ordem?
– Eu sou a chefa, lembra?
Precisei rir e obedeci. Eu a beijei lentamente, tentando desfrutar sua boca, mas Cielo estava afobada, usando a língua para separar meus lábios. Sem quebrar o beijo, ela me puxou até a parede, me prendendo ali. Seu corpo se jogava contra o meu, enquanto o beijo se tornava cada vez mais furioso. De repente ela se separou de mim.
– Vamos. – tentou me puxar da parede, mas eu resisti.
– Você está bêbada. – falei, sentindo as mãos dela voltarei para meu peito.
– Eu não ligo. – ela sussurrou em meu ouvido, então seus lábios tocaram a ponta do meu maxilar, logo abaixo da orelha. – Você se importa?
Ela não esperava por uma resposta, claramente. Deixou alguns beijos pela linha do meu maxilar até a ponta do queixo, então subiu, capturando minha boca. Sua língua deslizou para dentro, provocando a minha. Ela explorava, movendo sua cabeça, indo para onde bem entendia, em seu ritmo, suas escolhas, eu só absorvi. Senti meu corpo responder, formigar, o sangue parecia descer pelo meu corpo e se concentrar em um único lugar.
Ainda me beijando, senti as mãos dela deslizarem pelo meu corpo e encontrarem a frente do meu jeans. Seus dedos se livraram do botão e ela abriu o zíper lentamente. Minha boca foi liberada. Tive um vislumbre de seus olhos, famintos e apressados, antes que ela se abaixasse.
– Oh, porra. – soltei, quando ela puxou minha calça para baixo, só o suficiente. – Cielo, não, não, não.
Eu a afastei com uma mão enquanto subia minha roupa com a outra.
– O que foi? – Cielo perguntou, ainda de joelho.
- Merda. – xinguei, passando por ela e indo até a varanda.
O ar estava frio, agora eu percebia. Apertei o parapeito com força e respirei fundo. Fiquei ali por um tempinho, antes de me virar para olhá-la. Cielo estava de pé, apoiada na parede, me olhando.
– Você é gay. – ela falou.
– Não, eu definitivamente não sou gay.
– Então qual o problema?
Coloquei as mãos no rosto, então deslizei para o cabelo, respirando fundo outra vez.
– O problema é que você está bêbada. E eu não vou fazer isso... Ou deixar você fazer.
Cielo bufou e tirou as costas da parede.
– Você é um idiota, Raven.
– Eu sei. Vamos. – dei os dois passos até ela e segurei seu braço na altura do cotovelo.
– O que você está fazendo? – ela quis saber. Estava irritava, eu podia ver.
– Vou levar você até o seu quarto.
– Pra quê?
– Não quero que você esbarre em ninguém no caminho.
Ela puxou seu braço para longe e apontou um dedo na minha cara.
– Se você acha que eu vou fazer o mesmo com qualquer um que encontrar nessa casa, você é um...
– Eu não quis dizer isso.
Ela se limitou a me mostrar o dedo do meio e marchou para dentro. Eu a segui. Atravessou o cômodo escuro sem esbarrar em nada, seus passos estavam seguros. Talvez ela não estivesse realmente bêbada. Ou não muito. Achou seu quarto de primeira e entrou nele, deixando a porta aberta. Hesitei um segundo no corredor, depois entrei.
Cielo foi até a janela, lançou um olhar desinteressado por ela antes de parar no meio do quarto. Sem cerimônia alguma, puxou seu vestido pela barra, por cima da cabeça e o deixou no chão. Estava com uma lingerie vinho por baixo. Ainda sem mostrar que havia me notado ali, escalou a cama e deitou por cima dos lençóis, de costas para mim.
Estudei seu corpo na pouca luz, um corpo comum. Nada de curvas espetaculares, nada de uma bunda lisa e sem defeitos ou seios saltando do sutiã. O pouco do seu rosto que eu podia ver estava irritado. Ela era linda.
Fechei a porta silenciosamente atrás de mim e caminhei até a cama, esperando a cada passo que ela me expulsasse. Deitei do lado vazio, de frente para ela. A lua pela janela a iluminava. Seus olhos fechados, os lábios apertados. Quis tocá-la, quis colocar o cacho sobre sua orelha para trás, junto com os outros, mas me contive. Apenas fiquei ali, a observando, até ter certeza que ela havia dormido. Fechei meus olhos também.
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