-11-
Sofia Butler
Pisquei algumas vezes, forçando meus olhos a se ajustarem à pouca iluminação. Aos poucos, o ambiente ao meu redor foi tomando forma.
Eu to sozinha agora...
Para sempre.
Soso e Sofia. Para sempre.
Eu não sei o que aconteceu.
Nem onde eu to.
Eu quero chorar mas não aconteceu nada triste.
Alguma parte de mim não funciona direito.
Meu cérebro estava desligando. Se fragmentando. Me afastando de tudo.
Qual vai ser meu próximo pensamento? Minha cabeça ta tão pesada.
Acho que eu to com sono...
Vincent Hacker
A luz fraca do meu escritório iluminava a tela do computador enquanto eu analisava as informações sobre Dylan Butler.
Cada transação, cada movimentação suspeita, cada ligação registrada—tudo estava ali, esperando para ser conectado. Mas minha mente não estava funcionando como deveria.
Talvez demore um ou dois dias pra darem falta de Sofia agora que Mariana está no hospital.
Eu não consigo rastrear esse merda mas uma hora ou outra ele vai ter que dar as caras.
Passei as mãos pelo rosto, sentindo o peso da decisão que tomei. Logan e Victor nunca aprovariam isso. Mas eles não precisavam saber. Essa parte era minha, e eu resolveria do meu jeito.
Peguei um copo de uísque e engoli num único gole, sentindo o líquido queimar minha garganta. Levantei-me, ajeitei a postura e caminhei em direção ao quarto de hóspedes.
O quarto estava mal iluminado, a luz fraca da lua filtrando-se pelas frestas da janela.
Meu olhar encontrou Sofia encolhida no canto do quarto, de costas para mim.
Ela estava tão imóvel que, por um segundo, pensei que estivesse dormindo.
Mas então vi seus ombros estremecerem levemente. Chorando.
Preciso de toda a paciência do mundo.
— Desça para comer. — Minha voz cortou o silêncio como uma lâmina.
Nenhuma resposta. Apenas a respiração dela, entrecortada.
Dei um passo mais perto, tentando provocar alguma resposta, mas ela continuou do mesmo jeito. Não perguntou onde estava, não fez escândalo, não implorou para ir embora.
Era como se nem tivesse consciência do que estava acontecendo.
Minha mandíbula travou. Isso estava errado.
Cadê os gritos?
Me abaixei um pouco, observando melhor. Seus olhos, um azul e o outro verde, pareciam opacos, sem brilho, sem foco. Eu já tinha visto medo antes. Já tinha visto desespero. Mas aquilo era diferente. Era como se ela estivesse... vazia.
— Sofia — chamei, mais baixo dessa vez.
Nada.
Merda.
Suspirei e passei a mão pelos cabelos, reprimindo minha irritação. O medo dela me incomodava. Não porque me importava, mas porque era inútil. Eu não tinha tempo para lidar com fragilidade.
— Vou mandar trazer comida. Você come quando quiser. -- Dei de ombros e saí.
Minha intenção nunca foi acabar com uma refém catatônica. Eu queria respostas, queria Dylan. Mas vendo a garota daquele jeito, como se tivesse sido quebrada de dentro para fora, algo semelhante a raiva se revirou no meu estômago.
Não me importo se ela não quer sair do quarto.
Fiquei surpreso por ela não ter feito nenhum escândalo.
Ordeno a algum funcionário para que leve comida para o quarto em que ela está e volto para o meu escritório.
Vou esperar ela terminar de chorar para interroga-la.
Fechei a porta, respirei fundo e servi um copo de uísque. O líquido queimou minha garganta, mas não o suficiente para me distrair dos pensamentos inquietantes.
Encosto meu corpo na mesa do escritório, eu ainda processava as informações que havia conseguido sobre a facção de Dylan. No começo, eu e Victor achávamos que se tratava apenas de uma organização roubando bebidas da fábrica, nada que não pudéssemos resolver. Mas quanto mais fundo cavávamos, mais ficava claro que era muito maior que isso.
Era uma rede criminosa complexa, e agora tínhamos atingido pessoas perigosas ao tentarmos descobrir quem estava por trás das fraudes internas.
Com o informante que capturamos, arrancamos nomes que poderiam estar ligados à facção. Mas isso significava que também havíamos atraído atenção indesejada.
A essa altura, eu já sabia que Dylan Butler não era só mais um peão nisso tudo. Ele provavelmente estava no centro da merda toda.
E agora, com a filha dele sob o meu teto, talvez eu tivesse algo útil para arrancar dela.
Depois de duas horas no meu escritório, decidi que era hora de ver Sofia novamente. Uma funcionária já havia me informado que deu comida para ela, então ela estará mais calma.
Quando cheguei à porta do quarto de hóspedes, bati de leve antes de girar a maçaneta e entrar.
Ela não estava mais chorando.
Dessa vez, seus olhos bicolores me seguiram assim que entrei, arregalados e cheios de algo diferente do que antes.
Ela tombou a cabeça pro lado levemente, parecendo me reconhecer.
Sorrio de canto com sua expressão confusa.
Fechei a porta atrás de mim e encostei no batente, cruzando os braços.
— Finalmente parou de chorar? — Minha voz saiu seca, sem paciência.
Nada.
Sofia apenas abaixou a cabeça, puxando o cobertor para perto do peito como se aquilo pudesse protegê-la.
Eu não esperava gritos ou pedidos de socorro, mas o silêncio me incomodava. Ela não reagia como alguém normal reagiria ao acordar em um lugar desconhecido. Nada fazia sentido nessa garota.
Os olhos antes opacos agora pareciam ter voltado ao normal.
Que garota esquisita...
Mas não importava. Eu precisava de respostas.
Me aproximei um pouco mais, mantendo a voz firme.
— Onde está Dylan Butler? — perguntei diretamente.
Sofia levantou os olhos para mim, visivelmente confusa. Ela piscou algumas vezes, respirando rápido.
Não sei exatamente o motivo, mas me sinto irritado com essa confusão dela.
Porra. Por que ela não pode simplesmente responder?
Essa garota não é muda. Não vai conseguir me enganar.
— Eu fiz uma pergunta. — Minha voz saiu mais severa.
Ela começou a mexer nos dedos, um claro sinal de nervosismo. A respiração ficou mais curta, os ombros tremiam. Mesmo assim, nenhuma palavra saiu.
Minha paciência começou a se esgotar.
— Fala logo — rosnei, meu tom se tornando mais impaciente. — O que você sabe sobre ele?
Nada. Nenhuma palavra. Apenas lágrimas começaram a escorrer pelo rosto dela, silenciosas, enquanto ela encolhia ainda mais o corpo, os olhos perdidos, sem foco, sem reação.
Eu cerrei os punhos, sentindo a raiva crescer no peito.
Ela estava mentindo. Ela sabia algo, tinha que saber. Mas, porra, não ia falar.
— RESPONDE! — Minha voz saiu dura, carregada de frustração, dou alguns passos pra frente e vejo ela se encolher.
Sofia encolheu os ombros de novo, como se meu tom a tivesse esmagado. Mas continuou calada. Apenas lágrimas, respiração irregular e um olhar que me irritava ainda mais, porque não parecia sequer estar me vendo de verdade.
Puta merda.
Fechei os olhos e soltei um longo suspiro, esfregando o rosto. Eu precisava de informações, mas não assim. Isso não ia levar a nada.
Por enquanto, essa conversa ficaria para depois.
Uma hora ela vai abrir a boca. Eu garanto.
Vota vota vota.
Comenta comenta comenta.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro