"Halloween Baby"
Parte 3
— Meus Deuses esse corredor não acaba nunca?! — eu suspirei pela milésima vez, apoiando minha cabeça as costas do Connor enquanto seguíamos por aquele corredor interminável, parecia que estávamos a horas ali. Exagerada? Imagina.
— Tem uma luz ali. — ele apontou para o que parecia ser a saída e nos apressamos um pouquinho. Saímos em um corredor velho, empoeirado e com algumas tábuas do assoalho faltando. Devia ser alguma casa muito velha e pelas paredes meio pretas ela tinha passado por um incêndio. — Onde estamos?
Nós olhamos ao redor e eu encontrei um cartaz de 'desparecido' com a foto de uma criança. Por alguma razão isso me é estranhamente familiar.
— Tem algo acontecendo lá em embaixo. — Shay deu um passo a frente, pulando um buraco no chão e me ajudando a passar. É claro que tomamos uma das decisões mais burras de um filme de terror: ir investigar um barulho.
— Você fique longe da minha Hellen! — era a voz e o sotaque da Kass e ela tava muito, muito, muito brava. — Nunca mais encoste na minha ninfa, seu maláka!
Eu tive que uma crise de riso com a cena a minha frente.
A Hellen estava escondidinha atrás de uma mesa caída enquanto a Kass batia com o warclub* do Connor na figura no chão e o Alexios a chutava com muito gosto e a mesma expressão irritada e perigosa da irmã. E a figura no chão era ninguém menos que o Pennywise. Sim, os meus espartanos estavam usando um Palhaço Demoníaco de saco de pancada.
Infelizmente a minha crise de riso fez a Kass e o Alexios pararem de bater nele e isso deu tempo dele fugir.
— Merda, ele fugiu. — a Kass afastou uma mechinha teimosa que escapava da trança dela antes de limpar as mãos na lateral da fantasia e ir até a Hellen. — Você está bem meu sol?
— Sim. — fofas demais meus deuses! A Kass passou seu braço ao redor da cintura da Hellen enquanto o Alexios se aproximava da gente.
— Estão inteirinhos, que bom. — eu soltei o rosto dele depois de uma rápida inspeção. — Agora, o que aconteceu?
— Aquele maláka assustou o meu sol! — Kassandra apertou um pouquinho mais a Hellen contra si, voltando seus olhos para mim. — Ouso perguntar o que aconteceu e como sairemos daqui?
— Então... — eu dei uma risada nervosa. — O que aconteceu é complicado. — eu comecei a caminhar pela sala onde estávamos procurando pistas. — E como a gente vai sair daqui eu não sei ainda. Não lembro bem desse filme.
— Lembra do jogo com zumbis que o Jacob fez a gente perder? — Connor olhou para o Alexios que concordou e riu acompanhado da Kass. Algo me diz que ela sabe dessa história e deve gostar dela. — É parecido. Só que nesse morremos de verdade.
— Isso apenas deixa tudo mais interessante. — Kassandra se largou em cima de um sofá me olhando curiosa assim como os meninos. — O que está fazendo, Deusa do Amor?
— Tô tentando achar uma - — estranho, não lembro de ter um poço no meio da casa. — Achei! Temos que descer aqui!
— Tenho certeza de que essa é uma péssima decisão. — Shay olhou o poço, largando uma pedrinha nele e o fundo nunca chegou. — É, é uma péssima ideia.
— Infelizmente, acho que vamos ter que segui-la. — Connor surgiu com uma corda, que ele amarrou em uma das pilastras de uma porta que estava quebrada. — Lady.
Eu subi nas costas dele antes de começarmos a descer. Eu realmente tentava lembrar as coisas do filme, mas a minha memória estava ocupada com os filmes dos Vingadores. Fazer o quê, né...
— Aqui, temos que entrar aqui. — Connor parou ao lado do buraco na parede antes que eu o alcançasse e começasse a me arrastar por ele. Lá se vai toda a minha produção.
— Eu deveria ter ido primeiro. A visão do Connor é mais privilegiada. — eu ri do comentário do Shay, já imaginando a cara vermelha do meu pãozinho de canela. — A Kassandra também tem uma visão melhor.
— Não posso reclamar da minha também. — nós rimos do barulhinho ciumento da Kass ao ouvir o comentário da Hellen sobre a bunda do Alexios. Na verdade, ele devia estar vendo mais que só a bunda, já que essas sainhas gregas não escondem muita coisa dependendo do ângulo.
— Chegamos seus reclamões. — eu me levantei, batendo um pouco da terra, vamos fingir que é só terra, do meu vestido. — Agora a gente anda por aqui até achar o Palhaço dos Infernos.
Nem preciso dizer que não precisou de muito tempo até as coisas estranhas começarem a acontecer. Andamos por alguns canos largos e sujos até sairmos onde deveria ser o esconderijo do Palhaço.
— Acho que é aqui. — haviam algumas coisas flutuando acima da gente, além de muito lixo ao nosso redor e a coisa de circo, que eu acho que é um trailer, que aparece no filme.
Aquela musiquinha macabra de sempre começou e o Penny, é, vou chamar ele assim, preguiça de escrever o nome inteiro, apareceu, fazendo o que eu julgo ser o discurso de vilão. Pena que eu estava ocupada demais olhando as coisinhas que giravam acima da minha cabeça pra prestar atenção ou ouvir o que ele tava falando.
— Lady! — lá se vai meu ombro. O Connor me puxou com tudo para fora da rota de foguete daquele Palhaço besta. — Se escondam.
Eu concordei com um aceno, pegando a Hellen pela mão e correndo com ela para um canto onde a gente pudesse se esconder enquanto eles entravam no modo combate. E nossa, como eu amo esse modo.
— Vem aqui seu maláka! Eu vou te ensinar a nunca mais assustar a minha Hellen! — adivinha quem tava mais derretida que sorvete no sol do meu lado?
Eles até que acertavam alguns golpes, mas de nada tava adiantando.
— Tá bem, pensa pensa... — eu batuquei meus dedos, tentando lembrar em como eles matavam o Penny no filme. — Caramba, eu devia ter prestado mais atenção nesse filme...
— Hm, melhor tentar lembrar logo... — a Hellen espiou como as coisas estavam e eu a imitei, espiando por cima da caixa onde estávamos escondidas. O Penny tinha virado um lobo gigante. — Hm, medo do Shay?
— Não... Talvez o Alexios e a Kass. Lobo de Esparta, lembra? — ela concordou com um aceno e eu voltei a me esconder. — Deixa eu ver...
Eu fechei meus olhinhos e tentei lembrar do filme, saudades celular. Foi quando eu tive aquela 'explosão de cabeça'. Todos juntos.
— Já sei. — eu me levantei e olhei para onde devia estar rolando a porradaria. — Ué? Cadê o Palhaço de Satanás?
Pra quê eu fui perguntar. Eu ouvi um barulho atrás de mim e junto da Hellen me virei para olhar. O desgraçado do palhaço tinha virado uma aranha!
— Aranha! — eu sai tropeçando nas caixas e o desgraçado daquele bicho veio justamente atrás de quem? Isso mesmo, a aracnofobica aqui.
— Fique longe dela! — o Connor deu um golpe com a warclub em uma das pernas do bicho e o Shay usou sua espada para cortar outra.
— Temos que bater nele juntos. Tem algo de poder da amizade no filme, se não me engano... — eu estava usando o Alexios de escudo humano na maior cara dura da história.
— Certo, vai precisar de uma arma então. — a Kass se aproximou com uma barra de ferro que sabe-se-lá onde ela arrumou. — Hora de mostrar que aprendeu algo em todo esse tempo convivendo com os meninos, Lady.
— Ah, eu aprendi. — eu tinha um sorrisinho levemente sociopata em meu rosto? Claro. Até porque o Penny tinha voltado a uma de suas formas quase normais, aquela cheia de dentes, sabe.
O Connor deu um golpe nele com a warclub fazendo ele se curvar e eu usei as minhas habilidades contra o Penny. Junte uma pessoa que gosta de fingir que o rodo é um bastão e que geralmente termina acertando ele na própria cabeça com um bocado de raiva. Eu era uma arma perigosa.
A Kass e o Alexios nem estavam adorando ensinar a Hellen como acertar o Penny. E o Shay e o Connor estavam aproveitando pra gastar a raiva acumulada pelo nosso desafio anterior. Mas talvez tenhamos exagerado e irritado o Palhaço, mas assim só acho.
Eu e a Hellen nos juntamos, nos sentando e descansando enquanto eles descontavam a raiva, mas aí aquele Palhaço desgraçado deu uma de Hulk e jogou todo mundo pra longe vindo que nem um trem desgovernado pra cima da gente.
— Ai minha Hecate! — eu peguei a barra de ferro apontando ela para o Penny bem na hora que ele pulou sobre a gente e ele parou no ar, com a barra enfiada no peito.
— Lady! — a Hellen se juntou a mim, colocando suas mãos na barra e de longe eu podia ouvir os meninos preocupados.
— Empurra Hellen! — eu fiz a típica pose de lança do Alexios, um dos joelhos apoiado ao chão e usei a outra perna pra dar impulso ao corpo, tentando empurrar a barra. — Por que você não some? Sua coisa irritante!
As definições de poder da amizade, ou poliamor nesse caso, foram atualizadas com sucesso. Não demorou dois segundos pro Connor, Shay, Alexios e Kass se juntarem, ajudando a gente a levantar e terminar de atravessar o Penny com a barra, empalando ele no chão. Aí ele começou a convulsionar.
— Para trás. — o Shay, delicadamente, me puxou para trás, me deixando escondidinha atrás dele e do Connor enquanto a Kass e o Alexios faziam o mesmo com a Hellen.
O Penny tremeu por mais alguns segundos antes de explodir em cinzas.
— Acho que isso não acontece no filme. — eu olhei ao redor, procurando por... sei lá pelo que eu tava procurando. O barulho de uma porta rangendo fez todo mundo olhar pro coisinho de circo, que eu acho que era um trailer, e a porta se abriu lentamente. — Ai Senhor, só pode ser sacanagem... Vou te levar na autorizada de artefatos mágicos depois dessa, vou pedir reembolso.
Os meninos riram, ignorando meu murmurio sofrido quando começamos ir para a porta, entrando novamente em um corredor escuro, úmido e gelado.
***
— O quão longos são esses malditos corredores? — eu apoiei minha testa as costas do Shay sentindo ele se balançar em uma risada. — Para de rir, Shay. Eu não aguento mais andar. Quero minha festa de halloween de volta.
— Digo o mesmo, Lady. — eu nem precisava olhar para a Kass pra saber que ela tava agarradinha na Hellen, mesmo que isso fosse quase impossível naquele corredor minusculo. — Voltar a estar sentada naquele belo jardim com a minha ninfa e meu sol... E você, Deusa do Amor?
— Eu selecionei uma música lenta para cada um dos meninos, eu estaria dançando com eles até não sentir mais meus pés, estaria rindo das pataquadas do Jacob e nós iríamos dormir ao amanhecer, como no ano passado, todos juntinhos num motinho bagunçado na sala. — eu sorri, desejando o meu bureau e não aquela confusão. Mas não tinha outro jeito né.
— Acho que estou vendo algo. — Connor olhou sobre o ombro para o Shay, começando a andar mais devagar. — Acho que é uma floresta.
Eu tentei espiar através dos meninos. Realmente era uma floresta e a 'porta' por onde nós teríamos que passar era mais ampla, como um arco.
— Está com essa mesma sensação? — o Connor trocou um olhar com o Shay.
— Como se um predador estivesse a espreita? — Shay olhou ao redor, mesmo que a única coisa ali fosse as paredes, e o Connor concordou com um aceno.
— Vamos ser cuidadosos, nada de barulho e estejam prontos para correr. — ele olhou para a Kass e o Alexios que concordaram.
A essa altura do rolê, meu vestido longo de bruxinha do amor tinha perdido 80% da saia e 100% da elegância, assim como a roupinha de ninfa da Hellen. As saias haviam rasgado na briga com o Penny e se enroscavam nas nossas pernas. Então, a decisão mais prudente foi destruir as fantasias. E nossos sapatos, bem, os meus eu tinha perdido brincando de pega-pega com o Slender de Taubaté.
Faltavam poucos passos para passarmos pelo arco quando o Connor olhou por cima do ombro pra todo mundo, pediu silêncio, se agachou um pouco e passou de forma quase sorrateira pelo arco, com sua machadinha em mãos.
Nós o seguimos, passando em filinha indiana pelo arco, o mais silenciosos que podíamos.
— Lady. — Shay arrancou um papel de uma árvore, me entregando. Fo-deu.
— Puta que pariu. Fodeu. — eu sussurrei e vi o Connor abrir a boquinha pra reclamar, mas meu gesto de silêncio fez ele se calar. — Estamos em Um Lugar Silencioso, ou algo parecido.
A cara da Hellen de pânico me fez rir, silenciosamente é claro, enquanto a Kass, o Alexios e o Shay trocavam olhares confusos.
— Eu lembro desse filme. — o Connor apontou para o rio e nos aproximamos, assim ficaríamos um pouco mais seguros. — É aquele que o Haytham assistiu com nós dois e gostou.
— Esse mesmo. — eu olhei ao redor, era só dar as instruções agora. — Temos que fazer um total de zero barulho, então, sem sapatos e olhar para o chão, sempre. Não vamos poder falar, a menos que estejamos perto de algo com um barulho mais alto que a gente, tipo o rio ou uma cachoeira ou sei lá.
— E como passamos de fase? — o Shay se jogou no chão, tirando as botas antes de se levantar e balançar o corpo, tentando ver o que fazia barulho no casaco.
— Bem, segundo nosso papelzinho, temos três criaturas para lidar. Passamos de fase derrotando elas. — eu ri quando a Kass e o Alexios imitaram o Shay, sacudindo o corpo para ver se as armaduras iam fazer barulho. Por sorte, as armaduras escolhidas eram de caçador e faziam o mínimo de ruído. — Temos um mapa. Tem uma construção marcada nele, vamos para lá, deve ter algo que nos ajude.
— E os outros? — a Hellen me olhou preocupada e eu olhei ao redor.
— Julgando pelas regras do amuleto, devem estar juntos em algum lugar razoavelmente seguro. Devemos encontrar com eles em breve, pelo caminho. — o Alexios me ajudou a levantar e eu entreguei o mapa para o Connor.
Não demorou muito para os meninos se localizarem. Para o nosso azar, teríamos que entrar na floresta. Ô noite de cão, viu.
*warclub:
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