Rarden - 5
- Você não está segurando o braço de uma criança, Rarden – gritou Ternamud. – Segure essa espada com firmeza!
Rarden endireitou-se, ficando mais ereto, como se o gesto o ajudasse a cumprir a ordem.
O bando estava viajando havia três dias e tinha parado na noite anterior em uma pequena estalagem no caminho para o sul. Decidiram permanecer no local durante duas noites para descansar as montarias dos últimos dias de viagem e também porque Vadylia mencionou que a região era propícia para colher ingredientes para suas poções, sendo necessário um dia inteiro para coletá-los. Naquele início da tarde, sob o sol abrasivo, Ternamud presumiu que seria um bom momento para usar a área gramada nos arredores da pequena aldeia como um campo de treinamento de esgrima.
- Muito bem, Bot – disse o homem negro, cruzando os braços.
Desde a partida do forte de Lorde Maeskro, Ternamud se recusou a chamar Botrovin pelo nome.
“Garoto, seu nome é ridículo”, ele não cansava de lembrar. Mas Botrovin não ligava, pelo contrário, exibiu um semblante de satisfação quando ouviu a nova alcunha pela primeira vez.
Ternamud descruzou os braços e ergueu sua espada de madeira.
- Vocês precisarão de força não somente para reagir contra as estocadas das lâminas adversárias, mas também para evitar que um mago azul arranque sua arma do seu domínio.
Não era a primeira vez que ele lhes ensinava aquela lição, mas Rarden ainda não tinha entendido o que um mago azul era capaz de fazer. As histórias de Roggrer eram, em sua maioria, sobre magos vermelhos que expeliam chamas de fogo pelas mãos, além de outras lendas sobre cavaleiros e contos que mais pareciam terror, como aquele dos irmãos Galdin e Gandul.
- Cuidado para a postura, Rarden – Ternamud observou. – Você está lutando e não comendo grama.
O jovem abaixou a espada e apoiou-se nela. Ela era mais pesada do que parecia antes de carregá-la. Se uma espada de aço tivesse o mesmo peso, ele não tinha certeza se seria capaz de batalhar com destreza, mesmo acumulando anos de treinamento.
- O meu peito ainda dói – ele confessou, notando o olhar do seu professor sobre a espada usada como uma bengala.
No mesmo instante o espadachim careca sobressaltou as sobrancelhas.
- Então você fala? – ironizou. – Deveria abrir mais essa boca, garoto. Numa batalha os mudos são os primeiros a morrer. Sabe por quê? Não, não responda. Vou te dizer o motivo. Eles não sabem pedir socorro.
Ele franzia o cenho com seriedade enquanto falava, mas após cessar as palavras, exibiu um rápido sorriso.
- Talvez seja um bom momento para uma pausa.
Rarden suspirou aliviado, sentando-se no chão, exausto. As últimas horas foram usadas basicamente para Ternamud explicar muita teoria, findando em uma tentativa de pôr todo o monólogo em prática. O jovem não sabia qual das partes do treinamento havia sido mais cansativo, a mental ou a física.
Enquanto o jovem retomava o fôlego, seu amigo Botrovin franziu o cenho, decepcionado. As histórias de cavaleiros e a coragem destes no campo de batalha sempre o inspiraram mais do que a Rarden e a Lyn, e agora ele tinha a chance de digladiar como um deles. Provavelmente continuaria sorrindo mesmo que Ternamud o chamasse de bola de estrume, desde que o homem continuasse ensinando a brandir uma espada.
Botrovin ainda estocou um inimigo imaginário uma ou duas vezes com displicência, antes de jogar sua espada de treino no chão e sentar com violência ao lado de Rarden.
Antes que o garoto pudesse emitir qualquer palavra de insatisfação pelo fim do treino, uma figura surgiu de trás de um pequeno monte de terra e caminhou até os três. A mulher trajava gibão e calça e seu cabelo curto reforçava ainda mais a figura masculina.
Rarden não teve tempo de saber mais sobre Tadla, um dos membros do bando. Apesar de ter ouvido de Caonas que ela era uma maga, definitivamente ela não se parecia com uma.
Mas o que ele poderia falar sobre o assunto? O único mago com quem conviveu por anos foi Roggrer, que se vestia como um aldeão tanto quanto Toromin ou Truto. Talvez aquela vestimenta favorecesse a magia de Tadla, seja lá qual fosse.
Com um semblante sisudo, a mulher fitou os dois jovens e parou seu olhar em Ternamud. Rarden não teve certeza, mas poderia jurar que viu os olhos da maga adquirindo um tom púrpuro.
- Se quer me falar algo – disse Ternamud sem demonstrar cordialidade -, que fale para os garotos ouvirem. Sou imune à sua magia, se esqueceu?
Ela levantou o nariz em tom desafiador, mas não disse nada. Com os olhos semicerrados, desviou seu olhar desprovido de alegria e fitou as espadas de madeira jogadas no chão.
- Isso é uma perda de tempo – murmurou girando sobre os calcanhares.
Ternamud a observou ir embora em direção à estalagem e não disse uma só palavra.
- Ela se referia a nós? – Rarden apontou para Botovrin e em seguida para seu próprio peito. – Nós somos uma perda de tempo?
O espadachim meneou a cabeça.
- Não se trata de vocês – respondeu solenemente, seu olhar mirando as costas de Tadla. - Se trata do quanto a vida nos machuca e do quanto conseguimos apanhar até começarmos a não nos importar com mais nada nem ninguém – fez uma pausa. - Além disso, magos roxos, em sua maioria, não gostam de corujas como eu.
Rarden franziu o cenho, sem ter certeza se entendeu ou não a resposta do seu professor de esgrima.
- Ela tentou usar magia em você? – Rarden quis saber, recapitulando o que ouviu momentos antes.
- Sim.
- Mago roxo? – Botrovin retrucou. – Pensei que só existissem magos vermelhos e azuis. E nem sei o que magos azuis fazem.
Rarden compartilhou da mesma opinião. Os dois garotos fitaram o homem, que entendeu que ambos queriam uma explicação.
- Como um erudino, acho que aprendi história o suficiente para explanar uma pequena explicação sobre o mundo bruxo.
- Erudino? – Botrovin parecia confuso.
- Você nunca ouviu falar de Erudin? – Ternamud parecia surpreso. Olhou alternadamente de um jovem para o outro. – Que tipo de pescadores vocês são? Saibam que a maior enciclopédia sobre seres marinhos do Mar Poente foi catalogada por erudinos.
Os jovens o olharam, confusos.
- É um reino ao norte – Ternamud acrescentou -, não muito longe de Luteneea. Bem, de fato, não é um reino pois não temos rei, mas isso não importa agora. Deixem-me contar uma história.
Sentou-se no chão, de frente para os jovens.
- Vocês não querem ouvir nada sobre peixes, livros grossos ou uma nação que possui mais universidades do que barracões militares. Então vou contar a vocês o que é mais interessante.
Ele pigarreou com pompa.
- Há milhares de anos atrás, surgiram entre homens comuns alguns indivíduos dotados de habilidades sobrenaturais. Esses poderes foram chamados pelas pessoas da época de magia e, naturalmente, logo os portadores dessa capacidade sobre-humana foram chamados de magos. Aquele foi o início da Era Maga, onde três tipos de magos, com habilidades distintas, passaram a se espalhar pelo mundo.
De repente, Ternamud fitou Rarden, confuso.
- Bem, na verdade há quatro tipos de magos, se considerarmos a sua classe, garoto. Desde a Era Maga os magos brancos já eram raros de serem encontrados, então por muitas vezes as pessoas consideraram apenas três classes magas.
Então eu sou um mago branco, Rarden pensou.
- Além do mago branco, temos o vermelho, o azul e o roxo – Ternamud acrescentou.
- O mago vermelho conjura fogo pelas mãos – Botrovin apressou-se em demonstrar conhecimento sobre o assunto.
- Exatamente, Bot.
Rarden lembrou-se da batalha na aldeia e dos fragmentos de rocha arremessados misteriosamente pelos ares.
- Algum deles é capaz de levantar coisas?
O homem fez um sinal positivo com a cabeça.
- Magos azuis dominam a arte da telecinese, um nome bonito para o que podemos também definir de forma simplória como “comandar objetos com a mente”. Não sei se vocês já notaram, mas Caonas é um mago vermelho, enquanto que Gui’k e Ângika são magos azuis.
Botrovin fungou, pensativo.
- Se eles podem comandar tudo, por que eles não ergueram aquelas pessoas que mataram meus pais até às nuvens e depois os soltaram para a morte?
Ternamud prestou-lhe um semblante de consolo.
- Não é tão simples assim, Bot. Todos os poderes possuem regras e limitações. Talvez Caonas e Gui’k sejam mais adequados, pela própria experiência, para explicar essas regras com mais detalhes.
Rarden refletiu sobre o que acabara de ouvir. Tadla tentou usou magia, mas definitivamente não era magia vermelha nem azul.
- Então Tadla é uma maga roxa. E o que um mago roxo faz? – Rarden quis saber. – Eu nem sabia da existência desta – tentou lembrar o nome que Ternamud usou - classe mágica.
O espadachim suspirou e enxugou a testa suada sob o sol forte.
- Imagine alguém fervendo um barril de água e despejando o seu conteúdo por completo dentro do seu ouvido até seus miolos fritarem – Ele fez uma pausa. – É o que um mago roxo faz.
Rarden franziu o cenho e Ternamud percebeu que havia mais dúvidas do que respostas em sua mente.
- Em breve você entenderá – disse Ternamud. – Mais cedo ou mais tarde você cairá nas armadilhas de um mago roxo.
- Mas se existe apenas quatro tipos de magos, então o que você é? – Rarden perguntou.
- Esta é uma boa pergunta. E é nesta parte da história, centenas de anos após a Era dos Magos, que surge a Era Bruxa.
Os dois garotos inclinaram-se para frente simultaneamente.
- Quando os magos já eram conhecidos por todos ao ponto de existirem convenções muito bem estruturadas criadas por eles, novos poderes surgiram no mundo. Mas essas habilidades eram diferentes das primeiras. Esses humanos invocavam seus poderes através de palavras mágicas, que mais tarde foram chamadas de encantos – fez uma pausa. – Nasciam aí os encantadores. Além deste fato de usar palavras encantadas, algo que o mago não tem necessidade para conjurar suas magias, este novo ser mágico possuía algumas características distintas dos magos, mas não vou me ater a isso agora. O fato é que os antigos magos não queriam ser confundidos com encantadores, e por isso jamais permitiu que nenhum outro humano com poderes mágicos se denominasse um mago. Estão conseguindo acompanhar tudo?
- Sim – respondeu Botrovin, mas seu amigo sabia que era mentira. Era informação demais para absorver de uma só vez.
Rarden deu de ombros.
- Então você é um encantador? – pensou um pouco. – Não lembro de você ter falado nenhuma palavra quando Tadla tentou usar magia contra você.
- Você é um garoto esperto, Rarden. Eu sou uma coruja, a única classe de encantadores com habilidade passiva. Isso significa que não preciso dizer nada, o meu poder está sempre ativo.
- E qual é o seu poder? – Botrovin perguntou.
Ternamud fitou Rarden.
- Você se lembra daquele homem invisível na aldeia?
Rarden indicou que sim.
- Ele também era um encantador – Ternamud explicou. – Um sem-sombras. Sua habilidade, como Rarden notou, era tornar-se invisível aos olhos de todos, com exceção dos olhos de uma coruja como eu.
Rarden meneou a cabeça positivamente, lembrando que o sem-sombras chamara Ternamud de coruja. Só agora fazia sentido.
- Mas ainda não entendi a relação da sua habilidade com a magia de Tadla.
Ternamud levantou-se e sacudiu a poeira da calça.
- Um mago roxo tenta enganar você com ilusões presentes apenas em sua mente. Seus olhos vêem e seus ouvidos ouvem o que não existe. Mas as ilusões não afetam uma coruja, é como se ela não estivesse conjurando nenhuma magia – olhou para o céu e enxugou a cabeça novamente. – Acho que o assunto se estendeu por muito tempo e esse sol está queimando meus pensamentos. Há outras classes de encantadores, mas essa explicação ficará para depois.
- Ei! – Rarden o interrompeu, lembrando-se da mulher que tratou as feridas do velho Roggrer – E Vadylia? Ela é uma encantadora também?
Ternamud olhou para o céu como quem não quisesse continuar o assunto, mas pareceu conformado em alongar a aula sobre magia.
- Depois de um tempo do surgimento dos encantadores, ouviu-se relatos de pessoas que podiam conjurar um tipo de magia em coisas, que mais tardes passaram a ser usadas para criar poções. Mas já existia pessoas que elaboravam poções em caldeirões muito antes dos magos e eram chamadas de feiticeiros. Por isso, essas pessoas, com esta nova maneira de conjurar magias, foram também chamadas de feiticeiras, mas como elas usavam a voz como parte crucial para as suas receitas, ficaram conhecidas como feiticeiros de línguas, uma forma de os distinguir dos feiticeiros comuns.
Rarden pensou nas histórias que já ouvira sobre feiticeiros, sujeitos velhos, enrugados e desprovidos de beleza, uma descrição que em nada se assemelhava a Vadylia, uma mulher jovem e bonita.
Botrovin pigarreou.
- E por que as bolsas de Vadylia sempre fedem a alho?
- Ei! – Rarden queria poder desfazer as palavras do amigo, que soaram como um insulto.
Entretanto, Ternamud não se incomodou com a pergunta.
- O alho faz parte de muitas poções usuais, então é normal ficar impregnado com o seu odor – respondeu, indiferente. – Concluindo, assim ficou o mundo mágico desde então. Cheio de magos, encantadores e feiticeiros. Com o tempo, as pessoas sem poderes que não entendiam a magia e a abominavam passaram a espalhar a notícia que tudo não passava de bruxaria, e por este motivo adotou-se por vários reinos o título de “bruxos” para todos os seres com poderes sobrenaturais.
Ele olhou para os lados e baixou o tom de voz, exibindo um sorriso maroto.
- Muitos magos não gostam de serem chamados de bruxos. O ego desses é tão grande que se ofende quando são tratados de igual para igual com encantadores e feiticeiros – elevou a voz novamente. – Mas não se preocupem, os magos que nos acompanham estão isentos desse preconceito.
Ele abriu um tecido grosso no chão, pôs sua espada de treino sobre ele e fitou as armas de madeira utilizadas pelos jovens. Quando se inclinou para recolhê-las e guardá-las, Botrovin sobressaltou-se.
- Será que posso passar mais um tempo com ela? – o garoto pediu.
O homem negro hesitou mas acatou pedido. Pôs a arma de Rarden no tecido preto, enrolou-o e foi embora, deixando os amigos sentados no chão.
- Eu não acredito que, com tantos bruxos diferentes, o velho Roggrer só contava histórias de magos vermelhos – resmungou Botrovin, levantando-se.
O jovem, que era alto para a sua idade, agarrou sua espada e passou a golpear o ar como se estivesse batalhando.
Rarden também ficou de pé. Queria saber mais sobre o qua havia de especial em ser um mago branco.
Sentiu o ar faltar, como estava acontecendo desde o ataque que sofreu dos homens de Caloman, e se deu conta do quanto a notícia da sua sobrevivência despertou o interesse dos bruxos. Provavelmente se recuperar de golpes fatais fosse uma característica mágica de um mago branco, mas o que isso tinha de especial para que dois bandos de desconhecidos viajassem até uma aldeia minúscula à sua procura?
Pensou em seus pais e sentiu saudade. Como eles estariam naquela nova vida sob a proteção de Lorde Maeskro? Ao saber que era um mago, Rarden quis muito seguir Caonas e descobrir mais sobre si mesmo. Talvez essas respostas explicassem seu passado, antes de ser encontrado por Toromin no mar. No entanto, apesar de aceitar se separar dos pais, o jovem não imaginou que sentiria tanta falta de Toromin e Trya.
Botrovin continuou estocando sua espada no vento. O que se passava na cabeça dele naquele momento. Certamente ele não tinha conhecimento do quão tolo ele se parecia com aquela brincadeira de atacar o ar.
A figura franzina de Ângika surgiu, vinda da direção da estalagem. Ela caminhava devagar, sem pressa. Aproximou-se dos dois amigos, mas não disse uma só palavra, o que só reforçou o seu ar altivo, muito proporcionado pelo nariz pontudo e arrebitado.
Botrovin parou o que estava fazendo e afundou a ponta da arma no chão, se apoiando sobre o seu pomo. Encarou Ângika, que continuou muda.
- Vai ficar calada? – ele indagou rudemente. – Primeiro quis saber meu nome, depois passou a viagem calada pelos cantos. Agora quer conversar?
Rarden suspirou. Seu amigo ocasionalmente se comportava como um idiota e definitivamente aquele era um desses momentos, mas talvez tivesse motivos para o descontentamento. Desde a partida da fortaleza de Lorde Maeskro, Botrovin tentou iniciar um diálogo com a garota, mas ela o ignorou todas as vezes, até que o jovem se zangou o suficiente para evitar até mesmo a troca de olhares com a garota.
- Se não falar nada é melhor dar meia-volta e ir embora – Botrovin prosseguiu, mas não obteve nenhuma reação. – Deve estar se achando superior só porque é uma maga azul.
Apontou o dedo em direção a Rarden.
- Pois saiba que ele é um mago branco – informou como se o fato fosse algo extraordinário, mas Rarden sabia que ele só queria impressionar, pois ambos não tinham nenhuma ideia do que havia de especial em um mago branco.
Contudo, a grande questão na jogada arriscada de Botrovin, segundo Rarden presumiu, era se Ângika sabia mais que eles sobre o assunto.
Naquele momento, o amigo de Rarden ergueu a espada de madeira do chão e começou a girá-la com displicência.
- Então seja menos arrogante – Botrovin disse -, não se ache importante só porque você sabe levantar coisas por aí. Veja, eu também sei fazer o mesmo.
O garoto jogou sua espada para o alto, sobre o próprio corpo, e ergueu a mão oposta para agarrá-la. Mas o inesperado aconteceu: o objeto de madeira parou instantaneamente no ar, logo acima da sua cabeça. Rarden franziu a testa e notou que Botrovin estava tão confuso quanto ele.
Antes que alguém pudesse exprimir qualquer pensamento, a espada caiu mais rápido do que deveria e bateu com força no rosto de Botrovin, que soltou um gemido de dor e despencou sobre os joelhos, a face escondida por trás das suas mãos.
Rarden ainda tentava entender o que aconteceu, mas fitou Ângika rápido o bastante para ver sua mão, então erguida, descendo dissimuladamente para junto do corpo.
- Sua maldita! – Botrovin rosnou, ainda com as mãos cobrindo o rosto largo.
A menina se aproximou um pouco mais e curvou-se para falar o mais perto possível do jovem ajoelhado.
- Eu evito conversas por três motivos básicos – ela disse. – É uma regra que eu mesma criei. Algumas pessoas falam coisas estúpidas, outras mentem para você e ainda há aquelas que se aproximam apenas porque precisam de você. Perguntei seu nome lá no castelo porque eu queria saber se você estava bem – seu rosto naquele momento deixou, ainda que por um pequeno instante, o semblante duro de lado e Rarden notou seus lábios hesitantes -, pois sei o que é não ter os pais por perto. Mas agora percebi que você fazer faz parte do primeiro grupo de pessoas da minha regra e eu não poderia estar mais arrependida por ter te perguntado alguma coisa.
De repente, assumiu a mesma postura indiferente de antes. Já não se sabia se ela estava feliz ou zangada. Olhou para Rarden antes de dar meia-volta e ir embora.
Botrovin continuou gemendo no chão, se certificando de que não havia quebrado nenhum osso da face. Aparentemente, estava tudo bem, embora Rarden tivesse certeza de que aquele nariz, agora vermelho, ficaria roxo em breve.
A menina tinha apenas quinze anos mas com sua magia conseguia agredir como um adulto.
O jovem mago branco ajudou o amigo a se erguer do chão, que uivava ameaças de morte contra Ângika.
- Venha – disse Rarden. – Vamos procurar Vadylia para cuidar deste nariz.
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