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Capítulo 9- Da Escuridão à luz


Olá, pessoal. Espero que gostem do capítulo e comentem. Obrigada. Beijos



Anne

Ela chorava sem conseguir conter uma lágrima sequer. A janela do quarto estava fechada, e a temperatura que reinava ali era quente demais, mas Anne não parecia senti-la, pois seu corpo estava frio, seu coração estava gelado, e sua alma tão negra quanto a noite.

Mais lágrimas rolaram caindo sobre o desenho que ela fazia, borrando os traços perfeitos deixando sobre a folha de papel uma mancha escura. Ela então o amassou, e o jogou no chão, fazendo-o se juntar a milhares de outros que tinham tido o mesmo destino naquele dia. Então, ela recomeçou tudo outra vez, traço por traço quase obcecada pelo que estava fazendo. Seu nariz escorreu, ela fungou alto, outra lágrima caiu, e ela a enxugou com a manga da sua camisola. Um soluço escapou por entre seus lábios silenciosos até então. Ela tentava não pensar em Gilbert, mas seu coração chamava por ele, porém, era um chamado solitário, porque ele não viria dessa vez.

Fazia exatamente cinco dias que não saía daquele quarto, pois se trancara ali depois que vira Gilbert pela última vez, e nem mesmo para suas refeições essenciais ela saía.

Irina notara seu estado, mas não lhe fizera perguntas. Ela entendia que Anne passava por um processo delicado, e por isso, não a enchia de questionamentos tentando descobrir o que estava acontecendo como seria do padrão normal, e Anne se sentia agradecida por isso.

Mesmo em seu estado de depressão crescente, a garota ruiva percebia que Iriana a tratava com cuidados de mãe e não como enfermeira, e isso a fez querer chorar mais ainda

Ela não conseguia se lembrar de sua mãe biológica, e sempre que tentava puxar pela memória um rosto em particular, era o de Marilla que lhe vinha em primeiro lugar, então desistia, porque se cansava daquilo com facilidade, e pensava que talvez não se lembrasse porque provavelmente não a havia conhecido,e fora deixada no orfanato ao nascer.

Isso não era algo que a aborrecesse no momento, porque tinha que lidar com uma caixa inteira de sentimentos, e a figura materna não era o que a preocupava no momento.

Anne parou um instante para observar o seu desenho finalizado e pensou que nunca algo representara tão bem como estava se sentindo por dentro. Ela desenhara um jardim inteiro de rosas negras, borboletas negras, um coração negro, e por último um anjo de asas negras tão triste quanto ela.

Aquela escuridão toda representava suas emoções inconstantes como se estivesse se afundando em uma onda negra de sofrimento e não tinha forças para lutar contra aquilo sozinha.

O rosto de Gilbert surgiu em sua cabeça, e ela respirou fundo. Anne parara de procurar por ele nos corredores da clínica, e como não abrira mais a janela, ela não via mais quando ele chegava para trabalhar. Ela sentia falta de se sentar no jardim enquanto era observada por ele, sentia falta das sessões de terapia, e a maneira como ele parecia se importar com o jeito como ela estava se sentindo, e como era bom ser abraçada por ele mesmo que isso não tivesse significado nada para Gilbert além de um consolo para uma paciente em crise.

Ela fora louca de acreditar que ele gostava dela, e por isso, ela lhe era especial. Ela fora apenas mais uma paciente de quem ele se cansara de tratar, e por isso, a jogara no divã de outro psiquiatra.

Se ele não pretendia continuar cuidando dela, por que lhe dera a impressão de que poderia salvá-la? Por que criara em sua cabeça a ilusão de que ele a ajudaria a atravessar aquele imenso deserto de lembranças que ainda fazia parte de sua mente, se não pretendia sequer tentar?

O que fora para ele, um experimento? Uma brincadeira? Parte de uma pesquisa? Por que ele a abandonara no olho do furacão?

De repente, um flash chegou até ela e foi tão claro como seu um filme estivesse sendo reproduzido diante dos seus olhos. O homem bonito de olhos verdes dizia que a amava, e enquanto dançavam ao som de uma valsa Vienense, ela se sentia a mulher mais feliz do mundo. E então, a cena mudou para um quarto escuro onde ele gritava, e a sacudia, dando-lhe um tapa no rosto e a jogando ao chão. Ele veio em sua direção novamente e quando suas mãos a alcançaram, ela deu grito que a tirou do transe, e com a testa pingando em suor, ela percebeu que estava sozinha no quarto, e ninguém a ameaçava.

Anne cobriu o rosto com as mãos tentando afastar o terror, mas as vozes em sua cabeça começaram a gritar "Assassina" dessa vez mais alto ainda, e ela achou que não fosse suportar, mas um toque em seu braço a fez levantar a cabeça e encontrar o olhar preocupado de Irina que perguntou:

- O que se passa com você, minha pequena?

- Nada, eu só estou com dor de cabeça. - ela disse com a voz trêmula. Não queria falar sobre o horror dentro de sua cabeça. Irina não podia ajudá-la, ninguém mais podia ajudá-la, o único que tinha nas mãos seu passaporte de redenção era Gilbert, mas ele desistira dela.

- Anne, eu trouxe seu almoço. Talvez se se alimentasse um pouquinho, a dor de cabeça poderia passar.- Irina disse acariciando seu rosto triste com carinho.

Era-lhe tão difícil ver sua menina daquele jeito de novo. Seu espírito parecia quebrado, e o total desânimo que via em todos os seus gestos a preocupava demais. Ela descera alguns degraus em sua recuperação, e recaídas eram sempre preocupantes.

- Não estou com fome, mas obrigada mesmo assim.- Anne disse desviando o olhar para o desenho que estava terminando.

- Quando comeu pela última vez, Anne?- Irina perguntou.

- Não me lembro. - ela respondeu dando de ombro.

- Anne, você está assim por causa do Dr. Blythe?.- Anne parou de sombrear o desenho que estava em suas mãos, respirando fundo ao ouvir a pergunta de Irina, sem se atrever a lhe encarar os olhos. Devia dizer a ela o que estava sentindo? Devia contar que perder Gilbert a deixara no chão? Por que tinha sempre a sensação que as pessoas a abandonavam nos piores momentos de sua vida? Não, Irina não podia saber. Aquilo era um pesadelo apenas seu, não iria envolver a boa mulher em sua ruína.

- Não.- ela respondeu fingindo estar interessada no seu desenho inacabado.
- Anne, tem certeza de que não ficou magoada com o fato de que ele não ser mais seu médico?- Anne parou novamente com o lápis grafite no ar, ao sentir uma pontada aguda em seu peito ao ouvir a pergunta de Irina. Era mais do que aquilo, ela não sabia explicar porque doía tanto, mas o fato era que Gilbert tê-la abandonado abrira um buraco bem fundo em seu coração, e nem toda medicação do mundo faria cicatrizar.

Mas, ela negou novamente, não queria que Irina soubesse o quanto estava sofrendo pelo simples fato de Gilbert ter saído de sua vida.
- Não. - foi sua única resposta e a boa enfermeira percebeu que não arrancaria nada dela, por isso, se comprometeu a ficar atenta a todos os passos de Anne, pois algo lhe dizia que ela estava pior do que queria aparentar. Bastava observar os desenhos que ela fizera aquela semana. A maneira como os ilustrara totalmente negros lhe dava uma boa ideia de como ela estava de sentindo por dentro, e Irina sentia seu coração pesado ao ver sua menina tão linda se encaminhando para o precipício.

Não podia fazer muita coisa para ajuda-la a não ser ministrar a medicação que o médico prescrevera, e dar-lhe toda a atenção que ela necessitava, algo além disso estava fora do seu alcance, pois a melhora tinha que vir de dentro para fora, e dependia muito mais de Anne querer sair daquele processo destrutivo do que qualquer outra coisa.

Ainda assim, ela tentou:

- Por que não damos um passeio lá fora? Se troca e eu te acompanho.- Irina tentou dar um tom alegre a voz e com isso dar uma injeção de ânimo em Anne que parecia tão carente de tudo, mas não adiantou, porque Anne sequer olhou em sua direção. Ela apenas respondeu sem tirar os olhos da folha de papel que ela coloria com giz de cera preto freneticamente.

- Obrigada , Irina, mas prefiro ficar aqui.- a voz dela silenciou nesse ponto, e Irina entendeu que era sua deixa para sair, assim, ela caminhou para a porta, pegou na maçaneta e a abriu, mas antes de pisar no corredor, a boa enfermeira deu uma última olhada para trás, e sentiu vontade de chorar ao ver a linha da espinha de Anne curvada, como se ela tivesse desistido e ao fechar a porta atrás de si e caminhar para longe do quarto dela, Irina sentia que a tinha abandonado com todos os seus demônios.

GILBERT

A batida da música eletrônica era contagiante, embora não fosse o tipo de música que ele costumasse ouvir em casa ou dentro do carro. Mas, não viera ali com seus amigos por causa da música, ele viera porque precisava esquecer, e nem mesmo o litro de uísque quase vazio no bar de seu apartamento conseguira deixar sua mente anestesiada o suficiente para arrancá-lo do seu tormento.
Gilbert deixou que seus olhos se acostumassem a luz fraca do ambiente, enquanto via pessoas dançando, casais se agarrando nos cantos mais escuros, o cheiro de cigarro pelo ar, perfume e suor se misturando e ele sentiu sua cabeça rodar . Não devia estar ali, mas ficar trancado em seu apartamento também teria sido a coisa errada a se fazer. Ele não parava de pensar, de sentir coisas em seu coração que machucaram, às vezes odiava ficar sozinho, porque era quando seus esqueletos no armário o atacavam. Era quando ele via o rosto de Ruby acusador cobrando-lhe uma promessa que ele vinha cumprindo a três anos, mas sentia que estava fracassando, e aquele pensamento soava pesado demais dentro de si mesmo.

Seu olhar se perdeu em uma mesa um pouco distante da sua, e foi o cabelo ruivo que chamou sua atenção. A garota não era nem de longe parecida com Anne, mas, ele podia ter a ilusão de que ela estava exatamente ali. Aqueles olhos azuis tristes nunca saiam de seu pensamento, e ele daria tudo para que mais nenhuma lágrima de dor caísse deles. Ela merecia ser feliz, e mesmo não sabendo muita coisa do passado dela, Gilbert desejava que seu coração não tivesse sido magoado tão profundamente que a fizesse viver alienada do mundo real.

Quantas belezas ela ainda seria capaz de criar com sua arte, e ele gostaria imensamente de ter o privilégio de vê-la pintando pelo menos uma vez, usando sua imaginação e talento para dar vida a um sonho qualquer que ela tivesse, imortalizando-o para sempre ao olhos de milhares de pessoas que como ele conseguia enxergar através dele a sua verdade.

Gilbert sabia que o que estava sentindo por ela ia além da atração física. Ele tentara se enganar, mas desde que viro o desenho que ela fizera dele , Gilbert passara a encarar suas próprias emoções de maneira realista. Ele estava a um passo de se apaixonar por ela, e nem mesmo todas as suas habilidades como psiquiatra conseguia camuflar mais tais sentimentos, e fora um tolo tentando não enxergar o óbvio.

A garota se virou e ao perceber que ele a encarava e lhe sorriu, levantando seu copo de cerveja como em um brinde, enquanto ele sequer tinha vontade de retribuir. Não estava interessado em um encontro casual, e muito menos passar a noite ao lado de uma desconhecida, mas, sua mente estava tão inconstante que ele se levantou, e caminhou em direção à mesa da garota sem realmente pensar no que estava fazendo.

Moody observava Gilbert sem que o amigo percebesse. Ele estava estranho aquela noite, quase não tinha dito uma palavra desde que o pegaram em seu apartamento, e era um comportamento bastante peculiar.

Gilbert Blythe sempre tinha algo a dizer, mesmo que fosse para analisar um fato qualquer em sua visão prática de psiquiatra, e se fechar naquele silêncio mortal não era realmente sua forma padrão de agir. Com o também não era usual vê-lo caminhar em direção à uma desconhecida, se sentar na mesa dela e começar uma conversa sem ter sido apresentado por alguém antes.

Não que ele não tivesse o direito de fazer amizades, conhecer outras mulheres e iniciar um relacionamento. Afinal, ele era solteiro, boa pinta e tinha uma profissão fortemente estruturada. O problema era que se ele estava fazendo coisas totalmente contrárias a sua natureza, era porque algo o estava desestruturando por dentro, e isso do seu ponto de vista profissional era péssimo.

Ele ouviu uma risada familiar, e se virou para ver de onde vinha tal som, e se deparou com Prissy Andrews que acabara de chegar com uma amiga, e conversava com Billy, que estava indo para a pista de dança agarrada com uma morena.

Prissy era uma garota bonita e muito inteligente, falava o que pensava e totalmente liberal a respeito do relacionamento entre um homem e uma mulher. Feminista de carteirinha, para ela não existia aquela coisa de sexo frágil já que a mulher era tão capaz quanto o homem em trabalhar em múltiplas funções, ou realizar tarefas complexas e que exigiam raciocínio rápido e preciso.

Quando a conhecera, Moody pensara que ela sentisse atração por mulheres tamanho era seu desdém em relação ao sexo oposto, mas, com o tempo, ele percebeu que era apenas um mecanismo de autodefesa de alguém que como ele tinha sido muito magoado na vida.

Billy lhe contara parcialmente sobre sua infância e o relacionamento que ele e sua irmã tinham tido com seu pai naquela época. Esse fato tinha acontecido em uma noite de muita bebedeira, na qual, o amigo depois de alguns shots de tequila acabara falando um pouco demais de sua mágoa contra o seu progenitor. Moddy ficara chocado ao saber que tanto Billy quanto Prissy tinham sofrido abusos e pressão psicológica quando criança, e passara a entender melhor a personalidade complicada do amigo, assim como passara a admirar a força de caráter de Prissy, que superara sua infância infeliz e construíra para si uma carreira sólida, e uma vida pessoal independente.

Moody nunca falara com Billy sobre o que o amigo lhe revelara, pois ele intuíra que Billy não gostaria de saber que acabara deixando escapar uma parte de sua vida que deliberadamente tentara esconder, não por vergonha, porque ele não tinha do que se envergonhar, mas sim pela força das lembranças de um tempo que com certeza deixara marcas profundas tanto em sua alma quanto na de Prissy, e traumas assim levavam às vezes uma existência inteira para serem esquecidos, ou eram carregados até o túmulo.

Moody foi arrancado de seus pensamentos quando viu Prissy caminhar em sua direção. Ela lhe sorriu de um jeito comedido, que não deixava de ser charmoso, e ele esperou que ela se aproximasse para dizer:

- Que prazer vê-la, Prissy. Tentei te ligar outro dia, mas seu celular só dava fora de área.- o sorriso dela se alargou enquanto ela se sentava na mesa dele, antes mesmo de Moody convidá-la. Ele gostava desse jeito dela que fazia somente o que queria sem se preocupar com a opinião alheia.

- E desistiu assim tão fácil-? ela disse com a voz provocante, olhando-o de maneira firme, que fez Moody se sentir desconfortável, pois ela tinha um jeito de olhar que parecia conseguir enxergar além da camada de sua pele, atingindo-o direto no coração. Ela estendeu a mão, pegou o copo cheio de uísque que ele deixara em cima da mesa, levou-o aos lábios e tomou um grande gole da bebida sem tirar os lindos olhos castanhos dos dele, fazendo Moody sentir um arrepio pelo corpo ao pensar na intimidade daquele gesto dela de partilharem o mesmo copo. Em um ato ousado, ele se aproximou mais dela e perguntou:

- Gostaria que eu tivesse insistido?- ela não fugiu da proximidade dele, e continuou observando-o com seu sorriso reservado, porém sincero.

- Talvez.- ela respondeu fazendo certo mistério em relação ao que aquele talvez queria realmente dizer.

- Eu não entendi.- Moddy disse tomando o restante do seu uísque sem deixar de admirar a beleza sem artifícios dela. Ela era toda delicada, mesmo querendo aparentar algo completamente diferente. Além dos olhos brilhantes, Prissy tinha um nariz pequeno com a pontinha levantada, lembrando-o das mulheres francesas em uma de suas visitas a Paris no último ano. Os cabelos eram longos e loiros, e ela os usava na maior parte do tempo soltos pelo ombro, jogando as mechas de um lado para o outro conforme se movimentava ou se concentrava em alguma coisa. Diferente de Billy que era alto, Prissy era baixa e tinha todas as suas curvas na medida certa e sem exageros, fazendo dela uma mulher extremamente atraente para qualquer homem que a observasse com atenção. Porém, se enganava quem achava que aquela garota pequena e de rosto angelical fosse frágil. Depois de um tempo que se convivia com ela, acabava-se percebendo com uma rapidez astronômica que Pryssy Andrews era uma fortaleza pura.

- Eu quis dizer que depende do motivo da sua ligação, eu teria gostado que tivesse me ligado novamente.- ela disse bem perto dele.

- Se eu tivesse ligado para te convidar para sair, você teria aceitado?- Moody disse depois de tomar coragem. Eles estavam tão perto que seu lábios se separavam apenas por poucos centímetros. Prissy não parava de encará-lo, o que encorajou Moddy a se aproximar um pouco mais, e quando ia beijá-la, ela virou o rosto, e os lábios do rapaz tocaram seu rosto, e se levantando da mesa ela disse sem deixar de sorrir:

- Me liga de novo que te dou a resposta para essa pergunta - e assim Prissy se afastou, deixando Moody completamente sem ação e fascinado por ela.

Naquele momento, Billy se aproximou com a mesma morena que arrastara para a pista de dança, e perguntou olhando ao seu redor:

- Onde está o Blythe?- Moody apenas apontou com a cabeça para a mesa onde Gilbert ainda estava sentado conversando com a garota ruiva.

- Quem é ela?- Billy perguntou intrigado.

- Não faço ideia, e duvido que Blythe saiba também. Ele está muito estranho essa noite.- Moody respondeu dando de ombro.

- Você acha que ele está tendo uma recaída por causa de Ruby?

- Quem pode saber? Ele não fala sobre esse assunto, e quando tento arrancar algo dele, Gilbert se fecha em conchas.

- Já está na hora dele se conformar que Ruby se foi e não vai voltar.- Billy disse passando as mãos pelos cabelos, parecendo preocupado, e de repente sua expressão mudou para desagrado evidenciado pelo tom de sua voz grave:

- Quem foi que chamou ela para vir aqui? – ele apontou para a porta, e Moody viu Josie Pye chegar naquele instante.

- Eu disse a ela que estaríamos aqui hoje. Você sabe que sou amigo do irmão dela. Acho até bom que ela tenha vindo, assim ela salva nosso amigo de fazer uma besteira.

- Só você mesmo para achar que Josie é boa influência para Gilbert. Mas, já que a convidou, faça as honras.- Billy disse antes de sair arrastando a morena atrás de si.

Moody observou Billy se afastar tentando entender aquela raiva velada que o amigo parecia ter de Josie. Ele já tinha visto Billy agir assim em várias ocasiões que Josie estava por perto, e nunca conseguira enxergar uma causa aparente. Talvez fosse daqueles tipos de antipatia gratuita que surgiam e nem se sabia como, mas ainda assim não deixava de ser estranho.

- Olá, Moody.- ela dissera assim que chegara em sua mesa, beijando-o de leve no rosto.

- Oi, Josie. Que bom que veio.

- Eu não tenho muita certeza sobre isso, mas, enfim, onde está Gilbert?- ela perguntou varrendo com o olhar todo o salão, e antes que Moody pudesse responder, os olhos dela endureceram ao ver o jovem psiquiatra conversando animadamente com uma garota que devia ter uns vinte anos.

- Quem é a fulana?- Josie perguntou entre dentes enquanto via a ninfeta atrevida alisar o braço de Gilbert com ousadia.

- Não conheço, e o Gilbert também não.- Moddy respondeu vendo as chamas do ciúme brilharem nos olhos de Josie.

- Então, por que ele está falando com ela como se a conhecesse a vida inteira? – Josie perguntou indignada.

- Ele não está bem, Josie. Acho que bebeu um pouco demais e não sabe muito bem o que está fazendo.- Moody tentou explicar.

- O que aconteceu com ele?- o tom de Josie tinha mudado de raivoso para preocupado.

- Lembranças, Josie. Daquelas que podem acabar com a vida de um homem.- Josie olhou para Moody e depois para onde Gilbert estava e disse com a voz baixa.

- Vou tirá-lo de lá.- e assim ela foi em direção à mesa que Gilbert estava sentado com um sorriso nos lábios, não deixando transparecer sua ira interior, ela disse no momento em que parou ao lado da cadeira de Gilbert:

- Querido, ainda bem que te encontrei. Estou te procurando a quase meia hora.- Gilbert a olhou confuso enquanto Josie continuava a sorrir com toda a simpatia do mundo.

- Quem é você?- a menina ruiva perguntou olhando Josie da cabeça aos pés.

- Alguém que você não gostaria de conhecer.- ela disse com simpatia, mas, seus olhos brilhando ameaçadores desmentiam seu falso bom humor, e por isso, a menina se calou deixando morrer o seu ar de desafio.

- Vamos, amor. Temos que ir para casa.- ela disse se agarrando no braço de Gilbert e ajudando-o a se levantar, notando quase que imediatamente os efeitos da bebida em seu semblante e movimentos . Ele devia estar passando por um mau momento para ter bebido assim, pois durante todo o tempo em que estavam saindo juntos, o máximo de bebida que ele consumia era uma taça de vinho. Mas, não importava. Ela decidiu que cuidaria dele naquela noite.

Quando eles se aproximaram de Moody, Josie disse:

- Vou levar Gilbert para casa. Ele não está em condições de ficar aqui.

- Quer ajuda para colocá-lo no carro?- Moody perguntou penalizado com o estado do amigo.

- Não. Ele consegue caminhar, só está um pouco confuso. Até logo, meu amigo.

- Até logo.- Moody disse se despedindo.

Do clube até o estacionamento eram dez minutos de caminhada, e Gilbert seguiu Josie sem reclamar. Sua cabeça estava leve e cada passo que dava, ele tinha a impressão que pisava no ar. Ela abriu a porta para ele, assim que alcançaram o carro dela, e quando Josie começou a dirigir, ele sequer lhe perguntou para onde estavam indo.

Depois de algum tempo, ela estacionou o carro em frente de sua própria casa, e ajudou Gilbert a sair do carro caminhando com ele até a porta da frente. Quando entraram na casa dela, Josie fez Gilbert se sentar no sofá e esperar enquanto ela ia até a cozinha preparar um café forte para que ele pudesse tomá-lo, e assim curar sua bebedeira.

Dez minutos depois, ela retornou com uma xícara grande de café quente, e o estendeu a ele dizendo:

- Tome enquanto está quente. O sabor não deve ser dos melhores, mas, vai ajudá-lo a melhorar em pouco tempo.- Gilbert obedeceu fazendo uma careta quando o líquido amargo desceu por sua garganta, depois, devolveu a xícara vazia para Josie e disse com a voz mais firme:

- Obrigado, e me desculpe por isso.

- Não tem problema algum, Gilbert. Por que não toma um banho frio enquanto preparo algo para comermos? Tem um roupão limpo no banheiro se quiser.- ele assentiu e enquanto a água fria corria por seu corpo, Gilbert pensava a que ponto tinha chegado com aquela loucura. Ele estava se sentindo envergonhado por Josie tê-lo visto naquela situação. O que estaria pensando dele naquele exato momento? Mas, o que isso importava afinal? Ele continuava se sentindo vazio pela morte de Ruby, e ansioso por seus pensamentos em Anne. Duas metades de um mesmo homem dividido e se sentindo puxado para direções diferentes por laços invisíveis.

Ele não havia visto Anne a semana inteira, ela não aparecera no jardim, não fora a biblioteca e tampouco surgiu na janela de seu quarto como fazia todos os dias quando ele estava chegando no trabalho, o que o fizera se preocupar mais do que devia, e também tivera que admitir que sentira falta dela demais. Em sã consciência, Gilbert sabia que era melhor que não se vissem ou se encontrassem, mas, seu coração reclamara de saudade, e ele tivera que lidar com mais esse sentimento dentro de si, e de repente, ele se deu conta de que estava mais enrolado naquela história do que imaginara.

Gilbert saiu do banho, se enxugou e vestiu o roupão que Josie tinha lhe indicado, depois foi para a sala, onde Josie já tinha colocado uma bandeja com alguns sanduiches e suco. Ele não estava com fome, mas, pegou um sanduiche enquanto Josie lhe servia o suco, e o observava em silêncio por alguns instantes, e logo perguntou:

- Sente-se melhor?

- Sim, obrigado.- ele respondeu comendo o sanduiche devagar.

- Quer conversar sobre o que aconteceu?- Josie perguntou olhando-o por cima da borda do seu copo,

- Não acho uma boa ideia.- Gilbert respondeu sem encará-la.

- Tudo bem, Gilbert. Se prefere assim.- Josie colocou seu copo em cima da bandeja e depois continuou a falar.- A hora que quiser ir para casa pode pegar o meu carro. Moodie disse que levaria o seu de volta para casa na mensagem que me enviou agora a pouco me perguntando sobre você.- Gilbert olhou para a mulher a sua frente que tinha cuidado dele naquela noite, e suspirou cansado. Não queria ter que voltar para seu apartamento onde a solidão o esperava de braços abertos, estava carente de amor, de atenção , de companhia, foi isso que o fez se decidir. Ele se aproximou de Josie, pegou na mão dela e disse:

- Será que não posso passar a noite aqui com você?- Josie o olhou admirada. Gilbert jamais lhe fizera aquele pedido antes, mas, de forma alguma deixaria a oportunidade passar. Segurando a mão de Gilbert na sua, ela se levantou, deu-lhe um sorriso, e o puxou até o quarto.

GILBERT E ANNE

O dia acabara de amanhecer, mas, ela não dormira. Seus olhos ficaram pregados no teto a noite toda, enquanto seus fantasmas das sombras gritavam em seus ouvidos. Eram pesadelos reais que desfilavam em sua cabeça, como serpentes que se enrolavam no corpo da vítima, fazendo-a sufocar até morrer. Aquela dor dentro dela era infinita e não havia fuga para o desespero que sentia, quem poderia salvá-la de sua loucura? Ela se levantara mil vezes durante a noite, perambulara pelo quarto, lavara o rosto tantas vezes que a pele se encontrava sensível e vermelha. Ela parecia um zumbi vagando pela noite, enquanto as vozes de seu passado a martirizavam sem pena. Como uma ladainha sem fim, a palavra "assassina" fora dita dentro de sua cabeça como um grito distante e zangado , e a zombaria de outras palavras não menos ofensivas que aquela machucava seus ouvidos.

Anne fincou as unhas na palma da mão sentindo-a sangrar, depois tapou os ouvidos, deixando que a escuridão a engolisse dentro de seu quarto onde estava mais sozinha do que nunca, por fim, não aguentando mais, ela se levantou e procurou em cada gaveta por um alivio qualquer, mas, não encontrou, pois todos os remédios que tomava eram mantidos longe dela, e Irina tomava cuidados especiais com aquele tipo de coisa, pois acidentes poderiam ocorrer e seriam de sua total responsabilidade se algum interno ingerisse uma dose cavalar de calmantes em uma de suas crises.

A garota ruiva começou a chorar baixinho, pois seu desespero estava no auge, e não conseguia encontrar um alivio sequer para a sua angústia imensa. Ainda assim, ela continuou vasculhando as gavetas, o armário até que encontrou sua mala que estava no fundo dele. Sem saber o que procurava, Anne a abriu, e descobriu que tinha um fundo falso, onde ela encontrou uma tesoura. Um pensamento louco lhe ocorreu ao pegar o objeto em sua mão, testou seu peso, sua ponta cortante, e pensou aliviada que tinha encontrado sua salvação. Teria que ser rápida se quisesse se livrar da sensação de fobia que tomava conta de seu peito. Ela detestava ver sangue, nunca fora forte o bastante para enfrentar qualquer ferida, mas, em seu presente desespero era sua única saída. Porém, se fosse rápida, um único corte do jeito certo acabaria com tudo, e seu alivio viria enfim para sempre.

Ela fechou os olhos, pediu perdão mentalmente pelo que iria fazer, pensou em Matthew, Marilla, Cole, sua querida Diana, e por último, Gilbert. Mentalmente, ela viu o rosto dele tão sério cujo olhos expressivos não abandonavam os seus, seu beijo carinhoso da última vez, seu toque suave, seu calor aconchegante, e aquelas mãos que seguraram a sua dando-lhe confiança e paz. Queria ter mais tempo com ele para tentar descobrir o que era aquilo que sentia, queria ter mais tempo para conseguir fazê-lo sorrir pelo menos uma vez, queria ter pelo menos mais cinco minutos para estar com ele e dizer-lhe adeus, mas o tempo se escoava, e ela não suportava mais a tortura em sua mente.

Ela apertou o punho direito com força onde sua veia mais saliente ficou visível, em seguida, ela posicionou a ponta da tesoura sobre ela e ia fincá-la fundo quando ouviu um grito que a paralisou:

- Não, Anne! Não faça isso!- ela reconheceu a voz de Irina que se aproximou dela desesperada, lhe tomou a tesoura impedindo a loucura que iria fazer.- O que ia fazer, meu amor?- ela disse abraçando Anne que tremia e chorava sem parar. A menina estava em choque, e murmurava vezes seguida:

- Não aguento mais! não aguento mais!- Irina percebeu pelo estado dela que não conseguiria lidar com isso sozinha, por isso, ela discou o número de Charlie Benson, rezando para encontrá-lo em casa, mas seu telefone estava desligado, então, suspirando e se sentindo cada vez mais nervosa, ela ligou para a única pessoa que poderia socorrê-la mais uma vez.

Gilbert abriu os olhos no momento em que seu telefone tocou, e logo imaginou quem poderia ser naquela manhã de domingo. Ele olhou para Josie que dormia a seu lado, e se levantou devagar indo para a sala para que ela não acordasse com sua conversa ao telefone.

- Alô.- ele disse com a voz rouca, e então Irina disse desesperada:

- Dr. Blythe. Graças a Deus que o encontrei.

- O que foi Irina?- Gilbert perguntou sentindo que o ar ficava rarefeito.

- É a menina Anne. Dr. Blythe.- ao ouvir aquele nome, ele sentiu seu coração dar um pulo, mas, logo colocou seus pensamentos em ordem e disse de forma neutra:

- Ela não é mais minha paciente, Irina. Por que não liga para o médico dela?

- Dr. Blythe, eu não estaria ligando para o senhor se tivesse outra alternativa. Já tentei o telefone do Dr, Benson, mas, ele não atendeu. Se o senhor não pode vir até a clínica, diga-me apenas o que devo fazer.- Gilbert praguejou baixinho. Ele não queria se importar, mas, era mais forte que ele, por isso se viu dizendo:

- O que aconteceu?

- Ela tentou o suicídio, Dr. Blythe.- o coração dele disparou e ele teve que se sentar. Não, aquilo não podia estar acontecendo. Anne não podia ter feito aquilo. Como ele poderia viver sabendo que tinha sido sua culpa? -Com a respiração suspensa ele perguntou cheio de medo:- Como ela está?

- Graças a Deus, eu cheguei a tempo, ou ela teria cortado os pulsos novamente com uma tesoura. Não sei onde ela encontrou esse objeto , pois sempre tomo bastante cuidado quanto a isso. Mas, agora ela não para de chorar e parece estar em estado de choque. O que devo fazer para acalmá-la?- Gilbert tomou a decisão em um segundo. Anne precisava dele, e não ia abandoná-la.

- Fique com ela, eu já estou indo.- ele disse desligando o telefone em seguida.

Assim. Ele se vestiu rapidamente, fazendo menos ruído possível, e escreveu um bilhete para Josie, dizendo que tinha ido até o hospital atender uma emergência no carro dela, e depois pediria para alguém devolvê-lo. Em seguida, ele saiu da casa dela, entrou no carro e dirigiu para a clínica desrespeitando todos os limites de velocidade. Em dez minutos ele estava atravessando o corredor da clínica , e alcançando o quarto de Anne.

Irina estava com ela em seus braços, enquanto Anne chorava sem parar. Em cima da escrivaninha jazia a famigerada tesoura que teria feito um estrago e tanto, se Irina não tivesse chegado a tempo de detê-la. Ele sentiu um arrepio gelado passar por seu corpo ao imaginar a possibilidade contrária, e seu olhar caiu sobre Anne que o olhou com tanta tristeza que ele teve vontade de chorar com ela. Quanta mágoa havia naquele coração, e quantas dores insuportáveis deveriam atormentá-la para levá-la a pensar em acabar com a própria vida pela segunda vez.

Gilbert passou as mãos pelos cabelos, ao pensar que a culpa era sua por ter somente pensado em si mesmo ao decidir encaminhá-la para outro médico, abandonando-a quando ela mais precisava dele.

Anne viu Gilbert se aproximar devagar, e seu coração se alegrou. Ele viera ajudá-la, ela não estava mais sozinha em sua escuridão. Com firmeza, ela se afastou de Irina e foi em direção dele que permanecia parado no meio do quarto sem dizer palavra nenhuma, então, ela lhe estendeu a mão e disse baixinho:

- Você veio.- seu braços rodearam a cintura dele, e ele abraçou o corpo trêmula e frágil de Anne, enquanto olhava para Irina que disse:

- Dr. Blythe, o senhor quer que eu ministre a ela algum tipo de calmante?

- Não, vá descansar um pouco. Eu cuido dela. Quando terminar aqui eu te chamo.

- Está bem.- ela disse, saindo do quarto e fechando a porta com cuidado.

Gilbert acariciou os cabelos sedosos de Anne, enquanto ela não largava sua cintura. Os soluços dela ecoavam dentro dele como se fossem os seus próprios, e ele descobriu naquele breve segundo que a tinha em seus braços, que Anne já era importante demais em sua vida para que ele se afastasse. Era loucura se envolver assim, mas, não conseguia não estar ali toda vez que ela precisasse dele.

- Por favor, Gilbert. Não me deixe. Fica comigo. Silencie essas vozes em minha cabeça, e por favor me salve, antes que ele me alcance.- as palavras dela eram meio desconexas, mas, a ultima parte chamou sua atenção. Gilbert a afastou dele por um momento, pegou o rosto dela com as duas mãos e perguntou:

- Quem é "ele", Anne?- ela balançou a cabeça como se não entendesse o que ele lhe perguntara, e com toda a agonia que sentia, ela pediu novamente:

- Por favor. Não me deixe, Gilbert.- como ele poderia virar-lhe as costas se ela se agarrava a ele como se Gilbert fosse sua única esperança de sobrevivência? Deixando toda a sua cautela e lado, ele sentou na cama com ela em seu colo e disse:

- Não precisa se sentir assim. Não vou deixá-la nunca.- e somente depois que disse essas palavras, Gilbert soube que era verdade. Então, ela se agarrou em seu pescoço, mantendo seus rostos próximos. Ele tentava não se lembrar de como a beijara no outro dia, mas toda aquela proximidade não facilitava em nada sua decisão de se sentir neutro enquanto ela estava em seus braços.

Gilbert sentiu a respiração dela em seu pescoço, e tentou afastá-la , mas ela se agarrou mais a ele como se temesse que ele a abandonasse. Ficaram assim por alguns instantes, quando Anne por vontade própria se afastou, e encarando-o no fundo dos olhos ela disse:

- Eu estou com medo.- ele ia responder que ela não precisava temer coisa alguma, pois estava segura e ninguém a ameaçaria onde eles estavam, mas, por intuição, ele percebeu que apenas palavras não adiantariam. Anne precisava de uma prova concreta do que ele lhe prometia, e ele precisava encontrar um jeito de fazê-la acreditar nele.

Porém, os lábios dela perto dos seus eram um convite que ele não pôde e não queria recusar, assim, Gilbert mandou o protocolo para o espaço, e fez exatamente o que ambos queriam.

Sua boca tocou a dela com vontade, e entreabrindo os lábios, Anne enroscou sua língua na dele. Ele se provaram, se beijaram várias vezes, se tocaram devagar e sem pressa, descobrindo o que lhes dava mais prazer durante o beijo. As mãos dele se enterraram nos longos cabelos ruivos de Anne, e ela não parava de tocar o rosto dele , mesmo com os lábios grudados como estavam. Ela agia como um cego tateando no escuro tentando sentir na ponta dos dedos o formato dos traços do rosto de Gilbert por inteiro.

O rapaz sabia que era errado beijá-la assim, mas, estava cansado de lutar contra o que sentia cada vez que a tinha nos braços. Ele tinha consciência de que não podiam fazer isso de novo, essa seria a última vez que a teria daquela forma, porém naquele momento, tudo o que ele desejava era apagar a dor dela, assim como ela apagaria a sua, e por isso, precisavam um do outro para não se afogarem em suas próprias misérias.

O desejo estava implícito em cada toque, mas, Gilbert não deixou que suas mãos avançassem mais do que a linha das costa dela. Ele não queria começar algo que não poderiam terminar, e porque deixar que aquele momento evoluísse para algo mais profundo era perder a cabeça a ponto de enlouquecer.

Eles se separaram assim que o beijo foi perdendo a força, e Anne deitou sua cabeça no ombro dele, se sentindo em paz pela primeira vez naquele dia. Percebendo seu cansaço, Gilbert a deitou em seu colo, e ficou acariciando os cabelos dela, enquanto Anne continuava tocando o rosto dele e sorrindo de leve. Os olhos dela foram se fechando, e Gilbert soube que era o momento de ir, mas, por alguma razão, ele não conseguia sair dali como se uma força o segurasse ao lado dela. Ela se mexeu e fez o coração de Gilbert gelar quando murmurou baixinho:

- Gilbert, eu te amo.- ele sentiu o sangue bombear mais rápido em suas veias , e uma dor aguda se espalhar por todo o seu corpo. Observando o rosto dela tão sereno enquanto dormia, Gilbert tocou as maçãs do rosto dela com carinho e disse sabendo que ela não o ouviria:

- Eu estou me apaixonando por você, mas, não posso amá-la, Anne. me perdoe.

Desta forma, ele continuou com ela naquele quarto, e os minutos foram passando sem que Gilbert percebesse. O cansaço chegou para ele também, e se acomodando o melhor que pôde, ele acabou adormecendo.

Irina apareceu um tempo depois, estranhando o fato de que Gilbert estava demorando para chamá-la de volta. Quando entrou no quarto, ela se deparou com a cena do jovem médico adormecido encostado na parede enquanto Anne dormia em seu colo. Ela secretamente sorriu para si mesma, mas, tratou de acordá-lo antes que mais alguém os pegasse assim, e ela sabia bem a fofoca que aquilo poderia gerar.

- Dr. Blythe.- ela disse ao se aproximar da cama, e Gilbert abriu os olhos no mesmo instante.

- Parece que ela se acalmou.- Irina disse como se o fato de Gilbert ter adormecido com uma paciente fosse a coisa mais normal do mundo.

- Sim. – ele disse esfregando os olhos.- Acho melhor ir para casa.

Ele se levantou devagar, ajeitando Anne na cama, e enquanto arrumava as cobertas, ele disse baixinho de um jeito que Irina não podia escutá-lo.

- Durma bem, meu amor.- depois ele se virou e disse para Irina que o olhava de um jeito enigmático:

- Eu volto para vê-la amanhã.

- Está bem, doutor.

Assim, que deixou a clínica e dirigia para a casa de Josie na intenção de devolver-lhe o carro que pegara emprestado, Gilbert apenas sentia que deixar Anne dessa vez fora mais difícil do que as outras vezes, e por isso, seu coração ficara com ela no momento em que atravessara a porta, e agora ele teria que encontrar uma maneira de lidar com aquele sentimento sem que se magoasse ou pior, magoasse Anne no processo, por isso, ele tomou mais uma decisão que talvez não fosse a mais acertada, mas teria que bastar para se proteger daquele amor inesperado que já pulsava dentro dele cheio de vida. Ele não podia deixar que continuasse ou que crescesse, porque se isso acontecesse, ele sabia do abismo no qual cairia e nunca mais conseguiria voltar a superfície.

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