Capítulo 62 - As armadilhas da mente
ANNE
Uma semana para o casamento. Essa realidade atingiu Anne assim que ela acordou naquela manhã, sentindo-se extremamente bem. Desde que voltaram da fazenda, seu sono tinha melhorado, o apetite também e até seus pensamentos seguiam seu curso de forma mais saudável.
O equilíbrio que precisava nas últimas semanas, para que seu cérebro pudesse se fortalecer em meio a sua aparente fragilidade, que brincava com sua sanidade mental chegara dos poucos, Fora um trabalho emocional exaustivo que tivera que fazer para voltar a sentir-se segura e feliz. O temor que quase paralisara suas ações naqueles meses, em que a presença de Roy Gardner tornara-se novamente seu carrasco e executor, deixara de ser um tormento constante, e por conta disso, ela se sentia mais leve e pronta para caminhar um dia de cada vez, mantendo-se firme em seu propósito de alcançar sua alforria da tortura psicológica a qual se submetera por tanto tempo.
Dizer que conseguira fazer aquele progresso sozinha seria tirar o mérito do único homem que fazia seus olhos brilharem. Ele lhe mostrara que a melhor forma de superar uma dificuldade era encará-la de frente, assim, por meio de alguns exercícios mentais que fazia todas as vezes em que sentia alguma ameaça rondando-a, Anne foi aprendendo a respirar com mais facilidade, e vivendo sua gravidez com a tranquilidade necessária, para que ela se desenvolvesse como deveria.
Seus medos não tinham ido embora completamente, havia momentos em que ela os sentia em sua mente como uma sutil lembrança de que não foram vencidos totalmente, e que estariam sempre por perto para assombrá-la caso ela se enfraquecesse outra vez. Por isso, Anne se mantinha vigilante, pois não queria entrar de novo na armadilha do seu subconsciente e perder sua razão no labirinto de suas emoções inconstantes.
Contudo naquela manhã, ela se sentia tão bem que tais pensamentos sequer passavam por sua cabeça. Ela tinha combinado com Irina de irem juntas à última prova do seu vestido de noiva que tinham encomendado a duas semanas atrás. Anne havia se apaixonado pelo modelo simples de renda que vira em uma vitrine no dia em que foram às compras com Diana e Irina, e acabou entrando na loja para experimentá-lo. O número era maior que o dela, mas a vendedora garantiu que ficaria perfeito com os ajustes certos. Assim, depois de tirar todas as suas medidas, fora marcado o dia para que fosse experimentá-lo e ver se ainda precisaria de algum conserto, e esse dia tinha chegado.
Pela primeira vez desde que Gilbert a pedira em casamento, Anne se sentia empolgada com a situação toda. Talvez a volta de Irina e o reencontro com Diana tivesse acendido nela a chama da juventude que um dia tivera. Era muito bom ter sua velha amiga por perto para partilhar aquele momento tão importante em sua vida. Até um ano atrás, quando o caos reinava em seu coração, ela sequer podia pensar que encontraria alguém como Gilbert para salvá-la de si mesma, e fazê-la enxergar que ainda era possível ser feliz E assim, a luz que sentia dentro de si quando estava trabalhando em uma de suas obras era a mesma que sentia quando olhava nos olhos de seu noivo, e descobria ali a cura permanente para a sua solidão.
Ela se levantou devagar da cama, como Gilbert a havia ensinado para que não sentisse nenhuma tontura, e caminhou até a cozinha onde ela sabia que seu noivo estaria, e o admirou de costas por algum segundo. Ele preparava ovos mexidos, Anne reconheceu o odor, e curiosamente não sentiu nenhum enjoo como normalmente acontecia quando sentia cheiro forte de óleo ou fritura. Gilbert havia mudado alguns hábitos em sua rotina alimentar desde que Anne engravidara, e acrescentara em sua dieta alguns alimentos mais nutritivos para que ela também se sentisse incentivada a consumi-los. Era admirável a capacidade que ele tinha de se adaptar a qualquer situação, apenas para que Anne se sentisse amada e cuidada. Ela nunca esqueceria todo o bem que ele trouxera para a sua vida, e sua retribuição seria amá-lo acima de qualquer coisa e incondicionalmente.
Contrariando sua natureza tímida, ela se aproximou de Gilbert e o enlaçou pela cintura, sentindo o aroma delicioso do sabonete que ele usara para tomar seu banho matinal.
-Que abraço gostoso. - ele disse, olhando para trás e dando a Anne um de seus sorrisos brilhantes. Então, Gilbert se virou de frente para ela e afirmou. - Mas eu prefiro esse abraço. - e assim a envolveu forte em seus braços, e ficaram agarrados um ao outro por alguns minutos. Em seguida, ele acariciou o queixo dela por alguns minutos e perguntou:- Como se sente essa manhã?
-Maravilhosa.- ela respondeu, se segurando no pescoço dele com os dois braços.
-Dormiu bem então?- ele tornou a perguntar, fazendo um sorriso enorme brotar nos lábios de Anne que respondeu:
-Sim. Acho que foi minha melhor noite de sono até agora.
-E os pesadelos?- ele perguntou mais uma vez. Anne sabia qual era a preocupação dele. Depois que voltaram da fazenda, ela tivera noites terrivelmente ruins, sonhos que passaram a ser vistos por ela como premonições, que a faziam chorar dormindo e se agarrar a Gilbert como se ele fosse seu escudo protetor contra o mundo perigoso no qual vivia dentro da sua cabeça. Ele deixara de ir a clínica por alguns dias trabalhando em casa no escritório que tinha em casa para ficar de olho nela por medo que a qualquer distração da enfermeira que lhe fazia companhia quando Gilbert não estava por ali, ela acabasse cometendo uma de suas loucuras.
Apesar de ter se sentindo miserável durante dias, nunca mais passara pela sua cabeça se machucar. Agora, Anne tinha uma boa razão para querer viver que era seu bebê, e tudo o que desejava era se livrar daquele tormento para ser a mãe dedicada e amorosa que ele merecia ter ao nascer. Assim, Gilbert tentara de tudo para que ela se sentisse melhor, e depois de vários métodos testados com ela, ele descobrira exercícios de relaxamento que começaram a praticar juntos, e que como milagre tinham diminuído a ansiedade de Anne, fazendo com que sua mente trabalhasse de forma mais ativa e lúcida.
Era um tipo de medicina alternativa que vinha ganhando bastante espaço no campo científico, e que com Anne estava funcionando maravilhosamente bem, e sem os efeitos colaterais que alguns remédios causavam, embora no caso dela , por conta da gravidez, ela andasse tomando os florais de Bach que eram uma combinação de produtos naturais, e que não afetavam o bebê ou causavam alterações de humor em Anne.
-Não tive mais nenhum. Não se preocupe.- Anne disse, encostando a cabeça no peito dele, enquanto ele deixava um beijo no topo da cabeça de Anne.
Aqueles momentos com ele era a parte favorita de suas manhãs. Era bom ter Gilbert em sua vida, acordar com ele e ver aquele rosto tão lindo e tão bondoso perto do seu, onde também poderia observar o sorriso, os olhos que lhe davam uma paz imensa, e receber as carícias de mãos que foram feitas para curar suas dores e fazerem desaparecer todas as suas cicatrizes. Se pudesse recriar alguém novo dentro de si, ela o faria, pois Gilbert merecia uma mulher forte e sem medo de enfrentar o mundo como ele, e não alguém que vivia se equilibrando entre uma crise e outra, que regredia passos atrás para depois recomeçar do zero outra vez. No entanto, miraculosamente, era ela a quem ele amava, e não se cansava de demonstrar por pequenos gestos diários, que a queria como esposa e com quem fazia planos para uma vida inteira juntos. Como poderia abrir mão de tamanha bênção?
-Terminei de preparar o café da manhã. Está com fome?- ele perguntou, passando as mãos pelo rosto dela carinhosamente.
-Sim, mas será que podemos namorar um pouco antes? Estou com saudades de você. - ela respondeu, fazendo-o sorrir instantaneamente.
-Mas eu estou exatamente aqui, e passamos a noite toda juntos. - ele disse, se sentando em uma cadeira e puxando Anne para seu colo.
-Eu sempre sinto saudades de você. No minuto em que saí da cama, eu já sinto sua falta, quando vai para o trabalho , eu fico contando as horas até que volte para mim. -Anne disse, segurando o rosto de Gilbert entre as mãos e o observando o rosto dele apaixonadamente.
-É bom ouvir isso, sabia? Eu sinto saudades de você o dia inteiro também. Como eu gostaria de não deixá-la sozinha nunca. Você é minha inspiração, Anne, e minha motivação para continuar lutando por nós dois. Eu não sei o que faria sem você.- ele a abraçou com cuidado, suas testas coladas, e suas respirações no mesmo ritmo.
-Eu sempre estarei aqui com você. - ela disse apontando para os braços que circulavam a sua cintura, e o coração dele que batia cheio de vida e de amor por ela.
-Eu sei, mas às vezes ainda me lembro como minha vida ficou vazia quando você foi embora, por isso sei exatamente qual é a sensação de te perder. - Gilbert confessou, distribuindo beijos pelo rosto dela inteiro.
-Eu nunca mais irei embora, eu juro.- Anne prometeu, olhando dentro daqueles olhos incríveis com amor, e em seguida declarou:- Eu te amo, Gilbert.
-Eu duvido que seja mais do que eu amo você. - ele afirmou, e assim a beijou, fazendo com que Anne se agarrasse a ele e deixasse que o calor daqueles lábios tomasse conta de todo o seu corpo. Era assim que Anne conseguia sentir a energia de Gilbert fluir por toda a sua pele, enchendo todas as suas terminações nervosas de vida, como se encontrasse a fonte que precisava para florescer todos os dias como uma nova mulher.
-Eu quero te fazer um pedido. - Anne disse, assim que se separaram.
-Peça o que quiser. Hoje estou à sua disposição. É meu dia de folga e quero satisfazer qualquer desejo seu.- Gilbert respondeu, brincando com os fios de cabelo de Anne que lhe caíam pelos ombros adoravelmente ondulados nas pontas.
-Eu tenho que sair com Irina à tarde para a prova do meu vestido de noiva, por isso tenho a manhã toda livre. Você iria comigo até meu estúdio para que eu terminasse aquele quadro seu que comecei a pintar outro dia? - ela perguntou timidamente.
-Você quer que eu pose para você seminu mais uma vez?- Gilbert perguntou com certo ar de riso que a fez se sentir mais envergonhada ainda.
-Sim, mas é só dessa vez. Tem alguns detalhes de sua tatuagem que eu não vou conseguir reproduzir perfeitamente se não as ver com meus próprios olhos. Todo o resto eu já tenho memorizado em minha mente.- ela respondeu, fazendo com que Gilbert a encarando com seus olhos cheios de malícia e não dissesse nada, mas Anne percebeu e perguntou:
-Por que está me olhando assim?
-Porque estava imaginando quantas vezes observou meu corpo com extrema atenção para que soubesse cada detalhe dele de cor.
-Gilbert, assim você me deixa sem jeito.- Anne disse extremamente corada. Ele às vezes a colocava em situações que a deixavam sem saber o que responder. Não devia ser mais assim já que tinham intimidade suficiente para conhecerem um ao outro como ele o mencionara, mas a maneira como fora criada e vivera a sua vida até então, não lhe dera verniz suficiente para ser uma garota mais aberta à própria sensualidade e a de seu parceiro.
-Tudo bem, amor. Você sabe que pode me olhar quando quiser. Eu não me importo, porque amo olhar para você também, e se quer mesmo terminar esse quadro hoje, eu não ligo de posar para você mais uma vez. - ele a beijou na testa com carinho, e finalizou:- Agora vamos tomar café, eu estou morrendo de fome e aposto que você também.
Anne sorriu concordando,e enquanto se sentava à mesa e GIlbert a servia com coisas tão apetitosas ao seu paladar, ela se perguntava como merecia um homem tão maravilhoso.
GILBERT
Quando Gilbert e Anne chegaram no estúdio naquela manhã, ele sentiu o encantamento do lugar tomar conta dele de uma forma curiosa.
Toda vez que pisava ali dentro, o mesmo sentimento parecia encher sua alma de uma beleza que não saberia descrever com as palavras exatas, pois olhando para os vários quadros que Anne já pintara e mantinha naquelas paredes como seu tesouro particular, Gilbert dizia a si mesmo que era uma pena que ela preferisse esconder todo aquele talento do mundo, mesmo sabendo porque ela o fizera
Na cabeça de Anne exibir seu trabalho para quem quisesse ver era se lembrar da época mais difícil de sua vida, e relacioná-la ao homem mais monstruoso que já conhecera, pois apesar do sucesso alcançado com seu talento e esforço, tanta notoriedade chamara a atenção de alguém que conquistara com sua conversa fácil, e a destruira com sua crueldade.
Homens como aquele eram incapazes de admirar a beleza de longe, eles tinham que roubá-la e massacrá-la até que se tornasse pó, pois algo tão perfeito e inocente os confrontava com sua própria feiura e sua maldade, fazendo-os se enxergar pelo espelho da verdade que os fazia odiar ainda mais quem os desafiava assim.
Gilbert apenas lamentava que Roy tivesse morrido antes de entender que mesmo que ele tenha tentado diariamente com grande covardia aniquilar uma garota que era pura doçura, Anne fora mais forte que cada humilhação ou trauma que sofrera nas mãos dele, e ainda que lutasse contra seus demônios, ela conseguira se reerguer e ia pouco a pouco reencontrando o seu lugar no mundo.
-Este lugar está cada vez mais incrível. Você tem um talento indiscutível. - Gilbert elogiou, observando um dos quadros que Anne pintara recentemente.
-Obrigada. Eu apenas coloco o meu coração naquilo que pinto. - Anne justificou modestamente sua aptidão por pintar algo abstrato tão expressivamente.
-Eu sei, é por isso que podemos sentir cada emoção que você coloca em seus quadros. Quase consigo ver sua alma neles.- Gilbert lhe confidenciou, vendo o rosto dela se iluminar mais uma vez.
-Vindo de você isso é um enorme elogio.
-Bem, eu não entendo muito de arte, mas conhecendo o seu trabalho, foi a primeira vez que algo assim me tocou verdadeiramente. Entretanto, eu não sei se minha opinião vale tanto assim . Um crítico de arte saberia descrever melhor o valor que sua obra tem. - o rapaz disse a abraçando pelo ombro.
-A sua opinião é a única que importa para mim. - Anne disse, segurando na mão dele.- Podemos começar nosso trabalho de hoje?- ela perguntou logo em seguida, recebendo como resposta um sorriso.
Como no outro dia, Gilbert se despiu rapidamente e voltou para o salão onde Anne costumava pintar seus quadros. Dessa vez, ele não se sentia tão inibido em exibir seu corpo para um nu artístico e se posicionou de costas antes de Anne pedir, porque ela lhe havia dito que queria se focar em sua tatuagem.
-Está bom assim? - ele perguntou, sem olhar para ela, pois a posição na qual estava dificultava seu campo de visão.
-Está perfeito. - Anne respondeu, e o rapaz podia ouvir as pinceladas no quadro enquanto sua curiosidade por ver o resultado crescia a cada minuto.
Ele pensou com certo humor que nunca cogitara a hipótese de ser modelo de algo assim para alguém , e só mesmo Anne para conseguir esse feito . Se outra pessoa qualquer tivesse lhe pedido algo parecido, ele com certeza teria negado, mas para Anne ele nunca conseguia dizer não, talvez porque ela nunca lhe pedisse quase nada. Ao contrário de Ruby que costumava lhe cobrar uma lista cheia de atitudes em relação a ela, Anne parecia feliz só por tê-lo por perto, e por achar que ela merecia mais do que todo o amor que ele lhe dava, o rapaz faria qualquer coisa para que ela realizasse todos os seus desejos.
Um toque suave em sua tatuagem fez Gilbert olhar para trás e encarar Anne, que olhava para ela fascinada.
-Eu sempre me surpreendo com os sentimentos que ela me causa. - Anne murmurou, passando o dedo devagar pelo formato e a textura da tatuagem de Gilbert.
-Só a tatuagem ou o dono dela também? - Gilbert perguntou, deixando que seus olhos se prendessem nos dela.
-Ambos.- Anne respondeu com sinceridade como se dissesse aquilo para si mesma.
Desejando sentir mais do toque dela que nem sempre era tão espontâneo daquela maneira, Gilbert se virou de frente.
- Você sabe que pode me tocar quando quiser. - ele afirmou, sentindo o olhar de Anne sobre ele enquanto a mão dela continuava no ar como se estivesse decidindo o que fazer.
Para incentivá-la a ir em frente com o que estava pensando, Gilbert segurou a mão dela e a colocou sobre o seu peito, fazendo Anne corar conforme ela a movimentava sobre a pele do rapaz.
Gilbert sorriu ao ver o quão adorável ela ficava com aquela timidez que não a largava nunca como se fosse a primeira vez que o tocava com intimidade. Ele ainda queria vê-la florescer como a garota sensual que ela era, segura de si e consciente da própria beleza e encanto, porque assim ela se libertaria das amarras do seu passado que ainda a faziam acreditar em seu pouco valor como pessoa e como mulher. Era por isso que ele lutava todos os dias ao lado dela, para fazê-la finalmente entender que não haviam limites para quem ela desejava ser, e que tudo o que Roy um dia havia lhe dito, depreciando suas qualidades e talento não eram nada mais que mentiras para satisfazer seu ego doentio.
As mãos dela pararam de se movimentar como se ela tivesse perdido a coragem de continuar, mas Gilbert mais uma vez a incentivou dizendo:
-Não pare de me tocar. Eu quero sentir suas mãos em mim. - Anne respirou fundo e deixou que seus dedos viajassem pela pele do rapaz bem devagar, passando pelo estômago, abdômen firme e parando exatamente ali sem conseguir avançar um centímetro sequer.
Gilbert entendia aquela dificuldade, mesmo tendo agido diferente em outras ocasiões, aqueles dias de tortura psicológica pelo qual ela tinha passado lhe trouxeram recordações desagradáveis onde o contato com um corpo masculino chegava a ser intolerável. Desde que começaram a namorar Anne tinha esses episódios de avanço e retrocesso, e mesmo que isso fosse um fato desanimador para algumas pessoas, para ele era mais um incentivo para arrancá-la daquele processo definitivamente. Ele ainda não sabia quanto tempo teria que brigar por isso, ou esperar que a verdadeira Anne emergisse de suas próprias mágoas pessoais, e começasse a viver a vida plenamente a seu lado, mas nenhum tempo era longo demais para um homem como ele que amava aquela mulher mais do que suas palavras poderiam expressar.
Gilbert a segurou pela cintura e a trouxe com delicadeza para mais perto. Tudo com Anne tinha que ser planejado, pensado e cuidadosamente executado, para não assustá-la ou fazê-la desistir do que tinha em mente. Ela o tocara por um motivo e ele queria que ela sentisse que poderia continuar a fazê-lo sem risco nenhum. Anne o olhou intensamente, em seguida o enlaçou pelo pescoço. Gilbert a sentia hesitar ainda, por isso aproximou seus lábios da testa dela, deixando ali um beijo carinhoso, e encarando-a com seus olhos castanhos, ele disse baixinho:
-Não tenha medo. Faça o que desejar.- e como levada pela voz de comando dele, Anne distribuiu pequenos beijos pelo peito do rapaz que sentiu seu corpo responder, mas como sempre fazia quando estava com ela em uma situação íntima, Gilbert controlou seu desejo, sonhando com o dia em que poderia amá-la livremente sem as sombras que a impediam de deixar seus instintos guiá-la por onde quisesse ir.
Os lábios de Gilbert procuraram os dela e com suavidade os encontrou, trocando com ela um beijo intenso mas lento, porque não queria que Anne se assustasse com sua urgência em tê-la como sua mulher. Quando ambos se afastaram, seus corpos estavam quentes e como sempre fazia nos últimos tempos por receio que Anne entrasse em pânico e tivesse uma de suas crises psicóticas, ele perguntou:
-Confia em mim?
-Sim, sempre. - ela respondeu, olhando-o com aquela confiança que aquecia-o por dentro por saber que aquela garota maravilhosa, mesmo com seus flagelos interiores, lhe entregava tudo de si de coração aberto e apaixonadamente. Não havia prêmio maior para um homem como ele que também vivera tão próximo do seu limite, encontrar naqueles olhos azuis a felicidade que lhe fora destinada naquela vida.
-Venha comigo.- ele disse, segurando na mão dela e a levando para a sala nos fundos da galeria, a qual ele mandara preparar quando comprara a galeria especialmente pensando no bebê, e nas horas exaustivas de trabalho de Anne que poderia descansar ali, enquanto cuidava do filho ou da filha de ambos.
Era um lugar agradável com uma cama confortável e um berço ao lado dela. Havia tranquilidade e certa intimidade que serviria aos dois naquele momento, mesmo não sendo como o quarto que tinham no apartamento. Porém, Gilbert não queria deixar passar aquele instante em que Anne parecia tão envolvida como ele em suas emoções, e se adiasse para quando fossem para casa, talvez ela voltasse a ficar retraída e eles perderiam toda a magia que parecia pairar sobre os dois.
Devagar, ele se sentou na cama, mantendo Anne parada a sua frente. Cada peça de roupa dela foi despida com extrema delicadeza, e cada parte do corpo dela que lhe era revelada era reverenciada por ele com um beijo apaixonado. Quando por fim a teve nua em seus braços, Gilbert se deitou na cama, fez Anne posicionar seu corpo sobre o dele, e pediu:
-Vamos, princesa . Eu quero que você me toque.
Anne o olhou por um segundo, parecendo ainda resistente a deixar que seu corpo e sua vontade falasse por ela, Era a primeira vez que Gilbert insistia para que ela tomasse as rédeas do ato de amor, pois normalmente quem conduzia tudo aquilo era ele, mas naquele dia, o rapaz queria que ela percebesse que também sabia dar prazer a ele de sua própria maneira, mesmo tímida, mesmo hesitante, mesmo temendo não conseguir ir até o final. Então, aos poucos ela se deixou vencer pelo desejo, pela necessidade de encontrar a si mesma naquele corpo masculino que estava ao alcance de suas mãos ansiosas.
E assim, Anne o tocou com suavidade, relembrando cada músculo, cada curva, cada ondulação que em seus dedos eram sedutores demais, tão convidativos a ponto de fazê-la querer tocá-lo para sempre. Quando ela chegou na única peça que cobria o corpo dele, Anne parou e esperou que Gilbert a retirasse, mas naquele dia o rapaz queria que fosse diferente e dessa forma ele sussurrou:
-Você faz isso para mim. - ela assentiu, e com as mãos trêmulas ela puxou a cueca boxer de GIlbert para baixo até vê-lo sem ela, enquanto seus olhos escorregavam por todas as partes dele, absorvendo a beleza esplendorosa de seu noivo completamente ao natural diante dos olhos dela.
E então fizeram amor lentamente e dessa vez de uma forma totalmente nova para os dois. Com o incentivo de GIlbert, a ruivinha participou ativamente daquele momento, e seguindo seu coração tão cheio de sentimentos por aquele homem, ela explorou o corpo dele com toda sua paixão. Os beijos se tornaram o combustível para que o fogo entre eles aumentasse, e quando perceberam estavam completamente envolvidos um pelo outro. O toque ávido de Anne sobre sua pele fez Gilbert perder o controle várias vezes, mas ele acabava o recuperando por conta do mesmo receio de se exceder e assustá-la. Esse era um momento de descoberta para Anne, de conhecimento, de um entendimento sobre si mesma que ela nunca tivera antes.
Era tão prazeroso ver o rosto dela afogueado, os olhos escurecidos, os cabelos caindo sobre o peito dele como se fossem seda e a expressão apaixonada que o fazia mergulhar fundo nas doces sensações que ela estava lhe provocando. Gilbert também a tocou, pois não pudera resistir às ondulações dos quadris dela sobre os seus, os lábios vermelhos que pareciam implorar pelos dele, e o roçar da pele macia em suas partes mais sensíveis. Quando chegaram ao êxtase, liberando toda a adrenalina que os impulsionava a se movimentarem de forma cada vez mais rápida, eles colidiram juntos em sua própria satisfação e prazer.
Deitados juntos e abraçados enquanto seus olhos continuavam pregados um no outro, eles se sentiam completamente confortáveis e felizes. Descendo o dedo indicador pelo peito de Gilbert e tornando a subir, fazendo esse movimento por diversas vezes, Anne disse:
-Um dia eu quero ter coragem o suficiente para pintá-lo como está agora aqui comigo.
-Você está me dizendo que gostaria de me pintar nu? - ele perguntou surpreso.
-Sim, eu nunca fiz nenhum quadro assim antes, mas se fosse com você, eu queria tentar. Acha que gostaria disso? - ela perguntou, sorrindo para Gilbert com o rosto tão iluminado que fez o rapaz pensar no quanto amava aquela garota tão linda e tão surpreendente.
-Não sei. De certa forma sou um homem público por conta da minha profissão. Não acho que seria muito agradável se alguém me reconhecesse.
-Ninguém saberia que é você. Eu daria um jeito de manter seu rosto oculto. Jamais faria alguma coisa que pudesse te comprometer. - ela explicou, de repente, parecendo ansiosa para que ele aceitasse.
-Não vai ficar com ciúmes de outras mulheres me verem assim? - ele perguntou cheio de curiosidade e humor.
-Como disse, elas não saberiam que é você, mas mesmo que soubessem, elas logo entenderiam a quem você pertence.- Anne disse, deitando a cabeça sobre o tronco de Gilbert.
-Então eu sou seu. - ele disse, se deliciando com a maneira que ela lhe dissera aquilo.
-Sim.
-E você é minha??- ele sabia a resposta, mas queria ouvir dela, porque adorava escutar dos lábios de Anne algo que sempre soubera desde a primeira vez que seus olhos se cruzaram.
-Eu sou sua - ela respondeu, enquanto Gilbert tornava a beijá-la, e passaram assim a manhã manhã mais fantástica que tiveram em tempos.
GILBERT E ANNE
-A que horas você volta? - Gilbert perguntou ao ver que Anne acabara de se arrumar para sair.
-Não tenho certeza. Vou experimentar o vestido, e depois Irina quer ir ao shopping. Porém, prometo estar aqui para o jantar. - Anne respondeu, sorrindo para Gilbert .
-Eu queria ir com você. Vai ficar linda vestida de noiva. - Gilbert afirmou, olhando para Anne de forma apaixonada. Ele era o único que a fazia se sentir a mulher mais bonita do mundo, e Anne mais uma vez agradeceu mentalmente por ter um homem a seu lado que se preocupava em sempre levantar sua autoestima.
-Você não pode ver o vestido antes do casamento . - Anne disse em tom de brincadeira, ao mesmo tempo que abraçava Gilbert pela cintura.
-Acredita mesmo nisso? Estamos juntos para sempre e nada vai nos separar. - Anne o abraçou mais forte ao ouvir aquelas palavras. Ela amava a fé que Gilbert tinha nos dois, e por causa dele, ela também acreditava que tinham sido feitos um para o outro.
-Você vai fazer o que com seu dia livre? - Anne perguntou, ainda abraçada a ele.
-Moody e Billy me convidaram para tomarmos algo juntos e conversar. Como faz tempo que não fazemos nada parecido, eu aceitei. - Gilbert respondeu, colocando uma mecha de cabelo de Anne atrás da orelha.
-Você sente falta deles. - Anne afirmou ao ver a expressão no rosto de Gilbert ao falar dos dois rapazes.
-Eles fazem parte da minha vida inteira, e são meu melhores amigos. - Gilbert disse, sorrindo para ela.
-Espero que se divirta.- ela disse, beijando-o no rosto.
-Você também. Vou estar de volta à noite para jantar com você.
-Está bem. Nos vemos a noite então. - Anne respondeu, antes de sair de casa e dar um último beijo em Gilbert.
Ela se sentia tão feliz, especialmente pela manhã que tiveram. Anne não esperava o que acontecera entre eles naquele dia, porque eles não andaram se tocando muito nas últimas semanas. Por conta de seus constantes pesadelos, ela sentia uma certa aversão ao toque de um homem, e mesmo sabendo conscientemente que era Gilbert que estava com ela, seu corpo reagia de outra maneira, mas como sempre Gilbert fora maravilhoso naqueles momentos, e com muita paciência e carinho, ele a ajudara a passar por tudo até que ela ficasse bem novamente.
Ela mais uma vez era grata a seu noivo por mostrar a ela que era uma mulher normal, com desejos normais e que podia agir livremente seguindo seus instintos e seu coração. Quando estava com Roy, ela nunca fora tratada dessa maneira, e a rudeza e estupidez com que ele falava com ela a diminuindo como se não valesse nada, fizeram com que sua cabeça criasse um conceito muito ruim acerca de si mesma, e mudar esse sentimento muitas vezes não era fácil.
Ela tinha que se lembrar constantemente que não era mais aquela garota indefesa e medrosa, que tinha um homem a seu lado que a valorizava dia a dia, que a amava com todas as suas falhas, e que a fazia ter orgulho de si mesma como mulher. Gilbert estava lhe ensinando o que era viver de verdade, e apreciar cada pequenino progresso que fazia em sua caminhada para reencontrar a Anne que fora e que se perdera entre os muitos abismos nos quais caíra. Ela não sabia onde estaria se Gilbert nunca tivesse entrado em sua vida, mas uma vez que isso aconteceu, ela queria apenas retribuir por tudo o que ele fizera e fazia por ela diariamente.
-Você está sorrindo. - Irina disse, assim que Anne entrou no carro.
-Estou feliz. - Anne afirmou, seu sorriso se alargando um pouco mais.
-É tão bom vê-la assim depois de tudo o que passou.- Irina afirmou, segurando nas mãos de Anne com carinho.
-Eu me sinto tão bem, quase como se fosse outra pessoa.
-Eu posso até imaginar quem é o responsável por toda essa mudança. Gilbert Blythe é capaz de operar milagres na vida de alguém. - Irina repetiu as palavras que ouvira uma vez uma das pacientes da clínica falar sobre o rapaz. Ele já tinha salvado tantas vidas, e ver aquele milagre também acontecer com alguém que lhe era tão precioso, a fazia mais uma vez pensar que ele era realmente especial.
-Acho que ele não imagina o quanto é maravilhoso. - Anne disse abrindo seu coração para aquela verdade tão simples e tão evidente. Nunca conhecera ninguém como Gilbert que a fizesse desejar viver sua vida intensamente..
-O amor entre vocês é lindo. Eu sempre acreditei que ficariam juntos.
-Eu o amo tanto Irina, e preciso tanto dele. - Anne falou com os olhos úmidos e brilhantes.
-Ele também te ama muito, querida, e precisa muito de você na vida dele. Você o faz feliz, tenha certeza disso. - Irina concluiu, fazendo o coração de Anne dar um salto feliz.
A loja onde tinham comprado o vestido de Anne era no centro de Avonlea, e ficava em uma rua bastante charmosa e movimentada. Quando se viu em frente ao espelho com o vestido devidamente ajustado em seu corpo, a ruivinha não conseguia acreditar que era ela mesma. Embora casar-se vestida como uma princesa era o sonho de qualquer garota, nunca fora o seu. Anne acreditara que continuaria a pintar por toda a sua vida, mas o amor nunca a encontraria, e esse pensamento só se intensificara depois que conhecera Roy, e sofrera nas mãos dele as piores humilhações. No entanto, existia um Gilbert Blythe em seu caminho com o qual não contara. E estar prestes a casar com um príncipe tanto na aparência como em suas atitudes, era bem mais do que esperara para si mesma.
-Você está linda, querida. Gilbert vai ficar mais apaixonado ainda. - Irina disse, ajeitando o véu de Anne.
-Às vezes penso que não o mereço. - Anne afirmou, observando- se no espelho.
-E claro que merece. Você merece o mundo, meu amor.
-Obrigada. - Anne respondeu, sorrindo.
Após o vestido ser cuidadosamente embalado na caixa para que Anne o levasse para casa, as duas amigas foram ao shopping, fizeram algumas compras e depois se sentaram em uma lanchonete para tomarem um suco e descansar, pois por conta da gravidez, Anne começou a se sentir um pouco desgastada após caminhar e se movimentar por algum tempo.
Enquanto tomava seu suco de abacaxi, ela recebeu uma mensagem de Gilbert que dizia:
" Sinto sua falta, te amo."
Ela sorriu , e mandou uma mensagem de volta, dizendo:
"Eu também sinto sua falta. Te amo demais."
Uma hora depois, Irina a deixou no apartamento , e combinaram de se encontrarem ainda na próxima semana para um almoço ou jantar especial antes do casamento. Ansiosa para encontrar Gilbert, Anne entrou rapidamente no prédio, mas quando abriu a porta do apartamento, ficou decepcionada por ver que seu noivo ainda não havia chegado.
Assim, ela tomou banho, preparou o jantar e esperou pela volta de Gilbert enquanto lia um livro. As horas foram passando e nada se Gilbert chegar, aumentando sua ansiedade e quando o relógio marcou onze horas, Anne percebeu que não aguentaria mais ficar sem notícias. Tentando se acalmar, ela ligou para seu noivo, mas ele não atendeu. Logo, ela procurou pelo telefone de Moody na agenda que Gilbert mantinha em casa e resolveu ligar para o amigo de seu noivo.
Com os dedos trêmulos, ela discou o número do rapaz e rezou para que ele atendesse, e quando a voz dele foi ouvida por ela, Anne não perdeu tempo e perguntou:
-Moody, o Gilbert está com você?
-Não. - o rapaz respondeu, parecendo estar tão surpreso quanto ela.
-Ele me disse que encontraria com você e Billy hoje. - ela disse aflita.
-E de fato nos encontramos, mas ele foi embora antes da sete da noite.- Moody respondeu, fazendo a angústia de Anne aumentar. Percebendo o silêncio da ruivinha, Moody perguntou:- Anne, você está bem?
Mas, ela não estava mais ouvindo . Seu coração se apertou e a ansiedade dentro dela aumentou de tal forma que a fez dobrar o corpo para frente e ofegar, enquanto sua cabeça lhe fazia lembrar de todos os pesadelos que tivera a respeito de Gilbert dias atrás. Seu instinto lhe disse para se preparar, pois a dor ia alcançá-la mais uma vez, sem piedade.
E então ela entendeu que estava realmente acontecendo, não era mais um sonho ruim do qual acordaria com a voz doce de Gilbert e seu ouvido a chamá-la com amor, pois ela ia perdê-lo e não havia nada que pudesse fazer para impedi-lo. Sem suportar sua agonia, Anne se sentou no chão e começou a chorar enquanto Moody continuava a perguntar pelo celular que ela ainda segurava nas mãos:
-Anne, você está aí? O que aconteceu?
Olá, pessoal. Aqui está mais um capítulo dessa fic que amo de todo o coração. Desculpem a demora, e se desejarem, me deixem seus comentários e votos . Muito obrigada por lerem até aqui. Beijos.
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