Capítulo 43- Forever in Love
Olá, querido leitores. Mais um capítulo para que vocês se apaixonem por esse casal tão incrível. Espero pelos comentários. Beijos.
ANNE
O sol de verão naquela manhã em particular não nasceu como de costume, e o que se via do lado de fora eram nuvens pesadas enfeitando o céu, e mudando drasticamente o cenário de uma cidade normalmente alegre e iluminada.
Avonlea parecia triste naquela sexta-feira, quase tão triste quanto Anne que escondia sua apreensão em meio a sorrisos falsos, e olhares nervosos que a todo instante buscavam ao seu redor um perigo alarmante que somente ela parecia pressentir.
Sentada na sacada do apartamento onde tomava seu café sozinha, sem a companhia costumeira de Gilbert, ela pensava em como sua vida mudara de direção novamente, apesar de todo o amor que encontrara dentro daquelas paredes onde acreditara que poderia construir um lar para si mesma.
O medo estava lá de novo, e ela podia senti-lo em cada osso de seu corpo, cada vibração do sangue em suas veias, e a cada respiração mais ofegante que a fazia tremer por dentro. Ela queria fugir, mas não sabia para onde, pois a sensação que tinha era de que não importava onde se escondesse, ela seria pega e reviveria todo o terror do seu passado outra vez.
" Respire", ela se ouvia dizer todo o tempo, assim como Gilbert lhe dissera várias vezes no último fim de semana quando sofrera outra crise depois de meses de sanidade perfeita, o que lhe provara o quanto era frágil as barreiras que construíra para se proteger.
Ela não estava curada, e talvez nunca estivesse, e isso não lhe dava vantagem nenhuma sobre o seu atual problema. Quem teria lhe enviado aquela foto que comprovava um passado que queria esquecer ? Roy estava morto, e carregara essa culpa por tempo demais, então, quem seria cruel o bastante para querer fazê-la reviver o pior período de sua vida?
Anne colocou a xícara que tinha nas mãos com cuidado sobre o pires, mordeu o canto da boca em um gesto nervoso e contemplou o céu nublado que parecia querer chorar junto com ela. Ela pensara que poderia recomeçar do zero, ser uma pessoa nova, em uma pele diferente da garota amedrontada e atormentada por seus fantasmas, mas, se enganara. Toda a felicidade que pensara ter conquistado ao lado de Gilbert estava por um fio, e o amor que sentia e que borbulhava dentro dela quente e forte não a salvaria de si mesma e nem de seu algoz, uma ameaça que estava nas sombras e que agora a seguia por todos os lugares como milhares de olhos vigiando seus passos.
Talvez fosse apenas seu receio absurdo que a fizesse olhar várias vezes por cima do próprio ombro para ter certeza de que não estava sendo seguida, mesmo dentro da clínica onde supostamente deveria estar segura, ela sentia aquela sensação de que havia sempre alguém à espreita, e tal sentimento de insegurança a estava deixando neurótica
Felizmente, Gilbert ainda não notara nenhuma mudança brusca em seu comportamento, pois Anne cuidava para que pelo menos dentro do apartamento onde estavam dividindo suas vidas, ela tivesse o mínimo de paz, porque não queria que seu amor por Gilbert fosse maculado pelo medo, embora Anne sentisse em seu coração que seu relacionamento estava ais poucos escapando pelos seus dedos, pois o filho de Gilbert com Josie era outro fator que a estava desestruturado.
Ela nunca competiria com uma criança pela atenção de seu noivo, e jamais jogaria baixo, fazendo Gilbert escolher entre ela e seu filho. Ela sabia a dor que era não ter seus pais, e justamente por isso, não pretendia ser um empecilho para que eles se relacionarem, e se fosse forte o bastante sairia de cena para que Gilbert e Josie pudessem dar ao bebê um lar de verdade, pois a intrusa ali era ela, e por isso se sentia muito mal com toda a situação.
O bebê fora concebido quando Gilbert ainda estava com Josie, e se Anne não tivesse aparecido, e o jovem médico não tivesse se apaixonado por ela, talvez a história daquela criança pudesse ter sido diferente.
Quantas vezes naquela semana pensara em deixá-lo, pois a culpa a corroía por dentro como ácido, mas então, ela o observava dormindo, e se lembrava do quanto Gilbert a fazia feliz e tal pensamento se tornava intolerável, porque toda a alegria de viver que recuperara nos últimos tempos fora seu noivo que lhe dera, e só de pensar em nunca mais sentir aquele abraço que a fazia se sentir no sétimo céu, e não mais provar dos beijos que a deixavam completamente apaixonada, ela tinha vontade de gritar.
Nunca conseguiria abrir mão de Gilbert, pois deixá-lo era como se perder de si mesma novamente e ela demorara tanto para se encontrar que não queria viver essa experiência de novo por nada nesse mundo.
- Ei, baby. Por que não toma seu café na cozinha?- Gilbert disse se aproximando, já vestido para o trabalho.
- Quis respirar um pouco de ar puro.- Anne respondeu, apreciando cada detalhe da beleza dele adornada por suas roupas brancas.
- Você sabe que não gosto quando se refugie aqui. Temos uma cozinha enorme para o café da manhã, você não precisa se sentar aqui fora.- Anne sabia bem qual era o problema ali. Gilbert ficava apreensivo toda vez que Anne resolvia se sentar perto das grades de proteção da sacada, porque em sua mente preocupada ela poderia tentar se machucar em um momento mais grave de crise, e isso lhe mostrava que ele ainda não confiava que ela nunca mais se feriria deliberadamente , e por isso, uma certa rebeldia dentro dela a fazia desafiá-lo mesmo que silenciosamente, pois fora controlada a vida inteira e queria fazer as coisas por si mesma, sem ninguém lhe apontando o certo ou o errado, mesmo que Gilbert o fizesse por querer o seu bem, e não para controlá-la.
- Eu acho que você exagera nessa sua preocupação. Eu não sou criança, amor. Posso me sentar aqui sem problema algum. – ela disse com certa irritação, fazendo Gilbert respirar fundo por conta do seu tom um tanto áspero.
Era incrível como ele nunca perdia a calma com ela, nunca falava alto, ou demonstrava qualquer contrariedade. O máximo que ele fazia era olhá-la intensamente demonstrando o que pensava de seu comportamento, mas acabava sempre a abraçando e lhe dando um beijo, o que fazia com que Anne se sentisse mal por se irritar com alguém que só a tratava com gentileza.
- Eu sei que não é mais criança. Acho que isso nós dois podemos facilmente constatar.- ele disse, lhe lançando um olhar malicioso que praticamente lhe dizia que sabia exatamente o que havia por baixo da camiseta comprida que ela usava aquela manhã como camisola.
- Você não perde uma oportunidade de me deixar sem graça, não é?- Anne disse rindo.
- Adoro ver seu lindo rosto corado. Você fica simplesmente adorável. – Ele disse segurando em sua mão, e a trazendo para ele. Anne sempre tinha que ficar na ponta dos pés para alcançar toda a altura de Gilbert .Ela colou seus lábios, e ele a envolveu em um beijo apaixonado, daqueles que faziam o coração dela palpitar por horas, levando-a a um estado sonhador permanente. Quando se separaram, o corpo dela pedia por mais, porém, o tempo que tinham era pouco, por isso ela apenas tocou o rosto dele com a ponta do seu nariz e disse:
- Querido, perdoe -me por meu mau humor agora a pouco. Não quis ser indelicada com você.
- Tudo bem, amor. Eu sei que te irrita quando te digo o que fazer, mas quero que saiba que não faço isso por mal, o problema é que não gosto de te ver perto dessa grade, me dá arrepios.- ele a abraçou protetoramente, e Anne aproveitou para sentir mais daquele calor viciante que vinha dele, pois se passariam horas até que pudesse abraçá-lo de novo.
- Desculpe-me, meu amor. Eu não quero que fique preocupado. No entanto, você sabe que estou segura aqui, e que não precisa ficar nervoso só porque resolvi tomar o meu café na sacada. Nada de mau pode me acontecer.- Anne disse pensando o quanto aquelas palavras pareciam proféticas. Ali no apartamento, ela não tinha medo de nada, porque sentia que ninguém poderia atingi-la, mas, lá fora onde o mundo era terrivelmente assustador, ela sabia que o perigo a rondava, e enquanto não soubesse o rosto de sua ameaça ,ela não teria paz novamente.
- Ainda assim, eu prefiro que você não fique aqui fora sozinha.- ele disse ainda segurando-a em seus braços.
-Está bem, se se sente melhor, vamos até a cozinha.- ela respondeu, puxando-o pela mão.
Uma vez lá, ela se serviu de mais uma xícara de café com leite, enquanto Gilbert a acompanhava com sua costumeira xícara de café puro.
- Você se lembra que temos um almoço com meu pai amanhã.
- Sim. Irina me ligou esses dias para confirmar. Vou adorar almoçar com seu pai. Ele é um homem maravilhoso.- Anne disse sorrindo com suavidade para Gilbert. John lhe lembrava muito Matthew de quem sentia muitas saudades.
- Meu pai gosta muito de você. Ele vive tecendo mil elogios a seu respeito. Às vezes até me deixa com ciúmes.- Gilbert disse em tom de brincadeira.
- Pois não devia. Você sabe que é minha pessoa favorita da família Blythe.- Anne respondeu, segurando a mão enorme de Gilbert entre a sua pequena e delicada.
- Você também é minha pessoa favorita no mundo. – ele acariciou seus cabelos, e depois continuou:- Eu te amo, baby.- a voz dele saiu rouca, causando em Anne inúmeros arrepios pelo corpo, porém, quando ele a puxou para seu colo, descendo a mão pelo seu corpo até alcançar suas coxas nuas, ela se afastou e disse:
- Vou trocar de roupa, antes que a gente se atrase para o trabalho.- ela o beijou rapidamente nos lábios, e correu para o quarto sentindo o olhar de Gilbert sobre ela.
Quando Anne chegou no quarto, ela se encostou na porta e respirou fundo. Ela sabia que estava magoando Gilbert com essa atitude, mas, não conseguia evitar. Fazia uma semana que fugia da intimidade dos dois. Desde o dia em que tivera sua crise nervosa, ela não conseguira mais se deixar envolver por seus sentimentos, pois toda vez que estavam juntos, e ela fechava os olhos se entregando a cada beijo ou carícia, parecia que via os olhos de Roy Gardner sobre ela, o que servia como um balde de água fria sobre suas emoções, fazendo-a bloquear qualquer reação mais intensa que pudesse ter. Gilbert parecia entender, não lhe cobrando nada, ou enchendo-a de perguntas que a deixaria ainda mais tensa ou constrangida por aquela situação.
Entretanto, ela sabia que devia a ele uma explicação, mas, só de pensar em contar a ele sobre a mensagem que recebera a enchia de terror, a um ponto de deixá-la com dor de cabeça e o coração disparado. Anne apenas queria esquecer toda a humilhação que sofrera um dia nas mãos daquele homem perverso, mas, por mais que tentasse seguir em frente, e deixar o passado para trás, parecia que ele voltava a assombrá-la com toda força, não libertando-a de seus temores. Com lágrimas nos olhos, Anne se perguntou se um dia recuperaria sua vida de volta, e poderia ser feliz finalmente ao lado do único homem que a tirara do fundo do poço ,e lhe mostrara que alcançar o horizonte era um sonho possível.
GILBERT
A vista da janela do consultório continuava incrível, e naquele momento, perdido em sua contemplação silenciosa, Gilbert observava o roseiral onde Anne adorava passar suas horas livres quando ainda morava na clínica, e sorriu de leve ao se lembrar como ela parecia pertencer aquele ambiente completamente, e como ele feito um novo apaixonado passava horas ali apenas para senti-la mais perto em um tempo em que sequer podia pensar em se aproximar demais, quando seu coração ainda resistia ao sentimento inevitável que ele nunca conseguira negar completamente, mas do qual fugia, pois sentia que não tinha direito nenhum a ele.
Que tolo fora ao tentar não se envolver em suas próprias emoções, quando já estava totalmente envolvido desde o primeiro instante. Anne o conquistara no primeiro dia e no instante seguinte ele já estava totalmente encantado por ela.
Gilbert nunca acreditara em amor à primeira vista, mas o que acontecerá entre ele e Anne lhe provara que não havia lógica para se apaixonar por alguém . Também não era só questão de química, ou de atração instantânea. Era simplesmente um daqueles encontros que a alma premeditava, mesmo que se pensasse que depois de se amar uma vez, nunca mais tornaria a acontecer de novo. Entretanto, ele estava pronto para se apaixonar pela mulher certa dessa vez, e assim, Anne lhe fora enviada como um anjo caído dos céus.
Ela juntara os pedaços de seu coração, lhe dera um motivo para superar sua dor que o estava destruindo pouco a pouco, e o guiara para fora dela com sua luz extraordinária, embora naquela época estivesse tão quebrada quanto ele. Assim, eles uniram suas mãos, assim como uniram seus corações, e o amor que nasceu ali era algo incrivelmente raro de se encontrar, e pela primeira vez Gilbert compreendeu o que era ter um sentimento nada egoísta, que se doava ao invés de apenas exigir como fora no caso de seu casamento com Ruby.
Ele nunca se sentira vivo como agora, e nunca pensara que conseguiria fazer todo o caminho de volta para fora do seu caos interior. Assim como Anne o salvara, ele tentava diariamente fazer o mesmo por ela, e embora ele acreditasse que estivesse fazendo um bom trabalho, algo nos últimos dias tinha mudado.
Ele contemplou por mais um segundo o roseiral, sentindo nitidamente a falta de Anne por ali, depois desviou seus olhos para o céu nublado, e pensou que aquele dia traduzia exatamente como ele se sentia por dentro naquele instante.
Gilbert estava preocupado e cheio de uma nova apreensão que lhe causava uma ansiedade extrema. Anne estava diferente, ele podia sentir na maneira como ela o olhava, e até mesmo na maneira como o beijava. A paixão era a mesma, e o amor dela por ele continuava igual, mas havia algo nos olhos dela que o deixava inquieto, e que ele ainda não conseguira desvendar, por mais que a observasse durante todos aqueles dias.
Anne se esquivava de seu toque, isso era algo que não podia deixar de não notar. Até parecia que tinham voltado aos primeiros dias quando Gilbert tinha que se policiar a todo momento para não cometer nenhum deslize, e acabar agravando os traumas dela recorrentes.
No entanto, a maneira desconfiada com que Anne o vinha encarando o magoava mais do que queria pensar, pois já tinha provado milhares de vezes para ela naquele tempo que estavam juntos que jamais a machucaria ou lhe faria algum mal, e de repente, ela se afastara dele se novo sem nenhum motivo aparente, colocando entre eles um enorme obstáculo difícil de transpor .
Às vezes se perguntava se esse comportamento estranho tinha a ver com a gravidez de Josie, e toda a complexidade que esse fato poderia causar ao relacionamento deles, pois embora Gilbert tivesse prometido que protegeria a vida que tinha com Anne de qualquer influência externa, ele sabia bem como a cabeça dela funcionava, e como suas inseguranças poderiam deixá-la a um estado de vulnerabilidade completa, por isso, sempre tomara o maior cuidado para que ela não perdesse a confiança em si mesma, e principalmente nele, mas parecia que por mais que tentasse dessa vez ele não estava conseguindo mudar o rumo daquela situação.
Seu ego masculino não conseguia não se sentir ferido por ela se afastar sem dar a ele a chance de mostrar a ela que podia fazer tudo dar certo, mas seu lado profissional o alertava para o fato de Anne estar novamente em conflito dentro de si mesma, e como aquilo podia jogá-la de novo em um mundo onde ele não conseguiria alcançá-la.
Anne vivera dores demais para que pudesse se reerguer sozinha. Ela precisava de mais atenção, e cuidado dele que antes, no entanto, ele precisava saber com o que estava lidando, e como Anne não lhe dava indicação nenhuma que iria deixá-lo saber o que se passava em sua linda cabeça ruiva complicada, ele iria em busca de quem poderia lhe ajudar com aquele enigma emocional.
Decidido, ele caminhou até o consultório de Charlie Benson que naquela hora deveria estar completamente livre, e bateu na porta ansioso para descobrir o que poderia estar afetando Anne novamente.
- Atrapalho?- Gilbert perguntou assim que viu Charlie na porta.
- É claro que não. Por favor, entre. – Charlie disse com seu sorriso simpático que Gilbert conhecia a anos.- No que posso ajudá-lo?- Charlie perguntou assim que viu Gilbert se acomodar na poltrona creme da sua sala.
- Eu sei que pode ser estranho o que vou te perguntar, e também não quero que pense que desejo quebrar a confidencialidade entre paciente e médico, mas você é a única pessoa que pode me ajudar com esse dilema.
- É sobre a Anne?- Charlie perguntou interessado nas palavras do amigo.
- Sim.- ele confirmou.- Você tem notado alguma coisa diferente na Anne nos últimos dias?
- Bem, eu a tenho notado mais ansiosa por esses dias, mas, nós conversamos na terapia sobre isso, e o que ficou claro é que muita coisa tem acontecido nos últimos tempos, e para ela que saiu de quadro depressivo severo a pouco tempo se adaptar a todas essas situações adversas em tempo recorde não é nada fácil. Você deve entender isso.
- Eu sei, mas eu sinto que não é só isso. Anne tem se afastado de mim, Charlie.- Gilbert disse com a voz quebrada como se sentisse dor ao imaginar a possibilidade de Anne não querê-lo mais por perto.
- Eu não sei porque está pensando isso. Toda vez que ela fala sobre você em nossas consultas é com o olhar de uma mulher profundamente apaixonada, então eu não estou entendendo essa sua aflição.- Charlie disse olhando-o surpreso.
- Ela não deixa mais que eu a toque, principalmente em nossos momentos íntimos pois ela me olha como se tivesse medo de mim.
- Se é assim que está enxergando a situação, por que não tenta falar com ela?- Charlie o aconselhou.
- Porque ela também foge das conversas mais sérias. Anne finge que nada a está afetando, mas eu conheço cada reação dela e sei que ela está me escondendo alguma coisa e odeio sentir que não consigo me aproximar dela emocionalmente.
- Gilbert, Anne sofreu abusos terríveis, principalmente em sua condição de mulher. E nós dois sabemos que traumas assim vão e vêm, e em muitos casos a pessoa nunca realmente se liberta deles. Talvez ela esteja passando por outro período de transição entre seu passado e seu presente, e certas lembranças são inevitáveis. Isso não quer dizer que o problema tenha a ver com você ou seu relacionamento.. Você precisa ser paciente, Gilbert. Essa história da Josie estar grávida de você talvez também seja um gatilho, e faça Anne oscilar entre dias bons e ruins. Porém, esse fato não faz com que ela te ame menos, porque o que tenho visto aqui em meu consultório é alguém que te ama muito, e não acho que ela, sendo fiel a você como é, conseguiria fingir um sentimento tão grande assim.- Charlie disse olhando diretamente para Gilbert que concordou com suas palavras e respondeu:
- Eu não acho que ela me ame menos, apenas acho que algo está acontecendo e ela não quer me dizer. Creio que tem razão, eu preciso apenas ser paciente e esperar que a coisas voltem a ser o que eram aos poucos. O bebê foi uma grande surpresa para Anne, e embora ela tenha aceitado tudo muito bem, eu penso que ela ficou bem mexida com essa história. – Gilbert ponderou, embora seu coração ainda não estivesse tão certo de que fosse apenas isso.
- Dar tempo a tempo é a melhor coisa nesse caso, Gil. Fique tranquilo, tudo entre vocês vai voltar a ser o que era antes. Vocês se amam e isso é o mais importante.- Charlie disse, tentando injetar um ânimo novo em Gilbert. Relacionamentos nunca eram fáceis, pincipalmente aquele que envolvia tantos assuntos delicados.
- Obrigado, Charlie, por me ouvir. Prometo que vou seguir o seu conselho.- Gilbert disse, apertando a mão do amigo com afeição.
- Estarei aqui se precisar de mim. Pode contar com minha ajuda para o que precisar.- Charlie respondeu retribuindo o gesto de Gilbert.
Menos apreensivo, o jovem psiquiatra voltou para sua sala, mas não sem antes passar pela de Anne como fazia todos os dias. Ela estava de costas e explicava alguma coisa sobre a tela que pintava para os seus alunos, e Gilbert admirou sua postura elegante, e sua segurança ao falar de um assunto que era visivelmente sua paixão. Seus olhos seguiram a linha suave do pescoço, o movimento sedutor dos lábios, seu sorriso radiante que lhe lembrava uma pequena estrela em ascensão, sua maneira de caminhar pela sala com passos leves e suaves. De repente, ela virou a cabeça e o viu, seu sorriso se alargando enquanto levantava sua mão e acenava para Gilbert. Pego de surpresa, ele acenou de volta, depois continuou seu caminho até seu consultório, pensando consigo mesmo que Charlie estava certo. Ele daria tempo ao tempo, e esperaria que tudo voltasse a ser o que era, e então, ele pediria Anne em casamento, e assim uniriam suas vidas para sempre.
GILBERT E ANNE
O sábado amanheceu nublado novamente, mas, Anne não se importou, pois estava animada para almoçar com o pai de Gilbert e Irina a quem não via a um bom tempo, com quem passaria momentos agradáveis com toda a certeza.
Ela e Gilbert acordaram um pouco mais tarde, e tomaram café da manhã na cozinha, já que seu noivo tinha deixado claro que detestava sua mania de se sentar na sacada do apartamento, e para evitar conflitos desnecessários Anne decidiu que evitaria o local quando Gilbert estivesse por perto, porém, quando tivesse a si mesma como companhia podia desfrutar da paisagem da janela do apartamento como desejasse.
Às onze horas, eles estavam prontos, e seguiram até a casa de John cheios de boas expectativas e bem humorados, pois naquela manhã Anne acordara sem seus usuais temores da última semana, e se permitia sorrir para Gilbert a todo momento, assim como o rapaz parecia extremamente satisfeito por estarem desfrutando da companhia um do outro em um programa familiar tão íntimo.
Logo que chegaram à antiga casa de Gilbert, tanto John quanto Irina surgiram na porta e sorriram para o jovem casal, que se aproximou de ambos de mãos dadas.
- Que prazer, minha querida nora. Pensei que tinha se esquecido desse velho tolo.- John disse, beijando Anne no rosto que lhe respondeu:
- Nunca esqueceria de você, John. Depois de Gilbert , você é meu segundo amor. Com todo respeito, Irina.- Anne disse rindo, fazendo a boa enfermeira dizer:
- Nós também te amamos, querida. Como você está? Faz dias que não nos falamos.
- Estou bem, mas bastante ocupada.- Anne respondeu, abraçando Irina que a beijou no rosto com carinho.
- Vamos entrar, pois quero falar com vocês dois.- John disse com um ar de mistério que deixou Anne e Gilbert intrigados, que não disseram nada, mas olharam um para o outro curiosos por conta das palavras do pai do rapaz.
Todos caminharam até a sala, onde John esperou que se sentassem para perguntar:
- Me diga, meus queridos. Quando pensam em se casar?
- Ainda não marcamos nada, papai. Queremos esperar mais um pouco. Por que?- Gilbert perguntou, olhando para o pai surpreso com sua pergunta.
- Bem, eu tenho pensado muito em vocês dois, e fiz algo que não sei se vão aprovar ou não, mas quero que saiba que foi com as melhores das intenções.- ele entregou a Gilbert um documento que estava dentro de um envelope lacrado, e ao abri-lo, o rapaz passou os olhos pelo que estava escrito nele, e depois olhou assombrado para o pai que disse:- Essa é a escritura de uma casa que comprei para vocês dois como presente de casamento, pois imaginei que um apartamento por maior que seja não é o lugar apropriado para criar filhos, e este segundo documento é uma declaração minha passando a fazenda para seu nome, meu filho, pois sei como você ama aquele lugar, então nada mais justo que ele seja seu.- John finalizou com um sorriso.
- Papai, eu nem sei o que dizer . Nunca pensei que se desfaria da fazenda. Você sempre amou a fazenda tanto quanto eu.- Gilbert disse emocionado, lendo os dois documentos que tinha nas mãos sem acreditar no que o pai fizera.
- Estou ficando velho, filho, e quero me livrar das responsabilidades pesadas, e curtir a vida de forma mais leve e divertida.- John respondeu, olhando para Irina, que lhe sorriu, aprovando totalmente suas palavras e sua atitude de minutos atrás. John então se voltou para Anne que até aquele momento se mantinha calada, apenas observando a cena e parecendo tão comovida quanto Gilbert pelo gesto dele e perguntou:- E você minha querida? Gostou da surpresa?
- Eu nem sei o que pensar.- Anne respondeu, olhando para aquele homem generoso com carinho, e pensou que nunca em sua vida tinha ganho um presente tão valioso, não no sentido literal da palavra em questão de valor financeiro, mas sim no que aquilo significava em níveis sentimentais.
- Não precisa dizer nada, minha querida. Apenas aceite meu presente, e me fará o homem mais feliz do mundo.- Anne se aproximou, o abraçou, beijando-o no rosto com respeito e respondeu:
- Muito obrigada por esse presente lindo.
- Por nada. Espero que você e Gilbert possam começar a trabalhar na ideia dos netinhos em breve.- ele disse com humor, deixando Anne ruborizada, e todos acabaram rindo da brincadeira de John que em seguida declarou:- Creio que agora podemos almoçar em comemoração a esse momento.
Deste modo, todos passaram para a sala de jantar, onde o almoço foi servido, e a conversa agradável se estendeu até a sobremesa, e o café servido depois dela. E todo o tempo, Anne e Gilbert trocaram olhares cúmplices que aqueciam o coração da menina tão carente naqueles dias. A pedido de John, eles acabaram ficando para o jantar, e depois, decidiram que passariam a noite, pois Gilbert queria ficar mais tempo com seu pai, a quem tivera poucas oportunidades de conversar naquela semana.
Muito mais tarde, aproveitando que Irina e John estavam entretido com um filme dos anos oitenta, Gilbert disse no ouvido de Anne:
- Venha comigo.- A ruivinha pegou na mão dele e o seguiu até o antigo quarto de Gilbert que ela tinha conhecido na outra vez que estivera ali. Assim, quando chegaram lá, ele fechou a porta, fez Anne se sentar na cama, e foi até o seu armário de onde pegou uma caixa, e ao abri-la, ele revelou a Anne um saxofone de marca bastante sofisticada.
- Você toca?- Anne perguntou espantada e encantada ao mesmo tempo, se perguntando quantos talentos de Gilbert ela ainda não conhecia.
- Eu costumava tocar quando era mais jovem, mas, nunca fui um saxofonista muito bom.- ele respondeu com modéstia.
- Toca para mim?- Anne pediu ansiosa por conhecer mais um lado fascinante de seu noivo que nunca deixava de surpreendê-la.
- Posso tentar.- ele disse, segurando o instrumento em suas mãos com cuidado, e assim, ele começou a tocar uma canção que Anne reconheceu como Forever in Love de Kenny J.
Enquanto tocava, Gilbert não tirava os olhos dela, e dentro daquele olhar que sempre parecia ler as profundezas de sua alma, ela conseguiu enxergar todos os sentimentos que ele sempre demonstrava por ela todos os dias, e que eram os mesmos que viviam em seu coração. Ela se sentia envolvida por cada acorde como se a música e o homem que a tocava estivessem se declarando simultaneamente para ela, e então, as lágrimas lhe vieram aos olhos, porque ela não conseguiu conter a emoção de sentir um amor tão puro e tão verdadeiro sendo claramente exposto para ela de maneira tão linda.
Gilbert parou de tocar no momento em que a viu chorar, e deixando o instrumento de lado, ele a abraçou e disse beijando os seus cabelos:
- Não chore, querida, eu estou aqui e eu te amo.- Anne o encarou, sentindo seu coração transbordando de tantas emoções que não sabia descrever o que ia em seu íntimo, por isso, ela colou seus lábios nos de Gilbert, que a envolveu totalmente em seus braços, intensificando o beijo de tal forma que em poucos segundos eles estavam ardendo juntos em um desejo que fora evitado por dias. Sentindo a intensidade do que estava acontecendo entre eles naquele momento, Anne tentou se afastar, mas, Gilbert não permitiu, dizendo baixinho em seu ouvido:
- Não tenha medo de mim, meu amor. Me deixe te amar e te mostrar que pode confiar em mim de novo.- Assim, Anne se deixou levar, empurrando qualquer receio que pudesse estragar aquele momento para o fundo de sua mente, pois não deixaria que nenhum Roy Gardner ou fantasma do seu passado a impedisse de se entregar ao homem que amava, como vinha fazendo todos aqueles dias pois seus traumas a tinham castigado demais. Entretanto, naquele momento em que aquele rapaz tão maravilhoso olhava para ela completamente apaixonado, ela queria sentir o bálsamo dos sentimentos dele por ela afastando todos os seus medos pelo menos naquela noite.
Desta forma, roupas foram despidas, e corpos se enroscaram a procura do calor um do outro, e enquanto Gilbert distribuía beijos por toda a sua pele, desvendando mais uma vez todos os segredos escondidos em seu íntimo, Anne se deixou levar pela paixão dele, seus beijos de fogo, e maneira com que ele despertava nela um sentimento primitivo que não lhe dava chance nenhuma de resistir. Gilbert a tinha completamente nas mãos toda vez que amava como se ela fosse algo delicado, que poderia facilmente se quebrar em suas mãos, e ela correspondia na mesma intensidade, enlouquecendo-o com seus toques, com seus lábios correndo pelo corpo dele, fazendo Gilbert gemer baixinho, chamando por ela, enquanto suas mãos se perdiam em seus cabelos, e sua boca se deliciava com a pele macia do pescoço dela, e tantas palavras quentes que ele lhe dizia em seu ouvido, deixando-a mais excitada ainda, desejando uma satisfação além dos seus limites. Então, ele estava dentro dela, navegando por um mar de volúpia que foi aos poucos consumindo os dois , e quando chegaram no limite de sua resistência, ele se perderam juntos na intensidade de sua paixão, até que seus corpos atingiram o ponto exato do êxtase onde sua consciência deixou de existir e só voltaram a recuperá-la quando se viram deitados na cama nos braços um do outro.
O cansaço depois do amor logo atingiu Gilbert que adormeceu com Anne em seus braços, porém, a ruivinha não o seguiu imediatamente em seu descanso total. Ela ainda passou algum tempo, olhando para o homem a seu lado, admirando cada contorno daquele rosto que nunca esqueceria enquanto vivesse, mas, seu coração não estava sossegado, pois ela sentia que aquela plenitude que vivera com ele minutos antes estava a ponto de acabar, e uma agonia lenta começou a tomar conta de sua alma ao constatar que mais uma vez sua felicidade estava a ponto de lhe ser roubada, e uma lágrima solitária escorreu por seu rosto, evidenciando assim a fonte de seu desespero.
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