Capítulo 29- Uma canção de amor
Olá, pessoal. Espero que apreciem esse capítulo que tentei escrever com todo meu coração, e deixem-me seus comentários. Beijos. Obrigada por tudo.
GILBERT
O jovem médico acordou com o barulho da chuva batendo em sua janela, e por puro reflexo estendeu a mão para tocar o corpo de Anne que dormira com ele na noite anterior, porém se assustou ao tocar apenas os lençóis de linho que não retinham mais o calor do corpo dela, o que o fez deduzir que ela já tinha se levantado a muito tempo. Preocupado, ele colocou os pés para fora da cama enquanto seus olhos vasculhavam cada canto do quarto, não notando vestígio nenhum da presença da ruiva por ali. Assim, ele vestiu uma bermuda por cima de sua cueca boxer, e saiu em busca de sua namorada que ele imaginou deveria estar na cozinha preparando o café da manhã, ou ouvindo um de seus cds como fizera em sua última visita.
Para sua decepção, Anne também não se encontrava ali, e Gilbert começou a sentir sua preocupação aumentar, ao mesmo tempo em que dizia a seu subconsciente para se acalmar, e não deixar que sua imaginação o colocasse em estado de alerta, pois devia ter um boa explicação para a ausência de Anne naquela manhã quando ela deveria ainda estar na cama. Ainda assim, ele foi até o banheiro, com o coração batendo forte, e seu cérebro lhe enviando mensagens nem um pouco agradáveis do que ele poderia encontrar do outro lado da porta.
Com todo o cuidado, ele entrou no banheiro para seu alívio, Anne não se encontrava ali também, mas, isso não resolvia o problema de não saber onde ela estava, e por isso, sua preocupação continuava a crescer enquanto ele caminhava de volta para o quarto, pensando em se trocar e sair pelo prédio a procura dela, imaginando que ela não devia estar muito longe, já que não trouxera nada com ela a não ser a roupa do corpo. No meio do corredor, ele parou ao reparar a porta da sala que dava para a sacada do apartamento aberta, e caminhou para lá, tentando se lembrar se a havia esquecido de trancar na noite anterior.
Seu coração deu um salto ao ver Anne ali, completamente descalça, ainda vestindo a camiseta que ele lhe emprestara, e os cabelos despenteados. Ela estava próxima da beirada e olhava para baixo como se ponderasse alguma coisa que estava lhe perturbando a cabeça, pois vez e outra ela balançava seus longos cabelos como se negasse um pensamento mais audacioso, e Gilbert engoliu em seco ao perceber que um passo em falso a faria perder o equilíbrio e cair de uma altura de seis metros, e o que tornava tudo mais perigoso era a chuva que caía e deixava o ladrilho respingado e escorregadio, mesmo sendo a área onde Anne estava coberta, pois a beirada não escapava de ficar molhada.
Gilbert tentou pensar rápido no que fazer, pois a situação toda o estava deixando nervoso. Ele queria se aproximar e tirar Anne dali o mais rápido possível, pois não conseguia sequer imaginar o que se passava na cabeça de sua namorada, depois do que sofrera nas mãos de Daniel, e tendo que lidar com tantos traumas do seu passado, mas, tinha medo de assustá-la e acabar causando um acidente terrível. Porém, ele não podia ficar ali parado observando Anne naquela situação, e nem queria imaginar porque ela escolhera aquele lugar para estar naquela hora da manhã. Se algo a estava incomodando, por que simplesmente não o acordara e lhe pedira colo? Ele estava ali por ela, como sempre estivera desde que se conheceram, e não deixaria que ela se perdesse em sua tristeza novamente. Gilbert a salvaria de qualquer mal, por pior ou mais agonizante que fosse para ela passar por aquilo tudo com a mente sã.
- Anne. - Ele a chamou suavemente, sem, no entanto, se aproximar. Ele não queria que ela ficasse nervosa enquanto estivesse a um passo da beirada. Visões dela se machucando daquela maneira fez Gilbert tremer, mas, ele fez um esforço para focar toda a sua atenção nela, e calar sua imaginação ativa demais naquele momento. Ela o olhou ao ouvir a voz dele, e Gilbert observara consternado que Anne andara chorando, e pela centésima vez ele quis socar o rosto bonitinho de Daniel Darson, por colocar sua namorada de novo na posição de ter que se defender de um ego masculino doentio.
- Por que, Gilbert? Por que as pessoas sempre tentam me machucar? Será que sou uma pessoa tão ruim assim? – a voz chorosa dela literalmente fez a pressão em se peito aumentar, e ele quis correr até ela e abraçá-la, mas seu receio era maior que sua impulsividade. Não podia e não queria arriscar nada, principalmente porque Anne parecia estar um pouco descontrolada.
- Não, baby. Você é a pessoa mais incrível que já conheci, se alguém é ruim, são essas pessoas que tentam te machucar. Por que não sai daí e vem aqui para dentro para que possamos conversar melhor sobre isso? - ela não respondeu e tornou a olhar para baixo, suas mãos apertando a grade com força, que era a única proteção que ela tinha ali.
- Dói tanto. - Ela disse com um soluço, e os olhos de Gilbert começaram a marejar também. Ele não suportava ver Anne sofrer daquela maneira e não poder fazer nada para acabar com aquilo. Se ao menos, ela saísse da sacada e viesse para dentro, ele podia dar a ela um pouco do consolo que ela precisava, mas, Anne continuava parada no mesmo lugar, e Gilbert estava a ponto de entrar em desespero.
- Querida, vem para dentro. Está chovendo e você pode ficar doente. Vamos até a cozinha tomar café e aí podemos conversar. - A voz dele tinha soado um pouco embargada, por mais que tentasse manter a calma. Ele respirou fundo, e observou Anne que não lhe respondeu nada, e tremia com o vento que começara a soprar, fazendo a temperatura baixar por conta da chuva que caía ainda.
Sem aguentar mais, ele resolveu tomar uma atitude. Não estava ajudando nem a Anne e nem a si mesmo daquele jeito, por isso, ele começou a caminhar devagar até ela, rezando para que ela não se assustasse com sua aproximação, e quando por fim, ele estava a um passo dela, Gilbert a puxou pela cintura para seus braços, sentindo a pressão em seu peito desaparecer, ao mesmo tempo em que Anne se agarrava a sua cintura e começava a chorar.
- Que susto meu deu, pequena. Nunca mais faça isso. - Ele dizia e beijava o topo da cabeça dela várias vezes.
- Desculpa. Eu...não...queria...preocupar você. - Ela disse, a voz entrecortada por seu choro sentido.
- Eu vou te levar para dentro. - Gilbert a pegou no colo, e a levou até o quarto, onde ele a fez se deitar na cama e a cobriu com uma colcha, pois ela estava gelada e tremia sem parar.
Ele olhou no relógio que marcava sete horas, e se preocupou, pois logo ele teria que ir trabalhar e não queria deixar Anne sozinha. Ele sabia que podia ligar para o hospital local, e pedir que lhe enviassem uma enfermeira, e depois ele pagaria os honorários dela por um dia, mas, não queria que Anne ficasse com uma pessoa estranha, que não a trataria com o carinho que ela precisava. De repente, uma ideia se formou em sua cabeça, e ele resolveu ligar para a clínica e falar com Jerry. O primo atendeu ao primeiro toque, como se estivesse esperando sua ligação. Assim, de maneira sucinta, Gilbert explicou a situação, e pediu se ele não podia dispor de Irina pelo menos por um dia para tomar conta de Anne, depois, ele resolveria o que fazer nos próximos dias enquanto ela ficasse no apartamento dele.
- Não se preocupe, Primo. Você pode deixar Irina tomando conta de Anne o quanto quiser. Você sabe que fazemos esse tipo de trabalho de atender à domicilio quando o paciente precisa de assistência em casa.
- Obrigado, Jerry. Você acaba de tirar um peso dos meus ombros. - Gilbert disse com a voz aliviada.
- Disponha sempre, Gil. Como ela está? – Jerry perguntou, pois podia sentir a aflição de Gilbert. Ele o conhecia tão bem para saber que o rapaz estava realmente apaixonado dessa vez, e tudo o que sentira por Ruby não chegava nem perto do que ele estava sentindo agora. Sua única preocupação era até onde esse amor poderia levar seu primo ou ameaçar sua paz de espírito, porque, ele sentia que Anne o fazia feliz, e era uma excelente pessoa, apesar de conhecê-la pouco, no entanto, ele tinha medo que naquelas crises, a ruivinha arrastasse seu primo junto, e Jerry não queria vê-lo quebrado de novo.
- Ela ainda está em estado de choque, mas, bem melhor que ontem. Deus! Eu odeio vê-la assim. Tudo estava tão bem, por que aquele idiota tinha que estragar tudo? - ele disse com uma raiva que ele mal controlava dentro de si.
- Calma, Gil. Ele é um homem doente, e precisa de nossa compreensão. - Jerry tentou ser razoável com a situação de Daniel, mas, Gilbert se recusava a engolir aquela explicação.
- Ele tem essa desculpa a favor dele, mas, nada me tira da cabeça que ele tem uma índole ruim, e atacou Anne por isso, e não porque está doente.
- Anne te contou o que ele disse a ela? - Jerry perguntou cautelosamente com medo de revelar a Gilbert o teor das palavras de Daniel.
- Não. Não creio que ela esteja em condições de falar sobre o assunto ainda.
- Ele disse que ele é o dono dela.
- O que? - Gilbert não podia acreditar em tamanho absurdo.
- Foi isso mesmo que ouviu. Ele disse que ela pertence a ele, por isso, é que estou te dizendo que Daniel Darson não está em seu juízo perfeito. Ele é obsessivo e egocêntrico, e isso foi Charlie Benson quem me disse. – Jerry revelou, não sabendo se fizera bem em revelar aquilo para Gilbert, mas, ao mesmo tempo, sentindo que tinha que contar, pois de alguma forma, Jerry pensava que Anne estava em perigo perto daquele rapaz totalmente estranho.
- Jerry, a Anne não volta mais para a clínica, mesmo que eu tenha que comprar um apartamento para ela morar no mesmo prédio que eu.
- Você sabe que quem tem que decidir isso é ela e não você, não é? Não faça nada por ela sem consultá-la. - Ele aconselhou por conhecimento de causa.
- Eu não pretendia fazer isso. Vou falar com ela, assim que Anne estiver em condições de conversar.
- Faça isso, Gil. E quanto a Irina, eu mesma vou enviá-la a seu apartamento.
- Obrigado, Jerry. Vou desligar agora, pois quero ficar um pouco com Anne antes de ir para o trabalho.
- Está bem. Até mais tarde.
- Até.- ele disse e desligou, indo direto para o quarto onde encontrou Anne na mesma posição que a deixara. Ele se ajeitou na cama ao lado dela, e a abraçou. No mesmo instante ela virou de frente, e o encarou com seus olhos tão tristes que Gilbert levantou a mão, a tocou no rosto e perguntou:
- Está se sentindo melhor?
- Estou me sentindo muito cansada, minha cabeça dói e não consigo parar de tremer. - Ela disse se aproximando mais dele até que encostou sua cabeça no ombro dele. Gilbert testou a temperatura dela, e percebeu que ela estava com febre emocional de novo.
- Você está com febre. Vou buscar um remédio para baixar sua temperatura.
- Não, fica aqui comigo. Preciso tanto que me abrace.
- Está bem. – Ele disse, puxando-a para mais perto. - Eu vou ter que trabalhar hoje, mas, Irina está vindo para ficar com você.
- Ela não tem que trabalhar na clínica?
- Sim, mas, Jerry pediu para que ela viesse aqui para te fazer companhia enquanto estou fora. - Ele beijou os cabelos dela, e a garota se aconchegou mais a ele antes de dizer:
- Não queria te dar todo esse trabalho.
- Não é trabalho nenhum, meu amor. Ela virá como sua enfermeira, pois você não está em condições de ficar sozinha. Como eu só vou poder vir para casa à noite, não quero te deixar aqui sem companhia nenhuma.
- Obrigada, Gil, por cuidar de mim. Nunca ninguém fez para mim as coisas que você faz.- ela disse, olhando-o com carinho, o que fez Gilbert responder:
- Eu te amo, e adoro cuidar de você, e daqui para frente será sempre assim. Nós dois juntos. - Ela sorriu, e o rapaz a beijou suavemente, deixando claro naquele beijo a profundidade do seu sentimento por ela.
Eles ficaram mais um tempo na cama, até que Gilbert se levantou, preparou o café, e carregou Anne até a cozinha para que ela se alimentasse, o que ela comeu muito pouco, mas, ele sabia que por conta do estado emocional dela, seu apetite era sempre a primeira coisa a ser afetada. Logo que ela terminou, ele se preparou para pegá-la no colo de novo, mas Anne disse:
- Acho que consigo andar. Não precisa me carregar de novo.
- E perder a oportunidade de tê-la mais tempo em meus braços? De jeito nenhum, princesa. Eu vou carregá-la sim. - Ele disse, levando-a de volta para o quarto enquanto Anne ria do que ele dissera.
Quando Irina chegou, Gilbert já estava vestido para o trabalho, e tratou de tranquilizá-la ao ver o olhar preocupado que ela lhe lançou.
- Ela está melhor, Irina. Acabei de ministrar remédio para febre, e creio que ela vai dormir boa parte do dia. Tente fazê-la comer mais durante o dia, pois ela quase não comeu no café da manhã.
- Não se preocupe, Gilbert. Eu trouxe algumas roupas para ela, e vou cuidar dela melhor que puder.
- Eu sei disso. Se você precisar de qualquer coisa ou ela piorar, por favor me ligue.
- Pode deixar. - Irina respondeu.
Ele foi até o quarto se despedir de Anne que tinha os olhos sonolentos, mas sorriu quando o viu entrar:
- Eu vou trabalhar, e Irina acabou de chegar para ficar com você. Fique bem, princesa. Eu só volto quando meu expediente acabar.
- Eu vou ficar bem. Não se preocupe. - Ela disse beijando a mão que afagava suas bochechas. Ele a beijou de leve nos lábios, e quando estava na porta, Anne o chamou e disse:
- Eu também te amo, Gilbert.
E assim, ele foi para o trabalho com seu coração cantando uma velha canção que ele reconheceu como sendo a canção do amor verdadeiro.
ANNE
Estavam no meio da tarde quando Anne por fim acordou. Ela abriu os olhos devagar, pois sua cabeça estava pesada provavelmente por causa da medicação que tomara e de não ter se alimentado como devia, mas ainda assim, conseguiu sair da cama e andar até a cozinha sem muitos problemas. No caminho, ela encontrou Irina sentada na sala de estar lendo uma revista. A boa senhora levantou o olhar ao vê-la, e disse com um sorriso compreensivo:
- Oi, meu amor. Finalmente acordou. Como está sentindo?
- Minha cabeça está pesada, mas acho que estou bem- - Anne respondeu, sentindo-se aliviada por Irina estar ali. A enfermeira sempre fora uma boa ouvinte, e cuidara dela como uma verdadeira mãe, por isso, era bom saber que não passaria o dia todo sozinha, ou nas mãos de outra pessoa que não se importaria com mais nada, além de seu estado físico, o que poderia ser melhorado com doses razoáveis de medicação, mas a enfermidade da alma só poderia ser melhorada com carinho e dedicação de pessoas que realmente a amavam e para isso ela tinha Irina e Gilbert.
- Que tal se fôssemos até a cozinha comer algo? - Irina sugeriu e Anne concordou dizendo:
- Sim. Eu estava indo até lá nesse momento.
E assim, as duas mulheres foram em direção à cozinha, onde Irina serviu a Anne uma sopa leve, imaginando que o estômago dela estaria sensível por conta de seu estado emocional abalado.
Anne deu o seu melhor para comer boa parte da comida servida por Irina, mas só ela sabia o quanto cada colherada estava lhe custando. Felizmente, entre sua força de vontade e o enjoo crescente que a fazia quer colocar tudo para fora, a primeira venceu, e assim ela devolveu o prato a Irina quase vazio, que sorriu para ela como se a cumprimentasse pelo seu esforço.
Durante todo o processo da refeição, Irina quase não conversou com Anne, por medo de dizer algo inapropriado que pudesse desencadear uma outra crise, mas quando voltaram para a sala onde se sentaram juntas para fazerem companhia uma a outra, foi Anne que iniciou a conversa dizendo:
- Como está Daniel? - Irina a olhou espantada por ela tocar no assunto, e perguntou:
- Quer mesmo falar sobre esse assunto? - Anne olhou para as próprias mãos e respondeu:
- Eu não posso fingir que o que aconteceu comigo ontem fez parte apenas da minha imaginação mordaz. Como também não posso fingir que Daniel não foi meu amigo até outro dia e nos preocupávamos um com o outro.
- Ele ainda está na solitária, e creio que ficará lá até que não se constitua mais em um perigo para si mesmo e outras pessoas. - Irina disse em tom grave. Ela nunca tivera grande simpatia pelo rapaz por considerá-lo expansivo demais para o seu gosto, mas como ele parecia ser uma companhia agradável para Anne, a enfermeira acabara por achar que tinha sido injusta. Mas, tinha se enganado, e por isso agora se culpava por ter baixado a guarda, e permitido que ele ficasse perto de Anne, e sabe se lá o que teria acontecido se não tivesse ouvido as vozes alteradas no quarto de Anne, e pedido ajuda de outros enfermeiros.
- Você sabe se ele vai ficar bem? - ela perguntou ansiosa. Daniel tinha sido um bom amigo para ela, e por mais que ele a tivesse magoado, ela não conseguia não pensar nele, ou de se lembrar do estado em que ele se encontrava no dia anterior. Como uma pessoa tão carinhosa e amável conseguia mudar tanto por conta de uma enfermidade mental? Não era Daniel naquele quarto, e sim outro homem que a lembrava muito Roy Gardner em suas atitudes, e tal fato a aterrorizava até a alma. Ela não queria pensar que Daniel poderia mesmo tê-la machucado, mas a lembrança do tapa que ele teria lhe dado se Irina não tivesse aparecido no fundo a fazia acreditar que sim, e mesmo lamentando toda aquela situação, Anne sabia que nunca mais ficaria confortável frente a frente com ele de novo caso se reencontrassem algum dia.
- Querida, é difícil dizer como ele irá se comportar daqui para frente. Um surto psicótico é a indicação de que algo dentro da pessoa não está bem, e só o tempo pode mostrar se essa pessoa vai se recuperar e seguir em frente. Depende mais de sua força de vontade do que qualquer outra coisa, assim como é com toda doença psicológica. - Os olhos de Anne se encheram de lágrimas só de pensar em alguém tão ativo como Daniel preso em sua própria cabeça como acontecera com ela. Era triste demais e tão injusto. Parecia que a vida cobrava mais das pessoas de bem do que as que tinham muitas contas a acertar com a sociedade. Ela não merecera o que acontecera com ela, e Daniel também não, talvez por isso, os dois tinham se aproximado tanto, duas almas quebradas em busca de consolo uma na outra.
- O que foi, Anne? Por que está chorando, filha? - Irina perguntou, preocupada com a tensão no corpo de Anne que a deixava toda rígida. A culpa era sua, por que não cortara aquele assunto quando Anne insistira em falar dele?
- Não fique brava com que eu vou falar. Estou com muita pena de Daniel. - Anne confessou, tentando enxugar as lágrimas que teimavam em cair. - E por favor não diga nada para o Gilbert, porque eu sei que ele está muito zangado com Daniel pelo que aconteceu. Eu sei disso porque o ouvi falar com o diretor da clínica no telefone sobre o que aconteceu .
- Querida, é natural que tenha pena de seu amigo. Pessoas assim precisam de nossa compaixão. Ê muito triste ver alguém tão jovem perder o controle de si mesmo dessa maneira. Você não deve se sentir culpada por ter pena dele. Está tudo bem você se sentir assim.- Irina disse se sentando ao lado de Anne no sofá, e segurando suas mãos.
- Obrigada. - Anne disse com um sorriso triste.
- Agora me diga o que pretende fazer daqui para frente? Não acha que a clínica seja um lugar seguro para você com Daniel por lá. Ele não vai ficar na solitária por muito tempo, e não sabemos o que se passa na cabeça dele depois de tudo isso.
- Eu ainda não sei. Gilbert me perguntou outro dia se eu não pensava em ter um canto só meu, e acho que está na hora de pensar sobre isso. Eu também quero voltar a trabalhar, talvez dando aulas como antes.
- Não pensa em voltar a pintar e expor seus trabalhos como fazia antes de vir para a clínica? - Irina perguntou, vendo com animação Anne fazer planos para o futuro, porque aquilo era realmente um bom sinal.
- Não a princípio. Eu quero algo que me faça viver no mundo real, e que me fortaleça mais internamente do que antes. Pintar é minha paixão, mas me isolou demais do mundo e me fez acreditar em coisas que não eram verdadeiras, e acabei me tornando uma presa fácil para pessoas como você sabe de quem estou falando.- Irina assentiu, e assim Anne continuou:- Isso não quer dizer que não vá voltar a trabalhar com arte algum dia.
- Eu te apoio no que precisar, minha querida. Eu só quero que seja feliz. - Irina disse beijando Anne no rosto.
- Eu sei, Irina. Você tem sido a mãe que nunca tive. Marilla sempre fez o melhor que pôde, me deu casa, comida e um teto, e embora tivesse me dado amor à sua maneira nunca me tratou como filha. Eu sou muito grata por tudo o que ela me proporcionou nos anos em que vivi em Green Gables, mas, com você, eu descobri um outro tipo de amor, e queria muito te agradecer por me tratar como filha, isso significa muito para mim.- Anne disse tocando o rosto de Irina com carinho.
- Eu te vejo como a filha que nunca pude ter. Às vezes penso que Deus te colocou no meu caminho para que pudesse me compensar por eu não ter tido filhos biológicos, e também tenho que te agradecer por me acolher dessa maneira, e saiba que poderá contar comigo pelo resto da vida.- ambas se abraçaram, sentindo em seus corações que houvera ali um encontro de almas tão semelhantes e apaixonadas pela vida apesar das ervas daninhas que tiveram que arrancar de seus caminhos para continuarem lutando pelo seu direito de ser feliz.
- E você e o Gilbert? Como estão? - os olhos de Anne adquiriram um brilho diferente ao falar do homem que era a razão do seu sorriso diário, e respondeu.
- Eu estou muito apaixonada e acho que ele também. Gilbert faz coisas por mim que eu nunca imaginei que alguém pudesse fazer. Ele é tudo o que uma mulher pode desejar. Como não amar um homem que me trata como princesa? Ele tem o meu coração para sempre.
- Gilbert é realmente um bom rapaz. Desde que ele veio pra a clínica sempre senti uma simpatia especial por ele, e depois que eu soube de tudo o que ele passou por conta de sua falecida esposa, eu passei a admirá-lo ainda mais.
- O que você sabe do relacionamento dos dois? Gilbert me contou algumas coisas, mas, eu sinto que ele sofre muito quando eu toco no assunto, por isso, parei de fazer muitas perguntas a respeito. - Anne disse, interessada em absorver o máximo de informações possíveis, pois ela tinha uma curiosidade imensa em saber quem fora a mulher que conquistara o coração de Gilbert a ponto de ele nunca conseguir esquecê-la. Ela sabia que havia um certo ciúme de sua parte, mas era algo que considerava normal. Anne respeitava muito o que Gilbert um dia sentira por Ruby, assim como o seu desejo de continuar cultivando sua memória. Aquele relacionamento fazia parte da história de vida dele, e Anne jamais pediria para que ele enterrasse de vez a mulher que um dia fora seu grande amor.
- Eu não creio que saiba muito mais que você. O que John me contou foi que se casaram muito cedo, e que a garota não amava Gilbert do jeito que ele merecia. Porém, não sei se essa é mesmo a história verdadeira, ou se o que John me contou é apenas baseado em sua visão de pai, que não se simpatizava tanto com a namorada do filho. Só quem sabe se o relacionamento valera a pena foi o casal, mas como a garota está morta, creio que você terá que se contentar com o pouco que Gilbert te contar sobre isso.- Anne assentiu, e depois ficou pensativa analisando as palavras de Irina com bastante atenção, e a enfermeira notando seu ar absorto continuou:
- Eu creio que você deveria apenas se focar no que vocês dois tem juntos, e deixar o passado onde ele deve ficar.
- Tem razão. Eu não duvido do que Gilbert sente por mim. Foi uma pergunta boba a que te fiz.
- Não penso assim. Creio que é natural que você queira saber detalhes da vida amorosa do seu namorado, já que ele sabe praticamente tudo sobre a sua. Eu digo apenas para que você não se importe demais com isso, pois, está na cara que você é a mulher que Gilbert ama agora, e não tem razões para ficar pensando sobre isso indefinidamente. Agora o que acha de vermos um filme juntas? Esse dia chuvoso está uma delícia para uma sessão de cinema.
- Ah, Irina. Você sempre tem as melhores ideias.
Deste modo, elas passaram o resto da tarde entretidas com um filme de comédia que de tão engraçado as fez rir a valer, o que fez Anne pensar porque a vida não podia ser tão simples como uma risada em um fim de tarde?
GILBERT E ANNE
Gilbert estava completamente atolado no trabalho, mas não conseguia parar de se preocupar com Anne um segundo. Ele ligara para Irina na hora do almoço para ter notícias dela, mas, a boa enfermeira lhe dissera que sua namorada ainda estava dormindo, e apesar de saber que Anne precisava descansar por conta da noite que tivera e sua febre alta emocional, ele ficara chateado por não poder falar com ela.
O rapaz estava naquela fase em que a paixão às vezes falava mais alto que o bom senso, e tudo o que ele queria fazer era largar todos os seus afazeres ali na clínica e correr para casa, onde encontraria sua amada ruivinha à espera de que ele cuidasse dela, mas, tinha seu lado responsável que zombava do seu lado piegas, dizendo-lhe dentro de sua mente que ele já havia passado a muito tempo da idade de ter arrombo juvenis. Assim, ele passou o dia, naquela briga interna, se sentindo puxado por dois lados completamente opostos, e quando Josie Pye apareceu em seu consultório sem aviso, ele sequer estranhou tão envolvido estava naquela inconstância emocional.
- Boa tarde, Gilbert. - Ela disse, fazendo-o olhá-la confuso.
- Boa tarde, Josie. Em que posso ajudá-la?
- Eu soube o que aconteceu com a Anne, e sinto muito por ela. - Gilbert a olhou com atenção, tentando ver se ela estava sendo sincera ou só fingindo, mas, como não conseguiu enxergar nada demais, ele se ocupou em dizer:
- Obrigado.
- Não deve ter sido fácil para ela passar por algo assim.
- Não foi, mas, ela está melhor agora. - Ele respondeu sem dar maiores detalhes conhecendo a possessividade de Josie a seu respeito.
- Fiquei feliz em saber disso. - Ela disse e em seguida perguntou:- Será que podemos conversar?
- Josie, eu sinto muito, mas, estou atolado no trabalho. É muito importante ou pode esperar para mais tarde?
- É importante, mas também pode esperar. Nos falamos outro dia então. - Ela disse de maneira compreensiva que Gilbert estranhou, mas não estava em condições de analisar as atitudes de sua ex-namorada naquele momento.
- Ótimo - Ele respondeu, enquanto Josie saía de seu consultório, e o deixava sozinho. Gilbert voltou toda a sua atenção aos documentos em sua mesa, por isso, não percebeu o sorrisinho satisfeito no rosto dela.
Apesar de ter tido pouco tempo até para respirar, o dia passou de forma lenta e incrivelmente agonizante, e quando por fim, o relógio marcou cinco horas, o rapaz parou imediatamente o que estava fazendo, e se arrumou para ir para casa. Porém, antes de deixar a clínica, ele tinha que ir a um lugar o qual adiara o dia inteiro por falta de tempo, mas, agora que não tinha mais expediente, ele poderia se concentrar no que desejava fazer.
A solitária parecia um lugar agradável demais para Daniel Darson, pois apesar de ter sido deixado preso ali dentro por tempo indefinido por conta do seu surto, o rapaz tinha todo o conforto que precisava, e Gilbert sabia que aquilo era possível, porque ali era uma clínica particular cuja internação não era nem um pouco barata, diferente das clínicas públicas que Gilbert visitara quando morava em Londres no seu período de estágio. Aquilo não pareia algo tão justo a julgar pelo sorriso sínico que Daniel lhe dirigiu ao ver o jovem psiquiatra ali, e acabou por lhe dizer:
- Estava demorando para o jovem cavalheiro vir defender a honra da donzela em perigo. – A veia na têmpora de Gilbert começou a pulsar, denunciando sua irritação, mas ele sabia que não podia perder a calma por ser médico daquela instituição, e não iria estragar sua reputação por conta de um babaca qualquer.
- Eu vim até aqui apenas lhe fazer uma pergunta.
- Pergunte o que quiser, Dr. Blythe. - A voz dele era cheia de desdém, e isso não passou despercebido a Gilbert, mas, ele preferiu ignorar, pois viera até ali para receber uma resposta e não sairia sem ela.
- Eu gostaria de saber por que você disse a Anne que ela é sua? - o rapaz primeiro o olhou surpreso, depois seus lábios se quebraram em uma gargalhada medonha, enquanto ele dizia:
- Isso é sério? O doutor veio aqui tirar satisfações comigo sobre a namoradinha? - Gilbert fechou as mãos, que logo se transformaram em punhos que ele teve que controlar para não acabarem no rosto daquele homem debochado.
- Eu te fiz uma pergunta, e quero uma resposta. - Daniel parou de sorrir, olhou para Gilbert de um jeito feroz e respondeu:
- Anne é minha. Dr. Blythe. Ela sempre foi minha, e vai continuar sendo enquanto viver.
- Como pode dizer um absurdo desses se a conheceu outro dia? - Gilbert não pôde deixar de dizer cheio de indignação.
- Para um homem da ciência, o senhor não é nem um pouco esperto. Sabe matemática, Dr. Blythe? Eu suponho que sim, já que é um médico renomado. É só somar dois e dois, e vai encontrar a resposta para sua pergunta. - Gilbert sentiu um calafrio em suas costas ao ver a maneira como Daniel o encarava. A sua frente estava um homem não só egocêntrico ou obsessivo, como Charlie o havia descrito, mas também obstinado, manipulador, dissimulado, um sociopata da pior espécie. De repente, ele sentiu que precisava ir para casa, ver Anne, abraçá-la e protegê-la com sua vida se possível fosse, pois algo lhe dizia para não sair mais de perto dela. Porém, antes de sair dali e dar as costas para Daniel Darson, ele disse com toda autoridade que foi capaz:
- Fique longe de Anne, pois não vou admitir que a magoe ou a machuque. Você não me assusta com suas ameaças. Pensa que é forte, mas não passa de um covarde. Não me subestime ou me desafie, Daniel, pois não sabe com quem está falando. Eu posso ser um médico dessa clínica, mas, fora dela eu sou homem o bastante para acabar com sua pose de valentão, e eu juro que você não vai querer conhecer esse meu lado. Por isso, pese suas palavras e atitudes. - E sem suportar mais ficar ali, Gilbert foi para seu carro, e dirigiu o mais rápido que pôde até chegar em seu apartamento.
Irina o aguardava na sala quando ele entrou, e assim que seus olhos pousaram nela, ele perguntou:-
Onde está Anne?
- Ela está no quarto dormindo.
- Como ela passou o dia? - ele perguntou louco para vê-la.
- Passou bem apesar de ter se alimentado muito pouco. Eu pensei em distrai-la, por isso ficamos a tarde toda vendo uma comédia na TV. Depois disso, ela disse que queria tomar um banho e dormir, pois se sentia muito sonolenta.
- Você ministrou a medicação que eu pedi?
- Sim. Talvez isso explique o sono repentino dela.
- A febre dela passou? - essa era a maior preocupação de Gilbert, pois febres altas podiam causar convulsões sérias.
- Baixou, mas não passou totalmente. - Irina disse pegando sua bolsa, pois já estava na hora de ir.
- Obrigado, Irina, por tudo. - Gilbert disse acompanhando a enfermeira até a porta.
- Não foi nada, Gilbert. Fiquei feliz de cuidar da nossa menina. Amanhã eu volto.
- Vou te esperar então. - Ele respondeu, e assim Irina se despediu e foi para casa.
Gilbert se dirigiu ao quarto dele no instante seguinte, e entrou devagarinho para não assustar Anne. A luz que entrava pelas frestas da janela, iluminava de leve o quarto, possibilitando que o jovem psiquiatra visse a silhueta de Anne esparramada pela cama. Ela estava deitada de lado, com seus cabelos cobrindo quase todo o seu rosto.
Assim, ele se aproximou devagar da cama, se inclinou sobre o corpo de Anne e deu-lhe um beijo casto nos lábios, que a fez sortir durante o sono, e abrir os olhos devagarinho para encará-lo.
- Você chegou.- ela disse estendendo a mão, e tocando o rosto de Gilbert próximo ao seu.
- Sim. Como se sente?
- Acho que estou melhor. Minha cabeça não dói tanto quanto antes. - Gilbert levou a mão até a testa dela, verificando-lhe a temperatura.
- Você está febril, creio que o remédio fez um ótimo efeito sobre sua febre.
- Que bom. Como foi o seu dia?
- Bom. - Ele respondeu de forma neutra, porque não queria que Anne soubesse de seu nervosismo. Porém, como se tivesse um sexto sentido em relação a ele, ela disse:
- Você parece triste. É por minha causa? - ela perguntou preocupada.
- Não, meu amor. São preocupações do trabalho. Você só me dá alegria. - Ele disse beijando-a nos lábios novamente.
- Quer falar sobre isso? Eu sou uma boa ouvinte. - Gilbert sorriu, tocando-lhe os cabelos.
- Não vamos falar de coisas tristes. Quero apenas ficar em paz aqui no apartamento com você. - Ela balançou a cabeça concordando.
- Se é o que quer. - Anne disse ainda sonolenta e se ajeitando no travesseiro.
- Sim, é o que quero. Vou tomar banho e depois podemos pensar no jantar- Gilbert disse brincando com os dedos dela.
- Irina já deixou comida pronta no microondas. - Ela contou e Gilbert respondeu:
- Ela é mesmo um anjo. Preciso me lembrar de agradecê-la amanhã. - Gilbert disse, e depois acrescentou:- Espere por mim que eu já volto.
Pouco tempo depois, o rapaz retornava ao quarto, com os cabelos molhados e um par de shorts curtos que deixavam boa parte das coxas masculinas a mostra. O que fez Anne deslizar o olhar do peito dele nu até seu abdômen liso e trincado, fazendo-a suspirar e pensar que estava tendo a visão do paraíso. Quando seus olhos foram parar no rosto de Gilbert, ela percebeu que ele tinha notado sua maneira de encarar o corpo dele, e seu rosto ficou todo corado de vergonha. O rapaz não disse nada, apenas sorriu como se soubesse exatamente no que ela tinha pensado.
- Vamos jantar?- ele convidou, e Anne concordou aliviada por ele não fazer nenhuma piada sobre o seu olhar faminto sobre ele, o que a deixaria mais constrangida do que já estava.
Eles foram juntos para a cozinha, e Gilbert serviu a ambos da lasanha que Irina havia preparado, e como Anne estava sem fome, ela apenas brincou com a comida sem de fato provar uma pequena quantidade sequer.
- Não vai comer, Anne? - Gilbert perguntou preocupado.
- Não consigo. Meu estômago está enjoado.
- Vem cá. - Ele a chamou para se sentar em seu colo, e ela obedeceu sem precisar que ele repetisse o convite
- Eu vou te ajudar a comer. - Gilbert disse, pegando o garfo, e levando uma pequena porção da comida na boca dela, repetindo várias e várias vezes aquele gesto, até que o prato dela estivesse vazio.
- Está vendo, não foi tão difícil assim.
- Não, não foi. - Anne respondeu, admirando aquele rosto másculo tão perto que ela poderia facilmente se perder naquela contemplação indefinidamente.
- O que quer fazer agora? - Gilbert perguntou também sem deixar de admirá-la.
- Acho que podemos ir para a sala e ouvir música juntos. Estou muito apaixonada por sua coleção de CDs. - Anne sugeriu e Gilbert aceitou no mesmo instante, pois adorava aqueles momentos com ela.
Em poucos minutos estavam no sofá, enquanto Adele declarava todo o seu amor por alguém no aparelho de som.
Ela e Gilbert estavam sentados lado a lado no sofá, enquanto a ruivinha deixava sua cabeça descansar no ombro se Gilbert, e o rapaz mantinha suas mãos na cintura dela.
- Anne, eu estava pensando em uma coisa - Ele disse tentando encontrar uma maneira de fazer o convite a ela sem deixá-la assustada demais.
- O que foi? - ela perguntou sem de fato olhá-lo.
- Bom, você tem intenção de voltar para a clínica. - Ela pareceu desconfortável quando ele disse isso, mas logo pareceu voltar ao normal e respondeu:
- Não sei, por que? – Gilbert umedeceu os labios antes de dizer:
- Já que você não tem para onde ir no momento, por que não vem morar aqui? - ela levantou o olhar para ele surpresa e perguntou:
- Você quer que eu venha morar com você?
- Sim, pode ser algo temporário até que você encontre um canto seu, ou pode ser permanente se você o desejar.
Anne encarou Gilbert com intensidade, e pelo brilho do olhar que ele lhe lançou, ela percebeu que ele falava sério.
- Não acha um pouco precoce esse pedido? Quer dizer, nós começamos a namorar agora. - Ele a puxou para seu colo e respondeu:
- Eu sei, mas, não vejo motivos para você ir para outro lugar. Aqui tem muito espaço para nós dois, você pode até trabalhar em seus quadros, pois a vista do apartamento é ótima, e a luz que vem de fora é muito boa também.- Só depois de fazer o convite foi que Gilbert percebeu que queria muito que Anne aceitasse, pois ele a queria o mais perto possível dele, não só por conta de sua preocupação em relação a Daniel, mas porque a presença dela ali dava um sabor diferente a sua rotina, e ele não queria que aquilo mudasse nunca.
- Posso pensar no assunto? - Ela perguntou, passando os braços em volta do pescoço dele.
- Claro, leve o tempo que precisar. - Ele respondeu beijando- a na testa.
Anne aproveitou aquele momento para observar Gilbert melhor. Ela nunca se cansava daquele olhar quente dele sobre ela, ou daquelas mãos fortes que a acariciavam em todos os momentos possíveis. O toque dele era o único que a fazia se sentir ardendo por dentro, e naquele momento ela desejava muito conseguir deixar que ele lesse seus pensamentos para que ele pudesse compreender o quanto ele podia afetá-la apenas com um simples roçar de lábios em sua testa.
- O que foi? - ele perguntou ao sentir o olhar intenso dela sobre ele.
- Você é tão bonito. - Anne respondeu sem conseguir se conter. Vendo o sorriso dele se alargar com sua confissão, ela sentiu um desejo quase insano de sentir aqueles lábios vermelhos e convidativos sobre os seus. Ela simplesmente não esperou nenhum movimento dele, e juntou seus lábios em um beijo calmo, que logo começou a esquentar, pois Gilbert aprofundou o beijo, fazendo com que seus lábios provassem dos de Anne de maneira cada vez mais intensa. Quando o ar acabou, os sentidos de Anne se recusaram a parar, pois aquele aroma pós banho que vinha de Gilbert a estava deixando louca, era como se invadisse cada poro de se corpo, deixando-a totalmente consciente de todos os músculos dele se apertando contra os seus .
Assim, seus lábios quiseram provar mais daquela pele que pegava fogo como a sua, e então, ela deslizou a ponta da língua por toda a extensão do pescoço de Gilbert, ouvindo-o gemer baixinho e apertar o quadril dela contra o seu. As mãos dela arranharam as costas musculosas, enquanto a boca de Gilbert dava especial atenção ao ombro nu de Anne, que a camisola simples de alcinha que ela usava deixava sedutoramente exposta, indo em direção aos seios, que ele tocou com suavidade conforme deslizava a camisola dela para baixo. Anne sentiu sua pele ganhar vida, quando sentiu a língua de Gilbert circular toda a região de seus seios, e deste modo, as mãos dela desceram pelos braços dele, depois pelo abdômen até chegar ao zíper do shorts de Gilbert , o qual ela forçou para baixo na intenção de abri-lo de vez, mas o rapaz a impediu, segurando em seu pulso .
Ela o encarou com seus olhos azuis em chamas, sem entender porque ele interrompera algo que ambos pareciam desejar muito.
- Baby, não me olhe assim. Só Deus sabe o quanto eu quero isso, mas você precisa se recuperar, e eu não quero fazer amor com você fragilizada como está. Não seria certo da minha parte me aproveitar de sua fraqueza para ter o que mais desejo. - Anne encostou sua cabeça na testa dele e respondeu:
- Está tudo bem. Eu devia estar feliz por você ser um homem tão decente, mas confesso que me sinto frustrada por não continuarmos.
- Não mais do que eu. Pode acreditar. - Ele disse, e Anne percebeu que para ele também estava sendo dura aquela interrupção. - Prometo que nossa segunda vez será mais especial ainda que a primeira. - Ele completou.
Anne deu um sorriso singelo e então o beijou, e dessa vez foi em agradecimento pela preocupação de Gilbert em sempre levar o bem-estar dela acima de qualquer interesse dele.
Depois desse momento, Anne apenas ficou deitada nos braços de Gilbert trocando carinhos e beijos calmos , e passaram assim o resto da noite em companhia de boa música, da chuva fininha que continuava-a cair lá fora, e principalmente do sentimento em seus corações que fazia daquele momento algo tão especial, dando a certeza ao jovem casal que outros melhores ainda estavam por vir.
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