Capítulo 27- Tesouro verdadeiro
Olá, pessoal. Desculpem-me a demora em atualizar . Meu trabalho está muito corrido, mas, fiz o possível para deixar o capítulo gostoso de ser lido . Espero que me deixem seus comentários. Vou corrigir depois. Beijos
ANNE
O cheiro de café fresco tirou Anne do mundo doce dos sonhos, e a fez abrir os olhos com um sorriso naquela manhã de segunda-feira na qual viajariam da fazenda de volta a clínica.
Um par de olhos castanhos observava seu rosto assim que acordou, e um calor bom inundou seu peito ao ver quanto amor havia ali. Ela se sentia em casa ao olhar para Gilbert e notar quanta intimidade já tinham criado juntos naqueles dois dias em que passaram ali na fazenda, e era bem mais do que já tivera com qualquer pessoa, e isso a deixava tão feliz por amar alguém que lhe dava aquela sensação de segurança e tranquilidade. Como diria Matthew, ela acertara na loteria no momento em que seus olhos azuis cruzaram com o lindo Dr. Blythe naquela clínica, e Anne tinha que admitir que seu namorado era um espetáculo de homem, mesmo com os olhos um pouco sonolentos, e seus cachinhos todos desfeitos pelas horas que passara deitado naquela cama. Ele a beijou nos lábios e perguntou:
- Bom dia. Dormiu bem?
- Sim, maravilhosamente bem. Que horas são?- ela perguntou bocejando.
- Sete horas. Desculpe te acordar tão cedo, mas temos que pegar a estrada em uma hora, pois quero chegar em Avonlea antes do almoço. Tenho que trabalhar na parte da tarde.
- Tudo bem. - ela disse se sentando na cama. Seu olhar caiu sobre a bandeja de café da manhã onde havia um lírio adornando-a, e Anne passou os dedos delicadamente sobre as pétalas, enquanto ouvia Gilbert dizer:
- Eu trouxe o café da manhã, porque pensei que pudéssemos tomá-lo aqui juntos.- ele acariciou uma mecha do seus cabelos, e Anne disse:
- Eu adorei a ideia.- de repente uma coisa lhe ocorreu, e ela perguntou:- Seu pai já está acordado?
- Sim.- Gilbert respondeu, olhando-a com curiosidade.
- Isso quer dizer que ele te viu preparando essa bandeja de café da manhã.
- Sim, mas não vejo qual é o problema.
- Ele sabe que dormi aqui. Meu Deus, que vergonha!- ela escondeu o rosto nas mãos e Gilbert a abraçou dizendo.
- Baby, Não tem problema nenhum em meu pai saber que dormimos juntos. Eu sou um homem feito, e é natural para ele que eu leve minha namorada para casa para passar a noite comigo. Não precisa ficar com vergonha.- Anne assentiu, e depois fez outra pergunta que estava incomodando sua mente:
- Você já dormiu com outra garota nessa cama?
- Não. Essa é a primeira vez que durmo com alguém aqui.- ele respondeu fazendo Anne se sentir especial ao ouvi-lo dizer isso.
- E a sua esposa? - ela perguntou de supetão, notando as feições de Gilbert mudarem de alegre para algo mais sério
- Não. Ruby não gostava da fazenda, por isso, as poucas vezes em que viemos aqui, ela me fez ficar na casa de veraneio que seus pais compraram aqui perto.- Anne percebeu a mágoa na voz de Gilbert ao tocar naquele assunto, e por isso, deixou as perguntas de lado e disse:
- Bem, então acho melhor comermos, pois teremos que nos preparar para a viagem.- Gilbert concordou com um sorriso, e a beijou nos lábios antes de se sentar ao lado dela e começarem a se servir.
Tudo no café da manhã estava delicioso, e Anne se viu comendo mais do que estava acostumada. Ela não sabia se isso se devia a boa qualidade da comida, ou se a companhia do homem a seu lado que a fazia se sentir tão bem consigo mesma que tudo o que desejava era aproveitar cada segundo ao lado dele de maneira completamente intensa .
Eles terminaram o café, e Anne foi para seu quarto se trocar e arrumar sua bagagem, pois logo estariam indo para casa, e ela não queria que Gilbert se atrasasse por sua causa. Antes de partir, ela ficou na janela se despedindo daquele lugar tão lindo que em poucos dias ganhara seu coração, e se perguntou como Ruby podia não ter se apaixonado por toda aquela beleza rural, e não desejado passar mais tempo ali com o homem que supostamente amava?. Ela sabia que não cabia a ela julgar o tipo de amor que esposa de Gilbert sentira por ele, mas, Anne acreditava que amar alguém também era compartilhar, e pelo que Gilbert lhe contara, não houvera muito disso naquele casamento complicado.
- Se despedindo? - Gilbert perguntou, abraçando-a por trás. - Sim. Esse lugar é tão maravilhoso que me sinto triste por deixá-lo.- ela respondeu olhando-o pelo ombro.
- Vamos voltar outras vezes. Eu prometo.- Gilbert disse beijando seus cabelos.
- Será que quando voltássemos, você me levaria para cavalgar? Sinto falta disso de quando eu morava em Green Gables. Não sou uma amazona perfeita-, mas acho que dou conta de andar por aí com você.- o sorriso de Gilbert aumentou de tamanho ao ouvir aquilo, e ele respondeu:
- Eu faço tudo o que você quiser, princesa.- ele beijou-a no rosto e Anne perguntou:
- Gilbert, por que você me chama de princesa?.- ele a fez se virar de frente, e a prendeu em seus braços antes de responder:
- Porque você é minha princesa.
- Eu sequer me pareço com uma para honrar esse apelido que você me deu.- Anne disse rindo, apreciando a proximidade entre os dois naquele momento. Ela amava ficar nos braços de Gilbert, porque assim ela conseguia sentir o calor que vinha dele, e o aroma daquela pele que deixava seus sentidos completamente alvoroçados.
- É aí que se engana, baby. Você é uma princesa completa. Olha para essa pele macia, esse cabelo brilhante, essas mãos delicadas. Eu nunca vi nada tão perfeito assim.- Gilbert disse, beijando-lhe a palma das mãos, e depois acariciou a pele de seus braços com carinho.
- Quando você me diz todas essas coisas, eu quase acredito que é verdade.- a ruivinha disse, tocando o rosto de Gilbert suavemente.
- Mas, tudo o que te digo é verdade. Você é muito especial, Anne. E sequer faz ideia do que representa na minha vida. Eu sei que ainda estamos no começo do nosso relacionamento, mas, eu juro, que vou te provar todos os dias o quanto eu te amo.- ele pegou a mão de Anne novamente entre as suas, e beijou cada dedo com devoção. Anne sorriu com aquela demonstração tão sincera de carinho, e sentiu seu coração completamente entregue ao jovem rapaz que acabara de confessar-lhe novamente o seu amor.
- Você não precisa me provar nada, Gilbert. Eu vejo nos seus olhos como você se sente, e não tenho nenhuma dúvida do seu amor assim como tenho certeza do meu por você. Eu quero que saiba que o que você fez, e continua fazendo por mim não tem preço, e espero poder retribuir da mesma maneira algum dia.
- Basta que fique a meu lado, Anne. Isso é tudo o que te peço. Você se tornou tão importante para mim, que a única coisa de que preciso é de sua presença sempre por perto.
- E você a terá.- ela o abraçou, e beijou-o do jeito que queria, pois dessa vez ela deixou a timidez de lado, e se expressou da maneira como mais sabia fazer, com o seu coração. Com muita relutância, Gilbert abandonou os lábios dela para dizer;
- Baby, eu adoraria ficar mais tempo aqui com você, mas precisamos ir, pois tenho que trabalhar depois do almoço. Da próxima vez que te trouxer aqui ficaremos mais tempo, e aí você terá a oportunidade de aproveitar melhor a fazenda como deseja.
- Está bem, se quiser ir, eu estou pronta.
Eles desceram as escadas de mãos dadas, e encontraram Irina e John no hall de entrada, esperando por eles.
- Como estão os dois pombinhos?- Irina disse sorridente, não escondendo seu prazer de ver Gilbert e Anne juntos. Ela acompanhara a história os dois de perto, e não podia deixar de sentir orgulhosa de sua garotinha valente que estava se redescobrindo como mulher, e também não podia deixar de admirar Gilbert pela sua forma de cuidar de Anne e fazê-la superar suas inseguranças aos poucos.
- Estamos bem, e prontos para irmos para casa.- Anne disse beijando Irina no rosto.
- Você parece tão leve, minha querida.- a boa senhora comentou ao ver o rosto de Anne completamente relaxado.
- Eu me sinto leve, Irina. Acho que estar apaixonada me abriu uma porta para enxergar coisas que antes eu não conseguia ver.- ela disse enquanto Gilbert e o pai estavam mais a frente conversando, e ela e Irina ficaram um pouco para trás a fim de que pudessem conversar mais à vontade.
- Como foi sua segunda noite com Gilbert?- Irina perguntou, mantendo o tom de voz baixo para que apenas Anne pudesse ouvi-la.
- Nós apenas dormimos juntos, pois eu não consegui relaxar como na outra noite. Gilbert foi maravilhoso, e me fez entender que ainda não superei meu trauma completamente, mas, estou a caminho de consegui-lo, só tenho que ter paciência.
- Ele te ama, minha querida, e é isso que o amor significa, respeito e cumplicidade. Você está com o homem certo.- Irina disse apertando o braço de Anne com carinho.
- Eu também acho.- a ruivinha respondeu suspirando, ao ver o sol brilhar no rosto de Gilbert, dando a ela uma visão incrível do castanho dos olhos dele que quase se tornaram dourados com toda aquela luz.
- Acho que podemos ir agora. Nos encontramos em Avonlea.- John disse abraçando Anne e o filho.
- Combinado, papai.- Gilbert respondeu, sorrindo para o homem mais velho.
- E você, mocinha, cuide bem do meu filho, e saiba que espero que seja minha nora em breve.
- Papai!- Gilbert disse, olhando para o pai com incredulidade enquanto Anne sentia seu rosto ferver de embaraço.- Não se preocupe, meu bem, papai está só brincando.- Gilbert disse ao perceber o quanto Anne havia ficado sem graça.
- Fique tranquila, minha criança.- John disse, beijou Anne no rosto e depois entrou no próprio carro com Irina.
Logo que Anne se acomodou ao lado de Gilbert no banco do carona, Anne pensou nas palavras de John. Casar com Gilbert seria um sonho, mas, era algo que ela não ousava pensar ainda, pois não sabia se o namorado estaria preparado para algo assim no futuro. Ele já havia passado por essa experiência, e por tudo o que soubera, não acabara muito bem, e talvez ele não quisesse passar por tudo aquilo outra vez. No entanto, ela ficara curiosa em saber o que ele pensava, porque talvez pudesse ter esperanças de que pudessem viver algo assim um dia. Ela nunca havia pensado em casamento antes, porém, se fosse com Gilbert ela aceitaria sem hesitar.
- Gilbert, posso te fazer uma pergunta?
- Claro, princesa. Sabe que pode me perguntar o que quiser.- Anne se encheu de coragem, pois aquilo não era algo simples de perguntar. Ela tinha receio de Gilbert ficar chateado com ela, porém, também sabia que se não o fizesse ficaria com isso na cabeça, então, por fim disse:
- Você pensa em voltar a se casar um dia?
- Por que? Está querendo se candidatar para a vaga de esposa?- ele perguntou cheio de humor, fazendo-a arregalar os olhos e responder:
- Não, é só uma curiosidade boba. Não precisa responder se não quiser.
- Eu estava brincando, Anne. – ele fez uma pausa, como se estivesse pensando no que dizer e então, falou:- Se você me fizesse essa pergunta a um ano atrás, eu diria que jamais me casaria novamente, mas, depois que conheci uma certa ruivinha linda, confesso que essa ideia tem me passado pela cabeça.- Anne o olhou surpresa, sentindo que o ar lhe faltava. Ele estava mesmo dizendo o que ela pensara ter ouvido?
- Você quer dizer que...- ela não conseguiu terminar porque o olhar que Gilbert lhe lançou a fez engolir em seco e perder totalmente o compasso do que ia perguntar, mas, ele não deixou a pergunta no ar e assim ele respondeu antes mesmo de Anne formulá-la completamente:
- Sim, Anne, eu me casaria com você. Resta-me apenas saber se você aceitaria um pedido meu.- Seus olhos mergulharam nos dele enquanto ela pensava em como seria ser esposa de Gilbert, e de repente ela se deu conta de que isso seria tudo o que ela poderia desejar. Nunca amara ninguém como o amava, e pensar que poderia acordar todos os dias com aquele sorriso, sabendo que ele seria seu marido era o auge da felicidade que poderia alcançar. Por isso, ela não teve dúvidas em responder:
- Se um dia eu tivesse a honra de ouvir um pedido de casamento seu, saiba que eu aceitaria sem nenhum questionamento.- Gilbert deu-lhe um sorriso brilhante, levou as mãos dela aos lábios e depositou em sua palma um beijo carinhoso que fez Anne estremecer por sua suavidade.
- Talvez devamos voltar nesse assunto daqui a algum tempo.- ele sugeriu sem tirar os olhos da estrada.
- Quando quiser, meu amor.- Anne respondeu, deitando sua cabeça no ombro de Gilbert, e isso foi tudo o que falaram até entrarem nos arredores de Avonlea, e a conversa migrar para outros assuntos.
GILBERT
Após deixar Anne em seu dormitório na clínica, Gilbert voltou para casa. Aquele fim de semana tinha sido melhor do que ele esperara, e cada momento que experienciara naqueles dois dias era revivido em sua mente várias e várias vezes. Anne fora incrível em todos os sentidos, como companheira de viagem, namorada, e amante. Ela lhe dera tantos motivos para se emocionar e sorrir nos dois dias em que praticamente se tornaram inseparáveis. Ele não sabia o que era estar apaixonado de verdade até realmente se sentir assim, o que o fazia questionar se o que sentira por Ruby não fora apenas uma paixão intensa, uma fascinação cega, uma atração passageira?
Enquanto desfazia suas bagagens, Gilbert tentava se lembrar de como foram as primeiras vezes em que ele e Ruby ficaram juntos, depois o namoro curto que os levou a um casamento mais rápido ainda por conta de seus estudos em outro país, e não conseguia se recordar de nenhum momento no qual se sentira com Ruby da mesma maneira que se sentia com Anne. Ele não podia negar que tivera bons momentos ao lado da esposa, mas, somente agora ele conseguia ver que a imaturidade de ambos os levara um relacionamento relâmpago, e uma casamento sem uma estrutura sólida. Talvez se tivessem esperado mais, poderiam ter percebido que uma vida a dois exigiria deles muito mais do que sua compatibilidade sexual., e muitos erros que foram cometidos poderiam ter sido evitados ou até mesmo os conduzido a um rompimento amigável sem danos emocionais para nenhum dos dois.
No começo fora bom. Ele se sentia atraído por Ruby, e ela se mostrava doce e apaixonada, mas, com o passar do tempo, Gilbert fingira não enxergar que estavam ambos infelizes e presos a um casamento que não deveria ter acontecido. Mesmo assim, ele tentara fazê-lo funcionar, porém, nem com todos os seus esforços, o rapaz conseguira deixar sua jovem esposa feliz, cujo passatempo preferido fora jogar-lhe na cara que aquela não era a vida que tinha imaginado para os dois. Ela tinha conforto, tudo de bom que pudesse almejar para si, mas, não tinha o marido com o qual sonhara a seu lado, pois Gilbert vivia trancado em seu consultório, trabalhando mais horas do que deveria, enquanto ela ficava relegada a um apartamento luxuoso, rodeada de empregados e cheia de um tédio profundo.
Talvez fora contra esse tipo de comportamento que o pai de Gilbert quisesse avisá-lo, pois Ruby nunca seria feliz se não fosse o centro das atenções. Em sua cabeça fútil, ela imaginava que o mundo deveria girar em torno de si e só se sentiria satisfeita em um casamento onde pudesse reinar absoluta. Gilbert não podia dizer que ela fora única culpada de todos os seus planos com ela terem naufragados, porque ele também agira equivocadamente, quando preferira ficar no trabalho a ter que lidar com os ataques de uma esposa mimada, que agia como se todos devessem fazer suas vontades no momento exato em que ela as exigia. Eles poderiam ter conversado e encontrado uma solução melhor para todos os seus problemas conjugais, mas, o orgulho de um e a teimosia de outro os mantivera totalmente submersos em sus amarguras, levando-os a um desfecho trágico onde não puderam mais voltar atrás. Por isso, toda a culpa que Gilbert sentia dentro de si não era apenas por Ruby ter desenvolvido uma doença fatal, a qual ele não percebera a tempo, pois estava mais preocupado em lidar com a própria raiva e frustração, mas também porque não a deixara livre para viver os últimos dias de sua vida de maneira mais feliz e como desejava..
Ele se deitou no sofá, pensou em Anne e foi como se uma luz irradiasse dentro dele toda a sua energia. Ela era o bálsamo contra todas as suas dores, o afastava dos caminhos tortuosos pelos quais estava caminhando antes, e o fazia enxergar por entre todos os espinhos uma estrada florida e cheia de paz. Ele jamais pensara que ganharia um anjo de presente em sua vida, depois de ter se afundado no inferno de suas próprias derrotas. Anne era a única razão de ele se sentir inteiro novamente.
O relógio marcando meio dia, fez Gilbert acordoar de seus devaneios e se dirigir para o chuveiro, onde ele tomou um banho rápido. Não estava com muita fome, por isso, apenas preparou um sanduiche natural que devorou em cinco minutos em companhia de um bom copo de suco de uva. Em seguida, ele escovou os dentes, e se vestiu para o trabalho, ansioso para chegar à clínica e dar uma espiada em sua ruivinha que àquela hora deveria estar envolvida em algumas de suas atividades diárias.
Após enfrentar um trânsito mínimo, o jovem doutor não demorou a chegar em seu trabalho cuja agenda estava apertada naquela tarde, mas, antes de começar seu expediente, ele foi direto para o consultório de Charlie Benson com quem se encontrava uma vez por semana para saber sobre os progressos de Anne. Assim, quando bateu na porta do consultório de Charlie, o amigo veio atendê-lo e sorriu ao ver Gilbert bem disposto e sem nenhum traço de amargura refletida em seus olhos como antigamente.
- Boa tarde, Gilbert. Vejo que está bem disposto hoje.- Charlie disse com simpatia.
- Sim, sinto-me muito bem hoje.- o rapaz respondeu sentando-se de frente com o amigo em uma poltrona de couro que Charlie usava com seus pacientes em suas sessões.
- Parece que estou vendo o antigo Gilbert de volta.
- Acho que ele sempre esteve aqui, só andava meio escondido.- Gilbert admitiu para o amigo.
- Creio que veio falar sobre Anne.
- Sim, queria saber o que tem achado do comportamento e dos progressos dela.- Charlie cruzou as pernas, e pensou um pouco nas palavras de Gilbert, assumindo sua postura costumeira de analista que Gilbert aprendeu a respeitar.
- Ela tem evoluído a uma velocidade incrível. Devo confessar que você fez um excelente trabalho com ela ao incentivá-la a trazer seus traumas para fora. Na maioria dos casos, um paciente que sofreu tudo o que Anne sofreu demora anos para conseguir se equilibrar, mas, ela tem alcançado resultados incríveis.
- É por isso que tenho tanto orgulho dela. O abuso que ela sofreu poderia ter destruído sua vida inteira , no entanto, ela escolheu se levantar a ficar caída no chão, e isso é prova para mim mais do que suficiente do quanto ela é forte.
- Você deveria se orgulhar de si mesmo também, pois o poder do amor faz milagres, e isso é tudo o que eu tenho visto dar a ela desde que começaram a namorar. – Gilbert o olhou um tanto surpreso pelo que o amigo acabara de dizer e perguntou:
- Acha mesmo que eu tenho feito tão bem a ela dessa maneira?
- Não só você tem feito bem a ela, como ela tem feito bem a você também. Eu os vi juntos na sua festa, eu posso dizer com certeza de que nuca vi duas pessoas tão certas uma para outra.
- Isso realmente me deixa feliz. Sua opinião conta muito para mim. Eu tenho tentado ser compreensivo com Anne com todos os seus problemas e traumas, mas, às vezes tenho medo de magoá-la, ou dizer ou fazer alguma coisa que desencadeie uma crise pior do que as que ela já teve. Eu não quero errar com ela, Charlie, porque não posso perdê-la de forma nenhuma. - esse era um dos piores medos de Gilbert. Ele sabia da enorme responsabilidade que tinha em relação aquele relacionamento. Anne precisava dele tanto quanto ele precisava dela, e por mais que tentasse fazer tudo certo, ele temia cometer erros que colocassem tudo o que conseguira com ela em risco, e agora que ele a tinha em seus braços e sabia como era amá-la sem barreiras, ele não queria de forma nenhuma que isso fosse negligenciado ou perdido por conta de alguma impetuosidade sua.
- Amar alguém é assumir riscos, Gilbert. Principalmente em uma relação como a sua. Diga-me como está o relacionamento íntimo de vocês? - Gilbert sabia que aquela era uma pergunta importante, pois tal assunto por mais delicado que fosse deveria ser tratado na terapia. Era por isso que confiava em Charlie, pois se tinha alguém que poderia conduzir tal questão de maneira profissional sem deixar Anne constrangida, essa pessoa era ele.
- Passamos a noite juntos em meu aniversário, e posso dizer que foi incrível. Anne pareceu ultrapassar a barreira de seus medos, e não se mostrou relutante ou temerosa como pensei que aconteceria em nossa primeira vez, mas, ela não se sentiu da mesma maneira na noite seguinte, no entanto, creio que ela deu um passo importante para sua recuperação.
- Isso é compreensível. Nós dois sabemos que traumas levam tempo para serem superados, mas, se ela tem conseguido aos poucos se deixar sentir e viver esses momentos entre vocês, é sinal de que chegará o dia em que ela estará finalmente livre de todos os seus medos a respeito de um relacionamento mais íntimo. - Charlie disse com um sorriso encorajador que fez Gilbert responder:
- Eu também espero que ela se descubra como mulher, e que possa conseguir da vida tudo o que merece, pois me dói muito ver que uma garota tão incrível não tenha sido tratada com justiça ou amor. Anne já sofreu demais, e fico feliz de fazer parte desse processo transformador.- Gilbert disse sendo sincero em cada palavra.
- Você realmente a ama, não é?- Charlie constatou sem nenhuma surpresa para Gilbert, já que ele não escondia mais aquilo de ninguém.
- Sim. Não pensei que encontraria o amor novamente, mas, aqui estou completamente apaixonado por Anne. - Gilbert admitiu sem qualquer tipo de constrangimento.
- Pois então aproveite meu amigo, pois isso é raro demais hoje em dia, e por todas as coisas que ouvi Anne falar a seu respeito em nossos encontros semanais, ela também te ama muito.- O sorriso de Gilbert naquele instante foi imenso, pois saber que Anne era capaz de deixar que outras pessoas percebessem seus sentimentos por ele, lhe dava a certeza absoluta de que o que estavam vivendo era real e verdadeiro.
Ele saiu do consultório de Charlie naquela tarde, sentindo-se ainda mais empenhado e fazer seu relacionamento com Anne dar certo. Ele poderia não ter muita certeza do que desejara no passado, mas no presente ele não tinha dúvidas de que queria sua princesa em sua vida para sempre.
Gilbert realmente falara sério sobre a questão do casamento sobre a qual Anne indagara na volta para Avonlea. Depois de seu casamento fracassado com Ruby, ele pensara que nunca mais se deixaria levar por tal desejo, mas, com Anne, aquela chama se acendera novamente, e ele conseguia enxerga-la como sua esposa no futuro, e parecia que ela desejava a mesma coisa também.
Com os olhos brilhando e cheios de imagens de um futuro que não parecia tão distante assim, Gilbert foi em busca de Anne, pois já estava com saudades, e porque queria lhe fazer mais um convite que ele esperava ansiosamente que ela aceitasse.
ANNE E GILBERT
Anne estava na biblioteca naquele final de tarde, totalmente empolgada por um livro que acabara de iniciar a leitura, quando foi surpreendida com um beijo estalado em sua bochecha. Antes que se virasse para encarar o dono de tal façanha, ela já sabia que era seu namorado que acabara de chegar, e mesmo que estivesse vendada, ela saberia que era ele, pois reconheceria aquele perfume em qualquer lugar.
- Olá, namorada. Pensei que estaria no clube de livros a essa hora.
- Não. Eu queria ficar um pouco sozinha.- ela respondeu segurando-lhe a mão que ele estendia com carinho.
- Por que? Aconteceu alguma coisa?- Gilbert perguntou com seus olhos castanhos cheios de preocupação.
- Não, eu só gosto de ficar sozinha às vezes. Me ajuda a pensar. - ela respondeu com um pequeno sorriso que fez Gilbert estender sua outra mão e tocar-lhe o rosto delicado com quase adoração.
- E eu faço parte desses pensamentos? - Ele perguntou, tentando entender o que se passava na cabeça de sua namorada naquele quase anoitecer de mais um dia.
- Você sempre está em todos eles. - ela respondeu também tocando o rosto dele com suas mãozinhas delicadas que o faziam suspirar, e por sua maneira doce de encará-lo naquele momento.
- O que aconteceu, Anne? Você parecia tão feliz hoje de manhã? - Ele se preocupava com aquela expressão tristonha dela, porque nunca sabia se era o início de uma crise ou não.
- Eu estou feliz de verdade. Só sinto saudades de casa. Passar esse fim de semana em sua fazenda, me fez perceber a quanto tempo estou longe dos meus tios, da vida que eu tinha quando vivia com eles. Green Gables sempre foi meu refúgio particular, meu paraíso na terra.
- Você gostaria de voltar para casa então?- ele perguntou um tanto receoso pela resposta. Não queria ficar longe dela, mas se isso a fizesse feliz, eles dariam um jeito de se ver, nem que ele tivesse que viajar para lá todos os fins de semana. Nenhum sacrifício seria pesado demais para ele, se Gilbert pudesse ver aqueles olhos azuis brilhando de felicidade.
- Não. Você é o meu refúgio agora, e nada me levaria para longe de você.- ele sorriu, e sem se conter beijou-a nos lábios, contemplando aquele mundo de sardas que eram uma de suas paixões.
- Você também é meu refúgio, na verdade, eu diria que eu poderia encontrar minha única fonte de inspiração nesse seu sorriso. Qualquer dia ruim se torna bom se eu estou com você. - Anne encostou sua testa na dele, e de olhos fechados pensou em tantas coisas para dizer a Gilbert naquele momento, mas nenhuma conseguiria com sucesso falar da extensão do que sentia por ele. Ambos eram partes de um mesmo sentimento que juntos era maior do que tudo que um dia já haviam conhecido ou sentido.
Ela abriu os olhos e observou o rosto de Gilbert tão perto do seu. Nunca conhecera um homem tão bonito. E ela não dizia isso apenas pela beleza física perfeita e sem retoques, mas também por aquele espírito nobre e cheio de uma compaixão que Anne poucas vezes encontrara nas pessoas que cruzaram seu caminho. Gilbert Blythe era um ser humano raro, daqueles que não se encontrava em qualquer lugar, e que mesmo que ela navegasse por mil oceanos, e viajasse para continentes distantes e imensos, ela sempre voltaria onde seu coração fora conquistado pelo melhor homem do mundo.
- Sabe o que eu estava pensando?- Gilbert perguntou, se sentando ao lado de Anne e puxando-a para seu colo.
- Não faço ideia.- ela respondeu sentindo-se hipnotizada pelo olhar dele.
- Você sabe que não precisa mais ficar na clínica em tempo integral. Por que não aluga um apartamento aqui perto? Assim, você só viria para cá nos dias de suas consultas.- Anne balançou a cabeça em negativa, pois aquela ideia não lhe agradava nem um pouco.
- Não acho uma boa ideia.- ela reforçou sua recusa, e Gilbert não entendeu por que ela preferiria ficar presa a um lugar onde tantas misérias humanas eram expostas dia a dia ao invés de ter sua liberdade de volta.
- Por que não? Você poderia ter sua vida de volta, Anne. Não gostaria de voltar a pintar, ter um estúdio só seu, voltar a expor suas obras? Eu pensei que sua prioridade fosse recuperar tudo o que perdeu durante esses meses em que se escondeu do mundo.
- Talvez fosse antes, mas, não agora.- ela acariciou os cabelos castanhos de Gilbert e continuou:- Se eu fosse para um apartamento, teria que deixar de te ver todos os dias, e não é isso que eu quero de jeito nenhum.
- Baby, você não teria que deixar de me ver. Eu iria te visitar a cada fim de expediente meu.
- Eu não sei.- ela lançou lhe um olhar cheio de dúvida, e Gilbert acariciou-lhe a nuca ao dizer:
- Tudo o que eu quero é que volte a viver sua vida, meu amor. Você merece recomeçar.- Anne entendia o que Gilbert estava lhe dizendo, mas, não era dessa maneira que ela via as coisas. Ela queria uma vida nova, que não tivesse nada a ver com a antiga, porque tudo o que se lembrava dela só lhe trazia dor. Queria ser uma nova Anne, mais forte, dona de seu destino, e queria caminhar ao lado dele e de ninguém mais. Ela só não tinha coragem o suficiente para dizer a ele tudo isso, porque ainda não se sentia preparada para exteriorizar seus sentimentos dessa maneira. Anne ainda trazia consigo uma certa insegurança que parecia tão enraizada em seu interior que só o tempo diria se conseguiria a sua tão sonhada liberdade.
- Acho que não quero ter que pensar nisso ainda. Se me der mais tempo, talvez eu consiga mudar de ideia daqui a alguns meses- ela disse inquieta, e Gilbert percebendo-lhe a agitação, disse de forma apaziguadora para acalmá-la:
- Não estou te forçando a nada. Foi só uma ideia. Você não tem que fazer nada do que eu disse se achar que não se sente pronta a dar um passo tão grande assim. Só espero que você não fique chateada por eu ter tocado no assunto.
- Não, eu não estou chateada. Eu sei que quer o meu bem. Me sinto uma tola por não corresponder ao que você espera de mim.- ela disse aborrecida consigo mesma por ainda ter tantos temores que a impediam de chegar até onde desejava na vida e com Gilbert.
- Pare de pensar assim. Eu já te disse que você é tudo o que eu quero. Você é muito mais do que eu esperava encontrar na minha vida, não quero que se preocupe com mais nada, a não ser com o nosso amor.- ele a beijou nos lábios de forma que a deixou mais tranquila, e depois, com ela ainda em seu colo, ele fez o convite que o trouxera ali:- Eu quero saber se você gostaria de ir até o meu apartamento amanhã à noite? Acho que já está na hora de conhecer o meu cantinho particular.
- Eu irei, mas, com uma condição.- Anne disse com um sorriso ladino que fez Gilbert coçar a nuca antes de perguntar:
- Que condição é essa?- pela cara que Anne fez antes de responder, Gilbert logo imaginou que ela estava aprontando alguma, mas, sequer poderia imaginar o que ela tinha em mente quando respondeu:
- Eu só vou ao seu apartamento se você posar para mim.
- Você quer dizer que ainda está pensando em me retratar em um nu artístico?- Gilbert adorava o trabalho de Anne, e sabia da qualidade e valor das obras da namorada, mas, não conseguia se ver no papel de modelo passivo, e nem achava que tinha jeito para isso.
- Sim. Eu quero muito pintar um nu artístico seu. Não precisa se preocupar que não pretendo mostrá-lo a ninguém.- Anne disse beijando-o no queixo,
- Nem mesmo a Irina?- ele perguntou com humor.
- É claro que não, um nu artístico seu será somente meu tesouro particular e de mais ninguém. Acha que eu seria louca de partilhar esse homem espetacular com mais alguém?
- Que alivio. Fiquei só pensando na vergonha que eu sentiria de olhar para a cara dela depois.- Gilbert disse, trazendo Anne para mais perto.
- Você não precisa sentir vergonha de nada, porque o que tem debaixo dessas roupas, Dr. Blythe, é digno de um exposição de arte.- Gilbert gargalhou alto ao ouvir aquilo. Sua gatinha estava ficando ousada, e ele adorava essa faceta dela.
- Quer dizer que gosta do meu corpo?- ele perguntou brincando com a gola da blusa que ela usava.
- Não somente do corpo, mas, do conjunto inteiro.- ela disse traçando com os dedos os lábios dele.
- Pois eu também amo o seu corpo inteiro, além de todo o resto.- ele prendeu-a em um beijo quente, no qual Anne se derreteu toda, mas, logo recuperou o juízo assim que sentiu a mão dele adentrar sua blusa e acariciar a pele nua do seu abdômen. Ela fez menção de seu afastar, porém, Gilbert entendeu imediatamente sua tensão momentânea e disse baixinho:
- Eu sei, me desculpa.
- Não precisa pedir desculpas. Está tudo bem, meu amor.- ela garantiu com seus olhos ainda mais azuis procurando pelos dele.
- Então, você vai no meu apartamento?
- Irá posar para mim?- ela insistiu.
- Está bem. Se isso te faz feliz.- ele concordou suspirando.
- Então, minha resposta é sim.- ela respondeu se pendurando no pescoço dele.
- Passo para te pegar amanhã às sete. Assim a gente aproveita e janta juntos.- Gilbert sugeriu.
- Ótima ideia. Quem vai cozinhar?
- Eu pensei em pedir comida chinesa. O que acha?
- Eu gosto de comida chinesa.- Anne disse saindo do colo do namorado.
- Excelente. Preciso ir agora, baby. Prometi a meu pai que passaria na casa dele depois do trabalho.- Gilbert disse se levantando.
- Então vá. Fico feliz que você e seu pai se deem tão bem. John parece tão solitário naquela casa enorme.- Anne disse, caminhando até seu dormitório com Gilbert a seu lado.
- Eu também penso da mesma maneira. Você não sabe quantas vezes eu pedi a ele que vendesse aquela casa e fosse morar em um apartamento, mas, ele se recusa a se desfazer das lembranças de minha mãe.
- É compreensível. Eles se amaram tanto, e por isso talvez seja difícil para ele se desapegar assim.- Anne disse, parando no corredor assim que alcançaram o seu quarto.
- Eu sempre os admirei por isso. Meus pais tiveram o tipo de relacionamento que quero ter com você.- Anne sentiu seu coração querer pular do peito. Será que Gilbert tinha noção do que fazia com ela quando dizia essas coisas? – O que foi baby? Ficou calada de repente.- Gilbert disse reparando no semblante sério de Anne.
- Não é nada. Só estava tentando imaginar um amor tão grande assim que nem a morte consegue apagar.
- Quando duas pessoas são feitas para ficarem juntas é dessa maneira que deve ser.- Gilbert disse abraçando-a pelos ombros.
- Acho que tem razão.- Anne respondeu não querendo prolongar aquela conversa demais, porque tinha medo de desejar algo que talvez nunca realmente pudesse ter. Ela e Gilbert ainda estavam no início do relacionamento, e por mais que estivessem apaixonados, isso não era garantia de que ficariam juntos para sempre. Por isso, Anne preferia não ter esperanças demais para não sofrer mais tarde.
Ela tinha medo do que não podia prever , pois a vida lhe dera muito mais motivos para chorar do que sorrir. Gilbert era um homem maravilhoso, mas isso não era garantia de que ela não se magoaria dentro daquele relacionamento. Por isso, era melhor viver o agora do que ficar fazendo planos para um futuro se grandes bases de que daria tudo certo entre os dois.
Muito tempo depois de Gilbert ter ido embora, Anne ainda pensava no assunto, mas logo chegou a conclusão de que era melhor deixar tudo aquilo de lado por hora, pois não lhe faria nada bem ficar criando fantasias malucas na sua cabeça sobre uma relação que tinha tudo para dar certo, mas ainda estava tentando se firmar.
No horário marcado, Gilbert apareceu no dia seguinte para buscá-la, e como não o vira o dia todo, Anne estava morrendo de saudades, e trocaram vários beijos apaixonados antes de entrarem no carro de Gilbert e rumarem para o apartamento.
Anne estava curiosa para conhecer o lugar onde Gilbert passava suas horas quando não estava trabalhando. Quando ele abriu a porta, Anne ficou impressionada ao se deparar com um mundo completamente masculino e de muito bom gosto. Todo o apartamento tinha a natureza prática de seu proprietário, mas sem ser frio como se esperaria da residência de um médico. O apartamento era extremamente aconchegante, seus móveis eram modernos e pareciam ter sido escolhidos a dedo para combinar com cada detalhe ali, além de ter uma vista maravilhosa das paisagens mais bonitas do centro da cidade. Qualquer pessoa se sentiria no topo do mundo vivendo em um lugar como aquele.
- Então, o que achou?- Gilbert perguntou ansioso, pois ele desejava muito que Anne gostasse de tudo , e sentisse vontade de voltar muitas vezes, e quem sabe não pudesse ver ali com bons olhos para vir a morar um dia se assim o desejasse.
- Eu amei. Você tem um excelente gosto para decoração.
- Fico muito feliz que tenha gostado, porque quero que pense nesse lugar como seu lar para o qual poderá vir toda vez que se sentir ameaçada, ou com medo.- Anne ouviu tudo admirada. A seus ouvidos soou como se Gilbert tivesse fazendo-lhe um convite mais sério do que aquilo que ele acabara de lhe dizer, mas era lógico que não passava de mais uma ilusão de sua cabeça, que não se cansava de lhe pregar peças sentimentais.
- O que quer fazer primeiro?- Gilbert perguntou, depois que mostrara a Anne os cômodos principais do apartamento.
- Acho que poderíamos começar pela minha pintura.- ela disse tida sorridente.
- Está bem. Você é quem manda
- Vou trocar de roupa e já volto. - ela disse indo até o banheiro e trocando sua calça jeans por um par de shorts curto de ginástica preto, e uma blusa a qual manteve amarrada na cintura, deixando seu abdômen liso à mostra, e quando voltou para sala, ela viu Gilbert quase engoli-la com os olhos, pois o short em questão se agarrava à suas curvas sem cerimônia, enquanto a blusa realçada ainda mais sua cintura fina
Ela fingiu não perceber aquele olhar castanho que quase a deixava nua, arrumou o cavalete com a tela e disse:
- Agora precisamos apenas posicionar o modelo.- ela disse em tom de brincadeira.
- Me diga o que fazer, pois não tenho a menor ideia do que você tem em mente.- Gilbert disse ainda sem jeito naquela situação. Anne se aproximou devagar, olhando-o de corpo inteiro como se analisasse qual o melhor ângulo para começar a pintar. Em seguida, ela levou as mãos à camisa dele, abrindo botão a botão, tentando ficar confortável naquele momento, enquanto o peito cheio de músculos torneados de Gilbert eram revelados pelos seus dedos e atiravam-na ao chão. Depois, eles desceram mais um pouco, e foram parar no zíper da calça jeans que ela abriu apenas parcialmente para deixar à mostra o abdómen totalmente malhado.
Os olhos de Gilbert acompanhavam cada gesto de Anne, sem perder nenhum movimento dela, sentindo a tensão entre eles aumentar conforme ela o orientava a se posicionar para a sua obra artística. Ela parecia tímida ao despir-lhe a camisa e insinuar seus dedos sobre sua calça jeans, e o rapaz viu com prazer Anne corar ao mesmo tempo em que ela tentava dar um tom profissional a todo contexto.
- Acho que se você se deitar no sofá com um dos braços dobrados atrás da cabeça, ficará em uma posição interessante para o quadro.
- Está bem.- Foi tudo o que ele disse, pois começava a se sentir afetado por todo aquele clima sensual que se instalara na sala de visitas.
Gilbert fez exatamente o que Anne pediu, ao mesmo tempo em que ela se sentava em um banquinho perto dele com seu pincel em mãos que começou a deslizar sobre a tela de maneira precisa. A cada novo traço feito, seus olhos recaiam sobre Gilbert querendo absorver cada detalhe do rosto para deixar seu quadro o mais realista possível. Assim como ela não podia deixar de notar o dorso nu dele, que se cobria de uma camada fina de suor por conta do calor reinante no ambiente, e a seus olhos também não escapavam a imagem daquele abdômen perfeito completamente exposto que ele exibia em toda sua glória em cima do sofá de couro cru.
Anne não soube quando a atmosfera entre eles mudou, mas de repente, ela estava respirando rápido demais, e os olhos de Gilbert que não abandonavam os seus tinham escurecido de tal maneira que a faziam enxergar ali um poço de desejo somente por ela. Ela apertou o pincel entre os dedos, tentando se concentrar, e não se deixar levar pelo convite tão explicito naquele rosto que também não escondia que vê-la sentada à sua frente com um short que mal escondia suas coxas, e que a cada movimento seu, subia um pouco mais deixando Gilbert ter uma visão excitante de suas pernas de onde ele estava deitado, fazia seu sangue ferver.
Ela viu seu pomo de Adão subir e descer em uma evidência clara de sua excitação, enquanto ele engolia dolorosamente em seco, fazendo o coração dela bombear seu sangue rápido demais, deixando-a zonza e quente ao mesmo tempo. Anne se levantou de repente, sentindo que precisava de um pouco de água para conseguir continuar, pois sua garganta estava tão seca que ela mal conseguia sentir a própria saliva se formando no canto da boca.
Entretanto, quando passou perto de onde Gilbert estava deitado com a intenção de ir para a cozinha, ele a segurou pelo pulso e a puxou para seu peito forte, dizendo em seu ouvido baixinho:
- Não fuja de mim.
Orbes azuis e castanhas se estudaram por alguns segundos, como se buscassem lá no fundo seus desejos mais secretos, suas necessidades mais urgentes, a intensidade de um sentimento que começava a queimar lá dentro sem que nenhum deles tivesse controle, como mar e onda se chocando um contra o outro.
Anne mordeu o lábio inferior tentando controlar seu coração que cavalgava a sete léguas, e Gilbert arfou como se a mera proximidade de Anne o fizesse perder todo e qualquer juízo naquela situação.
Então, colaram seus lábios loucos de desejo por um mero contato que fosse para acalmar o terremoto de sensações dentro de si.
O longo beijo foi quebrado quando não existia mais ar que pudesse mantê-los naquele ritmo. Porém, não pararam de se tocar, pois o desejo despertado nunca seria saciado com apenas beijos famintos. Eles precisavam de mais, por isso, Gilbert segurou nos cabelos de Anne forçando a cabeça dela para trás de leve, para que assim pudesse alcançar a pele tentadora do pescoço dela, onde beijos quentes foram depositados fazendo cada parte do corpo dela desejar por mais. As mãos dele em sua cintura apertaram o corpo dela contra si, e Anne pôde sentir naquele instante o tamanho do desejo de Gilbert por ela embaixo de sua calça jeans. Assim, ela se sentou no colo dele, tomando posse dos lábios dele mais uma vez, e depois distribuiu beijos pelo maxilar masculino, descendo até o peito onde dedicou toda a sua atenção e desejo.
Os lábios de Anne sobre sua pele eram como um fogo prazeroso que faziam Gilbert delirar loucamente. Seu coração falhou as batidas várias vezes, enquanto seu corpo inteiro estava entregue as mãos e aos lábios daquela fada que o levava para o caminho de total prazer e loucura. Seus dedos alcançaram os botões da blusa dela, e em instantes Anne estava nua da cintura para cima usando apenas um sutiã de renda preta que destacava sua pele clara lindamente. Os lábios de Gilbert encontraram seu colo nu, onde ele brincou com sua língua até fazê-la suspirar, em seguida, ele desceu as mãos pela lateral do corpo se Anne, desenhando com os próprios dedos cada curva que encontrou pelo caminho, até encontrar o bumbum firme e redondo que ele apertou com força contra a própria ereção. Nunca desejara uma mulher daquela maneira, e embora estivesse louco para torná-la sua mais uma vez, ele queria que Anne entendesse os próprios limites, e decidisse até onde queria ir com ele.
Gilbert a afastou por um instante de si apenas para olhá-la por um instante, e respirar fundo. O rosto corado parecia brilhar como diamante na luz difusa da sala, e a beleza dos olhos eram incomparavelmente como dois astros azuis, os lábios rosados estavam vermelhos por conta dos beijos intensos que trocaram, mas a maneira como Anne o olhava era a melhor coisa do mundo. Havia uma confiança de quem entregava a pessoa que amava seu maior tesouro, e ele nunca desejou tanto ser digno de tal presente. Sua namorada era a mulher mais bonita do mundo, e elevado por tal sentimento, Gilbert disse para que somente ela soubesse:
- Linda.- Anne sorriu ao ver tanto amor naquele rosto mesclado com uma luxúria que deixava os olhos castanhos negros como um céu sem estrelas. Ali estava o homem mais intenso que já tinha conhecido, e ela seria dele e de mais ninguém.
Eles voltaram a se beijar, e Gilbert levou as mãos ao fecho do sutiã, para libertar os seios dela que ansiavam por seu toque, e quando Anne fechou os olhos com força antecipando todas as sensações que viriam, a campainha tocou deixando os dois completamente sem ação.
Gilbert olhou para Anne que tinha os braços enrolados em volta do seu pescoço, os olhos enevoados pela paixão, e ele não quis parar, e continuou a beijá-la como antes, mas a campainha tocou insistentemente, e Anne se afastou um milímetro dele para dizer ofegante:
- Acho melhor você atender.- Gilbert a abraçou forte por um instante, não querendo acreditar que aquilo estava acontecendo, e se sentindo terrivelmente frustrado. Em seguida, ele deu um último beijo em Anne e falou cheio de carinho:
- Eu volto logo. - Anne assentiu, e vestiu sua blusa novamente, tentando se recuperar daqueles instantes de loucura que ela quase se entregara a Gilbert novamente. Ela assim como ele, ficara frustrada pela interrupção, mas estava feliz por saber que conseguia corresponder aos carinhos dele sem sentir repulsa ou medo. Na verdade, Anne estava espantada com sua maneira de se envolver no momento de forma tão natural, se permitir sentir e fazer o que tivesse vontade sem querer se esconder em um canto escuro qualquer.
Ela se deitou no sofá onde Gilbert estava antes, sentindo o calor do corpo dele que ainda permanecia ali como seu perfume, e sorriu para si mesma ao se lembrar do jeito com que ele também deixara que ela o tocasse, seus suspiros satisfeitos em seu ouvido, seu olhar pesado de um desejo que ela conseguira sozinha provocar nele, e aquilo também lhe dava uma satisfação secreta.
Assim, ela esperou ansiosa pela volta dele, mas por algum motivo Gilbert estava demorando demais. Desta forma, ela se levantou, caminhou até a porta onde Gilbert se mantinha escorado no batente, abraçou-o pela cintura, e disse:
- Algum problema, querido?- o sorriso que se desenhara em seu rosto se congelou ao ver Josie Pye parada na porta com uma garrafa de vinho na mão e toda produzida.
- O que ela está fazendo aqui?- Josie perguntou com sua voz mostrando claramente a raiva por ver Anne no apartamento de Gilbert. Aos olhos dela não passou despercebido, o rosto afogueado de Anne, os cabelos em desalinhos, a intimidade com a qual ela abraçava Gilbert e ele se deixava abraçar. O ar de mulher satisfeita também não deixara se ser notado por Josie, que em um segundo insano de ciúme desenhou toda a cena em sua cabeça. Era óbvio o que tinha acontecido ali, a jugar pela maneira com que Gilbert a recebera na porta, ela só podia acreditar que aqueles dois estavam mais envolvidos do que ela pensara.
- Anne é minha namorada, Josie. Ela tem todo o direito de estar aqui.- Gilbert disse, circulando a cintura de Anne, e trazendo-a para mais perto, fazendo a garganta de Josie se apertar, cheia de cólera. Era para ser ela ali, e não Anne. Gilbert devia estar olhando para ela daquele jeito apaixonado e não para Anne. Com que facilidade, aquela garota roubara o seu lugar, mas Josie não permitiria que fosse mais longe, pois ela tinha um carta na manga que só usaria no momento certo, por enquanto, o que lhe restava era engolir seu orgulho, e fingir que aceitava aquele namoro sem rancor algum.
- Nesse caso, acho que é mais que justo que você beba esse vinho com ela.
- Não tem necessidade, Josie.- Gilbert respondeu, não desejando de forma nenhuma aceitar nada que viesse de sua ex. Não parecia certo agora que estava com Anne.
- Não seja orgulhoso, Gilbert. Esse vinho é da marca que você mais gosta, então, aceite-o e o aprecie ao lado de sua namorada. Eu tenho certeza e que ela vai gostar.- Josie disse, fingindo uma serenidade que nunca existiu dentro dela, nem mesmo quando era uma garota de tranças e andava agarrada nas saias da mãe.
- Está bem, se insiste tanto, eu aceito.- Gilbert disse um pouco constrangido.
- Vou embora então. Desculpem-me ter atrapalhado a noite de vocês.- ela se foi sem mesmo esperar que Gilbert respondesse, e assim que a viu sumir pelas escadas, Gilbert fechou porta e encarou Anne que perguntou:
- Vinho?
- Ela disse que tinha vindo aqui me desejar um feliz aniversário, e trouxe essa garrafa de vinho para tomar uma taça comigo.- Gilbert explicou, vendo no olhar de Anne uma fagulha de ciúme começar a queimar.
- E você acreditou nela?
- O que foi, princesa? Está com ciúmes?- ele perguntou puxando Anne para seus braços, enquanto ele esperava que ela negasse o que ele acabara de dizer.
- Estou.- ela confirmou, surpreendendo Gilbert com a sua confissão.
- Você sabe que não tem motivos para isso.- o rapaz disse pegando-a no colo e a levando com ele para o sofá, onde ele sentou com ela em seu colo.
- É claro que tenho motivos. Ela é muito bonita e já foi sua namorada também. – Anne disse, encostando sua cabeça no peito de Gilbert, enquanto ele fazia um carinho suave em seus cabelos.
- Eu não sei como você pode não se enxergar como realmente é. Baby, você é linda, e tão sexy sem ter noção nenhuma disso. – Anne corou um pouco ao ouvir os elogios, e depois ele continuou:- Não vou discordar e dizer que Josie não é bonita, porque ela é. Mas, você tem uma coisa que ela não tem e nem nunca teve.
- O que?- Anne perguntou olhando-o nos olhos e esperando por suas resposta cheia de curiosidade.
- Esse homem aqui que é louco por você.- os lábios dele capturaram os dela, e quando se deu conta Gilbert já a tinha sobre seu corpo novamente.:- Que tal se continuássemos de onde paramos?- ele sugeriu já com suas mãos dentro da blusa de Anne.
- Você ficaria chateado se eu dissesse que não estou mais no clima?- Anne perguntou, brincando com os cachinhos dele que caiam perfeitamente modelados em sua testa.
- Acho que posso resolver esse problema.- Gilbert disse com um sorriso, deslizando a ponta da língua pelo pescoço de Anne, que sentiu sua nuca se arrepiar assim como todas as outras partes de seu corpo. Ainda assim, ela não permitiu que ele continuasse, porque por mais que sentisse aquela sensação incômoda em seu baixo ventre, ela sentiu que não era hora de continuar.
- Gilbert, prometo que outro dia podemos tentar de novo, mas, não hoje.- ele beijou todo o rosto dela antes de responder:
- Está bem. O que quer fazer então?- ele perguntou com suas mãos perdidas nas mechas ruivas dela.
- Você disse que íamos jantar juntos esta noite.
- E vamos. A comida está na cozinha a nossa espera.- ele disse continuando a brincar com os cabelos dela.
- Acho que quero tomar um banho antes. Estou coberta de tinta.- Anne disse, mostrando Gilbert alguns pingos azuis m seu antebraço e mãos.
- Aceita companhia?- ele disse com um olhar maroto que a fez rir e responder,
- Era exatamente isso que eu tinha em mente, Dr. Blythe.- e assim, ela caminhou para o chuveiro, enquanto Gilbert a seguia com um sorriso nos lábios enquanto pensava que Anne estava exatamente onde devia estar: na sua vida.
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