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Capítulo 22 - Nos braços do amor

Olá, pessoal. Aqui está o capítulo da semana, Espero que gostem e me deixe seus comentários. Beijos. Farei a revisão depois.

ANNE

O consultório de Gilbert aquela tarde estava calmo, e tudo o que Anne ouvia era o tic tac incessante do relógio que parecia falar por ela, pois no silêncio interior no qual estava mergulhada sua única companhia era a sua própria inconstância emocional.

Na última semana ela oscilara entre alegria e tristeza, sorrisos e lágrimas, momentos bons e ruins , e se agarrara a uma esperança vã de que o pesadelo que vivera tivesse sido apenas um pesadelo, mas, pela primeira vez em meses ela entendia qual era sua real situação, e nenhuma revolta ou raiva mudaria o fato de que Roy Gardner fora o seu algoz.

Ele destruíra sua fé e respeito por si mesma, transformando-a em um joguete em suas mãos, usando sua baixa estima contra ela mesma, e ela fora seu fantoche submisso e omisso, porque permitira que se tornasse uma presa fácil na teia de um homem que a possuíra como um objeto de estimação, e que nunca a amara pela mulher que ela fora.

—  Anne, está me ouvindo? -— Ela levantou a cabeça e encarou os olhos de avelã que a fitavam preocupados, e tentou debilmente sorrir, mas percebeu que falhou em sua intenção quando sentiu uma lagrimas solitária cair sobre seu vestido amarelo de algodão.

— Desculpe-me.—  Foi tudo o que conseguiu dizer antes de olhar para as próprias mãos fortemente comprimidas em seu colo,  como se ali estivesse a solução para todos os seus problemas. A voz clara e forte de Gilbert chegou aos seus ouvidos quando ele disse:

—  O que eu falei sobre pedidos desnecessários de desculpas? Só pedimos desculpas quando fazemos algo de errado, e pelo que me consta,  você não fez nada de errado por aqui. O que me preocupa é a sua relutância em falar sobre certas coisas que te magoam. Como quer que eu chegue até você se não me dá uma mínima pista sobre o que está pensando?-

Anne podia sentir a frustração nas palavras dele, e desejou que não fosse ela a causa desse sentimento, como desejou conseguir não pensar em Roy Gardner naquele momento.

—  Vamos, Anne. Eu sei que é difícil, mas tente se não por si mesma, pelo menos por mim. — Ele tornou a dizer, e ela respirou fundo, tentando tirar de dentro de si alguma palavra de peso que simplificasse suas emoções misturadas e complexas.

— Não sei o que quer que eu diga.

— Qualquer coisa que te tire desse silêncio no qual te afasta cada vez mais de mim e de si mesma.

—  Você sabe como me sinto. — Ela disse por fim. Não era a resposta que ele queria, Anne tinha certeza, mas, pelo menos era o começo de alguma coisa.

— Não, eu posso apenas deduzir como se sente por conta da situação traumática pela qual passou, mas, isso não corresponderia a verdade de seus sentimentos, pois quem os carrega dentro de si é você.— Ela pensou com cuidado no que ele dissera, e tentou trazer aos lábios o nome de algumas da emoções que se agitavam dentro dela, como se estivessem loucamente sem controle.

Capturou uma, talvez a principal delas, a que queimava como ácido, a que a fazia querer gritar para o mundo todo sua revolta, a que fazia detestar a própria impotência diante de um fato consumado que não tinha mais conserto, a que a fazia odiar a si mesma por não ter tido forças para lutar pela sua liberdade antes que tivesse chegado à sua própria ruina.

—  Raiva. — Ela disse, e Gilbert continuou a olhá-la como se quisesse dissecar cada centímetro de sua alma.

Anne sabia que ele conseguiria se ela o deixasse ir mais fundo. A questão era:  deixaria que acontecesse? Era isso que desejava? Permitiria que Gilbert conhecesse sua verdadeira face? Desvendasse cada pensamento seu?

Ela tinha medo do que viria depois, porque por mais que soubesse que ali à  sua frente estava o seu psiquiatra, e era o trabalho dele tentar entender todas as suas camadas, seu coração não a deixava esquecer que ali também estava o homem que amava. Se lhe desse passe livre para expor totalmente sua vulnerabilidade, ela não conseguiria mais esconder o seu maior e profundo desejo.

—  Descreva para mim esse sentimento. — Ele pediu enquanto a caneta deslizava pela folha à sua frente, registrando cada palavra que ela dissera. Ela passou as mãos pelo próprio rosto, analisando as feições de Gilbert,  que naquele instante assumia completamente o papel do médico compenetrado e respondeu:

— Não sei se tenho a mesma facilidade que você de analisar que tipo de raiva sinto. Eu nunca realmente parei para pensar sobre isso.

—  Então me diga contra quem a raiva que está sentindo é dirigida nesse momento. Não precisa ser específica, apenas me diga o que sente e como sente.

—  Você sabe que minha raiva é dirigida a ele, Gilbert.

—  Mas, também é dirigida a si mesma. —  Ela apenas mexeu a cabeça concordando. – A sua raiva por "ele" nós já sabemos a causa, o que quero que me diga é, por que sente tanta raiva de si mesma a ponto de um dia você ter pensado em tirar a própria vida?-

Ela viu aquele olhar de Gilbert, aquele que não permitia que fugisse ou se escondesse. Ela não queria falar, porque outras dores viriam junto com as que Roy Gardner tinha lhe provocado.  A  carga emocional seria maior e pior, mas, Anne também sabia que a sua cura dependia do quanto desse sentimento conseguiria colocar para fora, por isso, ela fez um esforço ao dizer:

—  Eu sinto raiva de mim mesma por ter sido fraca em todas as ocasiões em que precisei me defender, e permiti que outras pessoas me atingissem com seu ódio. —  Gilbert cruzou os braços sem fitá-la diretamente e depois perguntou:

— Quantos anos tinha a primeira vez que se lembra em ter estado em uma situação dessas?

— Cinco anos.

—  Se lembra onde aconteceu?

—  No orfanato. Algumas meninas me ofenderam com palavras que me magoaram.

— E quantos anos elas tinham?

—  Não sei ao certo, nove, talvez dez.

— E o que acha que uma criança de cinco anos que acabara de perder os pais poderia ter feito nesse caso? — Ele fez a pergunta e Anne sentiu toda a atenção de Gilbert sobre ela.

—  Me defender.

—  Mas, você se defendeu. Preferiu ignorar do que entrar em uma briga da qual teria poucas chances de ganhar. Isso se chama instinto de preservação, e você o usou a seu favor. Eu sei que é difícil acreditar em mim, mas, no que você vê fraqueza, eu vejo força, e deveria se orgulhar disso. A fraqueza Anne, não está na pessoa que se defende com as armas que tem, e sim em quem ataca, porque só age dessa maneira porque enxerga no outro algo que gostaria de ter em si mesmo e não possui. Ao invés de tentar cultivar suas qualidades, ele tenta destruir a qualidade que mais o ofende no outro, por não a enxergar em si quando encara seu rosto no espelho.

Anne se espantou com a franqueza de Gilbert. Ela nunca tinha avaliado aquela situação por um ângulo tão realista assim. Mas, então, o olhar dela pousou sobre os próprios pulsos, e envergonhada, ela os escondeu na barra do vestido.

Era um gesto tolo, ela sabia, pois Gilbert conhecia aquelas marcas tão bem quanto ela, e o que significavam estarem exatamente ali. No entanto, isso não passou despercebido ao jovem psiquiatra que parecia sempre estar atento a qualquer movimento dela.

-Não precisa esconder isso de mim, Anne. – Ele disse, se levantando da cadeira e ficando em frente a ela que permaneceu sentada e sem dizer absolutamente nada. 

Mas, seus olhos azuis o encararam, e como ela queria dizer tudo o que sentia ao ver o castanho avelã olhá-la com tanta bondade e preocupação. Porém, ela não podia, pois não o merecia, e era melhor que ele nunca soubesse o que se passava em seu coração.

—  Eu sei que não deveria ter feito isso. —  Ela disse baixinho quase se desculpando por um ato tão violento contra si mesma.

— Você não deve se culpar, como eu não a culpo. Você estava doente, e foi levada ao extremo. Com tanta dor e mágoa dentro de si, não me admira nada que isso tenha acontecido. Mas, o que tem que pensar é que isso é passado, e o que importa é o seu presente, e como vai moldá-lo para ter um futuro melhor. Você mais do que ninguém merece isso. - Ele lhe estendeu a mão e a ajudou a se levantar, e quando ficaram frente a frente, ela perguntou:

— Por que é tão bom para mim, Gilbert? —  Ele acariciou seu queixo devagar e respondeu:

— Eu te disse que sou seu amigo  e só quero vê-la bem. —  Lá estava a palavra amigo de novo, e como ela desejou nunca ter proposto amizade a ele. Doía mais tê-lo tão perto e sequer poder tocá-lo como queria, do que quando apenas o observava pela janela de seu quarto.

—  Obrigada. — Ela se obrigou a dizer, mesmo que seus olhos não escondessem suas emoções reais.

— Creio que nossa consulta terminou. —  Ele disse consultando o próprio relógio de pulso.

—  Vou voltar para o meu dormitório, então. —  Anne disse com pesar. Não queria ir, mas, seu tempo com Gilbert Blythe tinha se acabado, e teria que esperar quase uma semana para tornar a tê-lo por uma hora inteira só para ela, mesmo que fosse apenas figurativamente.

— Eu te acompanho.

—  Mas, e o seu próximo paciente? —  Anne perguntou, de repente,  se sentindo alegre por poder ter mais um pouquinho dele até a porta de seu quarto.

— Eu ainda disponho de trinta minutos. Não se preocupe. —  Anne sorriu e caminharam lado a lado até que chegaram ao quarto dela. Ele beijou-a na testa e disse: — Fique bem. Se precisar de mim, sabe que estou a poucos metros daqui.

Ela assentiu, mas queria dizer a Gilbert que precisava dele naquele instante, naquele segundo em que seu coração pedia-lhe que não a deixasse, mas, ela sabia que havia outras pessoas que precisavam dele tanto quanto ela.

Anne entrou em seu quarto e levou um susto ao encarar Daniel sentado em sua cama, fazendo palavras cruzadas. Era a segunda vez que ele entrava ali quando ela não estava, e Anne fez uma nota mental de pedir a Irina uma cópia da chave para manter seu quarto trancado quando ela estivesse fora.

— Olá, Daniel. Está me procurando? —  Ela disse, tentando se manter um metro longe dele, pois ainda se lembrava bem da última vez que se falaram e a conversa não acabara nada bem.

—  Sim, você não fala comigo já faz um tempo. — Ele disse tentando se aproximar de Anne, mas, ela não permitiu. - O que está acontecendo, Anne? Parece que tem medo de mim.

—  Você sabe bem o que fez. — Ela disse com a expressão muito séria, sem permitir que o sorriso simpático de Daniel a fizesse vacilar.

—  Eu te pedi desculpas.

—  E eu te desculpei, mas, acho melhor nos mantermos afastados. —  Ela disse isso com dor no coração, porém, não confiava mais nele, principalmente naqueles olhos que sempre a observavam de maneira estranha. Será que eram assim desse o começo e,  por ingenuidade, ela não percebera?

— Por favor, Anne. Vamos voltar a ser amigos. Eu sei que pisei na bola, mas, estou disposto a me redimir. Vamos lá, pelos velhos tempos.

Anne olhou para a mão que Daniel lhe estendia um tanto desconfiada. Poderia confiar nele? Naqueles olhos de brilho estranho? Ela não podia achar que todo homem era igual a Roy Gardner, mas nem todos eram tão decentes quanto Gilbert Blythe.

No entanto, ela não saberia dizer em qual categoria Daniel se encaixava, mas, dar-lhe um voto de confiança seria demais? Decidida, ela pegou na mão dele, a apertou e disse:

—  Tudo bem. Podemos recomeçar.

—  Eu prometo que não vai se arrepender. Nós podemos almoçar amanhã juntos?

—  Claro. — Ela respondeu sem jeito de recusar. Eles tinham acabado de selar uma trégua. O mínimo que ela deveria fazer era aceitar aquele pedido.

—  Até amanhã, então. —  Ele disse sorridente, e a pegando de surpresa, deu-lhe um beijo no rosto. No momento em que ele saiu, ela correu para  fechar a porta, desejando em seu coração que não tivesse perdoado Daniel em vão.

GILBERT

Os passos rápidos no corredor não foram percebidos por ninguém. Era furtivos, quase desesperados, como se quisessem esconder o motivo da pressa que se podia perceber em seu ruído frenético ao tocarem o chão.

Josie Pye entrou no consultório de Gilbert, como se fosse perseguida por um ladrão. Ela fechou a porta e se encostou nela, sentindo-se aliviada por ninguém a ter visto se esgueirando pelos cantos até que sentiu que era seguro entrar ali. Ela o viu sair em companhia da ruiva, e sabia que ele não demoraria a voltar, pois Gilbert  teria outro paciente em alguns minutos, e queria falar com ele antes disso.

Não era nada incomum que a enfermeira chefe entrasse no consultório do psiquiatra do dia, pois fazia parte do seu trabalho conversar com os médicos sobre medicação que deveria ser ministrada, ou o comportamento incomum de algum paciente.

Mas, a principal razão de ela não querer que ninguém a visse ali era porque seu orgulho não o permitia. Todo mundo sabia que seu breve interlúdio com o belo Dr. Blythe tinha terminado, depois de ela simplesmente ter garantido que se casaria com ele.

Josie ouvira pelos cantos as gargalhadas das invejosas que cobiçavam o mesmo homem que ela, e nunca ela odiou tanto alguém quanto Anne Shirley Cuthbert. A  ruiva era a causa de Gilbert não mais querê-la, mas em breve, Josie colocaria um fim em toda aquela palhaçada.

Ela tomou fôlego e olhou ao redor,  sentindo saudades daquele espaço no qual ela e Gilbert tantas vezes tinham conversado, marcado seus encontros, ou trabalhado juntos nos relatórios de alguns pacientes que precisavam da supervisão dela. Fazia quase um mês que sequer se falavam direito, apenas frios cumprimentos eram trocados pelos corredores.

Gilbert nunca mais ligara para ela para conversarem como antigamente, e ela pensara que pelo menos o interesse por sua amizade existiria. Mas Gilbert a tinha excluído completamente de sua vida, fato que a deixava ainda mais furiosa do que propriamente magoada.

Por isso, ela estava ali, para uma última tentativa de recuperar o que era seu. Se falhasse,  Josie tomaria outras providências, e a primeira seria acabar com a ruiva estúpida que se achava mais inteligente do que ela, exterminando-a completamente de seu caminho, assim como  se fazia com um inseto insignificante e sem valor.

A porta se abriu e Gilbert a olhou de maneira surpresa, não lhe dando nenhuma indicação se estava aborrecido ou não por vê-la ali. Josie não se esquecera de  como ele sabia esconder bem suas emoções. 

Anos de treino com pacientes mergulhados em suas tragédias, o fizeram desenvolver uma frieza aparente que por vezes,  a irritava, pois nunca sabia com que tipo de humor ou temperamento estaria lidando.

Enquanto Josie tentava ler suas reações faciais, Gilbert se dirigiu até sua mesa, sentou-se em sua poltrona de trabalho, e a encarou.

Seus pensamentos acerca da presença dela em seu consultório não eram exatamente agradáveis. Mas, em respeito ao relacionamento que tiveram antes, ele preferia não tirar nenhuma conclusão apressada, mesmo que seu instinto lhe dissesse que Josie Pye não estava ali para uma visita de cortesia.

— Precisa falar comigo, srta. Pye?

—  Por que está me tratando com tanta formalidade, Gilbert,  ou prefere que o chame de Dr. Blythe? —  Gilbert deixou escapar um suspiro impaciente ao ouvir o tom provocativo de Josie e respondeu:

— Quer ir direto ao ponto e me dizer o que quer? Eu tenho um paciente em dez minutos. — A loira o olhou de um jeito insinuante, deu a volta pela mesa, ficando exatamente atrás da cadeira dele, abraçou-o pelo pescoço e disse no ouvido do rapaz:

—  Estou com saudades. Tem certeza de que não quer reconsiderar, querido? Não é possível que tenha se esquecido de todos os nossos momentos. — Gilbert afastou as mãos de Josie com delicadeza de seu pescoço, se levantou de sua mesa e a encarou com uma expressão extremamente grave, e só então perguntou:

—  O que pensa que está fazendo, Josie?

— Ah, que bom. Pelo menos voltou a me chamar pelo primeiro nome. —  Gilbert revirou os olhos e disse:

—  Deixe sua ironia de lado e me diga o que está fazendo aqui.

— Exatamente o que te disse. Quero que a gente volte a namorar.

—  Josie, nós já falamos sobre isso a um mês atrás. Eu pensei que tivesse entendido. — Gilbert se sentia cada vez mais irritado enquanto pensava porque Josie estava ali se sabia que ele não a amava? Qual o sentido de querer ficar com alguém dessa maneira?

— Eu entendi, mas, eu pensei que depois desse tempo você perceberia que somos feitos um para o outro. — Ela não ia desistir, de jeito nenhum, Josie pensava,  enquanto via Gilbert balançar a cabeça, olhando-a com estranheza. Esse homem era lindo demais para que ela o deixasse escapar assim sem luta.

— Josie, você só pode estar brincando. Eu te disse naquele dia,  que não estava e não estou apaixonado por você. Sinto muito se pensou que iríamos mais longe do que fomos, mas, eu nunca te prometi nada.

— Eu sei que você não me prometeu nada, mas, nós não podemos tentar de novo? Me dê só mais uma chance, Gilbert. Eu sei que posso te fazer me amar.  — Ela se aproximou dele, mas, Gilbert a afastou.

—  Não, Josie. Eu não posso fazer isso. Sinto muito. — Josie viu o olhar irredutível de Gilbert e,  por fim,  deixou sua máscara de garota doce cair ao perceber que o homem à sua frente não a queria mais em sua vida.

—  Você está a fim de outra mulher? —  Gilbert ergueu a sobrancelha surpreso com a pergunta, e disse:

— Isso não é da sua conta.

— É lógico que é. Posso ver nesses seus olhos. É a ruiva, não é? — Gilbert não respondeu, mas ela já sabia, pois não perdera um só movimento dos dois desde que Gilbert se separara dela. Ele estava de quatro por aquela garota, e não conseguia mais nem disfarçar. —  Como pôde me trocar por aquela maluca?

—  Não fale do que não sabe, e não chame a Anne assim. Ela é uma garota muito doce, que sofreu traumas terríveis. Tenha pelo menos respeito pela condição dela. — A maneira como Gilbert defendeu Anne para Josie foi a assinatura de sua confissão. Ele estava apaixonado, era pior do que ela imaginara.

—  Você está apaixonado? — Gilbert se calou novamente, mas Josie não o deixaria em paz até saber a verdade. —. Vamos, me responda, você está apaixonado por ela? —  Gilbert olhou para o relógio, e respondeu:

- Sinto muito, seu tempo acabou. - Josie o olhou com tanto ressentimento que Gilbert sentiu um frio na espinha. Mas, não se deixou intimidar, pois ela tinha que entender que tinha realmente acabado e que ele não pretendia voltar atrás.

Contudo, enquanto a loira saía pisando duro de sua sala, ela prometeu silenciosamente que jamais desistiria dele, e que só sossegaria quando ele estivesse comendo na sua mão feito um cachorrinho obediente.

Gilbert respirou fundo várias vezes assim que Josie saiu. Ele queria ter mais tempo para se recuperar do encontro pouco amigável que tivera com ela antes do próximo paciente entrar, mas, estava em cima da hora e não poderia atrasar a consulta por conta de um assunto pessoal.

Por isso, ele mascarou bem suas emoções conturbadas,  como aprendera a fazer em seus anos de psiquiatria, e se concentrou profundamente nos problemas de seus pacientes.

No entanto, ele ainda podia sentir o ar pesado como se a vinda de Josie ali com todo o seu não conformismo pelo fim de um relacionamento que nunca deveria ter sido levado a sério por nenhum dos dois tivesse contaminado o ambiente.

Ele não queria admitir que ela estava obcecada por tê-lo de volta, preferindo acreditar que era apenas despeito por ter sido ele a terminar e não ela. Josie odiava perder. Isso ele aprendera,  observando-a durante aquele ano em que passaram juntos. Tudo para ela se tornava um jogo, e faria o impossível para ganhar.

Por isso, ele não quisera admitir seus sentimentos por Anne, pois, sua intuição lhe dizia que era melhor assim. Anne já passara por coisas demais, e não precisava de uma rival ciumenta sendo acrescentada ao topo de sua lista de problemas.

Ele não achava que Josie pudesse fazer mal a Anne, mas, ainda assim, ele queria proteger a ruivinha do que fosse.

Talvez, sua ex-namorada encontrasse alguém melhor para ela em breve, e assim,  todos poderiam seguir suas vidas em paz.

Entretanto, se pudesse ouvir os pensamentos de Josie naquele momento, ele entenderia que a última coisa que  poderia pensar era que ela tinha a intenção de se afastar e, que sua obsessão por ele estava mais arraigada do que nunca.

Quase no fim de seu expediente, seu pai ligou, e Gilbert sorriu ao ouvir a voz dele do outro lado da linha. Estava feliz pela proximidade de ambos, e tinha que admitir que sentira falta daquele relacionamento de pai e filho quando  vivera em Londres.  Mas agora que estavam recomeçando de onde haviam parado, Gilbert esperava que pudessem solidificar aquela relação cada vez mais.

—  Boa tarde, papai, como você está?

— Um pouco nervoso.

— Por que? Aconteceu alguma coisa? —  Gilbert perguntou preocupado.

—  Irina me convidou para ir a um bingo, e não faço a menor ideia do que usar.

— Ah, isso. — Gilbert riu ao pensar que só mesmo John Blythe para fazer uma tempestade em um copo de água por conta de não saber o que vestir para um evento.

Gilbert entendia que para um homem que trabalhara a vida toda como executivo  usando terno e gravata, era difícil mudar o hábito. Gilbert não se lembrava de ter visto o pai sair de casa usando outra coisa. Com o tempo, o rapaz acabara enxergando aquele tipo de roupa como a marca registrada do elegante John Blythe.

—  Acho que pode vestir qualquer coisa que quiser, menos terno e gravata, papai.

— Tem certeza? Eu já olhei o meu guarda-roupa inteiro, e a única roupa que me chama a atenção é um terno azul marinho.

— Papai, você não está indo para o trabalho ou a um a festa de sua empresa. Irina te convidou para um bingo, e imagino que a última coisa que as pessoas usam lá são roupas formais. 

Gilbert estava se divertindo imensamente com aquela situação. Nunca imaginara que veria seu pai nervoso por conta de um encontro fora de sua zona de conforto. Mas, ele estava feliz por ver que, pelo menos, John não estava se privando de viver novas experiências e,  para alguém que vivera metade de sua vida preocupado com números e bolsas de Valores, aquilo era um grande avanço.

— Filho, você não está me ajudando nem um pouco com essa conversa. —  John disse e Gilbert percebeu que ele estava realmente tenso.

—  Quando será o bingo?

— No próximo Domingo.

— Então, deixe isso comigo. — Gilbert disse, tendo uma ideia repentina para ajudar seu pai naquele impasse.

—  Obrigado, filho.

—  Por nada, papai. A gente se vê em breve.

— Eu te amo.

— Eu também.

Ao terminar a conversa com seu pai, Gilbert ligou para Sally, a secretária dele na empresa, e lhe deu instruções para que comprasse roupas esportivas para John Blythe no número que ele usava, e nas cores preferidas que Gilbert sabia que ele gostava. Ele também lhe pediu,  que fossem entregues no dia seguinte.

Como  sabia que ela já fizera muitas vezes esse tipo de serviço antes, Sally era a pessoa mais indicada para realizar aquela tarefa.

Ele também se lembrou de pagar-lhe uma boa bonificação por esse trabalho extra. Com aquele assunto resolvido, Gilbert deu por encerrado o expediente daquele dia.

Mas antes de ir para casa em definitivo, havia alguém que ele precisava ver, e assim que trancou seu consultório, o rapaz foi em direção ao dormitório da ruivinha.

ANNE E GILBERT

Depois que Daniel a deixou sozinha em seu quarto, Anne se sentiu inquieta. Havia alguma coisa no rapaz que mudara, e ela não conseguia descobrir o que era, pois quando ela o conhecera Daniel lhe parecera uma boa companhia. Ele era divertido e sempre parecia empenhado em fazê-la rir, vivia elogiando seus trabalhos e não foram poucas as vezes em que ficara do seu lado, consolando-a e fazendo-lhe companhia depois de uma de suas crises, por isso, ela sentia tanto por terem se afastado daquele jeito.

Ela sentia falta de almoçar com ele, conversar sobre assuntos diversos, e testar novas técnicas de pintura e desenho.  Mas, agora, além de toda a amizade que nascera entre eles, Anne percebia que não o via mais com os mesmos olhos e não sabia exatamente quando aquilo acontecera. 

Tudo o que se lembrava era que fora bem antes de ele começar a mostrar esse seu outro lado obscuro, e ela desejava que isso nunca tivesse acontecido, especialmente naquele momento,  em que a figura de Roy Gardner tomara uma nova dimensão em sua vida. Após se recordar do pesadelo que fora seu relacionamento com ele, confiar em uma pessoa do sexo oposto se tornara terminantemente complicado.

Daniel lhe dissera uma vez que tinha sentimentos por ela, e Anne esperava que ele tivesse se enganado. Ela não queria ter que lidar com outra pessoa claramente possessiva, e era isso que a fizera compará-lo com Roy. 

Ela não tinha percebido antes o quanto ambos eram parecidos na forma de olhar para ela, embora Daniel não fosse uma pessoa perigosa, ele já demonstrara que não conseguia controlar seus impulsos quando estava apaixonado por alguém, talvez por isso não tivesse dado certo com sua namorada anterior,  cujo relacionamento fora bastante traumático para o rapaz. 

Entretanto, apesar de ainda sentir certa repulsa pela maneira como Daniel a tinha tratado na última vez que conversaram, Anne acreditava que se impusesse certos limites, o rapaz poderia voltar a ser o amigo sincero que demonstrara ser no início.  Porém,  ficaria atenta a qualquer sinal estranho de sua personalidade, pois Gilbert lhe fizera ver que ela poderia controlar qualquer situação e que ninguém poderia obrigá-la a fazer o que não quisesse, pois tinha o direito de escolha e o destino em suas próprias mãos.

Ela olhou pela janela e viu que a tarde estava quase indo embora e que logo anoiteceria, porém, ainda era cedo para se preparar para o jantar que sempre era servido às sete da noite.  Então, ela pensou no que faria com seu tempo livre.

 Poderia fazer palavras cruzadas, mas não estava com cabeça, pensou também em desenhar ou pintar, mas estava sem inspiração. Talvez pudesse escrever, mas, era melhor lendo poemas do que inventando-os, pois sua verdadeira arte era a pintura.

 Irina estava de folga naquele dia, por isso, procurá-la para uma boa conversa também estava fora de cogitação. Ainda estava buscando uma forma de controlar sua ansiedade, quando ouviu uma batida na porta e correu para abri-la com um enorme sorriso no rosto, imaginando que fosse Gilbert.  Naquele horário,  ele já teria encerrado o expediente, e enfim, ela teria um momento bônus com ele.

Porém, ela parou de sorrir no mesmo instante em que viu com os próprios olhos, que não era Gilbert na sua porta, e sim Jerry, o diretor do hospital. Ela o reconhecera por vê-lo andar pelos corredores algumas vezes, e também por tê-lo visto falando com Diana da última vez que ela viera visitá-la. Sem saber o motivo da vinda dele para seu quarto, Anne deu-lhe um sorriso hesitante,  enquanto perguntava:

— Deseja alguma coisa? — O rapaz olhou-a de maneira simpática e disse:

—  Anne, não é? — Ela confirmou com a cabeça, e assim ele perguntou: — Posso falar com você?

—  Claro, por favor entre. — Ela abriu a porta, e deixou que Jerry passasse por ela.

— Se quiser se sentar, fique à vontade. —  Ela ofereceu.

—  Não, vou ser breve, pois não quero tomar muito do seu tempo.

— Em que posso ajudá-lo? — Anne perguntou,  enquanto esperava que ele lhe dissesse o que viera fazer ali.

— Eu queria pedir-lhe um favor que talvez lhe pareça estranho, mas eu juro que é por uma boa causa.

—  O que quer que eu faça?

—  Você poderia me dar o endereço da Diana? — Anne o olhou com um misto de surpresa e dúvida e perguntou:

— Por que não liga para ela e pede pessoalmente?

— Se ela atendesse minhas ligações, eu juro que o faria. Mas, ela cancelou nosso último encontro e não consegui mais falar com ela.

Anne sabia que Jerry era o rapaz que Diana lhe contara,  que conhecera em Nova Iorque, e apesar de achar que a amiga estava apaixonada por ele, a ruivinha tentou sondar um pouco mais para saber se estava a ponto de fazer a coisa certa.

—  Me dê uma boa razão para fazer o que me pede. — Jerry ficou um pouco surpreso com as palavras da ruivinha, mas, apreciou-lhe a atitude, porque isso mostrava bem o seu apresso pela amiga.

—  Olha, Anne, eu sei que não me conhece, mas, as minhas intenções com Diana são as melhores possíveis. Desde que a conheci, eu não consigo tirá-la da cabeça, e posso afirmar com todo o meu coração que eu a amo. -— Anne olhou para Jerry e mesmo conhecendo-o tão pouco,  viu que ele estava sendo sincero. E pelo que Diana havia lhe contado, ela também tinha sentimentos pelo rapaz. Então, por que não poderia fazer aquele pequeno favor e juntar os dois de vez?

— Jerry, antes de te dar o endereço que me pediu, quero que me prometa que não magoará Diana. Ela é um pouco resistente aos  relacionamentos por conta de alguns problemas familiares que teve no passado, e que não cabe a mim te contar. Portanto, tenha paciência com ela e a faça feliz, porque ela merece muito ser amada e cuidada por alguém que a queira bem de verdade.

—  Fique tranquila. Tudo o que quero é fazê-la feliz. —  Jerry disse, e satisfeita com a resposta dele. Deste modo, ela pegou uma caneta, escreveu o endereço em uma folha de papel, surpresa consigo mesma por ainda se lembrar da rua e do número da casa de Diana,  e a entregou a Jerry que deu-lhe um beijo no rosto e falou:

—  Obrigado, Anne. Nunca vou esquecer desse favor. Se precisar de alg,  basta me pedir.

—  Não se preocupe por isso, só cuide bem de minha amiga. —  Anne disse ao se despedir.

Jerry se foi e deixou Anne sozinha novamente com sua ansiedade de matar o tempo até a hora do jantar. Então, ocorreu-lhe que poderia ir até a biblioteca, pois não tinha nada para ler e,  um livro era sempre melhor companhia que qualquer outra coisa.

Por este motivo, ela deixou seu quarto, e caminhou pelos corredores que àquela hora estavam quase vazios,  e andou até a biblioteca onde se perdeu no mundo dos livros.

Enquanto a garota ruiva procurava um título interessante para se entreter, Gilbert, a meio caminho de chegar a seu dormitório, encontrou seu primo Jerry que sorria de orelha a orelha e,  logo,  explicou-lhe a razão:

— Gilbert, consegui. Anne me deu o endereço de Diana.

— Você falou com ela agora? —  O rapaz perguntou,  surpreso com aquela informação.

— Sim. E ela é realmente tudo o que você me disse. Tem razão de ter se apaixonado.

—  Ela é mesmo extraordinária. —  Gilbert concordou com um olhar sonhador,  que Jerry não identificou com algo comum em seu primo, mas, ficou feliz que ele pudesse se sentir assim.

—  Espero que se acertem.

— Eu também. —  Gilbert respondeu. Eles se despediram, e cada um seguiu seu caminho, torcendo um pelo outro.

Quando Gilbert chegou ao quarto de Anne,  ficou desapontado por não a encontrar lá, e tentou imaginar onde ela poderia estar naquele momento.

O rapaz caminhou até o jardim, pensando que a encontraria ali, mas, se decepcionou de novo, pois não havia nem sinal dela. Foi então que seu olhar percebeu a luz acesa na biblioteca, e logo concluiu que a única pessoa que estaria escondida em meio aos livros naquele momento seria a ruivinha.

Por isso, caminhou até lá sem demora. E logo a encontrou no último corredor, no meio de exemplares empoeirados onde ficavam as obras clássicas.

Ele ficou admirando-a de longe,  enquanto ela folheava cada livro com o máximo de cuidado,  como se ali estivesse a fonte do mais precioso tesouro.

A luz bruxuleante que reinava dentro da biblioteca naquele instante,  lançava sobre a ruiva raios claros que se refletiam em seus cabelos de fogo, dando a ela um halo dourad. 

Aquela cena  imediatamente hipnotizou os olhos do rapaz, que de tão apaixonado,  não conseguia se mover do lugar de onde estava, pois temia que aquela visão angelical sumisse de suas vistas.

Ela levantou o olhar para prateleira mais acima, onde um livro em especial chamou sua atenção. Como não conseguiria alcançá-lo no lugar onde estava, Anne pegou uma cadeira que estava próxima dela, e subiu nela,  pensando que desta forma conseguiria colocar suas mãos delicadas no livro cobiçado.

Mas, conforme ela se esticava para ficar mais alta do que realmente era, a cadeira começou a oscilar de um lado para o outro, e Gilbert prevendo o desastre que aconteceria, correu para ajudá-la justamente no momento em que Anne perdeu o equilíbrio.

Ela acabou caindo nos braços de seu amado doutor, que olhou para o seu rosto assustado e perguntou:

—  Você está bem?

— Sim. Acho que pode me colocar no chão. —  Ela respondeu sentindo seu coração disparado não tanto pelo susto do acidente que quase ocorrera.

Com cuidado, Gilbert colocou-a no chão, mas não tirou a mão de sua cintura, obrigando Anne a ficar próxima a ele. A ruivinha não sabia se ele fizera isso de propósito ou inconscientemente, mas, tratou de afastá-lo antes que acabasse achando confortável demais em estar nessa posição com ele.

—  Obrigada. Me poupou de um tornozelo quebrado. —  Ela disse,   colocando-se  a alguns centímetros longe dele.

— Você poderia ter quebrado outra parte do corpo também.  Às vezes, você é bem maluquinha, sabia? — Gilbert disse brincando.

—  Devo ser mesmo por estar aqui a essa hora a procura de um livro. — Ela disse,  sorrindo timidamente.

—  Livros são bons a qualquer hora. Eu sempre tenho um em minha cabeceira. —  Ele disse,  colocando uma mão no ombro dela e sentiu-a fica tensa.

—  Talvez um dia, você possa compartilhar comigo seus autores favoritos.

—  Sim, e talvez um dia, eu possa te levar até meu apartamento para que você escolha um livro para ler. Tenho uma biblioteca particular também.

—  Eu não duvido. — Anne disse,  tentando se afastar de novo, ao mesmo tempo em que, tentava disfarçar o que a presença dele fora daquele consultório causava nela, e trazia lembranças dos dois dormindo juntos naquele hotel sem quase nada os separando. Ela se sentiu inquieta com a recordação e suspirou,  chamando a atenção de Gilbert que lhe perguntou;

— O que foi, Anne?

—  Nada. Eu estou bem. —  Seu sorriso fraco não o convenceu, que lhe perguntou sem fazer rodeios:

— Por que fica tão perturbada quando eu me aproximo de você? — Droga, ele percebeu, Anne disse para si mesma, mas tentou escapar dessa evidência dizendo:

—  É impressão sua.

- Não é não, pois quando eu faço isso.... — Ele colocou uma mexa de cabelo atrás da orelha dela, e continuou. — Eu sinto que você fica toda tensa.

Anne encarou Gilbert, sabendo que ele estava certo em cada palavra que dissera, mas  não queria que ele soubesse que não era medo que ele lhe causava,  e sim,  outra coisa completamente diferente.

— Por que não confia em mim?

—  Eu confio. — Ela disse,  negando o que ele acabara de lhe perguntar.

—  Então por que sempre foge de mim?

— Isso não é verdade.

— Se não fosse, você não estaria tremendo desse jeito. Será que não entende,  que eu nunca seria capaz de te machucar? —  A mão dele em seu rosto a fez sentir seu coração chegar à garganta, e ela sabia que estava a ponto de sucumbir à magia que aqueles olhos de avelã tinham sobre ela. Por isso, disse com um suspiro:

—  Eu sei que nunca me machucaria.

— Então me diga, Anne, o que exatamente você quer? Porque quando eu penso que sei exatamente o que está pensando, eu percebo que me enganei completamente.

Anne fitou aquele rosto tão próximo do seu,  e sentiu que não podia mais fugir. Ela tentara mil vezes negar o que sentia, mas falhara, e então, naquele instante,  com o olhar de Gilbert implorando pela verdade, ela deixou-a livre de uma vez:

—  Eu quero ser feliz, quero a minha vida de volta, quero voltar à pintar como eu fazia antes, e eu quero...você. —  Gilbert piscou duas vezes, como se quisesse se certificar de que não estava mesmo sonhando, e que ela lhe dissera o que mais ele queria ouvir.

—  Você disse que me quer?

—  Sim. Eu te quero de todo o meu coração. — Ela respondeu,  tocando o rosto dele com carinho.

— Eu também te quero, minha princesa. — Ele disse com seus olhos brilhando tanto,  que Anne se lembrou das estrelas que brilhavam no céu de Toronto nas noites quente de verão.

— Mas, você sabe que não vai ser fácil. — Ela avisou-o, colocando seus braços ao redor do pescoço dele.

— Não importa.

—  Eu sou complicada.

— Eu não ligo.

—  Você vai ter que ter muita paciência comigo.

—  Você sabe que com você, eu tenho toda paciência do mundo.— Gilbert afirmou, enlaçando-a pela cintura.

— E tem mais um detalhe.

—  Qual?

— Não poderei mais ser sua paciente.

—. Você se importa?

—  Eu me importo, mas para ficar com você, eu topo trocar de médico desde que me prometa que vai estar a meu lado sempre que eu precisar. —  Ela pediu,  encostando sua testa na de Gilbert.

—  Tem minha promessa.

—  Tenho ainda uma pergunta. — Gilbert começou a rir e disse:

—  Pergunte o que quiser.

—  Você não vai me beijar? — Ela perguntou,  com um sorriso maroto que fez Gilbert dizer:

— Eu me perguntava a mesma coisa.

Assim suas bocas se chocaram famintas por aquele contato, que já tinham experimentando algumas vezes, mas  sempre era cheio de sensações novas que se juntavam às antigas e, assim iam aumentando o movimento, o ritmo e o prazer.

Pela primeira vez, eles se beijaram sem as sombras do passado, fazendo daquele momento somente deles, construindo assim uma nova relação. O gosto de seus lábios que se tocavam era sempre inebriante como um fruto muito desejado, mas nunca completamente provado.

Quando se separaram minimamente, Anne perguntou, com seu ouvido colado ao peito dele, onde o coração de Gilbert batia tão descompassadamente:

— Gilbert, acha que vamos dar certo juntos?

— Vamos começar aos poucos, nos conhecendo dia a dia, e deixe que o tempo faça o resto.

Ela apenas assentiu, com um leve menear de cabeça, colando novamente sua boca na de Gilbert, e deixando os pensamentos inquietantes completamente do lado de fora.

E enquanto a penumbra tomava conta daquele espaço onde apenas um fio de luz entrava pela janela, e o silêncio era a única companhia entre prateleiras, livros e sonhos, dois corpos pareciam estar completamente envolvidos nos braços do amor.

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