Capítulo 15- Eu te amo
Olá, pessoal. Espero que gostem de mais este capítulo e comentem, pois isso é importante para o desenvolvimento da história. Beijos. Os erros vou revisar depois. Beijos
GILBERT
Já era madrugada, e Gilbert se revirava na cama. Ele estava cansado, mas seus sentidos aguçados demais naquele momento o impediam de fechar os olhos, e se deixar abraçar pelas asas de um sono reconfortante.
O rapaz estava aliviado por Josie não ter insistido em passar a noite com ele, pois ele sabia que acabaria deixando-a aborrecida por não corresponder às suas expectativas de mulher, simplesmente porque ele tinha outra pessoa na cabeça que não era sua namorada.
Por fim, ele se rendeu à insônia, se levantou da cama e foi até o banheiro onde lavou seu rosto ardente assim como estava todo o seu corpo.
Seus breves momentos com Anne naquela tarde o deixaram naquele estado, e Gilbert não podia mais deixar de admitir que estava louco por ela de um jeito que não se sentia a anos por ninguém.
Inquieto, ele andou pelo quarto, tentando aliviar a tensão que se instalara em seus músculos, mas o desejo que sentira tomar conta de seu corpo quando sua boca se colou a de Anne continuava a atormentá-lo , e ele quase gemeu alto ao se lembrar da pele perfeita dela tão suave que escorregara pela ponta de seus dedos, e ele se pegou desejando que ela estivesse ali naquele momento deitada em sua cama.
Se era errado querê-la daquele jeito, ele já não se importava em pagar por uma pena tão severa, pois ele tinha sido derrotado por sua própria inconstância e incoerência. Gilbert fizera de tudo para ignorar o que estava sentindo por Anne, mas quanto mais fugia, mais se via enredado naquela teia, e agora estava de joelhos e morrendo de amor por ela.
Se ele batesse na porta dela àquela hora, será que ela o repeliria, ou o deixaria entrar para continuarem de onde haviam parado? Aquele pensamento era loucura, ele sabia, mas o problema era que Anne acendera nele algo que estava difícil de esquecer, e ele tinha certeza que um banho frio não resolveria daquela vez.
Ele precisava dela, ali naquele momento, e precisava tocá-la de novo, envolve-la em seus braços. Ele queria o calor daquele corpo contra o seu, enquanto seus olhos castanhos fossem engolidos pela beleza do azul dos dela.
Gilbert suspirou alto, dizendo a si mesmo para se acalmar. Estava se comportando como um adolescente em sua primeira experiência sexual , e não era o caso ali. Era certo que estava apaixonado, e que Anne o provocava como nenhuma outra mulher, mas, ele sabia que havia muitas coisas com as quais teria que lidar e resolver antes de se entregar àquela paixão de vez.
Ele tinha que terminar com Josie e era a primeira coisa que faria quando voltassem para casa. Gilbert não podia mais alimentar uma situação que o estava deixando insatisfeito internamente
Josie era uma ótima garota, e ele não tinha dúvidas de que com o tempo ele poderia até gostar dela mais profundamente, se seu coração já não estivesse completamente tomado pela imagem de outra mulher. Não podia continuar fingindo e deixar que Josie acreditasse que poderiam ter um futuro juntos, quando na verdade, aquilo estava bem longe de acontecer. Ele tinha começado aquela bagunça, agora tinha que arrumá-la.
Outro ponto a resolver seria o tratamento de Anne, pois não poderia continuar sendo o psiquiatra dela sentindo-se daquele jeito a respeito dela. Ele não conseguia mais ficar longe dela, ele não queria mais se afastar dela. Anne fazia com que a vida brotasse de dentro dele como se fosse uma cascata jorrando energia e esperança, e ele necessitava demais sentir tudo aquilo de novo dentro dele, Foram anos vivendo em um limbo de sentimentos que aos poucos se sufocaram e morreram tornando seu interior um deserto árido e vazio, e Anne era como uma chuva refrescante que caía em sua alma, matando a sede que ele sentia de se sentir humano novamente capaz de agir com suas emoções, e não apenas pelo raciocínio de um médico cínico e amargurado por suas más experiencias do passado. Ele sabia que estava se iniciando um ciclo no qual poderia ser vicioso ou não, mas, ele pouco se importava para onde tudo aquilo o levaria, pois o que Anne despertara nele estava crescendo de maneira assustadora, e Gilbert podia sentir em cada segundo de respiração que aquilo não ia parar, e no fundo, ele não desejava que parasse.
Ele falaria com Anne daquela vez sobre a mudança de psiquiatra e seria o mais sincero possível acerca de seus sentimentos por ela. Não queria desencadear outra crise como da outra vez, por isso a sinceridade naquele caso era o que mais importava, pois Anne estava frágil, e por mais apaixonado que estivesse por ela, não se aproveitaria de seu estado para trazê-la para seus braços. Gilbert entendia a seriedade da situação, não era nenhum irresponsável para basear suas ações em uma impulsividade que poderia causar mais bem do que mal, e Anne não merecia ser atropelada pelos sentimentos dele, sendo induzida a se envolver com Gilbert fisicamente e emocionalmente. O que ela merecia era ser tratada como a rosa delicada que era, cuidada com todo amor para que pudesse florescer e descobrir o seu caminho de volta para uma sanidade saudável e completa.
Gilbert queria ser essa pessoa a cuidar dela, queria devolver a Anne a alegria de acordar e ter um dia inteiro pela frente sem sentir as mágoas ocasionais que a faziam sofrer. Ele queria ser a razão dela sorrir, de acreditar mais em si mesma, de voltar a criar sua arte cheio das belezas que somente ela conseguia enxergar com seu coração. Ele queria fazer Anne compreender o quanto ela era maravilhosa, e preciosa para tantas pessoas, e toda a diferença que ela poderia fazer em um mundo tão cinzento pela maldade alheia, e acima de tudo, ele queria que ela soubesse quanta luz ela trazia para o coração dele que também tinha uma camada de amargura que já durava ali tempo demais.
O jovem médico voltou para a cama, e ficou olhando para o teto, tentando compreender a profundidade de tudo o que estava sentindo, e se espantando com a velocidade que aquilo estava se expandindo. Em dois meses em que conhecia Anne, ele fora totalmente conquistado por ela, e esse fato era surpreendente. Alguns diriam que era apenas uma paixão ou desejo sexual, mas, ele sabia que era mais que isso, pois ele conhecia bem os sintomas de ambos, e era um homem adulto e experiente demais para se enganar com um detalhe assim. Ele não negava que Anne o atraía, e Deus! Como ela era ardente! Ela demonstrava exatamente o que estava sentindo em uma inocência que o deixava louco. Anne não fazia jogos como a maioria das mulheres com as quais ele saíra, e até mesmo Josie era assim. Elas fingiam uma indiferença que não sentiam, apenas para instigar o interesse do seu macho alvo, e se entregavam assim que percebiam que tinham conseguido o que queriam.
Anne era a própria encarnação da pureza e em seu rosto Gilbert não vira nenhum tipo de malícia naquela tarde em que por vontade própria, ela o beijara, ela assim como ele, se deixara levar pelo momento, e depois saiu correndo assustada como se estivesse fugindo da intensidade daquilo tudo. Gilbert também pensara em fugir no primeiro momento, mas, embora tivesse se saído bem no início, já não podia mais, por isso, ele resolvera arriscar, coisa que ele nunca fizera na vida, pois no passado se não havia segurança no passo que iria dar, ele sempre recuava, mas, agora, ele não tinha escolha, tentara todas a saídas possíveis, e todas sem exceção o levaram de volta a Anne, e foi assim, que ele entendera que precisava dela mais do que pensara.
Contudo, havia uma batalha pela frente, e já sabia a cena que Josie faria quando ele lhe dissesse que estava tudo terminado, mas, ele não estava disposto a ceder a nenhuma chantagem emocional que ela fizesse. Gilbert queria estar livre para lutar pela mulher que ele desejava, e não podia continuar uma farsa que não faria bem a ninguém. Ele se virou do lado e olhou para o relógio que marcava três da manhã, e suspirou desconsolado ao pensar em todo o sono que perdera e que não recuperaria nas horas seguintes, pois isso, apenas ficou na cama de olhos fechados se lembrando de todos os detalhes do dia anterior, até que o alarme do relógio de sua cabeceira anunciou sete horas, e ele por fim se levantou e tomou uma ducha gelada sentindo seu corpo se animar completamente.
Gilbert estava se aprontando para sair e ir até o refeitório para tomar o café da manhã, quando uma batida na sua porta o fez franzir a testa e se perguntar quem poderia ser. Ao abri-la, ele encontrou o sorriso bem humorado de Moody que disse;
- Bom dia, Blythe.
- Bom dia. Por que demorou tanto a chegar? Pensei que não viriam mais.- Gilbert disse, dando passagem para o amigo entrar acompanhado de Billy que vinha logo atrás.
- A culpa é toda do Billy que não quis usar o GPS do carro porque ele disse que sabia o caminho de cor. Resultado, nos perdemos e passamos a noite toda dirigindo, tentando encontrar o caminho certo.- Moddy disse suspirando e se sentando pesadamente na poltrona do quarto de Gilbert exibindo um rosto exausto.
- Eu não sabia que tinham feito uma estrada nova na divisa da rodovia.- Billy disse em sua defesa.
- Por que não pararam em um hotel na estrada ou me ligaram? Eu teria orientado vocês.- Gilbert respondeu.
- Você sabe que odeio dormir em lugares estranhos, e eu bem que pensei em te ligar, mas, para nosso azar, o Billy esqueceu o celular dele em casa, e o meu estava sem bateria.- Moddy respondeu parecendo ainda zangado com a teimosia de Billy de querer encontrar o resort sozinho.
- Quantas desventuras em uma só noite. Mas, o importante é que estão aqui.- Gilbert disse olhando afetuosamente para os dois amigos que o acompanhavam desde que eram rapazinhos teimosos e loucos por aventuras.
- Graças a Deus.- Moody disse de olhos fechados.
- O que querem fazer? Eu estava indo tomar café. Não querem me acompanhar? Vocês podem deixar a bagagem aqui, e depois, eu os levo até seus quartos.
- Boa ideia. Depois de todo esse tempo na estrada, eu estou precisando de um café puro para me manter em pé.- Billy disse colocando sua única mala em cima da cama de Gilbert.
- Eu também vou com vocês. Depois vou precisar de algumas horas de sono.- Moody disse bocejando.
Assim, os três amigos deixaram o dormitório de Gilbert e foram até o refeitório onde o café da manhã começara a ser servido. Eles se sentaram em uma mesa de canto de onde dava para ver todo o movimento do lugar, e enquanto Billy mexia seu café com uma colherzinha apropriada para isso, ele olhou para Gilbert e perguntou;
- Como estão as coisas por aqui?
- Normais até agora.- Gilbert respondeu sem muito entusiasmo.
- E a Josie?- Billy perguntou disfarçando o seu interesse para que Gilbert não percebesse a razão de seu questionamento.
- Acho que está dormindo. Ainda não a vi hoje.
- Não foi isso que eu perguntei.- Billy falou impaciente.
- O que quer saber?- Gilbert perguntou deixando transparecer sua irritação com a pergunta. Billy sempre tocava naquele ponto justamente quando ele não estava a fim de falar.
- Eu quero saber como vocês estão. Da última vez que nos falamos você ia pedi-la em namoro.
- Se quer saber se estamos juntos a resposta é sim.- Gilbert respondeu sem dar maiores detalhes do seu relacionamento com Josie prestes a acabar.
- E está dando certo?- Billy perguntou acrescentando creme ao seu café.
- Mais ou menos.- ele novamente foi evasivo, pois não queria falar com ninguém ainda sobre suas intenções.
- Por que insiste em um relacionamento que está fadado ao fracasso?- Billy disse parecendo quase zangado.
- Como você pode saber? Virou adivinho agora?- Gilbert também disse com uma centelha de raiva brilhando em seus olhos.
- Ei, vocês dois, eu não acho que aqui seja o melhor lugar para vocês discutirem sobre isso. Será que podemos tomar o nosso café em paz?- Moddy disse repreendendo os dois.
Gilbert não disse nada, pois reconhecia que Moddy tinha razão. O que ele não entendia era por que Billy sempre se irritava quando discutiam aquele assunto como se lhe dissesse respeito, e isso deixava Gilbert muito aborrecido. Por esta razão, ele não quis colocar mais lenha na fogueira da discussão e se limitou a tomar seu café em silêncio, enquanto seu olhar varria todo o salão a procura de uma pessoa em particular que ele não estava conseguindo encontrar. Ele viu Daniel sentado em uma mesa um pouco afastado de sua mesa conversando com pessoas da clínica que ele parecia conhecer, mas, Anne não estava com ele. Então, ele viu Irina passar perto de sua mesa e perguntou:
- Bom dia, Irina. Anne não vai vir para o café da manhã?
- Bom dia, Dr. Blythe. Eu a deixei dormindo, pois ela não teve uma noite muito tranquila.
- Alguma nova crise?- Gilbert perguntou preocupado.
- Não. Ela me disse que não conseguia dormir e eu lhe dei um calmante leve daqueles que o senhor receitou, e ela acabou pegando no sono bem tarde. Vou vê-la novamente assim que eu tomar o meu café da manhã, e tentar convencê-la a comer alguma coisa.
- Me chame se precisar de ajuda.
- Pode deixar.- Irina disse se encaminhando para uma mesa onde uma de suas enfermeiras da clínica acenava para ela.
- Eu não acredito que você a trouxe para cá.- Billy disse balançando a cabeça com incredulidade.
- Eu não a trouxe. O convite foi estendido a todos os internos que tivessem condições de viajar.- Gilbert disse começando a se irritar de novo com Billy.
- Você podia ter proibido a viagem, pois é o psiquiatra dela.
- Eu não teria sido justo com ela se não permitisse que ela fizesse essa viagem como todo mundo.
- Confessa que você a queria aqui?- Billy disse entre dentes.
- Eu só soube que ela viria quando Jerry me entregou a lista.
- Você é um idiota, Blythe. Não vê que desta maneira você está humilhando a Josie?- Gilbert ia perguntar de que maneira a presença de Anne estaria humilhando Josie quando Moody os interrompeu novamente dizendo:
- Pessoal, creio que estamos com os ânimos exaltados. Por que não falamos de algo mais agradável? Estou ansioso pelo baile no sábado.
- Você está ansioso porque minha irmã virá,- Billy disse em um tom mais calmo, porém , debochado.
- Você e a Prissy se acertaram?- Gilbert perguntou espantado com a novidade.
- Nós saímos algumas vezes, e eu a convidei para o baile e ela aceitou.
- Eu não acredito que minha irmã aceitou sair com você.- Billy disse em um tom falso de desprezo. Moody era um bom rapaz, e se Prissy estivesse realmente interessada nele, Billy não se oporia de forma nenhuma. Eram amigos a muito tempo para saber que Moody faria um bem enorme a Prissy se ficassem juntos.
- Está com ciúme da irmãzinha?- Moody perguntou debochando de Billy também.
- Não, eu só acho que ela é muita areia para o seu caminhão.
- Felizmente, ela não tem a mesma opinião.
Deste modo, ele continuaram a discutir a relação de Prissy e Moody, fazendo Gilbert se sentir aliviado por Billy ter-lhe dado uma trégua sobre o caso de Josie. Quando a mesma se reuniu a eles minutos depois, eles já estavam conversando sobre assuntos mais amenos..
ANNE
Ela fingia dormir, mas sua cabeça trabalhava a mil quilômetros por segundo. A escuridão do quarto a ajudava a esconder sua feição preocupada e recente dor de cabeça que a incomodava desde da tarde anterior.
Depois de seu encontro quente com Gilbert, ela correra para seu quarto e se refugiara ali, pois seu coração batia acelerado demais, e seu corpo a odiava por ter fugido do que mais queria. Porém, ela sabia que fizera o certo. Gilbert era seu médico, e também estava comprometido com uma mulher que não cansava de proclamar aos quatros ventos que sua relação com ele ia de vento em popa, e mesmo assim, Anne permitira que ele a beijasse e a tocasse de maneira íntima, e por esta razão, se sentia péssima, como se tivesse cometido o pior dos pecados.
No entanto, não conseguia esquecer a sensação em sua pele, a maneira como seu corpo correspondera ao toque dele, e só de se lembrar do lábios de Gilbert sobre os seus, sentia sua pele esquentar como se tivesse sendo queimada por chamas vivas, e o nome disso era desejo, ela sabia muito bem.
Não podia negar que o queria de um jeito vergonhoso. Seu rosto corava pelo teor de seus pensamentos quando se lembrava da maneira como as mãos dele tinham-na acariciado, e se não tivesse fugido, Anne não sabia o que teria de fato acontecido, porque estava bem difícil de resistir aos apelos de seu coração. Na verdade, não fora somente isso que a tinha perturbado. Roy Gardner tinha surgido de novo nas palavras inocentes de Daniel que a jogaram diretamente nos braços de Gilbert, onde ela sabia que encontraria o conforto para o seu desespero, e no entanto, encontrara bem mais do que esperara.
Anne se mexeu na cama sem vontade de se levantar. Não estava se sentindo bem, pois desagradáveis calafrios a faziam se enrolar mais embaixo das cobertas. Irina estivera ali de manhã, assim como estivera na noite anterior e confundira sua agitação com cansaço da viagem e ainda a não adaptação ao um novo ambiente. O que ela diria se soubesse que havia dois lados naquela história, uma que apontava seu terror por um fantasma do seu passado e a outra sua completa e desavergonhada paixão por seu psiquiatra?
Gilbert virava sua cabeça de um jeito que seu raciocínio simplesmente não funcionava quando estava com ele, e se aquela era a ideia dele de acalmá-la de seus surtos, não estava funcionando, porque ao invés de deixá-la relaxada, ele simplesmente acabara com seu psicológico. Não podia desejá-lo e no entanto, lá estava ela sonhando com aqueles lábios grossos e seus beijos arrebatadores. Ela tinha que parar imediatamente com aqueles pensamentos, pois acabara fazendo exatamente o que prometera que não faria.
Não queria ser a diversão de ninguém, muito menos de um homem que não era livre, mas que não se importava nem um pouco em trocar beijos quentes com sua paciente. Ela não podia deixar que Gilbert entrasse em sua cabeça daqueles jeito, pois seria mais um peso para carregar. As vozes odiosas andavam silenciosas naqueles dias, porém, a única da qual precisava se livrar desesperadamente continuava comandando as suas emoções a tal ponto de fazê-la surtar e enxergar em um homem tão doce quanto Daniel a face do mal.
Anne olhou pela janela e viu que a manhã já estava no auge. Irina viera buscá-la para o café da manhã, mas, ela fingira dormir porque quisera fugir de um confronto com Gilbert. Não sabia como reagiria ao vê-lo depois do dia anterior, e tinha medo de não conseguir disfarçar a enorme confusão que se instalara dentro dela, porém, Anne sabia que não poderia fugir para sempre, e uma hora teria que sair daquele quarto e encarar seu psiquiatra, somente não sabia se seria capaz de agir normalmente diante de tudo que aquele homem provocava nela.
Talvez, se fosse em uma situação diferente, ela pudesse se envolver com ele e viver a paixão mais louca de sua vida, mas, quando pensava nos espaços em branco ainda em sua mente, Anne entendia que não tinha nada a oferecer a alguém como Gilbert ou a qualquer homem. Ela sequer se lembrava de quem era direito, onde sua história se encaixava, de onde ela vinha. As únicas coisas que se lembrava eram de seus tios, da fazenda e dos seus dois amigos queridos, mas por onde havia estado antes de morar em Green Gables, ela não fazia a menor ideia, e pouco também se lembrava de sua carreira como pintora. O pouco que sabia sobre isso era graças a Daniel que lhe mostrara algumas fotos e reportagens sobre os seus trabalhos, e ficara sinceramente impressionada pelas críticas favoráveis às suas obras. Era engraçado descobrir que fora alguém tão importante e não se lembrar de quase nada sobre isso. Era verdade que tinha algumas curtas lembranças, mas, nada muito significativo, porém, ela sabia que a chave para sua real descoberta sobre o seu passado obscuro estava naquele homem cujo nome ela se recusava a pronunciar.
- Ei, Anne, pretende ficar nesse quarto o dia todo?- Daniel perguntou ao entrar no seu quarto. Ela não gostou muito daquela intromissão, porque queria ficar sozinha, mas, sabia que não era culpa dele já que ela esquecera de trancar a porta, então, ele não tinha como adivinhar que ela não desejava ver ninguém.
- Acho que exagerei demais ontem no tempo que passamos na piscina Eu não estou acostumada com isso.
- Está resfriada?- ele perguntou examinando-lhe o rosto com preocupação. Anne achava esses gestos dele fofos demais, mas, havia alguma coisa nele que a deixava desconfortável também e não sabia o que era. Talvez fosse somente sua mente condicionada a desconfiar de qualquer pessoa que se aproximasse demais dela, principalmente se fosse do sexo oposto, mas, então por que com Gilbert não era assim? Por que confiava tanto nele?
- Acho que estou só cansada mesmo.- Anne respondeu, negando a pergunta anterior dele.
- Mas, você precisa se levantar e ir comigo ao refeitório para almoçar. Irina me pediu para chamá-la. Você não tomou o café da manhã, e não pode ficar o dia todo sem se alimentar, você sabe disso.- Daniel disse de um jeito que não aceitava nenhuma recusa da parte dela.
- É, eu sei.- ela respondeu com um suspiro.
- Então, se apresse, o almoço vai ser servido em quinze minutos.- Daniel disse fazendo com que ela se levantasse da cama.
- Está bem. Vou tomar um banho, me vestir e depois podemos ir.- Anne disse pegando uma roupa no seu guarda-roupa e se encaminhando para o chuveiro. Em pouco tempo estava pronta, e quando Daniel olhou para ela, ela viu um brilho estranho nos olhos dele que a fez perguntar:
- O que foi Daniel? Por que está me olhando assim?
- Nada, eu só estava pensando no quanto você é bonita.
- Obrigada.- Anne respondeu se sentindo ainda pouco a vontade com o olhar que ele tinha lhe lançado antes.- Acho que podemos ir.- ela disse.
- Claro.- ele segurou na mão dela e assim chegaram no refeitório.
A primeira pessoa que viu foi Gilbert. Ele lhe lançou um olhar preocupado e depois, ela viu o rosto dele se contrair involuntariamente ao observar sua mão segurando na de Daniel, mas, ela não a soltou, deixando que ele pensasse o que quisesse daquele gesto.
- Tudo bem, Anne?- Irina perguntou ao observar-lhe o rosto pálido.
- Sim.- ela respondeu, mas, no fundo, não estava se sentindo nada bem. Os calafrios continuavam, e o cansaço parecia pior, mas, ela não queria deixar Irina preocupada e estragar o almoço dela e de Daniel.
Anne se sentou à mesa e tentou comer, mas, as poucos garfadas que deu pareciam amargas em sua boca. Ela tentou melhorar o sabor tomando um pouco suco de laranja, e quando levantou a cabeça, Anne encontrou o olhar de Gilbert sobre ela. Ele olhava diferente dessa vez, e não era como das outras vezes. Havia certa preocupação sim, mas, algo mais quente, mais vibrante que fazia seu corpo ardente com a mera lembrança do que acontecera entre eles. Ela precisava fugir daqueles olhos, mas, não conseguia. Gilbert a envolvia de tal maneira que ela se sentia presa naquele castanho maravilhoso, naquele rosto sem defeitos, naquele corpo que a fizera sentir mil e uma sensações quando estava nos braços dele.
Quando o almoço acabou, metade da comida ainda estava em seu prato, ela disfarçou para que nem Irina e nem Daniel percebessem esse detalhe, e felizmente a boa senhora estava envolvida em uma conversa com uma amiga de profissão, e Daniel parecia estar mais interessado na conversa alheia do que prestar atenção no péssimo paladar de Anne naquele dia.
Assim, ela pediu licença para voltar ao seu quarto, onde se atirou na cama assim que chegou lá, fechou o olhos e tentou com todo o esforço do mundo arrancar Gilbert da sua cabeça.
ANNE E GILBERT
Gilbert terminou de se arrumar, sentindo-se perfeitamente confortável em suas botas de cowboy. Ele tinha recebido a incumbência de liderar o passeio a cavalo dos internos naquele dia, e essa escolha não tinha sido feita aleatoriamente.
O rapaz adorava cavalgar, e além disso, sua habilidade com aqueles animais era admirável. Seu pai tinha uma fazenda onde desde de criança Gilbert frequentava com Jerry e seu amor pelo hipismo se destacou desde cedo tornando-o um exímio cavaleiro. Na adolescência, ele participara de várias competições, nas quais ganhara muitos títulos e só desistiu dessa atividade tão prazerosa quando foi para a faculdade de medicina, onde todo o seu tempo fora empregado nos estudos, não sobrando nenhum adicional para que continuasse praticando o esporte que tanto amava. Porém, toda vez que tinha uma oportunidade, lá estava ele em cima de um cavalo, e era o momento no qual mais se sentia feliz, como se todas as preocupações do mundo fossem jogadas ao vento, e seu coração se libertasse pelo menos por alguns minutos da prisão de suas culpas e mágoas.
Ruby detestava cavalos, especialmente seu cheiro, e toda vez que iam para a fazenda, e Gilbert saía para dar um passeio, ela o fazia tomar banho no momento em que ele chegava em casa, e só depois permitia que seu marido lhe abraçasse ou lhe desse um beijo. Gilbert nunca ligara para essa aversão dela aquela atividade, e entendia que não era porque ele gostava que ela também tinha que apreciar. Porém, Jerry sempre a classificava de fresca, insuportável e cheia de manias, e embora, Gilbert não concordasse com ele na época, se permitia rir quando ele usava esses apelidos, pois a maneira como o primo falava era tão cômica, que ele não conseguia ficar sério, mas, era lógico que ele nunca deixara Ruby saber desse detalhe ou ela o faria dormir no sofá por uma semana.
O barulho de passos na porta do seu dormitório fez Gilbert se virar e dar de cara com Josie. Ela não iria com ele, pois fora designada para outra tarefa, por isso, ela estava ali, para se despedir dele e lhe desejar um bom passeio.
- Amor, você está maravilhoso. Um verdadeiro cowboy, você tem que saber que tenho um fraco por homens rudes e durões .- ela disse sorrindo ao se aproximar dele.
- Não sabia dessas suas preferências. Obrigado por me contar. Onde estão Moody e Billy?
- O insuportável do Dr. Andrews está na turma de xadrez e Moody foi designado para ficar de olho no pessoal da natação.- ela disse ajeitando a camisa jeans de Gilbert.
- E você?- Gilbert disse se divertindo com as palavras dela. Não sabia porque Billy se preocupava com Josie e tentava protegê-la naquela sua história com ela, se estava na cara que Josie não o suportava. Um dia ele iria querer saber a história por trás daquela aversão gratuita que ela parecia nutrir por seu amigo.
- Fiquei na turma da maquiagem. Vai ser divertido maquiar as velhinhas da terceira idade.- ela disse rindo divertida.
- Espero que tenha um bom dia.- Gilbert disse, e ela respondeu com um beijo que não causou-lhe nenhuma reação e foi inevitável compará-lo com o beijo que trocara com Anne no dia anterior quando ele ficara totalmente excitado com as poucas carícias que trocaram.
Ele chegou no local onde os cavalos tinham sido separados para o passeio, e notou espantado Anne caminhar com Daniel em sua direção. Ele não sabia que ela tinha se inscrito para aquela atividade, e por isso, não conseguiu disfarçar o seu olhar na direção dela., que também o olhou intensamente como se não acreditasse que ele estivesse ali.
Anne não sabia o que pensar ao ver Gilbert parado na sua frente. Maldição! Ele estava tão bonito que chegava a doer olhar para ele. Anne tentou não demonstrar sua inquietação, porém, não conseguiu fazendo Daniel perguntar;
- Está tudo bem com você?
- Está.- ela respondeu, mas, não estava sendo sincera. Seu nervosismo não se devia apenas a estar na presença e Gilbert, mas, sim, porque realmente não queria estar ali. Ela continuava com o mesmo mal-estar de manhã, e quando Daniel aparecera convidando-a para aquele passeio, ela quisera recusar, mas, ele não permitira, e por fim ela cedera quando ele dissera que se ela não fosse, ele também não iria, e pensando que ficaria pior se decepcionasse o amigo, Anne aceitou.
- Você quer escolher o cavalo, Daniel?- Gilbert perguntou educadamente, lutando para não deixar que sua antipatia pelo rapaz aumentasse. Na verdade, ele não suportava vê-lo em todos os lugares com Anne, e seu ciúme, o estava deixando cada vez mais irritado com o rapaz.
- Quero o mais manso que vocês tiverem. Eu gosto de cavalgar, mas, eu não tenho tanta prática. Sou um homem da cidade, doutor.- ele disse tentando fazer piada, mas Gilbert não riu.
- Acho que aquele marrom seja o que você procura. E você? Anne?- ele perguntou com cuidado, seus olhos se perdendo no rosto dela enquanto admirava-lhe o brilho dos cabelos ao sol. Deus! Ela era linda, e ele mal conseguia desviar os olhos dela. Será que estava dando na cara que estava completamente apaixonado por ela?
- Eu pensei que poderia cavalgar junto com Daniel. Eu nunca fiz isso antes.- ela respondeu evitando olhá-lo, pois se o fizesse se trairia e deixaria que ele enxergasse como seu coração batia descompassado só por sentir-lhe a presença tão perto.
- Anne, não acho isso uma boa ideia. Você ouviu o que eu disse? Não sou um bom cavaleiro e não quero que se machuque caso eu acabe te derrubando do cavalo.- Daniel disse nervoso.
- Você pode ir comigo no meu.- Gilbert disse e surpresa Anne o encarou.
- Eu não sei.- ela respondeu insegura, e Gilbert para desafiá-la perguntou:
- Está com medo de mim?- o que ela poderia responder? Na verdade, não estava com medo de Gilbert e sim de si mesma quando estivesse próxima dele de novo, mas, não podia revelar-lhe isso, por esta razão respondeu:
- Não tenho medo de você.
- Então vem comigo.- ele disse estendeu-lhe a mão que ela pegou relutante. Assim, Gilbert se segurou em sua cintura e a colocou em cima do cavalo, montando atrás dela no minuto seguinte.
Anne fez o possível para não ficar perto dele demais, mas, a medida em que cavalgavam, Gilbert a puxou para mais perto, deixando-a entre as rédeas e seus braços. E o pior de tudo era a respiração dele em seus cabelos que descia para o seu pescoço, causando-lhe arrepios. Aquilo era uma tortura e quando pensou que não podia ficar pior, a voz dele em seu ouvido quase a fez dar um pulo do cavalo:
- Está gostando do passeio?
- Sim.- ela respondeu sem se atrever a falar mais, pois ele perceberia pelo tremor em sua voz o que aquela aproximação entre os dois estava lhe causando.
- Diga-me se estiver ficando desconfortável para você.- ele disse novamente, e Anne desejou que aqueles lábios sussurrando em seu ouvido estivessem sobre o seus.
Anne estava tão envolvida naquele momento que não percebeu o estado de Gilbert. Também era uma tortura para ele tê-la em seus braços e não poder tocá-la. O perfume dela era bom demais e ele quase enterrou o nariz no pescoço dela para senti-lo melhor, porém se conteve no último minuto, pois não estavam sozinhos e aquilo com certeza não seria apropriado. Ela se mexeu em cima do cavalo, e acabou apoiando seu corpo no de Gilbert que imediatamente sentiu seu corpo responder ao contato do dela que agora tinha a cabeça dela encostada em seu ombro levemente.
Eles cavalgaram cerca de quarenta minutos, e quando o passeio acabou, eles retornaram ao ponto e encontro anterior. Gilbert desceu do cavalo e ajudou Anne a fazer o mesmo que sentiu falta do contato do corpo dele encostado no seu.
- Obrigada pelo passeio.- ela disse timidamente sentindo o cansaço de antes aumentar. Estava exausta de controlar suas emoções e ter ficado nos braços e de Gilbert somente piorava a sensação.
- Não precisa agradecer. Eu também apreciei demais o passeio, pois gosto muito de cavalgar.- ele não disse que o passeio tinha valido a pena porque ela estava lá com ele, porque se declarar assim seria complicado. Ele precisava resolver sua situação com Josie primeiro e a questão de encaminhá-la para outro psiquiatra, e só depois poderia fazer qualquer movimento para se aproximar dela de maneira mais romântica.
Anne esperou Daniel descer do cavalo, e se virou para ir com o amigo para seu quarto, porém, ela deu dois passos e tudo escureceu, e a última coisa que ouviu foi Daniel gritando o seu nome. Gilbert correu em sua direção assim que escutou o rapaz dizer o nome dela em estado de alerta, segurando-lhe fortemente a cintura para impei-la de cair ao chão.
- O que aconteceu?- ele perguntou preocupado ao se aproximar.
- Eu não sei. Ela simplesmente desmaiou.
- Vou levá-la para o quarto dela.- Gilbert disse pegando Anne no colo, andando apressadamente até o dormitório dela seguido por Daniel que os deixou a sós assim que percebeu que Gilbert ia examiná-la.
Por sorte, Gilbert tinha se lembrado de levar sua maleta médica da qual dificilmente se separava . Ele examinou a pressão dela primeiro e percebeu que estava mais baixa que o normal, depois ao checar-lhe a temperatura, Gilbert notou espantado que chegava quase a trinta e nove graus. Por que ela não havia lhe dito que estava se sentindo mal? Durante todo o passeio, ela parecera alheia a tudo, mas, em nenhum momento parecera estar doente. Ele praguejou baixinho ao pensar que devia mesmo mandá-la para outro psiquiatra, pois os seus sentimentos por ela o estavam deixando-os desatento aqueles detalhes, e isso não podia acontecer. Como não percebera o estado dela? Ele sabia a resposta. Ficara tão encantado por ela estar ali que deixara que sua paixão suplantasse seu instinto médico.
Desgostoso consigo mesmo, Gilbert aplicou-lhe uma injeção para baixar a febre e esperou pacientemente que ela acordasse, pois não conseguiria sair dali antes de falar com ela, e entender o que tinha se passado para ela ficar daquele jeito. Anne abriu os olhos depois de dez minutos, e Gilbert examinou sua febre e pressão arterial novamente e notou que tinham chegado a um nível normal com a medicação que ministrara.
- Oi.- ele disse assim que ela o fitou com seus olhos azuis enevoados.
- Oi. O que aconteceu?- ela perguntou se sentando na cama.
- Você desmaiou . – Gilbert explicou observando-a passar as mãos pelos cabelos tentando ajeitá-los com os dedos.- Quer falar sobre isso?
- Falar sobre o que?- ela disse baixando o olhar sem encará-lo diretamente.
- Eu quero que me diga por que não me contou que estava se sentindo mal antes de começarmos a cavalgar?
- Eu não quis estragar o passeio.- ela disse timidamente sentindo a presença dele começar a mexer com ela, principalmente porque Gilbert estava sentado a poucos metros e ela não sabia o que fazer com seu coração que começava a disparar.
- Anne, olhe para mim.- ele pediu pegando no queixo dela e fazendo os olhos dela se prenderem no dele por um instante.- Esse seu estado emocional tem a ver com o que aconteceu conosco ontem?- ela não sabia o que responder. O principal motivo não tinha sido aquele. A voz de Roy Gardner em sua cabeça era o motivo maior de seu mal-estar, contudo, não podia dizer que não estava mexida com o que acontecera entre eles. - Por favor, me responda. Eu preciso saber se a levei a uma situação complicada com a qual você não está sabendo lidar.- Deus, aqueles olhos sobre ela eram como um imã. Ela não conseguia parar de encará-los mesmo não querendo estar tão próxima de Gilbert naquele momento.
- Não. Você não me forçou nada. Eu também quis.- ela confessou respirando fundo.
- Então, por que está assim?- ele insistiu, pois precisava saber se realmente não a estava levando a uma situação insuportável demais para seu precário autocontrole.
- Podemos falar disso no dia da minha terapia?- Anne respondeu, e no mesmo instante sentiu Gilbert entrelaçar seus dedos nos dela, e uma descarga elétrica silenciosa correu pelo seu corpo deixando-a arrepiada da cabeça aos pés.
- Tudo bem, Anne. Mas, eu preciso te falar uma coisa importante.- Gilbert brincou por alguns instantes com os dedos dela e depois continuou:- Eu acho que você deveria mudar de psiquiatra.- Anne o olhou assustada e perguntou:
- Por que ?
- Anne, você deve ter percebido o que está acontecendo entre nós. Eu sei que sente, não adianta negar, e justamente por isso, eu não posso mais te atender, eu...- ela não o deixou terminar e respondeu:
- Eu não quero.- ela não podia perdê-lo. Somente Gilbert poderia ajuda-la a encontrar todas as suas lembranças esquecidas, e não confiava em mais ninguém para isso.
- Anne, eu realmente acho que deveria reconsiderar. Isso entre nós está ficando complicado, e eu....- ele queria dizer que estava apaixonado, que queria ficar com ela e sendo assim, ele não poderia continuar tratando-a, mas, Gilbert sabia que ainda não era o momento. Ele estava comprometido e não podia se declarar a outra mulher quando não estava livre para ela.
- Eu já disse que não quero. Não aceito outro médico, por favor, não me obrigue.- ela estava quase chorando, e imploraria se fosse necessário. Ela precisava dele como médico, mesmo que seu coração também o desejasse como homem. Porém, sua saúde mental era mais importante, e os seus sentimentos por ele, ela resolveria depois.
- Eu não quero obrigá-la a nada e não vou, mas, quero que tenha consciência do que está me pedindo.- Gilbert disse sentindo que aquilo seria mais difícil do que pensara, pois enquanto fosse o psiquiatra dela, seu sentimentos teriam que ser reprimidos, e sinceramente, ele não sabia se conseguiria mais se controlar.
- Por favor, Gilbert.- ela disse apenas, e o coração dele tremeu com aquela voz tão triste. Como podia amá-la tanto daquele jeito? Estava completamente perdido naquele sentimento, e por Deus, como a queria.
- Anne, somente me diga o que realmente quer e eu farei.- ela o olhou nos olhos novamente ao ouvir aquelas palavras, e quase respondeu que queria tudo que merecia ter. Ela queria sua vida de volta, ela queria lembrar quem era, ela queria acreditar que teria um futuro e que aquele vazio em sua cabeça fosse preenchido com as lembranças do que vivera no passado, e que fazia falta, e acima de tudo, ela o queria com todo o seu coração de todas as maneiras que pudesse tê-lo porque estava apaixonada e não conseguia pensar em outra pessoa desde o dia em que o conhecera, mas, seu bom senso falou mais alto, e entendeu que não poderia ter tudo, e escolheu o que seria o mais sensato naquele momento, pois de qualquer forma, ela não estava abrindo mão de Gilbert , já que ele nunca lhe pertencera e nunca tivera sentimentos por ela além daquela atração que parecia sempre empurrar um para o outro.
- Eu quero ficar boa, e voltar a ser quem eu era antes de isso tudo acontecer, e então seguir em frente com a minha vida.- Gilbert tentou não se sentir decepcionado com a resposta dela, mas não conseguiu. No fundo, ele queria que Anne tivesse respondido que desejava ficar com ele, porém entendia que na situação na qual ela se encontrava, Anne não teria condições de querer outra cosia além de se libertar do seu tormento.
- Está bem. Então, eu continuou sendo o seu psiquiatra.- ele se levantou da cama, e ela fez o mesmo e seus corpos ficaram tão próximos que quase se tocavam. Gilbert olhou para aqueles lábios carnudos, e pensou que nunca desejara beijar tanto alguém como queria beijar Anne naquele momento, mas, sabia que não podia, pois já burlara regras demais.- Eu te vejo mais tarde. Tente descansar.- ele disse beijando-lhe a mão que ainda segurava entre as suas.
Quando ele estava se encaminhando para a porta, ela o chamou de volta:
- Gilbert.
- Sim.- ele esperou com a respiração suspensa.
- Podemos ser amigos, não é?- Gilbert sorriu de leve sentindo um aperto em seu coração ao ouvi-la falar aquilo, mas, não podia negar-lhe isso, então respondeu:
- Claro que sim.- depois ele saiu de lá se encaminhando para o seu dormitório com as palavras "eu te amo", presas na garganta
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