Capítulo 10- As vozes do coração
Olá pessoal. Mais um capítulo postado. Espero que gostem e comentem. Beijos.
GILBERT
Gilbert parou o carro no exato momento em que o sinal se fechou, e enquanto esperava que ele se abrisse novamente, sua mente voou de volta para a clínica, especialmente para o quarto onde deixara Anne adormecida em companhia de Irina.
Deus! Ela dissera que o amava. Será que ela tinha consciência disso? Ou fora apenas fruto da imaginação perturbada dela? De qualquer forma, Anne não podia amá-lo, pois ele não seria bom para ela. Anne merecia alguém feliz, que tivesse uma mente saudável e um coração livre para dar a ela tudo o que ela nunca tivera antes. E ele não era esse homem. Estava perdido demais em um passado que tirara tudo dele. Sua alegria, sua liberdade, sua sanidade mental. E mesmo sentindo seu coração completamente rendido ao que estava sentindo por ela, não poderia deixa-lo germinar, crescer, criar raízes dentro dele, porque ele acabaria destruindo Anne, assim como fizera com Ruby e consigo mesmo.
Gilbert se sentia quebrado demais por dentro, sem chance de que conseguiria um dia ser concertado, ele podia ajudar Anne a encontrar a luz, mas ele próprio nunca conseguiria escapar da sua própria escuridão.
O sinal se abriu, e Gilbert continuou dirigindo em direção à casa de Josie, mas, seus pensamentos ainda se agarravam a ele como se tivessem vida própria, e por mais que desejasse se desviar do caminho por onde o estavam levando, eles retornavam, fazendo-o se lembrar daquele último beijo que trocaram. Ele ainda sentia os lábios dela sobre os seus, o toque dela em seus cabelos, em seu rosto, a maneira como ela se entregara ao momento como a criança inocente que era, sem perceber que o maior perigo não era seus pesadelos, mas sim o homem em quem ela confiava cegamente.
Suas mãos estavam pesadas demais de culpa para tocá-la sem contaminar Anne com seus pecados. Ela era doce demais, linda demais e delicada demais para não se ferir com a crueza de sua alma. Ela era o anjo que ela própria desenhara naquela folha simples de papel e não o contrário. Por que tudo aquilo tinha acontecido? Por que aquela garota incrível e tão única em sua essência tinha surgido em seu caminho? Ele não merecia o que ela tão claramente estava disposta a lhe dar. Ele não merecia aquele sorriso que ela lhe dera em seu quarto enquanto estava nos braços dele, ele não tinha direito ao amor dela, e muito menos a alegria que sentiria se ela fosse realmente sua, porque ele nunca poderia tê-la, ela lhe era totalmente proibida, e por isso, manter-se emocionalmente distante dela era a única saída que encontrava para o desastre eminente que estava a caminho.
Gilbert chegou na casa de Josie e deixou o carro estacionado no gramado, e antes que batesse na porta, ela a abriu como se estivesse esperando que ele chegasse a qualquer momento.
- Vi o seu bilhete. Aconteceu alguma coisa grave com um paciente nosso?
- Sim, tentativa de suicídio, mas Irina conseguiu evitar.- Gilbert disse rapidamente sem querer entrar em detalhes.
- E quem é o paciente?- ela perguntou interessada, e Gilbert resolveu dizer a verdade, pois ela descobriria de qualquer jeito e o infernizaria com aquela história , cobrando-lhe explicações absurdas .
- Anne.
- A pintora? - Josie disse com o rosto mais zangado do que surpreso.- Você me deixou sozinha na cama para atender a garota que nem é mais sua paciente? - a voz dela soou irritante ao seu ouvido , e Gilbert respirou fundo antes de dizer:
- Irina não conseguiu encontrar o Dr. Benson, e por isso me ligou. Você sabe que não posso negar socorro a quem quer que seja. Eu sou médico e essa é minha função.- Josie o olhou com desagrado. Embora soubesse que ele estava certo, ela detestava a ideia de Gilbert correndo para aquela garota sempre que ela estava em apuros. Até parecia que ela fazia de propósito. Ela olhou para Gilbert observando sua expressão. Por que sentia que havia alguma coisa diferente na maneira de Gilbert falar daquela pintorazinha? Talvez fosse ciúme bobo da sua parte, mas, ela notara que quando ele dizia o nome dela, havia um carinho na sua voz, e Josie nunca percebera esse detalhe quando Gilbert falava com ela. Será que estava ficando possessiva demais? Vendo coisas que não existiam?
Anne era uma bela garota, tinha um rosto angelical, uma pele perfeita e belos olhos azuis, mas ela não era nem de longe metade da mulher que Josie era , então, ela não deveria temer que Gilbert caísse na rede daquela garota tão fortemente mergulhada em suas misérias, quando tinha uma mulher de verdade como ela a seu lado.
- Tem razão, Gilbert. Falei sem pensar. Você apenas estava cumprindo com sua obrigação.- ela disse com uma fingida compreensão que lhe era muito pouco usual.
- Ainda bem que entendeu isso. - Ele disse tentando tomar coragem para dar o seu passo seguinte, e então, não encontrando uma maneira melhor, ele disse:- Josie , eu andei pensando. Já tem um bom tempo que nos conhecemos, e saímos algumas vezes juntos, então, acho que seria uma boa ideia se passássemos mais tempo juntos.- Josie sentiu seu coração se acelerar. Será que ele estava dizendo as palavras que ela tanto esperara ouvir durante aquele tempo?
- O que quer dizer exatamente com isso, Gilbert?- ela perguntou com cautela.
- Acho que a gente deveria namorar. - A explosão de alegria dentro dela a fez quase levitar. Gilbert Blythe a tinha pedido em namoro e esperara demais por isso para recusar agora.
- É claro que aceito.- ela disse, se agarrando ao pescoço dele e beijando-o com vontade.
Gilbert deu o melhor de si para corresponder ao beijo, mas não tinha o mesmo toque excitante de Anne. Ela o fazia perder a cabeça em segundos, enquanto Josie mal lhe causava uma resposta decente. Tomara uma decisão levado pelo seu instinto de auto preservação , e levaria aquilo até o fim, mesmo que não estivesse certo de que estava indo pelo caminho certo. Precisava colocar uma barreira entre ele e Anne, antes que fizesse uma besteira sem tamanho, e namorar Josie lhe parecera a única opção válida naquele instante. Sentir que tinha um compromisso com alguém talvez colocasse um freio no que vinha sentindo, e o impedisse de perder completamente o controle e mergulhar nas profundezas daqueles olhos azuis. O beijo terminou, e Gilbert afastou Josie de si dizendo:
- Bem, agora preciso ir para casa e resolver alguns assuntos pessoais.
- Tão cedo? Achei que ficaria para o almoço- Gilbert notou a decepção na voz de Josie, e disse tentando esconder sua vontade louca de sair logo dali.
- Amanhã eu prometo que jantamos juntos, está bem?- aliviado, ele a viu sorrir e aceitar de bom grado sua oferta, assim, ele deu-lhe um último beijo e pegou um táxi para ir para casa, pois seu carro ainda devia estar com Moody.
Quando chegou em seu prédio, o zelador o comunicou, que seu carro já estava na garagem e desta forma, Gilbert foi para seu apartamento, suspirando profundamente pela sensação de infelicidade que o acometeu.
Não lhe agradava usar Josie daquela maneira, nunca fizera algo parecido antes, mas cuidar de Anne vinha em primeiro lugar, e não poderia fazer isso se não pudesse se concentrar no lado profissional daquele assunto. Isso o fez se lembrar que teria que conversar com Charlie Benson sobre o que decidira. Com esse pensamento martelando em sua cabeça, ele pegou o celular e discou o número do amigo que o atendeu prontamente. Eles combinaram de conversar no dia seguinte na clínica, e assim com esse assunto encaminhado, Gilbert resolveu tirar um cochilo antes de ir ver Anne novamente naquela tarde. Ele dissera a Irina que voltaria a vê-la no dia seguinte, mas a sua ansiedade de saber se ela realmente estava bem o fizera mudar de ideia
Ele se deitou em sua cama, sentindo seus músculos cansados reclamarem pelas poucas horas de descanso que tivera nas últimas horas, e fechou os olhos, porém, antes de adormecer, ele pôde ver em sua mente um olhar azul tão triste que mesmo em sua sem inconsciência nunca mais abandonaria o seu coração.
ANNE
Ela acordou poucas horas depois que Gilbert tinha ido embora, seu sono tinha sido calmo apesar das circunstâncias, e não tivera os costumeiros pesadelos que a jogavam em um estado de horror completo, o que já era um bom começo, levando -se em conta por tudo o que passara nos últimos dias.
Anne olhou para o lado pensando que encontraria Gilbert, mas, seu desapontamento a pegou em cheio quando percebeu que ele não estava mais ali.
Seu rosto se encheu de tristeza quando percebeu que ele tinha ido embora depois de cuidar dela, o que parecia não ter significado muito para ele uma vez que sequer ficara ali para ver como ela estava se sentindo. Ela afundou a cabeça no travesseiro pensando no beijo doce que trocaram, e sentiu seus lábios formigarem ao se lembrar da sensação que sentira. Fora como se tivesse entrado em uma fornalha quente, seu corpo se dissolvendo na doçura daquele homem que era seu anjo protetor.
Porém ele fora embora, e seu coração se rebelava contra aquela verdade, e não queria pensar que fora abandonada de novo pela única pessoa que a fazia se sentir viva, que a arrastava para a luz quando se sentia totalmente imersa na dor. Felizmente as vozes em sua cabeça não tinham aparecido ainda, portanto, podia desfrutar daquela calma de dentro de si por mais alguns instantes, e o medo tenebroso e o frio que fazia seu sangue se tornar uma pedra de gelo, também não estava ali.
Anne levantou o corpo apenas o suficiente para que sua mão alcançasse a jarra de água fresca posta provavelmente por Irina ao lado de sua cama . Sua garganta seca se aliviou um pouco com a sensação do líquido gelado passando por ela, e levando embora a aspereza que a incomodava desde o momento em que abrira os olhos. Ela colocou o copo de volta na mesa, e se deitou novamente encarando a janela que tinha sido fechada para que ela pudesse ter um sono tranquilo, e pensou no que faria naquele dia para preencher o vazio que sentia naquele instante.
Era sempre dessa maneira que acontecia depois que ela passava por aquele processo doloroso de se autoflagelar com a culpa. Um buraco imenso se abria em seu peito, e nada era capaz de fazê-la se sentir melhor. Anne não sentia a mesma vontade de se machucar de novo como tivera pela manhã, mas a sensação de que estava morta por dentro a deixava incapaz de reagir a qualquer coisa ou contato humano. Ela sentia que caminhava por um deserto árido, e cheio de pedras pontiagudas que machucavam-lhe os pés, fazendo-a sangrar por todo o caminho, ela queria parar e descansar, mas, se o fizesse voltaria a sentir a dor de não saber quem era, do que a espreitava nas sombras, e o que lhe causava medo. Desta forma, ela não sabia dizer qual estado de ânimo era pior, se as vozes em sua cabeça que a perturbavam tanto a ponto de deixá-la maluca, ou se aquele vácuo que sugava suas energias, deixando-lhe apenas os pensamentos um tanto incoerentes e desorganizados dentro de sua cabeça.
Irina apareceu algum tempo depois, e sorriu ao ver que ela estava acordada. Anne sentiu-se um pouco melhor ao olhar para o rosto amoroso daquela mulher que era outro anjo que surgira em seu caminho para ajudá-la a não se afundar ainda mais em sua solidão interior, por isso, fez uma tentativa falha de sorrir de volta, mas, seus lábios apenas se curvaram em uma linha fina que não se assemelhava nem de longe a um sorriso verdadeiro.
- Como se sente, meu amor?- a boa enfermeira se aproximou medindo-lhe a temperatura, percebendo satisfeita que Anne estava apenas febril em comparação àquela manhã quando sua pele queimava tanto chegando a quase quarenta graus.
- Cansada.- Anne respondeu sem ânimo, olhando para a bandeja de comida que Irina trazia nas mãos, já sentindo seu estômago em agonia rejeitando qualquer alimento antes mesmo de prová-lo.
- É compreensível que se sinta assim. Angustia em excesso consome muita energia. Felizmente conseguiu descansar um pouco, e agora está na hora de se alimentar.- Irina disse colocando a bandeja de comida no colo de Anne que empurrou-a para longe.
- Não consigo.
- Querida, faz tempo que está sem comer. Se continuar assim, vou ter que te levar para a enfermaria. É isso o que quer?- a voz dela apesar de severa tinha o mesmo tom amoroso de antes, por isso, Anne fez um esforço em pegar o garfo que estava ao lado da bandeja, enchê-lo de uma porção de comida e levá-lo a boca, sob a supervisão de Irina que esperava pacientemente que ela limpasse o prato todo.
A ruivinha mastigou da melhor forma que pôde, mas, quando o alimento passou por sua garganta, imediatamente, ela sentiu uma náusea forte, fazendo-a correr para o banheiro, vomitando o nada existente em seu estômago, pois, como Irina dissera, ela não comia a muito tempo e somente conseguiu botar para fora o suco gástrico que ficou queimando em sua traqueia depois. Quando voltou para o quarto e encontrou o olhar de compaixão de Irina sobre ela, lágrimas grossas começaram a rolar pela sua face, e a enfermeira, não conseguindo ignorar a tristeza de Anne, a abraçou e a menina encostou a cabeça em seu ombro e começou a soluçar dolorosamente.
- Querida, não fique assim. Tudo vai melhorar.- a boa mulher lhe dava tapinhas amorosos nas costas, e balançando a cabeça, Anne respondeu:
- Perdoe-me, Irina, eu não consigo. Está tudo ruim aqui dentro.
- Nós vamos te ajudar, meu amor. É para isso que estamos aqui.
- Ninguém pode me ajudar, Irina. Sinto que estou me perdendo. Não posso continuar assim, estou cansada. Eu não sinto nada a não ser essa dor que me consome e me joga em um buraco fundo. Às vezes não consigo respirar, tamanho é o peso em meu peito.- Irina ouvi-lhe o desabafo aliviada e angustiada ao mesmo tempo, pois, quando ela lhe falava do que sentia, podia entender em parte o pesadelo que ela devia viver dentro da própria cabeça, porém, não gostava daquele tom derrotado que ela usava. Anne era jovem demais para não querer mais viver.
- Amor, eu sei que deve ser difícil, mas, não se desespere assim, o Dr. Blythe virá te ver, e vamos conversar com ele para ver que sugestão de tratamento ele te dará.- Anne levantou a cabeça e olhou Irina por entre as lágrimas. Saber que Gilbert viria vê-la dava-lhe um ânimo diferente, porém, tinha que se certificar que não estava se enganando de novo e nem imaginando coisas absurdas.
- Ele virá me ver?
- Sim, me disse que virá amanhã. Isso não é bom?- ela perguntou observando a expressão de Anne com curiosidade.
- Sim. Eu pensei que ele não viria mais, pois quando acordei, Gilbert não estava mais aqui.- Irina não pôde deixar de perceber seu tom despontado, e mais uma vez se perguntou se não havia mais naquela história do que aparentava. Ela notara o jeito com que o Dr. Blythe cuidava dela, e Irina era vivida o bastante para entender que aquele não era apenas o comportamento de um médico preocupado com uma paciente. Seus olhares para Anne era de um homem que se importava com uma mulher no sentido mais romântico da palavra, e de forma nenhuma Irina desaprovava aquilo. Talvez pela ética profissional de medicina aquilo não deveria estar acontecendo, mas, quem comandava o coração? Quem poderia condenar um homem como Gilbert Blythe em se apaixonar por uma paciente que claramente parecia sentir o mesmo por ele? Irina sabia que era romântica demais, e assistir filmes do gênero todos os domingos à tarde quando não estava trabalhando apenas reforçava essa característica de sua personalidade, e por isso, achava perfeitamente possível que Anne e Gilbert se tornassem um casal, sem contar que ficavam lindo juntos, e isso ela pudera comprovar quando os vira dormindo juntos naquela manhã. Tentando provar sua teoria, ela olhou para Anne e perguntou:
- Anne, você gosta do Dr. Blythe?- Anne a olhou um tanto confusa pela pergunta e disse:
- Não sei o que quer dizer.- pacientemente, a enfermeira a levou até a cama, e a fez se sentar com ela enquanto explicava o teor de sua pergunta.
- Eu quero saber o que sente por ele, Anne, porque você parece mais tranquila quando ele está por perto. – Anne pensou no que Irina acabara de dizer e sem querer as palavras que dissera a Gilbert antes de adormecer vieram-lhe a mente, fazendo-a se questionar se eram verdadeiras, pois quando seus lábios pronunciaram aquelas palavras, ela estava fora de si, mas, agora, com suas emoções sendo analisadas por outra prisma, ela se sentia estranha, como se o seu sangue corresse mais rápido em suas veias, e seu coração acelerado ao se lembrar das mãos dele em sua cintura, seu corpos próximos e o beijo que não conseguia esquecer. Será que aquilo era amar alguém? Anne não se lembrava de ter sentido algo assim antes para poder comparar, porém, se o amor era isso, então, ela amava Gilbert, mesmo sentindo que não podia confessá-lo a Irina, pois, não sabia o que a boa mulher diria sobre algo que Anne não sabia se era cero ou errado.
- Eu gosto dele.- Anne respondeu de cabeça baixa, mas, Irina não se deu por vencida, pois queria uma resposta mais concreta.
- Gosta como, meu amor? Gosta como médico, como amigo ou como homem? Pode dizer, confie em mim, eu estou perguntando porque eu percebo o seu jeito de olhar para ele. Seus olhos brilham.
- Eu não sei dizer. Talvez eu goste dele de todas essas formas que mencionou.- Anne respondeu evasiva.
- Você já se apaixonou alguma vez. Anne?- a pergunta a pegou de surpresa, ao mesmo tempo que um medo estranho tomava conta dela quando pensou no homem da fotografia que vira com ela, e respondeu meio hesitante:
- Não sei.
- Se estiver apaixonada pelo Dr. Blythe, não deve se envergonhar. Amar alguém é algo tão lindo.- Irina disse colocando os cabelos de Anne para trás.
- Você já amou alguém, Irina?- Anne perguntou curiosa por saber um pouco mais da vida da enfermeira, e louca para mudar de assunto, pois estava ficando nervosa com a insistência de Irina em analisar sus sentimentos por Gilbert.
- Já sim, por mais de vinte anos. Eu fui casada, e meu marido foi o homem da minha vida, porém ele faleceu a algum tempo.- Irina disse, e sua voz se embargou um pouco ao se lembrar do marido, mas, logo ela recobrou seu controle emocional e se voltou para Anne que olhava quase sem piscar, e continuou:- Mas, não estamos aqui para falar de mim, e sim de você, minha querida, e do Dr. Blythe.- Anne percebeu que ela ia insistir naquele assunto, e ela não queria continuar falando sobre isso, pois estava confusa, e estar confusa a deixava inquieta arrastando-a para um humor que não estava disposta a enfrentar naquele momento.
- Eu não sei o que quer que eu diga, Irina. Estou confusa, não podemos mudar de assunto-? -ela disse nervosa, e Irina acalmou segurando em suas mãos e dizendo:
- Tudo bem, querida. Não precisa ficar nervosa. Eu só toquei nesse assunto para que saiba que tem em mim uma amiga em quem pode confiar quando quiser ou precisar.
- Obrigada, Irina.- Anne respondeu se sentindo aliviada. Falar de sentimentos ainda a deixava ansiosa, pois não sabia como expressá-los ou explicá-los dentro de sua cabeça confusa, e seus sentimentos por Gilbert ainda não estavam claros para ela, embora, só de pensar nele sentia seu corpo inteiro se agitar.
- Muito bem, mocinha. Já que não consegue comer, pelo menos tome o suco que te preparei.- Anne pegou o copo que a enfermeira lhe estendia, e tomou todo o conteúdo de uma vez, feliz por seu estômago ter se estabilizado o suficiente para que o líquido não lhe causasse nenhuma sensação desagradável. Ela entregou a Irina o copo vazio, enquanto a enfermeira a olhava com aprovação e um sorriso compreensível nos lábios.
- Por que não tenta descansar mais um pouco já que está cansada. Quem sabe mais tarde não se anime para dar um passeio no jardim?- Anne assentiu, mas, sabia que não o faria. Não estava com vontade de sair, e o seu quarto era o único lugar onde poderia se esconder sem olhares curiosos sobre ela.
Irina a deixou sozinha, e ela tornou a se deitar, fechou os olhos e tentou dormir, mas, estava ansiosa demais ao pensar que Gilbert veria vê-la no dia seguinte. Como passaria as próximas horas sabendo que isso somente aconteceria no outro dia? Será que ele viria vê-la como médico, ou como alguém que a via mais do que uma simples paciente? Pelo que fosse, ela o queria ali, porque quando estavam juntos , ela sentia uma paz que não encontrava em lugar nenhum, ela amava aqueles olhos castanhos quase verdes que a olhavam com tanto carinho, e precisava urgentemente do abraço dele de novo para sentir que alguém se importava com ela, e não estava tão sozinha em um mundo que lhe roubara tudo , e não lhe deixara opção nenhuma pelo que viver. Depois de algum tempo inquieta, o sono veio e a fez sonhar com um anjo triste de mãos suaves que conquistara seu coração para sempre.
GILBERT E ANNE
Gilbert estava terminando a refeição rápida que preparara para si mesmo quando ouviu a campainha tocar. Como não estava esperando ninguém, ele estranhou aquela visita, mas, foi até a porta verificar quem aparecera em sua casa sem que lhe avisasse previamente. A surpresa maior foi quando a figura de Billy Andrews apareceu em seu campo de visão, em uma rara aparição, pois o amigo poucas vezes viera vê-lo em sua casa, e na maioria das vezes que se encontravam era na clínica ou em algum restaurante ou barzinho, e se perguntou o que teria acontecido de tão urgente para fazê-lo se deslocar de algum programa prazeroso em pleno domingo para vir até ali conversar com ele?
- Boa tarde, Billy. Aconteceu alguma coisa?- Gilbert perguntou franzindo o cenho.
- Me diga você, pois ontem seu comportamento peculiar me deixou bem preocupado.- Billy disse entrando no apartamento de Gilbert, e se sentando na primeira poltrona que encontrou sem cerimônia nenhuma. Gilbert não estranhou aquele jeito abusado de Billy que impunha sua presença sem se importar se a outra pessoa o aprovava ou não.
- Eu apenas bebi um pouco demais, Billy.- Gilbert disse, não querendo falar na real razão de ter usado o álcool para esquecer dos seus problemas, quando ambos sabiam que essa era a pior escolha possível.
- Se não te conhecesse, eu até poderia até acreditar nisso, mas, para o seu azar, eu te conheço bem, e não beberia daquele jeito se não estivesse passando por um conflito interior.- Billy era esperto demais para que Gilbert o enganasse com qualquer história fantasiosa, por isso, ele disse simplesmente.
- Estava confuso e me sentindo sozinho.
- E por isso resolveu se embebedar, ao invés de conversar com seus amigos?- Billy disse com a voz calma, mas, Gilbert podia perceber uma nota indignada em seu jeito de falar com ele.
- Vocês não podem me ajudar com esse assunto.
- Como pode saber, se nem tentou falar? Não é porque você é um psiquiatra renomado que tem o poder de saber tudo o que as pessoas vão te dizer ou fazer previamente. Você é tão humano quanto qualquer um de nós.
- Eu nunca pensei que não fosse, pois, sei os meus limites, e como estou tão ferrado por dentro que não consigo lidar com certos aspectos da minha vida, mesmo sendo o bam bam bam da psiquiatria como você mesmo me chamou.- Gilbert estava aborrecido por Billy falar com ele como se ele se achasse um semideus. Gilbert nunca se julgara em um parâmetro superior que seus amigos, apesar de ser visto pelo mundo da medicina como um prodígio em sua profissão. Ele apenas se dedicava a salvar vidas da melhor forma possível, justamente porque sabia que a sua não podia ser salva por ele do mesmo jeito.
- Então, me diga, Dr. Blythe. Qual é o seu problema? – Billy perguntou-lhe como se o desafiasse a enfrentar seus próprios medos, e então, ele falou:
- Estou sem rumo.
- Como assim? A morte de Ruby voltou a lhe assombrar?- agora era o amigo preocupado que lhe falava, e não o psicólogo tentando arrancar a verdadeira razão de seu sofrimento.
- Ela sempre me assombra, mas, não é isso que está me perturbando agora.
- Diga-me, Gilbert, para que eu possa te ajudar.
- Anne é o meu problema. – ele confessou sentindo-se fraco só de pronunciar o nome dela.
- A paciente?- Billy perguntou espantado.- Pensei que esse assunto já tivesse sido resolvido.
- Eu tentei passar o caso dela para Charlie Benson, e achei que tinha feito a coisa certa até que a enfermeira da clínica me ligou hoje de manhã, me dizendo que ela tentou se matar. Eu nunca me senti tão mal por algo na vida. – ele passou as mãos pelos cabelos mostrando sua total consternação sobre o problema, e Billy disse :
- Você não pode achar que a culpa foi sua.
- Eu não sei. A única coisa que senti foi que a abandonei, e isso me quebra por dentro.
- E como ela está?
- Eu fui vê-la ontem no momento em que Irina me ligou, e quando cheguei ela estava em choque, eu consegui acalmá-la, e quando sai de lá ela estava dormindo.- ele concluiu a história toda sem mencionar o episódio do beijo, não porque achasse que Billy fosse julgá-lo por aquele ato impensado, mas sim, porque não queria o amigo analisando os sentimentos que desenvolvera por Anne. Não se sentia preparado para aquilo ainda.
- E como você está se sentindo a respeito de tudo isso agora?- Billy perguntou olhando para ele fixamente.
- Estou aliviado, mas, resolvi assumir o caso dela novamente. Foi um erro me afastar.
- E seus sentimentos por ela? Ainda sente atração pela garota.
- Meus sentimentos estão controlados.- ele mentiu.- Até comecei um relacionamento com Josie.- ele contou sem notar o olhar agudo que Billy lhe lançou.
- Você está namorando Josie Pye?- Billy sentiu que seu coração tinha sido apunhalado. Não podia acreditar que Gilbert estava namorando a única mulher que mexia com ele de verdade. Ele podia aceitar que ela o rejeitasse, mas, nunca que um de seus melhores amigos estivesse tendo um relacionamento sério com ela. Um ciúme inesperado o acometeu, mas, ele tentou disfarçar com o mesmo desprezo que sempre fingiu sentir por Josie.
- Sim. Estamos saindo já faz algum tempo, e achei que já era hora de assumirmos algo mais sério.- Gilbert respondeu com sinceridade.
- Me diga a verdade. Você a ama?- ele tinha que saber ou não dormiria em paz aquela noite.
- Ainda não, mas posso vir a amar com o tempo. Josie é uma mulher muito bonita e interessante.- Gilbert respondeu, e Billy sentiu sua raiva ferver por dentro.
- Então você está fazendo uma experiência para ver se consegue se apaixonar por ela?
- Não é bem assim, eu estou fazendo uma experiência para ver se consigo ter um relacionamento sério com alguém de novo, depois de anos casado com a mesma mulher.
- Blythe, você é um tolo se acha que isso vai funcionar, mas, a vida é sua, e deve saber o que é melhor para você. Bem, já vi que está bem, então, vou para casa. Me liga se precisar de alguma coisa. – Billy disse se encaminhando para a porta cheio de uma pressa que não tinha quando chegara ali antes. Ele saiu para o corredor, depois de fechar a porta do apartamento de Gilbert atrás de si sem esperar pela resposta do amigo, por isso, o jovem psiquiatra não viu o soco que Billy deu na própria mão cheio de uma raiva absurda.
Mais algum tempo se passou, até que Gilbert se vestiu para ir até a clínica. Ele estava ansioso por ver Anne, e esperava que ela tivesse melhorado do seu estado depressivo. Ao chegar lá, ele não estranhou o ambiente vazio, pois, aos fins de semana, as únicas pessoas visíveis naquele ambiente eram alguns enfermeiros em seu turno e o guarda que cuidava da entrada, pois a maioria dos internos estavam em seus quartos ou na sala de televisão vendo algum filme.
Quando chegou ao quarto de Anne, Irina estava com ela, e o olhou com um sorriso surpreso nos lábios e perguntou:
- Dr. Blythe, pensei que somente viria amanhã.
- Eu tinha um tempo livre, e por isso , resolvi ver como ela está.
Anne o olhou com seus olhos ainda tristes, e o impacto daquele olhar sobre ele o desestabilizou. Gilbert tentou controlar a onda quente que tomou conta dele, e foi a voz de Irina que o salvou de agir tolamente em frente das duas:
- Ela está melhor, o único problema é que não quer sair do quarto e se alimentar. Eu insisti com ela o dia todo, mas, até agora tudo o que ela ingeriu foi coisa líquida, e Anne já está frágil demais para ficar desse jeito. Pensei em levá-la para enfermaria para tomar soro, mas, resolvi esperar pelo senhor. Que bom que veio hoje.- Gilbert se aproximou de Anne que estava sentada na cama com a bandeja de comida intocada em seu colo, e disse:
- Deixe que vou tentar alimentá-la.
- Está bem.- Irina disse se levantando da cadeira onde estava sentada, e sem que Gilbert pedisse, ela saiu do quarto deixando os dois sozinhos.
O rapaz s sentou no mesmo lugar onde Irina estivera sentada antes, e perguntou com voz suave:
- Por que não quer se alimentar, Anne?
- Eu não consigo.- ela disse sem olhar para ele.
- Você sabe que vai ficar pior se não comer.- ela balançou a cabeça concordando, mas, manteve sua cabeça baixa.
- Olhe para mim.- ele disse, e a ruivinha obedeceu, sentindo-se estremecer ao ver aqueles olhos castanhos presos nos seus.
-Eu vou te ajudar a comer.- e sem esperar pela resposta dela, Gilbert pegou o garfo e encheu de comida, levando aos lábios de Anne, que não ousou recusá-lo, pois o olhar de Gilbert lhe dizia que não iria aceitar qualquer rejeição da parte dela. E assim, com seus olhos pregados um no outro, ela comeu, porção por porção da comida, sentindo assim como ele a intimidade que estavam partilhando naquele momento.
Gilbert sabia que aquele trabalho era da enfermeira e não seu, e que estava burlando outra regra de se aproximar de Anne mais uma vez, porém, se sentia tão bem em estar ali e fazer algo por ela, que ele sequer pensou na sua quebra de regras. Ele já estava envolvido demais, mesmo que tentasse fugir desse pensamento.
- Boa menina. – ele disse assim que ela terminou de comer, e em um impulso, ele falou novamente:- Agora quero que se vista que vou leva-la para um passeio no jardim.
- Por favor, Gilbert. Eu não estou com disposição.- ele adorava quando ela dizia seu nome, e não se importava que ela o chamasse pelo primeiro nome ao invés do sobrenome, o que seria mais apropriado entre paciente e médico.
- Esse não é um pedido, Anne. É uma ordem de seu médico.- ela o olhou surpresa enquanto o esboço de um sorriso surgiu em seu rosto pálido.
- Você vai voltar a cuidar de mim?
- Sim. Vou voltar a cuidar de você como seu médico, e prometo nunca mais te deixar de novo.- ela apenas o olhou com seus olhos muito expressivos, e ele pôde ver por entre seus cílios magníficos o quanto ela se sentia feliz com a ideia.
Sem dizer nada, ela foi até o guarda roupa, pegou um vestido, e foi até o banheiro de onde retornou dez minutos depois, deixando Gilbert encantado com sua graciosidade em seu vestido azul claro. Ela se sentou em frente ao espelho, pegando uma escova para pentear os longos cabelos e se atrapalhando com as pontas embaraçadas, o que fez Gilbert sussurrar perto de seu ouvido deixando-a arrepiada:
- Deixa que eu te ajudo.- assim, ele tirou a escova de suas mãos, e começou a escovar os fios ruivos com cuidado. As mãos dele eram gentis, e Anne fechou os olhos ao sentir o prazer inesperado que Gilbert lhe causava com aquele gesto tão simples, e enquanto ela se mantinha assim em silêncio, Gilbert a observava cheio de um desejo inesperado. Os lábios macios dela, atraiam seu olhar mais do que esperava, e quando ela os tocou com a ponta da língua, ele quase gemeu com a necessidade que sentiu de puxá-la para ele e beijá-la com loucura, mas, se controlou. Não podia deixar que seu lado sentimental sobrepujasse o seu racional, por isso terminou com aquela tortura dizendo:
- Pronto, eu terminei.- Anne abriu os olhos e falou um tanto tímida:
- Obrigada.- e Gilbert aceitou seu agradecimento com um aceno de cabeça, e depois, oferecendo-lhe o braço caminhou com ela até o seu lugar favorito do jardim, e ambos se sentaram no banco enquanto olhavam para o roseiral todo florido e bem cuidado. Não havia borboletas aquela tarde, mas o sol se pondo no fim de tarde dava um aspecto mágico aquele pequeno pedaço de paraíso, e a garota sentada ao seu lado parecia ainda mais linda em toda a sua vulnerabilidade pálida.
- Por que gosta tanto daqui, Anne?- ele perguntou, e ela quase respondeu que era porque ficava bem em frente a janela dele, mas, se limitou a dizer:
- Porque me faz sentir paz.
- Então, por que tem fugido daqui todos esses dias?- o que poderia dizer a ele? Como poderia lhe revelar que ausência dele fora om principal motivo, além de todos os outros tormentos de sua mente.
- Eu só não tinha vontade de vir para cá.- ela disse. E Gilbert fez mais uma pergunta que a deixou inquieta.
- O que todos aqueles desenhos negros significam?
- O meu coração.- ela respondeu sendo sincera pelo menos nesse instante.
- Seu coração está negro daquele jeito?- Gilbert perguntou espantado, e ela apenas balançou a cabeça concordando. Gilbert sabia que a estava provocando, levando-a ao limite, mas, precisava de resposta para poder ajuda-la. Por isso, ele perguntou novamente:
- Quem é "ele", Anne.- ele a viu estremecer e fechar os olhos e quando os abriu ela apenas disse:
- Não podemos falar de outra coisa?- ela mantinha os olhos baixos e ele pegou no queixo dela e o puxou em sua direção , olhando-a nos olhos enquanto falava:
- Não tenha medo. Eu estou aqui com você.- ela olhou para aquele rosto incrível que já estava gravado em sua mente em todos os detalhes, estendeu a mão e tocou-lhe os lábios dizendo:
- Quando é que vai me deixar ver o seu sorriso?- Gilbert não soube o que responder, espantado pela pergunta dela. Em que momento, tudo tomara um rumo completamente íntimo entre eles? Ele a viu se aproximar mais de seu rosto, e não pôde deixar de perguntar:
- O que está fazendo? – e ela respondeu sem hesitar:
- Algo que quero fazer desde que chegou.- e assim ela colou seus lábios nos dele sem pensar em mais nada, pois precisava daquele beijo tão desesperadamente quanto precisava de oxigênio para respirar, pois cada vez que os lábios de Gilbert estavam sobre os seus, a dor deixava de existir, e a vida pulsava em sua pele como se adrenalina líquida fosse injetada e seu sangue, e não queria nunca mais que aquela sensação acabasse.
Gilbert queria resistir, ele deu o melhor de si para resistir, mas, seu corpo se mostrou totalmente contrário à sua vontade, fazendo-o reconhecer que a queria mais do que deveria. Levado por seus sentimentos profundos, ele a puxou para ele, suas mãos apertando-a contra si, suas emoções se agitando loucamente dentro dele, e uma alegria repentina sufocando qualquer pensamento racional que ele pudesse ter naquele momento. O rapaz se afastou um instante, para deixar que seus lábios deslizassem pelo pescoço tentador dela, e quando ouvi-a gemer baixinho, ele se sentiu mais excitado ainda, colando seus corpos de um jeito que eram capazes de sentir o movimento dos músculos um do outro, e voltando a beijá-la com paixão desconhecida até para si mesmo. O vestido dela escorregou para o lado, deixando-o ter uma visão tentadora da pele dela de seda que brilhava com a luz do final de tarde, enlouquecendo-o mais um pouco.
Quando ele levou a mão para tocá-la, Gilbert se deu conta de onde estavam, o que estavam fazendo, e sua promessa mais uma vez quebrada. Ele abandonou os lábios dela, encostando sua testa na dela, e disse baixinho:
- Não podemos fazer mais isso.- ela o olhou confusa ainda envolvida por todas as sensações que o beijo lhe causara e perguntou:
- Por que não?
- Por que eu sou seu médico, e tenho uma namorada, Anne.- ela o olhou incrédula e perguntou como se não conseguisse assimilar o que ele acabara de lhe dizer:
- Você tem?
- Sim.- a dor voltou com força, e ela apenas sussurrou:
- Quero voltar para o meu quarto agora.
- Anne.
- Por favor.- ela disse com a voz trêmula, e Gilbert apenas assentiu, se odiando por ter deixado acontecer tudo de novo. Ele definitivamente não confiava em si mesmo sozinho com ela, mas, teria que encontrar uma maneira de fazer aquilo funcionar se ia começar a tratar a enfermidade dela de novo.
Eles caminharam até o quarto dela em silêncio, e quando chegaram lá, ele disse:
- Preciso ir agora, mas, quero vê-la no meu consultório na quinta às três da tarde.
- Está bem.- ela disse se virando de costas como se não suportasse olhar para ele, e aquela rejeição dela doeu em Gilbert mais do que ele queria admitir.
- Até logo, Anne.- ele disse ao se despedir, mas, ela não respondeu.
Assim , ele deixou a clínica sentindo seu coração cada vez mais pesado a cada passo que colocava mais distância entre eles, pensando consigo mesmo, que não havia como não estar mais ferrado, pois não podia mais se enganar, ou fingir que não estava acontecendo. Um sorriso amargo surgiu em seus lábios quando ele por fim reconheceu que estava perdidamente apaixonado por ela.
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