08 - NOS PORTÕES DE MORIA
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𝐁𝐑𝐎𝐊𝐄𝐍 𝐂𝐎𝐍𝐒𝐓𝐄𝐋𝐋𝐀𝐓𝐈𝐎𝐍𝐒
ꦿᵎִ˓ by staarsummoner 🏹
⚔️ 𝐜𝐡𝐚𝐩𝐭𝐞𝐫 𝟎8 ๑ ִֶָ ⋄
NOS PORTÕES DE MORIA
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O CLIMA E A PAISAGEM FOI ALTERANDO CONFORME O GRUPO DEIXAVA OS PICOS DAS MONTANHAS para trás e seguiam para a base das montanhas. A geada forte e violenta dava lugar à neblina e a uma vegetação escura, ainda era frio, mas não tanto quanto antes e Élen podia sentir novamente seu sangue circulando nas articulações - sobretudo em suas mãos que recuperavam a sensibilidade. Mas o clima não havia alterado o humor e a energia do grupo.
Élen carregava a sensação de que após a discussão com Boromir, todos pareciam cautelosos. Ela tentava sutilmente perceber se na expressão deles havia algum indício de suspeita ou de decepção, e tentava mais atentamente ler o comportamento de Legolas. Mas o elfo parecia cortês como sempre, apenas mais introspectivo. Ela sentiu que deu falta dos diálogos sinceros e reflexivos que tinham, mas também estava indecisa achando que talvez fosse apenas sua insegurança e desconfortos turbilhando a sua mente.
Enquanto caminhava em silêncio, envolta nas sombras das montanhas, Élen tentou compreender o que estava sentindo e resgatou uma memória de uma antiga conversa. Enquanto as montanhas ao seu redor e o som dos hobbits conversando com Gandalf se tornavam distantes de seu foco, uma lembrança ecoava em sua mente quase como se Aranor, seu pai, estivesse ao seu lado naquele momento. Era uma lembrança agridoce cercada de conforto e misturada com a dor de saudade.
Ela conseguia ainda visualizar perfeitamente bem a imagem de seu pai diante naquela tarde de muitos anos atrás, quando Élen ainda era uma criança. Eles estavam juntos no topo de uma colina com o céu pincelado de laranja e vermelho pelo crepúsculo. Aranor tinha os cabelos prateados brilhando ao sol que eram um contraste à sua pele negra, e com seus olhos profundos e firmes encarava o horizonte distante onde as terras do povo Domielië se perdiam nas sombras das montanhas.
- Pai, por que nos olham assim? - Élen havia perguntado com a voz carregada da inocência de quem não compreendia o desprezo sutil nos olhares dos outros.
Aranor sorriu com a sabedoria que sempre lhe era característica, mas também com uma tristeza que ele nunca conseguia esconder completamente.
- Eles nos olham como olham para algo que acreditam estar acabado, Élen. - Ele respondeu com sua voz grave, seu tom possuía sutileza apesar de muitas vezes ser tão objetivo que a princesa temia seu modo cortante e áspero em algumas ocasiões. - Aos olhos deles, somos um povo falido que um dia cavalgou sob as estrelas, mas que agora não passa de um eco perdido nas montanhas.
Élen sentiu o peso daquelas palavras mesmo sem entender completamente o que significavam. Ela sempre vira os Domielië como um povo orgulhoso, forte, mas a dor oculta no olhar do pai dizia outra coisa.
- Mas... por que isso importa, então? - Ela insistiu franzindo o cenho. - Por que não mostramos a eles que estão errados?
Aranor abaixou-se, ficando na altura dela, e pousou a mão em seu ombro, com o toque firme de alguém que queria que aquelas palavras se gravassem em sua alma.
- Porque, minha filha, não é o olhar deles que define quem somos. - Ele fez uma pausa a olhando diretamente nos olhos. - O que importa é a certeza que temos em nós mesmos. A nossa dignidade e a nossa honra não dependem da opinião dos outros. Eles podem ver um povo acabado, mas enquanto nós soubermos o que somos isso será o suficiente.
Ele parecia tão seguro naquela tarde, tão inabalável. E naquele momento Élen acreditou em cada palavra, precisava acreditar e se agarrar em algo. Sentiu-se como se nada pudesse abalar a força dos Domielië, desde que eles mantivessem a fé em si mesmos. Aranor a ensinava a ver além das aparências, a encontrar o orgulho naquilo que os outros julgavam ser fraqueza. Mas naquele momento longe de casa e longe de seu pai, percebia que a dura realidade constantemente abalava essa certeza.
- Mas e se eles nunca enxergarem isso? - Ela havia perguntado quase que em um sussurro, com o medo real de que seu povo desaparecesse para sempre sem deixar rastros de sua glória.
Aranor suspirou erguendo o rosto dela com a mão, o olhar cheio de um afeto firme e inabalável. Firmeza era uma característica bastante acentuada nele de forma que uma de fraquezas era a falta de flexibilidade necessária em certo momento para um governante.
- Então, minha pequena estrela, que eles sigam cegos. A verdadeira força não está em mostrar-se aos outros, mas em carregar sua própria luz mesmo que ninguém a veja. Eles podem nunca entender o valor dos Domielië, mas enquanto você souber quem você é e o que seu povo significa, isso basta.
Aquelas palavras ecoaram em Élen por anos e anos servindo de escudo contra os olhares desconfiados e os murmúrios que a cercavam desde que deixara seu lar. "O que importa é a certeza que temos em nós mesmos." Ela repetiu isso em sua mente incontáveis vezes como uma prece silenciosa, como se construísse uma armadura invisível para si.
Mas agora, à medida que a Sociedade do Anel se aproximava de Moria, ela percebeu que algo havia mudado. Sentia uma inquietação que não conseguia ignorar, um desejo e uma angústia mais intensa. O peso da missão que carregava, a responsabilidade de representar os Domielië começava a abrir rachaduras em sua certeza. Por toda a caminhada daquele dia ela repassou em sua mente aquele diálogo que tivera com o pai, primeiro tentando se convencer de que não importava o que os outros pensavam e não encontrando satisfação nessa conclusão, continuou remoendo o sentimento dentro de si.
Afinal, pensava ela enquanto tropeçava distraída fazendo alguns cascalhos rolar pela base da montanha e pensou ter ouvido Gimli no caminho abaixo resmungar quando um pedregulho lhe atingiu no capacete, importava sim como os outros viam o seu povo. Importava porque era consequência das escolhas equivocadas de seus antigos Reis, importava porque a honra era uma qualidade que era reconhecida pelos outros e não somente atribuída por si mesmo.
Ela queria que os outros vissem seu povo como ela os via: fortes, resilientes, dignos. Queria que compreendessem o que significava ser um Domielië, o que significava carregar o legado de uma estrela crepuscular em um mundo que os considerava extintos. Mas, ao mesmo tempo, questionava-se se conseguiria sustentar essa certeza sozinha. A dúvida que antes era abafada, agora se infiltrava em seu coração e de forma sutil e inesperada um pensamento aflorou dentro dela.
Se ao menos Sauron tivesse vencido, não estaríamos nessa situação.
Ela parou abruptamente não reconhecendo aquela ideia como parte de si. Merry se chocou contra as suas costas e atrás dele, Pippin se chocou contra os dois.
- Você me deu uma cabeçada, idiota! - Merry resmungou.
- Você que parou de repente! - Pippin empurrou ao outro.
- A Élen parou na minha frente! - Merry se defendeu e circundou o caminho retomando a caminhada à frente de Élen.
- Me desculpem. - Ela pediu e suspirou fundo voltando a caminhar sem conseguir mais lembrar do que exatamente havia pensando.
A imagem de Aranor voltou à sua mente, suas palavras de anos atrás misturando-se com o peso de sua mais nova compreensão. Talvez ele estivesse certo ao dizer que a opinião dos outros não deveria importar, mas Élen começava a entender que, se quisesse salvar a memória de seu povo, precisaria mais do que a certeza em si mesma. Precisava que o mundo reconhecesse o valor dos Domielië, precisava que outros vissem, finalmente a luz que eles carregavam.
Mas, ao mesmo tempo, percebia a dificuldade de manter-se firme em sua própria identidade, enquanto a expectativa dos outros e as sombras do passado a cercavam de uma forma tão sufocante. E ali, tão próxima
- Pai... - Murmurou ela para si mesma deixando o vento carregar suas palavras como um sussurro perdido. - Se ao menos eu tivesse sua certeza inabalável. Se ao menos eu pudesse carregar essa luz sem vacilar.
A sensação de fragilidade a invadia e ela podia sentir a própria vulnerabilidade quase como se fosse algo palpável, como se o legado que seu pai depositara nela fosse uma chama prestes a se apagar. E, naquele instante, Élen percebeu que não se tratava apenas de ser vista pelos outros, mas de manter acesa a própria fé no valor dos Domielië mesmo quando tudo ao seu redor parecia desmoronar. Se sentindo impotente e inadequada, ela foi percebendo que se desse continuidade naquela via de pensamento, iria afundar sem conseguir enxergar nada com clareza.
Élen respirou fundo apertando a mão sobre o peito onde sentia a dor silenciosa de uma responsabilidade quase esmagadora. Ela sabia que seu povo dependia dela, mas ao mesmo tempo ainda buscava a força para carregar aquele fardo sem que a dúvida a consumisse. E a dúvida e angústia levava ao desespero e o desespero dava espaço para algo mais sombrio...
Novamente um pensamento inesperado irrompeu a mente de Élen.
Se usássemos o Anel, tudo isso seria diferente.
Ela balançou a cabeça afastando o pensamento na tentativa de enxergar o caminho diante dela, mas tudo o que sua mente via era a incerteza de uma trilha estreita entre o desejo de honrar seu povo e a necessidade de provar a si mesma que era digna daquele legado. As palavras de seu pai a inspiravam, mas também a faziam questionar se teria a mesma coragem de Aranor para permanecer firme em sua luz mesmo quando ninguém mais acreditasse.
E enquanto o vento frio soprava ao seu redor, Élen decidiu que por mais que vacilasse deveria continuar tentando. Mesmo que não tivesse a certeza inabalável que seu pai possuía, ela lutaria para manter acesa a chama dos Domielië, não apenas para ser vista, mas para ser fiel àquilo que eles representavam.
O Anel... Algo repetia dentro dela.
A Sociedade do Anel avançava em um ritmo constante, os passos ecoando pelas pedras desoladas dos vales que se erguiam ao redor e Élen se percebeu na retaguarda do grupo. As sombras das montanhas os envolviam como se fosse um manto de silêncio pesando sobre eles. Élen caminhou mais rapidamente para alcançar os outros, mas seu olhar estava perdido nas distantes montanhas conforme a névoa descia tomando conta do vale.
Em silêncio ela olhou para os companheiros ao seu redor, questionando-se se ainda a aceitariam da mesma forma agora que sabiam a verdade sobre sua origem. Os Domielië eram quase uma lenda esquecida e seu povo quase extinto. Como último sopro de uma linhagem que um dia cavalgara ao brilho das estrelas, ela temia que ser conhecida como a "princesa dos Domielië" trouxesse apenas desprezo ou piedade aos olhos deles. Mas até então ninguém havia comentado a respeito daquilo.
Novamente Élen se percebeu dirigindo seu olhar até Legolas, ele observava Merry e Pippin entoando uma canção.
Enquanto seguia em silêncio, Gandalf que caminhava à sua frente com passos calculados se virou e a observou atentamente. Os olhos penetrantes do mago brilharam com uma sabedoria e compreensão de quem parecia enxergar além das aparências.
- Nota-se o peso em seus ombros, Élen. - Disse o mago com um tom curioso.
Ela hesitou sabendo que nada escapava ao olhar atento de Gandalf. Respirou fundo antes de responder com a voz carregada de uma angústia disfarçada:
- Não consigo parar de pensar... Acho que todos me odeiam, que desconfiam de mim, que não vou suprir as expectativas. Eu não sou meu pai, ele sim é um rei firme e corajoso, eu não sei se sou uma boa representante para o meu povo nessa luta.
Gandalf franziu o cenho em uma leve e efêmera irritação, o que a surpreendeu, mas o mago suspirou e se apoiou no braço dela para ficar mais perto e murmurar sem os outros ouvirem.
- Os Domielië são um povo de valor, Élen - murmurou ele. - Mas não é o passado que definirá o que você representa. Suas ações, aqui e agora, falarão mais alto do que qualquer linhagem antiga. E pense bem, seu pai era de fato corajoso?
Ela baixou o olhar, sentindo o consolo nas palavras do mago, mas ainda inquieta.
- Eu... eu acho que sim..?! - Soou mais como uma pergunta do que como uma certeza.
- Seu pai cuida bem do seu povo, ele faz o que ele pode. Aranor é um rei cauteloso e não corajoso e sua cautela serviu muito bem ao seu povo até agora, mas para esta jornada precisamos de alguém corajoso. - Gandalf olhou profundamente nos olhos da jovem. - Afinal, não foi você quem desafiou o seu pai e seu rei ao viajar para longe de casa pela primeira vez?
Gandalf fez uma pausa na caminhada segurando o cajado com firmeza e disse:
- Aqueles que conhecem o valor da estrela crepuscular jamais desprezam sua luz por menor que seja. O povo de Eärendil ainda é digno de honra. E lembre-se, Élen, todos nós temos fardos. O seu, assim como o de Frodo, é um dos mais nobres.
Ela respirou fundo, deixando que as palavras de Gandalf acalmassem seu coração e seguiu em silêncio por algum tempo, pensando no que ele dissera.
- Sempre me consola, mas não posso deixar de notar como me irrita nunca conseguir argumentar com ele. - Élen riu para si mesma e então percebeu que ela precisava agir. Se estava insegura quanto a sua posição e honra no grupo, precisava provar suas intenções e sobretudo sua coragem.
Mais à frente Frodo caminhava com passos hesitantes, o peso do Um Anel se tornando cada vez mais visível em seu semblante. Ao ver o hobbit isolado, Élen se aproximou dele sentindo que talvez ele, dentre todos, poderia compreender o que significava carregar um fardo invisível. E talvez, assim como ela, lhe fizesse bem verbalizar alguns pensamentos antes que eles se tornassem sufocantes.
- Frodo! - Ela chamou em um tom suave. Ele virou-se, surpreso, mas sorriu para ela.
- Élen! - O hobbit respondeu com um aceno de cabeça. - Algo te incomoda?
Ela hesitou antes de responder, observou os olhos gentis e azuis do hobbit e notou que não fazia como alguém como ele havia encontrado aquele destino.
- Frodo, sinto que preciso me desculpar por não ter contado de onde eu vim. Eu gostaria de ter feito isso em um momento adequado, entendo se toda a situação tenha gerado desconfiança.
Ele ponderou por um momento, os olhos distantes, refletindo sobre as palavras dela e então acrescentou:
- Eu venho de um lugar onde não se pensa muito sobre as conquistas dos grandes reinos dos homens e tampouco imaginariam alguém como eu adequado para essa missão. Então, eu seria o último a te julgar, Élen. - Frodo emanava uma sinceridade acolhedora. - O que importa é que você está aqui, muitos que dizem ter honra não teriam nem mesmo se oferecido a me acompanhar.
Élen sentiu as palavras de Frodo tocarem profundamente em sua alma como se ele tivesse tocado em uma verdade que ela estava com dificuldade de enxergar dentro de si. Ela colocou a mão no ombro dele em um gesto de camaradagem.
- Que o que carregamos nos torne mais fortes então, Frodo. Por nós e por aqueles que não estão mais aqui para lutar. - Ela piscou para secar os olhos marejados, ali ela entendeu porque só um coração como o dele seria capaz de suportar o peso daquele Anel.
O grupo parou na base do vale e conforme o sol se punha, era possível ver o paredão de Moriah diante deles. Suspirando de alívio por perceber que estavam chegando, Élen notou que Aragorn se aproximou para caminhar ao seu lado. Ele era um homem de poucas palavras, mas Élen sabia que sua sabedoria era expressa através de seus gestos e no seu olhar perspicaz.
- Aragorn - Começou ela, hesitante. - Entendo se sua confiança em mim foi abalada, vou provar a todos que minhas intenções são boas e espero poder lhe mostrar isso durante nossa jornada.
Aragorn assentiu e lhe ofereceu um olhar sereno acompanhado de um sorriso quase perceptível.
- Cada um de nós carrega o peso de uma linhagem, Élen. Mas aprendi que a honra não reside no sangue, mas nos atos. Não se preocupe, mas fique atenta. O poder do Anel vai tentar a todos nós. Naquele momento tentou a Boromir, ele foi infeliz em sua fala.
Ela compreendeu e o observou com atenção tentando absorver todas as palavras daquele conselho.
- Não tema ser quem você é - continuou ele. - A Sociedade do Anel precisa de todos nós, não por quem foram nossos ancestrais, mas por quem somos. Você é Élen Lúrëa, está determinada a mudar o curso da história, e isso é tudo o que importa.
Ela assentiu, sentindo um calor reconfortante brotar em seu peito. As palavras de Aragorn, carregadas de experiência e sabedoria pareciam dissipar um pouco da sombra que ela carregava.
- E... - Acrescentou ele. - Se precisar aliviar a mente carregada de pensamentos, colocar o corpo em momentos e treinar com sua espada pode ajudar.
Legolas que até então mantivera-se distante, observava a cena de longe, com um olhar respeitoso. Ele pouco falava, mas Élen sabia que para ele na maioria das vezes palavras pareciam desnecessárias. Ela notou como aquilo dificultava que ela entendesse o que de fato ele sentia, isso a estava deixando ansiosa. Saberia que precisaria conversar com ele em um momento apropriado e a sós. Ele era a pessoa que mais havia se aproximado dela ali, se ele a rejeitasse pela sua história, ela sabia que ia doer.
A chegada do grupo aos Portões de Moriah era marcada por um silêncio opressivo e pelo cenário lúgubre que cercava o lago escuro e imóvel diante das imponentes portas de pedra. A Sociedade do Anel, liderada por Gandalf, aproximava-se cautelosamente, com todos observando a muralha de pedra diante deles. Gandalf batia nas rochas do paredão com seu cajado e Gimli encostou a orelha atentamente como se tentasse detectar algo.
- As portas dos anões são invisíveis quando fechadas. - Gimli explicou caminhando e examinando as rochas do paredão.
- Seus próprios mestres podem não conseguir encontrá-las se seus segredos forem esquecidos. - Gandalf complementou parando em um ponto encarando o paredão diante de si, atrás do grupo um lago escuro se estendia pelo vale aos pés das Montanhas Nebulosas.
- Por que isso não me surpreende? - Legolas murmurou em um tom provocativo direcionado a Gimli.
Gimli resmungou algo e caminhou até Gandalf.
- Ithildin. - O mago sussurrou deslizando a mão pela superfície rochosa.
- Reflete apenas a luz das estrelas e da lua. Também usamos nos portões de nossas passagens. - Élen exclamou e apontou para o céu ao leste onde uma nuvem cobria o céu. - Em alguns instantes... esperem...
O grupo observou em silêncio até a nuvem se deslocar e revelar a luz da lua cheia que banhou o paredão e fez surgir o desenho de duas portas. As inscrições em élfico acima das portas eram prateadas, assim como a capa de Élen que passou a exibir os ornamentos dos domelië como se o tecido tivesse bebido a luz das estrelas.
- Élen, você está brilhando! - Sam exclamou.
Merry tocou no tecido com uma expressão de encantamento.
- É costume do meu povo presentear com objetos cujo ornamentos só podem ser vistos à luz da lua. Geralmente de uma lua específica como, por exemplo, aquela que marca o dia do seu aniversário. - Élen explicou aos hobbits.
- Significa que é seu aniversário?! - Frodo exclamou.
- Sim, eu tinha me esquecido. - Ela respondeu timidamente.
As portas estavam fechadas e ornamentadas com inscrições élficas em letras prateadas, mas nenhum sinal de como poderiam atravessá-las.
Gandalf ergueu o cajado e examinou as runas que brilhavam levemente sob a luz do entardecer.
- Élfico... Entendi - Ele murmurava reconhecendo as inscrições enquanto suas mãos percorriam suavemente a superfície da pedra.
- O que dizem as letras? - perguntou Frodo com curiosidade.
Gandalf respondeu com paciência como um professor instruindo seu aluno:
- "As Portas de Durin, Senhor de Moria. Fale, amigo, e entre". - Ele leu em voz alta. - É um enigma. A senha é uma palavra simples, mas qual? Somente um amigo dos anões saberia.
O grupo esperou enquanto Gandalf tentava adivinhar a palavra correta, murmurando feitiços e frases em línguas antigas. Conforme o tempo ia passando, ficava claro que o mago não fazia ideia de qual poderia ser a senha. As horas passaram lentamente e o céu acima deles começou a escurecer tingindo o lago de um preto profundo, quase sombrio. As sombras das montanhas cresciam ao redor e uma tensão invisível parecia aumentar no ar. A luz da lua era o único conforto ali.
- Nada está acontecendo. - Merry constatou enquanto ele e Élen observavam as tentativas do mago. - O que você vai fazer agora?
Em um momento de irritação, o mago declarou:
- Bater a sua cabeça contra essas portas, Peregrin Tûk! E se isso não abri-las e se me deixar em paz, sem suas perguntas tolas... - O mago suspirou tentando recobrar a sensatez e seu tom se tornou mais brando. - ... tentarei achar as palavras que as abrirão.
Perto dali na margem do lago, Pippin começou a lançar pedras na água claramente impaciente e entediado, enquanto Merry observava com uma expressão intrigada.
- Não faça isso, Pippin! - Sussurrou Aragorn numa advertência encarando o lago com o olhar preocupado. - Esta água... Não é prudente perturbá-la.
Pippin bufou, mas parou de atirar pedras. Ainda assim, o ar ao redor do lago parecia ter se tornado mais espesso como se uma presença invisível estivesse acordando das profundezas. Frodo observava o lago com inquietação e até mesmo Legolas, geralmente sereno, parecia um pouco tenso.
Élen observou enquanto Aragorn tirava as bolsas de cima do pônei que os acompanhava e consolava Sam que se despedia do animal.
- Uma Mina não é um lugar para pôneis. - Ele explicou ao hobbit que acariciava o focinho do animal enquanto Aragorn o libertava das correias. - Nem mesmo para um pônei corajoso como Bill.
Élen se aproximou e junto de Sam acariciou o rosto de Bill. Então, Aragorn conduziu o pônei para outro lado e deixou que ele seguisse seu caminho.
- Não se preocupe, Sam. Ele sabe o caminho de casa. - Aragorn assegurou enquanto Sam observava o pônei se afastar.
Élen afagou os ombros do hobbit que respondeu gentilmente repousando a mão sobre a sua, por um instante ela pode ver os olhos dele encherem de lágrimas.
Por fim, Gandalf suspirou frustrado. Mas Frodo se levantou e exclamou:
- É uma charada. "Fale amigo e entre". Gandalf, como se diz "amigo" em élfico?
Em um tom de resignação, Gandalf murmurou a palavra "Mellon". Assim que o mago pronunciou a palavra, as inscrições na porta brilharam intensamente e as grandes portas de Moria começaram a se abrir lentamente revelando um corredor escuro e vazio. Élen podia sentir o ar diferente, o cheiro era diferente.
Élen e sua capa seguiram Gandalf e seu cajado aos poucos iluminando o túnel ao redor.
- Isso não é uma mina! - Boromir murmurou alarmado. - É um túmulo!
Foi então que Élen pode ver os esqueletos espalhados pelo chão, a luz refletida neles.lançava sombras que tomavam o túnel. Estavam ali há muito tempo a julgar pelo estado dos corpos, e sinalizavam que algo sombrio e sinistro havia acontecido naquele lugar. Minas Moria não seria um lugar seguro para eles.
Antes que pudessem adentrar mais além, o silêncio foi quebrado por um ruído grotesco, uma espécie de borbulhar profundo que ecoou vindo das profundezas do lago. O grupo se virou alarmado, e no instante seguinte, tentáculos enormes e viscosos ergueram-se da água, surgindo com uma rapidez assustadora. O "Guardião do Lago", a criatura monstruosa que habitava as profundezas, tinha despertado.
O monstro era um horror cheio de tentáculos com ventosas e pele escura e molhada, lembrando os membros de um polvo. Seus tentáculos se lançaram com agilidade surpreendente em direção à Sociedade, movendo-se como serpentes ameaçadoras. Frodo, que estava mais próximo da água, foi o primeiro a ser alvo da criatura. Um dos tentáculos enrolou-se em torno de sua perna e o ergueu no ar, puxando-o em direção à água.
- Frodo! - gritou Sam, desesperado, enquanto puxava sua espada curta para tentar libertar o amigo.
A criatura apertava e puxava Frodo cada vez mais, ameaçando afogá-lo. Aragorn e Boromir correram até o hobbit brandindo suas espadas e cortando os tentáculos que envolviam o corpo de Frodo. O monstro uivava de dor a cada golpe, mas continuava a lançar mais de seus tentáculos, tentando afastar os demais e manter sua presa.
- Cuidado! - gritou Legolas, puxando uma flecha e disparando com precisão, acertando o monstro na base de um dos tentáculos. A flecha penetrou profundamente e o monstro recuou momentaneamente, mas novamente voltou a atacar, agora ainda mais agressivo.
Enquanto Aragorn e Boromir defendiam Frodo com golpes defensivos, Gimli brandia seu machado com ferocidade, cortando qualquer tentáculo que se aproximasse. Pippin e Merry, embora pequenos e com medo, também tentavam ajudar, golpeando com facas improvisadas e tentando distrair a criatura.
Élen percebeu que o monstro só ia parar quando atacassem sua fraqueza. Ela brandiu a espada e recordou das lições que os companheiros haviam lhe ensinado. Com a mão direita segurando firmemente o cabo da espada, ela manuseou a lâmina de forma certeira. Acertou um dos tentáculos principais enquanto avançava lago adentro.
A criatura soltou uma espécie de chiado esganiçado, Élen continuou e acertou entre a base dos tentáculos e a cabeça da criatura. Ela piscou e tentou manter o equilíbrio em meio às águas do lago que dificultavam seu equilíbrio.
Gandalf, que até então observava a batalha com concentração, ergueu seu cajado e gritou algumas palavras em uma língua antiga, liberando uma luz que brilhou intensamente. A criatura pareceu hesitar por um instante como se a luz a machucasse, e então recuou ligeiramente.
- Agora, rápido! Todos para dentro! - Ordenou Gandalf com sua voz grave e urgente ecoando na entrada de Moria.
Sam, aproveitando o momento em que o monstro hesitava, puxou Frodo, que finalmente estava livre dos tentáculos, para longe da água. Eles correram em direção às portas abertas, seguidos pelo restante do grupo que lutava para se afastar do monstro enquanto continuavam a golpear os tentáculos que se estendiam até eles.
No entanto, o Guardião do Lago, em um último ataque, agarrou as portas de Moria com seus tentáculos massivos e as fechou violentamente atrás deles. O som das portas se fechando ecoou pelo corredor escuro e eles perceberam que agora estavam presos dentro das Minas de Moria, sem a possibilidade de retornar.
Dentro do túnel escuro todos ofegavam encharcados, tentando recuperar o fôlego e assimilando a gravidade do que acabara de acontecer. Frodo, pálido e com a respiração acelerada, olhou ao redor com uma certa gratidão e apreensão no olhar. Aragorn colocou uma mão em seu ombro, reconfortando-o em silêncio.
Gandalf segurando o cajado para iluminar o caminho lançou um último olhar para a porta fechada, como se lamentasse o caminho que haviam sido forçados a seguir. Desde o princípio o mago temia que tivessem um desfecho terrível ali.
- Agora não temos escolha. - Ele murmurou olhando para o grupo. - Precisamos continuar. Bem-vindos às Minas de Moria. Fiquem perto e façam silêncio, é uma travessia de quatro dias e precisamos passar despercebidos.
Enquanto as sombras das Minas os envolviam, cada um deles sentiu um calafrio percorrer o corpo. O caminho à frente era desconhecido e repleto de perigos, a morte era uma ameaça constante na escuridão e eles não tinha escolha a não ser atravessá-la.
🏹 | NOTAS DA AUTORA
01. Esse capítulo demorou um pouco, porque fiquei quase duas horas estudando os mapas da Terra Média para ter a certeza de que estou descrevendo o caminho da forma correta. Não tivemos muito do Legolas, mas foi intencional, precisava desenvolver alguns aspectos da Élen.
02. Deixei o capítulo se estender e trouxe aproximadamente 5000 palavras! Quis compensar a espera de vocês de alguma forma. Por favor, não deixem de votar e principalmente comentar! Estarei aguardando o retorno de vocês! Espero que gostem! ♡
𝐁 𝐑 𝐎 𝐊 𝐄 𝐍
𝐂 𝐎 𝐍 𝐒 𝐓 𝐄 𝐋 𝐋 𝐀 𝐓 𝐈 𝐎 𝐍 𝐒
𝒍𝒂𝒚𝒐𝒖𝒕 𝒃𝒚 𝒅𝒓𝒆𝒔𝒔𝒂𝒅𝒔𝒈𝒘𝒕𝒕𝒑
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