06 - RUÍNAS DO PASSADO
Capítulo 06
ERA POSSÍVEL VER A PASSAGEM DE CARADHRAS se erguendo no horizonte diante deles, as nuvens frias cobriam os picos enevoados das montanhas e dentro de algumas horas estariam escalando aquele monte gelado. Era um caminho perigoso, árduo e custaria a eles muito tempo para atravessar com cuidado. Élen sabia que Gandalf tinha um motivo para insistir naquela rota ao invés de considerar as outras opções. Confiaria no mago sem questionar, mas não podia deixar de se perguntar o que exatamente Gandalf temia.
Agora que haviam passado algumas semanas juntos, o grupo parecia mais à vontade como amigos. Pequenos gestos demonstravam que pensavam uns nos outros. Élen estava aprendendo alguns detalhes da personalidade e dos costumes de cada um. Por exemplo, os hobbits amavam compartilhar comida e valorizavam boas refeições. Enquanto caminhavam observando as ruínas de uma antiga cidade ao longe, Frodo se aproximou de Élen.
— Encontrei esta e guardei para você. — Ele disse de forma gentil ao lhe entregar uma maçã.
Era a maçã mais bonita que Élen já tinha visto.
Em casa a escassez de alguns frutos era algo triste, na terra se seu povo era difícil cultivar, a terra amaldiçoada não fornecia bons frutos. Conseguir uma quantidade de maçãs e transportar para as colinas era um trabalho árduo que dificilmente valeria a pena. E maçã era a fruta favorita de Élen.
Para os domelië presentes como aquele eram os mais valiosos, porque eram raros e porque o valor estava no trabalho que custou a pessoa para conseguir produzir ou levar o item até lá. Élen se percebeu comovida e antes de receber a maçã, hesitou:
— Tem certeza?
— Mas é claro. — Frodo sorriu e lhe entregou a maçã.
— Muito obrigada, Frodo. De onde eu venho, esse é o maior gesto de gentileza que existe.
— E ainda assim, não é nada comparado à sua gentileza e coragem em me ajudar. — Frodo falou fazendo os demais hobbits concordarem.
— Quando nos visitar no Condado, lhe daremos uma cesta com as melhores maçãs de lá. — Assegurou Sam.
— Podemos também fazer inúmeras tortas de maçã. — Acrescentou Pippin.
Logo Merry emendou em um diálogo sobre como o Condado era incrível e o quanto sentiam falta de casa. Os hobbits eram criaturas que valorizavam demais o senso de comunidade, como era de se perceber.
— Parece que vocês sempre têm algo para compartilhar, mesmo quando as coisas estão difíceis.
Frodo assentiu com um sorriso caloroso: — No Condado, é assim que vivemos. Todos ajudam uns aos outros, dividimos o que temos. Não há muito, mas sempre é suficiente.
— E todos conhecem todos. — Acrescentou Sam, com um brilho nos olhos. — O que pode ser uma bênção, mas às vezes... — Ele riu trocando olhares cúmplices com Merry e Pippin.
— Principalmente quando é o tio Paladin que bate à porta! — Provocou Pippin arrancando gargalhadas de Merry. — Ele sempre tem uma história sobre como eu era uma peste quando pequeno.
Élen riu suavemente, sentindo a leveza no ar. A camaradagem entre os hobbits a tocava profundamente. Não era apenas a generosidade com a comida ou o humor que dividiam, mas uma profunda conexão que ia além das palavras. Um senso de comunidade e pertencimento que ela nunca havia experimentado da mesma forma.
— No Condado vocês são uma grande família, não é? — Perguntou Élen com um toque de admiração.
— Isso mesmo! — Disse Merry esticando as pernas preguiçosamente. — Todos sabem onde pertencer. Não importa o que aconteça, sempre podemos voltar para casa.
Aquelas palavras ecoaram no coração de Élen de um jeito inesperado. “Sempre podemos voltar para casa.” Ela não tinha certeza se compreendia inteiramente o que isso significava. Ela própria não tinha um lugar ao qual pudesse retornar, não como os hobbits tinham. A jornada diante deles era sombria e o caminho de volta, incerto.
Enquanto caminhavam ao longo da trilha rochosa, o cenário começou a mudar. As colinas verdes deram lugar a uma terra desolada, coberta de pedras quebradas e vestígios de ruínas antigas. As risadas dos hobbits diminuíram aos poucos, substituídas por um silêncio pesado.
Élen parou por um momento, seus olhos percorrendo os restos de uma civilização perdida. Havia uma tristeza no ar, uma melancolia que parecia impregnar o solo. O que antes fora uma terra viva estava agora reduzido a fragmentos esquecidos.
Legolas se aproximou dela em silêncio, seus olhos brilhando com uma tristeza ancestral.
— Este era o reino de Eregion. — Disse ele, sua voz suave cheia de reverência. — Aqui os Elfos construíram grandes forjas e cidades majestosas onde o poder dos Anéis foi criado. Mas tudo foi destruído na guerra quando Sauron veio reclamar o que desejava.
Élen olhou ao redor absorvendo as palavras. Agora as ruínas não eram apenas pedras antigas, elas contavam uma história de destruição, de perda.
— Eles não tiveram para onde voltar, não é? — Murmurou ela, a dor do lugar se misturava com seus próprios sentimentos de deslocamento.
Legolas assentiu levemente, seus olhos estavam postos no horizonte como se conseguisse enxergar o reino que existira ali:
— Muitos nunca voltaram. A guerra tirou o que eles mais prezavam. E agora, tudo o que resta são lembranças... e ruínas.
O contraste entre o espírito comunitário dos hobbits e a solidão de Eregion pesou sobre Élen como se a história do reino élfico ecoasse dentro dela. Mesmo cercada de companheiros, havia uma solidão ali que ela começava a entender melhor, uma busca por um lar, por pertencimento — assim como as estrelas pareciam se esconder por trás das nuvens esperando o momento certo para brilhar novamente.
Ela se aproximou estendendo a mão até uma rocha irregular que poderia ter sido qualquer coisa, mas que naquele momento era irreconhecível e não restara ninguém que pudesse dizer o quê aquela rocha fora. Quando a tocou sentiu um arrepio frio pela espinha e em sua mente pode ver o fim do seu povo, da sua história. Mas ao contrário de Eregion, não teriam nem ruínas para corroer com memórias lançadas no limbo do esquecimento.
Porque ninguém iria querer lembrar da vergonha dos domelië.
O pensamento foi mais rápido do que um segundo, mais sutil do que um sopro. Tanto que por um instante Élen se perguntou se ela tinha imaginado ou se alguém havia sussurrado ao seu lado. Mas só Legolas estava ali com ela, o restante do grupo seguia a caminhada a alguns passos à frente.
— Está tudo bem? — Legolas perguntou com o olhar preocupado, ele lhe estendeu a mão.
Foi então que ela percebeu que se inclinava para o lado e assim constatou a vertigem que veio, Legolas se adiantou e a segurou perto de si. Suas mãos sustentaram Élen com facilidade.
— Está tudo bem! — Ela lhe assegurou. — Foi apenas um mal estar.
— O clima está mudando muito rápido, o ar se torna mais rarefeito conforme subimos. — Legolas explicou como uma tentativa de acalmá-la. — A raça de vocês é muito mais sensível a mudanças.
Ela sentiu uma leve cutucada na frase dele.
— Mais sensível? Me poupe de suas tolices, elfo! — Ela se desvencilhou indignada com a provocação. Ambos caminharam para mais próximo do grupo e Élen não ia deixar aquilo barato. Por isso recorreu a quem ela sabia que poderia lhe dar suporte: — Ei, Gimli! Você não acha que os elfos são a raça mais sensível de todas?
O anão ergueu os olhos para ela arqueando a sobrancelha como se achasse a pergunta divertida, então ele se empertigou e olhou para Legolas de soslaio enquanto respondia:
— Tenho certeza de que não são mais fortes do que os anões.
Legolas balançou levemente a cabeça com um sorriso convencido e contido.
— Tenho uma ideia. — Declarou Élen. Aragorn e Boromir ouviam atentos a discussão. — Vamos ver quem de nós três vai suportar melhor a travessia de Caradhras!
Boromir deu uma risada contida, mas Élen estava segura do que havia proposto. Legolas e Gimli se encararam como se estivessem avaliando suas chances e então concordaram.
Gandalf que estava à frente do grupo junto com o hobbits levantou o cajado visivelmente irritado ao gritar:
— Andem logo seus tolos!
A noite caiu sobre as ruínas de Eregion, um dos muitos testemunhos do passado glorioso dos elfos. As pedras antigas cobertas de musgo e relíquias do tempo emitiam uma aura de mistério e nostalgia. A fogueira brilhava intensamente iluminando os rostos de Élen, Legolas e Aragorn. O crepitar das chamas era quase hipnótico, competia com o som do vento frio que passava pelas montanhas. O céu estava salpicado de estrelas, mas a sombra das ruínas parecia se estender como um lembrete constante dos dias de glória que se foram. E também como uma ameaça silenciosa ao futuro de Élen e os domelië.
Élen estava envolvida em um manto de lã cinza que a protegia do frio cortante, estava sentada próxima da fogueira observando as chamas com um olhar distante. Ela sentia a gravidade do que estava por vir, mas também a beleza da noite ao seu redor. Aragorn com seu olhar reflexivo estava à sua esquerda, suas mãos seguravam um pedaço de madeira que ele usava para ajustar a fogueira. Legolas estava à direita, seus olhos claros refletindo a luz das chamas enquanto ele parecia perdido em seus pensamentos.
Élen quebrou o silêncio que se instalou ao dizer:
— É estranho estar aqui. Estas ruínas… elas falam de um tempo em que tudo era diferente. Eregion foi um reino de beleza e poder, mas agora só restam sombras.
— Sim, um lugar que abrigou grandes elfos e suas criações. Mas a ambição e a ganância, mesmo entre os mais nobres, podem levar à queda. — Aragorn ergueu o olhar para as pedras antigas. — O que aconteceu aqui deve servir como um aviso para todos nós.
— Os elfos de Eregion eram conhecidos por sua arte e sabedoria. Eles criaram as portas de Durin, e em sua busca por poder, caíram sob a influência de Sauron. — Legolas comentou balançando a cabeça, seus longos cabelos loiros reluziam sob a luz da fogueira. — O poder tem seu preço e muitos pagaram caro por isso.
— O que restou é apenas um eco de um passado glorioso. Às vezes, sinto que estamos seguindo o mesmo caminho. — Élen acrescentou com um tom de tristeza. — O destino parece estar nos empurrando para uma luta que não escolhemos.
Aragorn se inclinou para a frente e suas feições revelaram uma intensidade que estava se tornando familiar para Élen:
— O destino pode ser como uma forte correnteza, mas somos nós quem decidimos como navegar por ela. Cada escolha que fazemos molda o nosso futuro mesmo que não possamos ver o caminho à frente. Lembre-se, Élen, que mesmo nas sombras, a luz pode brilhar.
— E em momentos de escuridão, a luz que buscamos pode vir de lugares inesperados. Mesmo em meio a ruínas podemos encontrar esperança. — Legolas lhe ofereceu um sorriso suave, seus olhos brilhavam como estrelas naquela noite. — A história de Eregion não é apenas uma lição sobre a queda, mas também sobre a resiliência. O que foi perdido pode ser reconstruído se tivermos coragem.
— A esperança... é o que nos mantém em movimento, não é? — Ela perguntou erguendo os olhos para o céu. — Mas o que faremos quando essa esperança parecer distante, como um sonho esquecido? Há noites em que não é possível enxergar as estrelas.
— A esperança não é um sonho, Élen. É uma chama que vive dentro de nós. Às vezes, ela pode parecer fraca, mas mesmo a menor luz pode iluminar a escuridão. Estamos juntos nesta jornada, e a sua presença é um farol de luz para mim. — Legolas sussurrou a última frase aproximando-se um pouco, sua voz baixa e reconfortante. — Percebo que estas ruínas mexeu profundamente com você. Mas você também sabe que mesmo nas noites mais escuras em que não é possível ver as estrelas, não significa que elas não estejam lá.
Élen sentiu um calor crescer em seu peito, observando as feições de Legolas se deu conta de que a primeira vez que o viu na casa de Elrond não imaginava que ele pudesse ser tao otimista. Elfos por muitas vezes possuíam um semblante mais frio e distante.
— Você realmente acredita que podemos fazer a diferença? Que nosso esforço não será em vão? Às vezes me surpreendo com seu otimismo.
— Eu sei que podemos. Cada um de nós tem um papel a desempenhar. Mesmo que o futuro seja incerto, há beleza na luta. — O elfo manteve os olhos nos dela. — Eu nunca me considerei alguém muito otimista, sou um guerreiro, tento levar as situações de forma pragmática. Mas tenho me deparado com situações que talvez só o pragmatismo não dê conta de resolver.
Aragorn se levantou esticando os músculos cansados e observando o horizonte. Ele pareceu ponderar as palavras de seus amigos, antes de se virar para eles.
— Amanhã será um dia difícil. Eu vou descansar um pouco. Fiquem bem, e não deixem que a escuridão da noite consuma seus espíritos. — Ele se afastou procurando um lugar tranquilo para se acomodar, enquanto Élen e Legolas ficaram sozinhos à luz da fogueira.
Élen observou Aragorn se afastar, então se voltou para Legolas. Um silêncio confortável se instalou entre eles, preenchido apenas pelo som da madeira queimando. O elfo já a observava e olhou em seus olhos ao perguntar:
— Élen, você acha que realmente há algo que podemos fazer para mudar o curso das coisas? Ou estamos apenas adiando o inevitável?
— Acredito que não devemos temer o que está por vir. O passado pode ser um peso, mas também é uma fonte de força. A batalha que enfrentamos não é apenas contra Sauron, mas também contra a própria dúvida que reside dentro de nós. O que nos define é como enfrentamos isso. — Ela confessou. — Mas é tão difícil, às vezes eu fico com medo de não ser o suficiente…
Legolas a observou com sua expressão serena e contemplativa.
— Nós carregamos o peso de nossos passados, mas também temos o poder de moldar o futuro. Olhe para as estrelas, elas são testemunhas do tempo, assim como nós. Cada uma delas brilha apesar da escuridão que as cerca. — Ela murmurou encolhendo os braços como se aquele pensamento de certa forma a consolasse.
— Você sempre tem uma maneira poética de ver as coisas, Élen. — Legolas ponderou com um sorriso suave. — Não sei exatamente a razão pela qual as ruínas de Eregion mexeu com você, mas sempre estarei aqui para lembrá-la que o que quer que o futuro nos reserve, saiba que não está sozinha. Há beleza na luta, e há força na amizade.
Ele estendeu a mão, tocando levemente a dela, foi um gesto de conexão que enviou uma onda de calor por todo o corpo de Élen. O toque sutil, mas profundo e acolhedor fez com que Élen soltasse o ar que estava prendendo.
Então com uma expressão mais séria, ela teve coragem de perguntar:
— Legolas, o que você faria se o que mais ama fosse ameaçado? Se tivéssemos que escolher entre nossos desejos e o que é certo?
— Essa é uma escolha difícil. — O elfo respondeu pensativo. — Mas se eu tivesse que escolher, faria o que é certo, mesmo que isso signifique que fosse doer em mim. O verdadeiro amor é sacrificado em prol do bem maior. Isso é algo que aprendemos com a história.
— Às vezes sinto que o amor é um fardo tão pesado quanto a responsabilidade que carregamos. Talvez porque amar também é ser responsável diante dos outros. Faz sentido?
— O amor é poderoso, Élen, e não deve ser visto como um fardo. Ele nos dá força e coragem para enfrentar o que está por vir. Não devemos temer o que sentimos, mas sim abraçar isso como parte de quem somos. — Ele falou, mas então passou melhor e acrescentou: — Ou talvez confundimos as coisas demais. Talvez tenhamos medo de sentir coisas grandiosas por achar que podem nos causar dores tão grandes quanto.
A conexão entre eles parecia se aprofundar na companhia silenciosa um do outro enquanto a fogueira estalava e crepitava, proporcionando um momento de tranquilidade e compreensão no meio da incerteza. Élen se sentiu à vontade na presença de Legolas, como se o mundo ao redor se dissipasse e tudo o que restasse fosse aquele instante.
— Talvez todos nós estamos apenas aprendendo a entender o que tudo isso, amor, responsabilidade e esperança realmente significam. — Ela murmurou.
A fogueira brilhava intensamente refletindo a luz nos olhos de Élen enquanto ela se sentia envolvida por um manto de conforto e segurança. A noite continuava a envolver a paisagem ao redor, mas por um instante, Élen e Legolas encontraram um pouco de paz nas ruínas de Eregion, sabendo que a jornada que os aguardava seria cheia de desafios, mas também de esperança e amizade.
Os dois permaneceram lado a lado e Élen acabou adormecendo sem soltar a mão de Legolas. Ele ficou contemplando o toque da mão dela em sua pele, observando o contraste da pele dela com a sua e comparando o brilho dela às estrelas da noite. Então percebeu em si um temor que não soube exatamente identificar, mas parecia um medo cauteloso de que aquilo que sentiu pudesse ser aprofundado.
Antes que pudesse nomear qualquer sentimento ou sensação, Legolas soltou-lhe gentilmente a mão e se levantou. O elfo colocou uma manta sobre Élen se pôs a vigiar a noite cumprindo o seu papel para com a Sociedade.
🏹 NOTAS DA AUTORA
OLÁ, MEUS AMORES! Como passaram a semana? Espero que bem e que possam curtir a leitura do capítulo. Eu fiquei meio enrolada com algumas atividades do mestrado, mas já adiantei o próximo capítulo e é certeza que na próxima semana terá atualização. Vou manter as atualizações semanais aos sábados!
E adivinhem só? Tenho outra coisa boa pra vocês! Publiquei a minha fanfic de Anéis do Poder! Dá uma olhada no meu perfil e passe por lá! A experiência de compartilhar isso com vocês têm sido tão maravilhosa que rendeu mais uma fic. Mas não se preocupem, nada vai afetar a atualização desta fic agora. Broken Constellations vai ser minha prioridade até a finalização.
O que acharam deste capítulo? Nossa, agradeço imensamente por estarem deixando comentários. Não vejo a hora de conversar com vocês sobre a Élen e o Legolas. Isso tem sido.minha maior motivação para escrever. Até a próxima atualização! ♡
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