ESTRANHO FAMILIAR
Meus olhos se abrem para um grande dossel. Muitas camadas de tule se derramam até onde posso ver.
Pisco devido à claridade, tentando reconhecer onde estou. Minha garganta está muito seca e minha língua, pegajosa. Há um latejar constante na minha nuca e um zumbindo nos meus ouvidos.
— Mãe, ela acordou! — Uma voz feminina grita em algum lugar à direita. Há uma agitação e, quando meus olhos se ajustam, vejo um quarto extremamente suntuoso. Não posso fazer mais que essa observação, porque logo sou bombardeada de perguntas.
— Querida, como você está se sentindo? Anne, chame o médico, rápido! — Uma mulher pega o meu rosto. Seus olhos estão crispados nos cantos e ela parece preocupada. — Você está sentindo alguma coisa? Quer algo?
Gesticulo água com os lábios, já que nenhum som sai da minha boca. A mulher ordena e, prontamente, outra pessoa aparece com copos e uma jarra. É uma menina jovem, com os mesmos traços da mulher. Possivelmente sua filha.
Bebo o líquido, que desce como um bálsamo, apesar da estranha dor que sinto na garganta.
— O que aconteceu? — Pergunto, num esforço. Minha voz sai muito arranhada e eu não a reconheço.
— Você caiu no lago e se afogou! Foi muito assustador. — A menina responde, os olhos arregalados. A mulher a repreende e completa:
— Vamos conversar depois que o médico terminar a avaliação, tudo bem?
Assinto e encosto no travesseiro. Minha cabeça está doendo muito e sinto uma tontura estranha. Me afogar em um lago? Isso não fazia sentido nenhum. Quando me esforço para tentar entender, minha cabeça lateja mais forte.
Não se passa muito tempo até que o médico, junto de outra jovem, entrem num rompante. O doutor puxa uma banqueta para o lado da cama e abre uma maleta de couro no chão. Acompanho todos os seus movimentos, me sentindo estranhamente ansiosa.
— Fico feliz de vê-la acordada. Vamos checar os seus sinais vitais agora, tudo bem? — Ele espera a minha confirmação para se aproximar com o estetoscópio.
Sua ausculta é demorada e respirar dói. Depois, há outra série de instrumentos que ele testa. Alguns são para medir a pressão e outros, a pulsação. Depois disso, não consigo mais definir suas atividades.Por fim, ele guarda tudo em sua maleta e saca um bloco de notas do bolso.
— Irei fazer algumas perguntas básicas, só para atestar o seu estado, tudo bem? — O médico ergue as sobrancelhas, esperando a minha resposta. Assinto novamente e aguardo. — Qual o seu nome?
Separo os lábios para responder. Nada.Franzo o cenho e tento novamente. Qual o meu nome?
— Eu... Eu não consigo lembrar. — Respondo, a voz rasgada. Três arfadas diferentes quebram o silêncio do quarto. O médico me olha com muita preocupação.
— Consegue lembrar o nome da sua mãe?
Nada.Faço que não com a cabeça.
— Sra. Ivanov, não se abale tanto. — O médico se dirige à mulher mais velha, que está muito pálida. — A senhorita passou por um evento muito traumático e, possivelmente, devido a isso, não consigo se recordar no momento. É uma condição que pode ser temporária.
— O que podemos fazer? — A mulher, sra. Ivanov, pergunta com a voz embargada. As duas outras jovens seguram as suas mãos.
— No momento, apenas deixar que ela descanse. Sua mente está perturbada com os últimos acontecimentos. Deixar que descanse é a melhor opção. Além disso, receitarei outros cuidados para lidar com as sequelas físicas.
O médico escreve furiosamente em seu bloco de notas e entrega tudo para a mulher. Ele confirma uma próxima visita para conferir o meu progresso e se despede.
Uma das garotas mais jovens se aproxima e segura a mão. Me sinto estranha. — Você lembra de mim? — Os seus olhos são meio pidões. Minha cabeça dói novamente. Faço um sinal de negativa. — Sou Anne. Sou sua irmã favorita.
— Que mentira! — A outra jovem se intromete. — Eu sou a irmã favorita. É a Susan, Avery. Você lembra de mim?
— Meninas, por favor. Deixem a irmã de vocês descansar, tudo bem? Vocês ouviram o médico.
Dada a ordem, as meninas dão suaves beijos nas minhas mãos e ajeitam o lençol que me cobre. Partindo, elas me deixam a sós com a mulher mais velha.
— Descanse, tudo bem? E se precisar, é só puxar essa cordinha que estarei aqui em um instante. — Ela indica um puxador ao lado da cama, conectado a um fio que some na parede. Quando a encaro, seus olhos estão levemente marejados.
Preciso perguntar.
— Você é a minha mãe?
Uma lágrima escapa enquanto ela assente. Meu estômago se embrulha e eu desvio os olhos. Antes que o silêncio se prolongue mais, ela se levanta e parte.
Assim que estou sozinha, olho ao redor. O quarto, eu já tinha observado, era realmente suntuoso. Móveis em tons de rosa, salmão e branco decoram cada canto. Meu olhar se fixa em uma janela muito ampla, decorada com cortinas diáfanas. Fico em dúvida se conseguirei andar até ela, já que sinto o meu corpo muito fraco.
Minhas pernas deslizam pelo colchão macio e meus pés tocam o chão. Quando olho para esses membros, minha mente registra outra sensação de estranheza. Me sinto uma anomalia e não sei por quê.
Me apoio da estante de canto e dou passos hesitantes. Antes de qualquer tentativa de continuar minha caminhada até a janela, me deparo com um espelho. A imagem refletida não é nenhum pouco familiar. Na verdade, quanto mais absorvo detalhes daquele rosto, mais minha cabeça lateja. Há um movimento estranho no meu estômago, como se eu fosse vomitar e o quarto gira.
Meu corpo fica muito pesado e minhas pernas cedem. A escuridão me devora. (De novo).
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