4.2
Annabeth's POV
Bloqueei e desbloqueei o celular umas cinco vezes seguidas, sem ter absolutamente mais nada para fazer. Eu estava sentada naquele ônibus irritantemente amarelo, bem na última fileira, implorando silenciosamente para que o motorista começasse logo a dirigir e que eu pudesse chegar em casa, para nunca mais sair do quarto.
Já tinha feito papel de idiota na primeira aula, respondendo questões complicadas na lousa com menos de 10 minutos na escola. A aluna nova que conseguiu resolver exercícios que nenhum dos outros alunos tinha conseguido. Não tinha tido muita escolha, isso é verdade, mas os meus colegas não sabiam encarar as coisas da mesma forma. Eu já tinha ouvido alguns cochichos sobre uma novata nerd e com síndrome de sabe-tudo, além de comentários mesquinhos e nem um pouco sutis sobre a bizarrice de a garota nova ter vencido a olimpíada de natação.
Tentei tirar todas essas palavras irritantes da minha mente, focando nas pequenas partes boas do meu dia. Lembrei da sensação que tinha sentido ao mergulhar, em como as bolhas tinham feito cócegas por todo o meu tronco e sobre como eu tinha me sentido invencível, como se pudesse ser algum tipo de sereia a respirar debaixo d'água. Pensei nas gotas escorrendo do meu cabelo em direção ao chão, como se fosse uma chuva torrencial para qualquer criatura microscópica que se arrastasse pelo piso.
Desliguei minha mente por um tempo, quase o bastante, pensei. Ainda podia ouvir sussurros a meu respeito... ótimo.
- A menina nova sentou no lugar da Clarisse - falou uma voz infantil, em um tom que beirava um pânico irracional. Pude perceber quase todos os olhares daquele veículo se voltando para mim, intensificados ainda mais quando a figura corpulenta de uma garota subiu as escadas da frente, seus olhos presos em mim com um brilho voraz.
Ela deveria ter pelo menos 1,80 de altura, com cabelos escuros presos em uma bandana vermelha e olhos pretos como a noite. Ela era bonita de uma forma que quase fez minhas pernas tremerem, mas precisei segurar esse pensamento ao focar no ar maldoso em seu rosto. Suas íris tremeluziam em um desafio fora das amarras, de uma forma divertida e perigosa ao mesmo tempo. Engoli em seco, sentindo ela vir em minha direção, mas fui puxada pelo pulso antes que pudesse ver do que ela era capaz.
A garota - Clarisse, muito provavelmente - se sentou no mesmo lugar em que eu estava há dois segundos, fazendo uma careta de superioridade e se recusando a olhar para mim por mais tempo. O ônibus começou a andar e eu me virei para ver quem era a pessoa que tinha me puxado para outra fileira de bancos, somente para dar de cara com o garoto da competição.
- Você ficou doida? - ele perguntou, me puxando para sentar no lugar vago ao seu lado. - Ninguém senta no lugar da Clarisse.
- Só se quiser levar um soco na cara - continuou uma criança no banco da frente, se virando de joelhos no assento ao encarar o garoto.
- Não exagera, Estelle - ele continuou, olhando para a pequena menina com um ar muito mais tranquilo do que em todas as vezes que eu o tinha visto. - Ela não socaria ninguém na frente do motorista, provavelmente colocaria tarrachas na sua cadeira no dia seguinte.
- Ou jogaria bolinhos de lama no seu cabelo - ela complementou, rindo baixinho.
- Bolinhos de lama? Bombas de tinta seriam muito mais eficazes - eu brinquei, fazendo a pequena rir e cair de volta em seu assento. - Obrigada - falei, me virando para o moreno ao meu lado.
- Acho que eu te devia uma - respondeu, se virando para mim. - Me desculpa por mais cedo, eu não tava pensando direito... Percy Jackson - estendeu a mão e eu apertei.
- Annabeth Chase - respondi, venho seu senhor se retorcer em confusão.
- Seu nome não era Annie Bell?
- Nunca foi - eu falei, torcendo o nariz com graça. - O diretor Dionísio errou.
- Até hoje ele me chama de Peter Johnson, e eu já estudo lá há anos. Não se preocupa, uma hora ele acerta.
Ficamos em silêncio o resto do caminho, a voz da criança sendo a única coisa a recobrar nossos sentidos de segundo em segundo. Clarisse e suas amigas riam e jogavam pedaços de sanduíches nos alunos desavisados. Percy, com um reflexo surpreendente, conseguiu desviar no último momento, fazendo um garoto do primeiro ano ser atingido por pasta de amendoim na camiseta.
Ainda estávamos rindo quando nos levantamos e descemos do ônibus ao mesmo tempo, junto à menininha e o garoto da casa do lado, o que acabou por surpreender a nós dois.
- Você tá me seguindo agora, Annie Bell? - ele perguntou, dividido entre curiosidade e irritação.
- Eu moro ali - respondi, apontando com o dedo indicador para a casa do meu pai. Ele pareceu chocado por um instante.
- Você é a vizinha nova - ele constatou - A irmã dos meninos.
- Eu mesma - disse ao carregar uma pedra pelo caminho. A rua até as casas era feita de terra e algumas pedras solitárias, o que tornava perfeita a tarefa de chutar cada uma delas.
- E falando neles - o menino continuou, sinalizando para as figuras idênticas vindo na nossa direção. Bob e Matt andavam lado a lado, um empurrando ao outro e fazendo a terra voar para todos os lados.
- Quer ajuda, princesa? - Matt perguntou, estendendo a mão para pegar minha mochila.
- A gente tá indo no mercado pro papai, quer ir junto? - Bob questionou, se juntando ao irmão.
- Claro, pode ser - respondi, me distanciando dos alunos e ficando lado a lado com os meus irmãos. - Até depois Peter Johnson.
- Tchau, Annie Bell.
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