10.1
Percy's POV
Mais uma competição de natação se passou e, mais uma vez, eu fiquei em segundo lugar. Annabeth parecia se sentir culpada, como se tivesse tentado ir mais devagar e não conseguido, o que só me deixou mais zangado. Não com ela, mas comigo mesmo.
Eu sempre havia treinado bastante, mas agora entre os estudos com a Annabeth e o tempo que passávamos no Olimpo, eu tinha deixado esse hábito para trás. Consequentemente, tinha deixado meu pai para trás.
Ele tinha sido o motivo pelo qual eu tinha encontrado essa paixão por nadar. Por causa dele e dos seus ensinamentos, eu tinha conseguido uma bolsa de estudos na Half Blood High.
Eu costumava passar minhas tardes pensando em quando poderia nadar novamente, sobre como precisava deixá-lo com orgulho de mim, e agora tinha deixado tudo isso em um momento esquecido no passado.
Estava tão focado em Annabeth e em nossas aventuras que acabei esquecendo dele, da única coisa que costumava me manter são, e esse pensamento me fez tremer mais do que quando havia saído da água, o vento frio abraçando meu corpo.
Annabeth parecia arrependida, e eu não pude segurar a raiva quando percebi que ela tinha tentado perder por minha causa. Fiquei zangado com ela por ter sentido essa pena, por ter me achado frágil ao ponto de boicotar seu próprio tempo. Mais do que tudo, fiquei zangado comigo mesmo, por me esquecer da única coisa que deveria importar.
Tomei um banho voando e corri em direção à saída, não querendo correr o risco de encontrar Annabeth na saída. Eu não estava me sentindo bem e não queria acabar descontando nela, principalmente depois que percebi que estava gostando dela mais do que apenas como amiga.
Eu tinha percebido, naquele dia na chuva, que poderia passar o resto dos meus dias com ela, naquela tranquilidade que só ela sabia me trazer.
- Percy - uma voz me chamou ao mesmo tempo que uma mão foi posicionada em meus ombros. Eu deveria saber que ela não me deixaria ir embora bravo e sem falar com ela, não era do feitio de Annabeth. - Espera.
- Anna, eu não quero conversar agora - respondi, me virando em sua direção.
- Eu não queria ter te deixado mal.
- Você não deixou e honestamente não deveria se preocupar com isso. Não seria uma competição se você me entregasse de bandeja.
- Percy... - ela falou e eu soube que tentou comunicar mil frases diferentes nesse único chamamento.
- Eu não quero falar sobre isso, por favor.
- Tudo bem - respondeu, dando um sorriso cansado e compreensivo em resposta. - Você quer ir pro Olimpo hoje? Ou então ir comigo pro riacho?
Sua voz estava apitando no meu ouvido, o que me deixou um pouco sem ar. Me senti culpado pelo que passou na minha cabeça, por ter ficado aliviado ao pensar no nosso reino secreto, sendo que eu deveria ficar assim ao pensar no meu pai.
Ao pensar no que ele sacrificou e em como eu me sentia próximo dele toda vez que nadava, que ganhava uma competição e finalmente pensava que eu estava de acordo com as suas expectativas, que ele poderia contar comigo.
- Hoje eu vou treinar - respondi, vendo-a murchar ao meu lado. Ela não queria ter que ficar sozinha, morria de medo de ficar sozinha de novo, mas eu não estava em condições de ir em alguma aventura com ela. Não hoje.
- Você tem certeza? - insistiu.
- Nem todos nós podemos viver no mundo da lua, Annabeth.
Vi o momento em que minhas palavras atingiram o alvo, afiadas como uma lança. A menina engoliu em seco, se virando para a janela do ônibus e apoiando a cabeça no banco. Eu não tinha percebido que tínhamos subido no veículo, tamanha era a minha distração.
- Anna, me perdoa - eu disse, me arrependendo instantaneamente pela acidez das minhas palavras.
- Não é culpa minha, sabe disso, não sabe? - ela respondeu, parecendo desapontada.
- Eu sei, me desculpa por favor, eu não quis dizer isso. - segurei as suas mãos entre as minhas. - Eu não pensei antes de falar, eu só... - gaguejei. - Eu tô tão cansado disso tudo, de pensar o tempo todo que ele só sente orgulho de mim quando eu to nadando, de me sentir culpado porque eu só ganhei a bolsa de estudos com ele me ensinando a nadar e agora eu não consigo manter isso. Eu sinto como se tudo estivesse se desmontando e eu sou pequeno demais pra segurar todos os pedaços juntos.
Annabeth não disse nada, ela sabia que não precisava e que não deveria. Passou seus braços ao redor do meu pescoço e me abraçou com força, enquanto eu me agarrava em seu casaco como se minha vida dependesse disso. Aquele gesto dizia que ela sentia muito, que me ajudaria a passar por isso, que tudo ficaria bem e sussurrava, ininterruptamente, que ela recolheria cada pedaço meu se fosse necessário.
Dentro do seu abraço e com o cheiro de limão do seu cabelo invadindo minhas narinas, eu só conseguia pensar que, agora, eu tinha mais um lugar que poderia considerar um porto seguro.
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