VI. 𝑺𝒐𝒍𝒊𝒕𝒂́𝒓𝒊𝒂
"Faço os movimentos certos mas estou perdido por dentro
Eu coloco minha máscara diária, mas então
Eu termino me ferindo de novo"
Emily Prentiss
Dentro da ambulância, lembro da voz de Olívia, calma e segura, dizendo que tudo ficaria bem. Depois, a escuridão tomou conta e eu apaguei. Ao acordar, encontrei-me em um quarto de hospital, cercado de paredes brancas e o som constante de uma máquina medindo meus batimentos cardíacos.
Quando abri os olhos novamente, a imagem de Austen ameaçando atirar em Benson voltou à mente. Naquele momento, meu único pensamento foi proteger minha parceira, a lealdade emergindo de forma instintiva e desesperada. Contudo, ao relembrar a cena, percebi que a preocupação não era apenas um dever, mas um sentimento profundo: eu me importava com ela a ponto de não suportar a ideia de vê-la ferida.
Minha visão estava turva e eu me sentia meio grogue, provavelmente devido aos remédios. Meu braço estava imobilizado em uma tipóia e um curativo cobria meu ombro. De repente, a porta se abriu e todos da equipe entraram, incluindo o capitão Crager.
– Estamos felizes que você esteja bem, Emily– disse ele com um sorriso gentil.
– Você nos deu um baita susto, garota – Derek comentou, aproximando-se e tocando minha perna com um gesto de alívio.
– Vaso ruim não quebra – eu consegui dizer, tentando me sentar, mas a dor me fez hesitar.
– Cuidado – Olívia advertiu, se aproximando e posicionando-se ao lado da cama – Deixa eu te ajudar.
Olhei para ela com um misto de surpresa e gratidão. A mulher que, há algum tempo, parecia não gostar de mim, estava agora me ajudando a sentar e me acomodar na cama. Eu sorri, sentindo um calor reconfortante.
– Obrigada – eu disse, olhando para Olívia e depois para o grupo – Obrigada a todos por terem vindo.
– Trouxemos até flores para você – Fin disse, colocando um buquê em cima do balcão do quarto.
– Agora descanse e cuide-se – Amanda disse com um sorriso, tocando minha mão com carinho. – Se precisar de qualquer coisa, pode ligar para qualquer um de nós.
Eu acenei com a cabeça, agradecendo novamente. Enquanto todos se despediam com um aceno, Derek se aproximou e deu um beijo suave entre meus cabelos antes de se afastar. Olívia, que já estava na porta, voltou e se aproximou novamente.
– Emily, só queria dizer…– Ela hesitou, buscando as palavras – Você fez uma coisa incrível. Eu sei que não sou a melhor em mostrar isso, mas estou realmente feliz por você estar bem. Se precisar de algo, pode contar comigo.
Agradeci com um sorriso sincero, sentindo a força do apoio de todos eles, mas principalmente dela,em meio à minha recuperação.
– Talvez haja alguém que você gostaria que eu avisasse ou chamasse para ficar com você? – Olívia perguntou, seu tom suave e preocupado.
– Não – eu ri sem energia – Minha mãe é embaixadora e está distante e ocupada. Minha única família é minha antiga equipe, que está em Quântico. Então, realmente, não há ninguém.
– Eu posso ficar aqui com você… se quiser – ela ofereceu com uma expressão sincera.
– Não se preocupe, eu estou bem. Mas, na verdade, tem uma coisa que você poderia fazer – eu disse, hesitante –Eu tenho uma gatinha que precisa de comida. Será que…?
– Claro, não se preocupe com isso – ela interrompeu, pronta para ajudar –Você pode me dar o endereço da sua casa e as chaves? Vou garantir que ela tenha água e comida até amanhã.
Fiquei aliviada e genuinamente grata. Olivia parecia realmente preocupada e disposta a ajudar. Eu apontei para a bolsa que Fin havia trazido, mostrei qual era a chave e lhe dei o endereço para que ela anotasse.
– O nome dela é Lili – eu disse antes de ela sair.
– Lili estará bem – ela respondeu com um sorriso reconfortante.
Assim que a porta se fechou, recostei-me na cama e fechei os olhos, exausta. Em poucos minutos, o cansaço tomou conta e eu adormeci.
Despertei brevemente durante a madrugada, sentindo uma leve dor e tentando mudar de posição. Quando abri os olhos, a visão ainda embaçada revelou Olívia deitada em uma poltrona, coberta com uma jaqueta, enquanto dormia. Não sabia se aquilo era real ou apenas uma ilusão causada pelos medicamentos.
Nesse momento, uma enfermeira entrou silenciosamente e, ao me ver acordada, perguntou se eu estava com dor. Eu apenas confirmei com um leve movimento de cabeça. Ela ajustou a dose da medicação e, em pouco tempo, a dor diminuiu e eu voltei a adormecer, o sono me envolvendo novamente.
Quando voltei a abrir os olhos, a luz do dia já inundava o quarto. À primeira vista, parecia que Olívia na poltrona havia sido apenas um sonho, mas então ela apareceu na porta com dois copos de café.
– Bom dia! Que bom que você acordou – disse Olívia, aproximando-se com um sorriso – A médica autorizou que eu trouxesse um café para você – Ela colocou um dos copos na mesa ao lado da cama e se preparou para me ajudar a sentar – Deixa eu te ajudar.
Eu pensei em recusar, mas ao tentar me mexer e sentir a dor no ombro, decidi aceitar a oferta. Olívia estava sendo extremamente atenciosa e solícita, algo que eu não tinha visto antes. Esse lado dela, tão gentil, me agradava e me fazia perceber uma nova faceta de sua personalidade.
Depois de me ajudar a me acomodar, Olívia me entregou o copo de café. Levei-o à boca com a mão do braço direito e senti o líquido quente descer confortavelmente pela garganta.
Benson me disse que o médico já passou aqui enquanto estava dormindo e como não apresentei febre nem sinais de infecção, minha alta está prevista para hoje.
– Ontem, como você estava sob efeito dos remédios, achei melhor conversar com você hoje – Olívia continuou, olhando-me com seriedade – O tiro do Austen era para mim. Por que você se colocou na frente?
– Foi instinto – respondi rapidamente – Somos parceiras. É o que os parceiros fazem, se protegem – Dei de ombros, tentando parecer que não era grande coisa.
– Obrigada – ela disse, olhando-me nos olhos – Eu realmente agradeço por ter me protegido. Mas, da próxima vez, vamos usar coletes, ok? – Ela riu levemente.
– Você tem razão – eu ri também – Mas não precisa agradecer. Eu faria isso de novo, se fosse preciso – Mantive o olhar fixo nos seus olhos, transmitindo sinceridade.
Havia algo nos olhos de Olívia que me proporcionava um conforto inesperado. Ela era uma mulher muito bonita, atraente e segura de si, mas havia algo mais que me cativou profundamente: o modo como ela sempre se importa genuinamente com aqueles ao seu redor. A mulher à minha frente estava conquistando um espaço dentro do meu coração que eu nem sabia que ainda existia.
Eu não conseguia explicar exatamente por quê, mas estava feliz por ter vindo para a UVE e por ter tido a oportunidade de conhecê-la melhor. Talvez estivesse começando a surgir uma conexão entre nós. Se eu a visse sozinha em um bar, certamente ela seria o meu tipo. Eu sempre me senti atraída por mulheres sérias e decididas como ela, embora soubesse que, no fundo, ela não se interessaria por mim.
Mesmo assim, essa conexão que estava se formando, é real.
Após receber a alta hospitalar, eu precisei trocar o avental do hospital por roupas normais. Para minha surpresa, Olívia trouxe uma roupa limpa de casa, já que a anterior precisou ser rasgada para tratar o ferimento. Minha parceira saiu do quarto para que a enfermeira pudesse me ajudar a me vestir.
O médico fez uma última avaliação do ferimento, entregou-me a receita dos remédios necessários para prevenir infecções e o atestado de afastamento. Olívia se ofereceu para entregar o atestado ao capitão.
Finalmente, para cumprir o protocolo de alta, eu tive que sair em uma cadeira de rodas, mesmo sabendo que poderia andar. Olívia estava ao meu lado, oferecendo suporte e um sorriso reconfortante enquanto nos dirigíamos para a saída.
Ela abriu a porta do carro para que eu entrasse no banco do passageiro, enquanto colocava minhas coisas na parte de trás. Ela me levaria para casa.
Durante o trajeto, perguntei sobre meu carro, que havia ficado na delegacia, mas ela me garantiu que Derek havia deixado o carro na garagem do meu prédio na noite anterior. Eu tinha muito a agradecer a ambos.
Após parar na farmácia para eu comprar os remédios, Olívia estacionou em frente ao meu prédio. Ela abriu a porta e me ajudou a descer, pegando minhas coisas que ainda estavam dentro do carro. Pensei que ela estava apenas me deixando na porta do meu prédio
– Tudo bem se eu subir com você para ajudar a levar suas coisas? – Olívia perguntou, segurando minha bolsa e o buquê de flores que Fin havia deixado ontem.
– Se não for um incômodo, por mim está tudo bem – eu respondi com um leve sorriso, surpresa e agradecida pela oferta.
Após abrir o portão de entrada, seguimos pelo corredor até o elevador. Eu fiquei tão surpresa com toda essa atenção que não conseguia pensar em nada para dizer. Ao chegarmos ao meu andar, Olívia me deixou passar e me entregou a chave. Eu abri a porta do meu apartamento e a primeira coisa que vi foi Lili correndo ao meu encontro. Abaixei-me para afundar meu nariz em seu pêlo preto e sedoso.
– Mamãe também sentiu sua falta – eu disse enquanto ela ronronava.
– Ela é uma fofura. Ontem, quando vim deixar água e ração, ela se aproximou e deixou que eu a acariciasse – Olívia comentou
– Apesar de ter a resgatado da rua, Lili é uma gatinha muito carinhosa. Você gosta de animais? – perguntei, pegando a felina no colo com o braço bom.
– Gosto, só nunca tive um. Minha mãe não gostava de animais, então quando eu era criança, não podia ter um. Agora, com o trabalho, não acho justo ter um que ficaria sozinho – Olívia explicou, enquanto passava a mão na cabeça de Lili.
– Você tem razão. Ainda bem que minha Lili é independente, e sempre que chego em casa, dou a ela muito carinho – eu disse antes de abaixar e colocá-la de volta no chão.
– Cuidado – Olívia disse, tocando meu braço com preocupação – Está sentindo dor?
– Um pouco, mas estou bem. Desculpe dar tanto trabalho – eu respondi, com uma leve risada.
– Imagina, é o mínimo que eu posso fazer depois do que você fez – Olívia respondeu, olhando-me nos olhos – É isso que parceiros e amigos fazem – Ela sorriu de um jeito tão genuíno que senti o peso de suas palavras.
– Vou indo agora, preciso voltar à delegacia para tratar da burocracia – ela suspirou – Se precisar de qualquer coisa, pode me ligar – Ela fez um carinho suave no meu braço – Cuide-se.
– Espera – eu disse antes de ela sair – E Austen, foi preso?
– Infelizmente, ele faleceu a caminho do hospital. Eu preferia que ele tivesse passado o resto dos dias na cadeia – Olívia respondeu, e eu acenei com a cabeça, compreendendo sua frustração.
Após a porta se fechar e Olívia se afastar, a solidão do apartamento escuro e gelado me envolveu. No entanto, o aconchego de Lili me trouxe algum alívio. Peguei meu celular da bolsa e, após caminhar até o sofá, me sentei e bati no estofado ao meu lado para que ela subisse. Imediatamente, ela se acomodou no meu colo, seu calor reconfortante me envolvendo.
Olhei para as chamadas recentes e vi que havia uma de Penélope García e outra de J.J., minhas amigas da BAU. O simples fato de ver seus nomes fez um sorriso surgir no meu rosto. Mesmo de longe, elas sempre se lembravam de mim. Decidi retornar primeiro à ligação de Penélope.
– Mon Cherry, como é bom ouvir a voz da mulher mais linda de todas! – Penélope exclamou, seu tom brincalhão trazendo um sorriso sincero aos meus lábios.
– Você não imagina como é bom ouvir a sua – eu suspirei, com os olhos marejados – Tenho tanta coisa para te contar. Sinto sua falta.
Na conversa com Penélope, encontrei o conforto que estava desesperadamente precisando. Embora o tiro não tenha sido fatal, a experiência me afetou profundamente. A conversa com García foi um bálsamo para minha alma, lembrando-me de que, mesmo à distância, o apoio e a amizade que compartilhamos eram inabaláveis.
Agora, sabendo que teria vários dias para me recuperar e refletir, as palavras de Penélope me ajudaram a encontrar um pouco de paz e força para enfrentar o que estava por vir.
É só eu ou vocês também tem vontade de guardar a Emily em um potinho? Eu amo esse personagem (tanto a que estou construindo na minha fic como a Emily da série).
Espero que continuem acompanhando essa história que estou escrevendo com todo meu coração 🤍
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