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Capítulo 20

    Aos poucos, Vincent sentia que conseguia decifrar a mente de Dimitri. A cada virada de página, descobria um fragmento do passado daquele que tinha por pai.

"A vida é vazia. Quando tiramos uma vida, perdermos um pedaço de nossa alma, mas logo lembro-me que Assassinos não tem alma. Matamos para proteger aqueles que mais amamos. Não há poesia ou glórias na arte de matar."

— Por que estou vivo, pai? — Vincent esfregou a mão no rosto. — Deverias saber que um Assassino está designado à solidão.

O jovem fadado encontrava-se, outra vez, na taberna de madame Frieda. O local era barulhento e o odor de vinho, quase insuportável. Porém se ficasse mais um minuto no casarão abandonado de Harrington, temia ensandecer com as vozes e as visões de símbolos estranhos que não o deixavam em paz.

Continuou a ler o documento de anos atrás.

"Estou a treinar um garoto que perdeu seus entes queridos, no incêndio que ocorreu em sua casa. O fogo matou seus pais. O fogo foi causado por mim. Os pais do garotinho eram membros dos Illuminatos. Não relés membros. Pertencem à uma das famílias principais, tal como pertencem os Quatro Cavaleiros. Eles são..."

Havia uma mancha preta de tinta, cobrindo o nome do que deveria ser a família. Vincent praguejou por tal sobrenome relevante, agora encontrar-se perdido.

Virou a página. Era perda de tempo tentar desvendar o que ali havia.

"Treino este garotinho, com a esperança de que ele conheça-nos melhor. Seu semblante é sempre triste, o que faz lembrar-me de mim quando era criança e fugir da guerra, da minha terra natal, com a minha mãe. Há raiva e rancor nos olhos dele. Espero que isso um dia mude. Eu odeio o que fiz isso! Matei as únicas pessoas que ele amava, e escondo isso dele! Para este garotinho, sou o seu herói. Rezo para que a verdade jamais ressurja. Penso na minha família todos os dias. Será se terei paz? Será se esta teia de mentiras, que criei, vai se romper?"

Sua vida sempre fora uma teia de segredos e mentiras.

De fato, Vincent nunca conhecera o pai, mas ao ler o diário de Dimitri, desvendava cada linha de sua aflição. Ser um Assassino o enlouquecia, o matava lentamente por dentro. Era um fardo extremamente pesado, que o enterraria de vez.

E tal fardo agora pertencia à Vincent.

— Voltastes à taberna — a voz mansa chegou ao coração de Vincent. — Fico contente.

Era a copeira de cabelos curtos e negros a falar consigo. Deus, nunca perguntara o nome daquela moça! Tomaria aquela moça por simpática, para não haver o embaraço de lhe perguntar o nome. Ao visto, a mocinha reconhecera-o somente pelo manto preto e por portar o caderno. Percebeu que os lábios da copeira tremularam, ao notar a espada em seu dorso.

— Não te preocupes. Ela não morde. — referiu-se à espada.

Vincent puxou um pouco o capuz, sombreando a face.

— Então, irás querer alguma coisa? — uniu as mãos frente à saia do vestido. — Prometo não ser insistente!

Vincent elevou um dos cantos de seus lábios, admirado com a graciosidade daquela moça a sua frente. A valer, a copeira de semblante gentil e tez pálida era deveras educada e dócil para ter nascido ou se criado pelas vielas sujas de Florença.

— Por enquanto, hei de querer apenas água. — Vincent replicou.

A copeira distribuiu mais um sorriso doce e acolhedor. Como era graciosa, o rapaz tratou logo de pensar.

Como de praxe, a copeira lhe serviu uma caneca com água, e logo tratou de avisá-lo que não necessitava pagar nada. A mocinha lhe sorriu, de jeito meigo e encantador, e logo espantou-se quando a voz de sua patroa ecoou pelo salão da taberna. A grandalhona parecia estressada e deveras irritadiça.

— Mileide, trate de trabalhar! Cozinhe mais uma costela de carneiro e leve uma caneca de rum para a segunda mesa. — Frieda berrou do salão barulhento da taverna.

Mileide. A simpática copeira chamava-se Mileide. Um nome delicado, para uma garota de aparência frágil. Os olhos rubros do rapaz brilhavam como joias infernais. De fato, aquela copeira deveria ter uma história interessante, oculta por trás daquele ingênuo sorriso.

— Ande, menina! — Frieda continuou a berrar com sua voz rouquenha. — Tempo é dinheiro!

— Estou indo, madame Frieda. — a copeira prontamente fora obedecer a ordem da taberneira gritalhona.

Mileide passou o dorso da mão na testa suada. Por vezes, detestava servir àqueles grosseirões bêbados. Aquilo a irritava um pouco, pois sempre tinha que agir com cautela e esgueirar-se das mesas para não ser apalpada por aquelas mãos ásperas e imundas.

Olhou para trás, uma única vez, para a mesa solitária. O rapaz misterioso havia ido embora, deixando para trás, três moedas de ouro no tampo da mesa. Quando ele partiu, sentiu um nó na garganta. Ele era o único freguês, que mesmo não sendo habitual, lhe deixava gorjetas.

Nos becos escuros e estreitos de Florença, uma mulher choramingava, implorando para que o sentinela não lhe tirasse as moedas que guardava para seu sustento. A criança que a acompanhava, seu filho, chorava em decorrência do desespero da mãe. Eram nômades a viverem de truques e trocados.

— Por favor, senhor. Lhe imploro! — puxava a ponta de seu casaco. — É para o sustento dos meus filhos!

— Largue-me, cigana imunda. — chutou-a. — Tens o direito de permanecer calada e a continuar a pagar os impostos, ou você e seu filho dormirão no calabouço.

Vincent passou pelo beco de onde provinham as vozes autoritários e os gemidos, e tentou ignorá-los. Mas irritou-se quando o sentinela esbofeteou a mulher. Algo borbulhava em seu peito. Odiava injustiças. Odiava covardia.

— Ei — Vincent chamou pelo sentinela.

O homem uniformizado volveu a face para aquele que o chamava, apenas para sentir a mão fechada de Vincent afundar em seu rosto. Quebrou-lhe o nariz, deslocou a mandíbula, sentiu o gosto do próprio sangue. Somente um soco foi mais do que suficiente para derrubar o sentinela. Caíra no chão igual a um bêbado.

— Miserável! — depositou as mãos sobre o nariz quebrado, levantou-se zonzo. — Isso não ficará assim! — cambaleava.

— Ainda não terminei. — Vincent desembainhou a espada, para horror da mulher que cobriu os olhos do filho. — Devolva o dinheiro dela.

— O quê? — o sentinela tirou as mãos do nariz, visualizando o próprio sangue empapando os dedos.

— Devolva, ou não serei responsável pelas minhas ações. — a voz de Vincent era tão afiada e fria quanto o fio da espada que segurava.

— Filho de uma puta! — o sentinela desembainhou a espada no seu flanco, avançando sobre o rapaz encapuzado.

A luta, que sequer poderia ser chamada disto, terminou em menos de quatro segundos, com Vincent desarmando o guarda e possuindo a espada do rival.

— Devolva. O. Dinheiro. Dela. — falava pausadamente e de jeito tranquilo, apontando as duas espadas na direção do sentinela.

Retirou o capuz, de costas para a mulher e de frente para o sentinela, e o homem contemplou a Morte dentro dos olhos daquele rapaz. Sentiu a alma rasgar e se esvair. Não valia a pena encará-lo. Os temidos olhos cor de sangue. Olhos moldados pelo fogo do inferno.

Assustado, o sentinela desatou o saquinho com o dinheiro do cinto, correndo desembestado para fora do beco imundo. Obviamente, chamaria reforço. Vincent recolocou o capuz e guardou Arcanjo, lançou a espada do guarda no esgoto do beco e apanhou o saquinho com moedas no chão.

— Sugiro que vá para um lugar bem longe, senhora — repassou o saquinho para a mulher assustada. — Temo que aquele louco possa voltar.

— Deus o abençoe, meu filho — as lágrimas riscavam o rosto sujo e sofrido. — És um anjo.

Um anjo? Talvez, Vincent fosse um ser celestial destinado a ter asas. Não, que insanidade. Anjos eram bondosos. Certamente ele não era isso, pois no momento em que desafiou o sentinela, sentiu uma vontade abrasadora em matá-lo ali mesmo.

— Dê-me a tua mão.

— O quê? — Vincent ergueu a mão na direção da mulher.

— Preciso ver se teu futuro será generoso.

Os dedos daquela mulher corriam pela palma da mão de Vincent. A expressão dela modificou-se e como se lesse um livro com contos de terror, sua face perdeu a cor. Balbuciava, atônita, assustada com o que via nas misteriosas linhas do destino de Vincent.

— Vejo dor... Sofrimento... Culpa... Morte... — a voz da mulher era grave, como se fosse outra pessoa.

— A morte sempre chega para todos — rebateu, desconfortável.

— Não desta forma. A tua morte virá aos poucos, de forma cruel — a voz da mulher tremia. — A tua alma é infausta. Teu destino é terrível, meu rapaz!

Vincent puxou a mão, transtornado com a previsão daquela senhora. Salvava a vida de uma estranha e logo recebia em troca, uma previsão funesta de seu destino.

— Parece que o diabo deseja acertar as contas comigo — sussurrou, andando sob as luzes dos postes com lamparinas.

Andar pelas ruas de Florença, com tamanha liberdade era algo, que antes, era completamente inimaginável para Mileide. Quase um ano vivendo sem regras, sem ser escravizada pela duquesa Brígida, sem ter que esfregar o chão da mansão, sem ser obrigada a lavar os vestidos daquela mulher ingrata, e principalmente, não haveria mais fiera para assustá-la ou castigá-la.

Aproveitou o seu intervalo na taberna, para admirar o céu estrelado e aspirar a brisa com cheiro de lavanda.

Um bando de crianças maltrapilhas passaram por Mileide, quase derrubando-a no chão, deixando cair um saco de estopa muito encardido. A garota agachou-se e o apanhou. Era um pouco pesado. Abriu-o e viu muitas maçãs rubras. Aquelas crianças deixaram cair. Precisava entregar à elas, contudo já havia as perdido de vista, era difícil ver além por conta da luz débil das lamparinas.

— Ei, menina! — o vendedor a assustou. — Você mesma! Ladra!

Aquela palavra a fatiou. O vendedor deveria tê-la enganado com outra pessoa.

— Ladra? — Mileide espalmou a mão sobre o peito. — Não fui quem furtou estas frutas!

— E quem foi então? — o vendedor cruzou as mãos sobre a barriga estufada.

Não podia dizer que foram as famintas crianças, seria crueldade dedurá-las. Eram apenas crianças famintas, cujo mundo não apiedava-se delas.

— Eu não sei quem foi... — desviou os olhos negros do vendedor inquisidor. — Não as roubei! — Mileide fechou o cenho. — Não sou nenhuma ladra!

— Chamarei os guardas! — o feirante prontificou-se erguendo o dedo indicador.

— Por favor, não faça isso! — Mileide levou a mão ao braço do feirante (cinco vezes maior que o seu), tentando impedi-lo. — Se eu confessar que fui eu, irás parar com isto? — não deixaria a culpar recair sobre os meninos de rua.

— Então, fostes mesmo tu! — o vendedor acusou, apartando a garota de seu braço. — E pagarás por elas?

— Pagar? — Mileide ainda segurava o saco com as maçãs. — Por quê?

— Sim! Pagar! — esfregou o dedo indicador no polegar, referindo-se à moedas. — Não almejo mais esta mercadoria! Ou vai dizer que não tens dinheiro?

Mileide apertou o saco de estopa com as maçãs. Ofereceu-o ao vendedor, que negava veemente com a cabeça. Ele não queria as maçãs. Ele queria dinheiro. De repente, arrependeu-se por assumir a culpa de algo que não cometeu. Mas não desmentiu.

— Tarde demais para devolver-me, mocinha. Pague-me e vá. — o vendedor continuou com a falação.

— E-eu não tenho dinheiro, moço! — A voz de Mileide era trêmula.

— Ora, você não trabalha na taberna de Frieda?

— Sim, mas...

— Azar o seu, garota.

Uma sombra obscura engolindo-a dos pés à cabeça. Encontrava-se em uma viela sem saída.

— M-mas, eu sou a sobrinha do duque de Florença. — confessou o que prometeu jamais dizer. — Deixe-me retornar à mansão de meu tio, e trarei o que lhe devo.

— Achas que vai enganar-me com esta mentira? — riu com escárnio. — Uma esfarrapada como você, sobrinha de um homem importante e rico. Com as vestimentas que usas, não tenho dúvidas; és uma pobretona que não tens onde cair morta.

— Perdoe-me, senhor, mas não posso lhe pagar! — as lágrimas turvavam a vista. Não roubei, era o que pretendia dizer.

— Quem comprará estas maçãs sujas por terem caído na rua? — apontava para o saco nas mãos de Mileide. — Só vejo outra forma em que você possa pagar por este prejuízo.

— Qual forma?

Ágil como um gato, segurou o pulso da garota com rudeza, impedindo sua fuga, fazendo o saco de estopa cair de sua mão, e as maçãs rolarem pelo chão de granito. Era cinco vezes mais forte que ela. Roçava a barriga de banha no corpo delgado da garota. As lágrimas de Mileide escapavam, implorando para que uma alma caridosa aparecesse. Porém as veredas de Florença eram silenciosas.

— Pague com o seu corpo. — o vendedor sussurrou maldosamente rente ao ouvido da garota.

— Soltai-me, estais louco!

— Ora, se trabalhas em uma taberna, deves está acostumada a vender o corpo. Ou vais me dizer que és virgem?

— Falas o que não sabe! Sou apenas uma humilde cozinheira. — fechou os olhos e as lágrimas rolaram com maior frequência.

— Há uma primeira vez para tudo. — apalpou a cintura da moça, subindo a mão pelo apertado corpete, por pouco alisando seus seios.

Reunindo forças no medo, Mileide chutou a perna do feirante, o que foi uma brecha para conseguir soltar-se.

Correu pela rua deserta, olhando para trás, mirando o homem que corria atrás dela, possesso, e nem deu-se conta do obstáculo à sua frente. Acabara por esbarrar-se em um homem de manto preto, caindo estabanada ao chão. E mesmo com o estranho homem tendo o rosto oculto pela sombra do capuz, Mileide sentia que o forasteiro a olhava. Os lábios tremulavam, mirando a figura sombria diante dela.

Deus o colocara ali para ajudá-la.

Sobre os berros furiosos do perverso vendedor, Mileide despertou e escondera-se atrás do homem de capa preta, como uma criança que procura amparo.

— Por favor, senhor! — Mileide implorava para um homem que mal conhecia. — Ajude-me!

Vincent volveu a face para a garota trêmula e passou os olhos para o vendedor de semblante maléfico. Duas boas ações no mesmo dia. Deve haver uma vaga no céu para uma alma perdida, pensou sagazmente.

— Deixe-a, ou se arrependerá. — ordenara o rapaz.

— E quem vai impedir-m... — engoliu em seco.

O rapaz abaixou o capuz e o vendedor ficou pasmo.

Assim que fitou os olhos do rapaz que falava consigo de imediato congelou. Vermelhos, como os olhos de um demônio. Balbuciou e logo tratou de continuar a falar.

— Essa pequena ladra roubou minhas maçãs, e ainda por cima espancou-me! — o vendedor acusava sem dó.

— Mentiroso! — Mileide gritou, a voz falhando. — Ele queria profanar o meu corpo! — o rosto avermelhou-se por dizer aquilo em voz alta.

— Tens de pagar pelo que roubou, de alguma forma!

Vincent sentia a onda de calor subindo pelo pescoço e nuca. Homem repugnante que merecia ser transpassado por sua espada.

— E para isso, queres que ela pague à ti, vendendo o corpo? — a voz de Vincent era calma, deu três passos à frente, encarando o vendedor.

Mileide constrangeu-se e sentiu um humilhante rubor saindo das bochechas. Aquilo, saindo da boca daquele desconhecido, tornava tudo mais vergonhoso.

— Exato! — o vendedor afirmou.

— Que repulsivo!

— Escutes, isto não é de tua conta, e essa ladra aqui, pagará de uma forma ou outra, e...

Vincent desembainhou a espada que jazia em seu dorso, e somente o sonido afiado da espada fora suficiente para o vendedor arregalar os olhos.

— Estais disposto à perder a vida, então? — Vincent parou de desembainhar a espada na metade do caminho.

— Pensando bem, são só maçãs mesmo... Nem valem a pena. — dava passos para trás, sem tirar os olhos da espada, correndo escuridão adentro, desistindo de Mileide.

Mileide massageava o pulso esquerdo, muito dolorido. Maldito vendedor de aperto forte. Olhou de soslaio para o homem de capa preta que a salvara de quase ter o corpo maculado.

Um homem havia a salvado. E agora tal homem aproximava-se, fazendo seu coração apertar. Somente não fugiu, pois Mileide o reconheceu como o rapaz da taberna. Ele era um tanto formoso, o rosto adornado com poucos pelos, e as mechas castanhas que caíam sobre a face. Não era muito mais velho que ela.

— Estás bem? — perguntou com seriedade.

Mileide apenas anuiu, perplexa com a cor dos olhos daquele homem. Vermelhos, como as rosas do jardim da mansão. Uma cor que lhe trazia lembranças saudosas e esquecidas. O homem deteve-se um pouco surpreso ao vê-la. O que fez com que Mileide somente imaginasse coisas ruins acerca do que rondava à mente dele.

— Ótimo. — Vincent dera as costas, com o rosto endurecido, lançando a capa.

Concluíra, enfim, que mulheres que trabalhavam em tabernas, sempre metiam-se em tais problemas.

De repente, um coche preto, seguido de vários outros, podia ser visto à distância. Eram guardas. Vincent praguejou. Decerto, o sentinela que ele espancou estava metido nisto. Para o seu grandessíssimo azar, sim. O homem de nariz quebrado vinha montado no cavalo, frente ao coche preto. Não havia um beco por perto para Vincent esconder-se e não daria tempo para escalar os casarões sem ser visto. Somente havia uma única maneira daquele coche passar despercebido por ele.

Vincent aproximou-se da garota, como um predador, posicionou firmemente a mão na cintura da copeira e em questão de segundos, colou seus lábios nos dela. Os guardas do coche não pararam, pois olharam para eles e logo julgaram serem um casal de namorados, e continuaram a correr, atrás do homem que espancara o sentinela.

Mileide parecia uma boneca de cera, inerte nos braços de Vincent. Os braços colados ao corpo e os olhos arregalados de medo. Beijara uma completa estranha, sentindo a textura macia dos seus lábios, aparentando ser a superfície de um pêssego.

Ela servira perfeitamente como distração, como um escudo. Apartou-se da garota, vislumbrando seu semblante de pânico e confusão.

Mileide não reagiu. Não gritou e não o esbofeteou. Seus olhos tremulavam, molhados, e os dedos trêmulos, tocando devagarinho os lábios recém-beijados.

Ela não era problema seu.

O cheiro de peixe podre que vinha do rio, feria as narinas de Vincent. Volta e meia, sua consciência relembrava-o que usara uma jovem inocente como escudo. Tolice.

Passos pesados ecoavam na velha ponte, o que fez com que Vincent ficasse alerta levando os dedos à empunhadura da espada. Mas não desembainhou Arcanjo.

— Fui ferido! — um homem, com o uniforme igual de um sentinela, atirou-se nos braços de Vincent. — Ajude!

Vincent aparou o velho ensanguentado.

— Sou o atalaia do duque Amadeo — gemia. — Não deixe-me morrer, garoto!

Uma flecha de penas vermelhas e pretas voou sendo fincada nas costas do velhote, fazendo-o padecer.

Sinos de uma igreja ressoaram ali perto. Vincent repousou o cadáver no chão da ponte. Olhou para o começo da ponte. Podia jurar que haviam olhos estranhos a espreitá-lo.

E não fora somente impressão. Alguém aproximava-se para perto dele. Vincent ergueu-se, tocando o cabo da espada em seu dorso.

O vulto aproximava-se, ganhando uma silhueta masculina. O sujeito encapuzado baixou o capuz, revelando o rosto na luz da única lamparina sobre a balaustrada. Era loiro, com mechas que caíam sobre os olhos sagazes. Em sua bochecha existia uma notável cicatriz. Elevou o canto dos lábios, mostrando um sorriso mordaz a apontar a espada na direção de Vincent.

— Sinto muito pela bagunça. Ele era um homem realmente rápido — o loiro sorriu.

Vincent permaneceu calado.

— E terei que matar a ti, também — deu de ombros. — Desculpe-me, mas o trato diz: "sem testemunhas".

Avançou sobre Vincent, investindo a fúria da lâmina sobre a espada do rapaz de olhos rubros.

A batalha iniciara com certa desvantagem para Vincent, pois o rival não portava apenas uma espada. Havia em seu pulso um misterioso braçal que, de quando em vez, apresentava uma lâmina — pequena e curta — que roçava na superfície do casaco de Vincent.

O Assassino parecia executar uma dança mortal. Esquiva, defesa, pulo... Cada golpe era harmonioso, bem planejado e perfeito. Se Vincent não estivesse na defensiva, certamente a espada do rival conheceria o gosto do seu sangue. Fitava-o de cenho franzido e tivera a infeliz impressão que o adversário divertia-se com a luta.

As lâminas das espadas jogavam sinistras faíscas. Vincent apertou os dedos no cabo da espada e mesmo com o braço cansado pelo esforço, conseguiu fazer o rival ficar de joelhos dobrados. Ambos arfavam, gastos pela peleja sem sentido.

— Parecem duas crianças a brigar! — exprimiu uma outra voz, que ainda permanecia nas sombras.

Vincent recolocou Arcanjo de volta à bainha em seu dorso, observando o loiro, que resolvera sentar-se no chão, com um curioso sorriso de satisfação no rosto.

— Era para matá-lo, caro amigo — o dono da voz revelou-se sobre a luz. Ou pelo menos metade de seu rosto, já que jazia coberto por um capuz.

O segundo homem portava um arco — não um arco comum, este era longo e adornado, pintado de púrpura — e uma aljava que por pouco, Vincent pensou haver flechas infinitas. Seus trajes, assim como do loiro, eram em cores sombrias, uma perfeita camuflagem para serem associados com a escuridão da noite.

— Tenho quase certeza de que vale a pena mantê-lo vivo — replicou o loiro com seu sorriso irritante.

— Já que estais a dizer, então acreditarei.

Vincent observava-os, imaginando como escaparia da garra deles. Poderia jogar-se no rio fedorento e ir nadando até a margem, ou simplesmente, derrotá-los, mas acabaria ficando ainda mais exausto, e... Dois contra um? Era uma péssima ideia.

— Qual é o seu nome? — o arqueiro indagou.

— Não se acanhe. Fale conosco. — dissera o loiro.

Vincent continuou emudecido, a mente trabalhando rápido e os pulmões recuperando o fôlego. Pretendia jogar-se no rio. Contudo, antes de sequer dar a primeira investida, sentiu uma picada no pescoço. Doeu. Queimava. Tocou a região do pescoço e retirou um pequenino e insignificante dardo com plumas pretas e vermelhas. Foi o arqueiro quem disparou. Observou o objeto estreito e oco em sua mão feito de bambu. O envenenaram. Os sentidos falhavam, os movimentos paravam.

Os símbolos o acolheram, dominaram sua visão. Perturbavam-no. Sentiu o baque do chão frio e molhado contra o rosto. Tudo ficou escuro e silencioso.


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