Chào các bạn! Vì nhiều lý do từ nay Truyen2U chính thức đổi tên là Truyen247.Pro. Mong các bạn tiếp tục ủng hộ truy cập tên miền mới này nhé! Mãi yêu... ♥

Capítulo 2


       Barbatana, como agora era chamado o garoto de olhos rubros, percorreu toda a província de Florença com o bando de delinquentes. Todos obedeciam cegamente Tubarão. Roubavam sem pudor os mercadores, muitas vezes, aqueles que mexiam com itens valiosos. Tinham "mãos de pano" quando o assunto era roubar sacos de moedas atados aos cintos dos cavalheiros. Barbatana apenas furtava alimentos. Segundo ele, era uma necessidade. Achava desnecessário roubar moedas de ouro ou bandejas de prata.

      Seguiu o bando por um ano, e já cansava-se de tamanha desordem no pequeno grupo. Detestava os atos de lealdade dos demais para com Tubarão, que nada fazia além de dar ordens e agir como um perfeito patife. Abria a boca somente para falar sobre puttanas e sobre o maldito rum.

      Naquele bando, os membros não tinham direito de usar seu nome de batismo, e eram obrigados a adotar as alcunhas ridículas que Tubarão lhes dava. E isso irritava Barbatana. Ele tinha um nome. 

Todo mundo usa a ti, pensou, até este nome vulgar deram pra ti e aceitastes de bom grado. 

      Posicionado em cima do galho de uma macieira em uma vasta campina, admirava a cidade de Florença. Tinha sentimentos contrários aquela cidade, todavia era difícil não deixar de admirar suas magníficas construções.

— Ei, guri! Tubarão está convocando a sua presença. — Olho de Peixe circulou as mãos ao redor da boca, berrando para o menino no galho.

       O garoto de olhos rubros ficou ereto, e em seguida pulou do galho, caindo com o corpo curvado e as mãos servindo de apoio. Meses andando com aquele infame bando aprendera os truques das ruas. Subia muros, escalava paredes, fugia veloz dos guardas. Eram leis de sobrevivência.

       Tubarão estava assentado sobre um rochedo, repousando o antebraço na perna dobrada, pomposo como um nobre. Bebia o rum como quem tem sede de águas. Mesmo tendo dezessete anos aparentava ter mais. Quem o via, poderia achar que já era um rapaz de vinte e tantos.

      Todos temiam Tubarão por causa de um punhal que fazia questão de exibir na cintura, como um prêmio. Dizia em voz alta e grave que a lâmina daquele punhal matara trinta pessoas. Barbatana sabia que era mentira. Quem tornava-se um verdadeiro facínora, nunca iria revelar que realmente matou alguém na vida.

— Barbatana, venha aqui. — Chamara-o, sinalizando com o dedo indicador.

      O menino andara receoso de encontro ao líder. Seus cabelos castanhos estavam mais longos, cobrindo a nuca e parte da visão. Havia uma bandana preta em sua testa, cobrindo o ferimento do dia anterior, quando Guelra o empurrou fazendo-o estatelar-se no chão, em mais uma de suas brincadeiras agressivas. As roupas — bermuda e camisa de cor encardida — continuavam em trapos, exceto porque agora o menino calçava sapatos, mesmo que com furos nas solas, sem contar nas meias altas e sujas que chegava até os joelhos.

— O que é?— Indagou em uma voz de desinteresse.

       Um estalo seco e alto surgiu na face de Barbatana, e pela força que o tabefe fora desferido em seu rosto, acabara por desequilibrar-se e cair na grama verde e alta. Novamente, agressões físicas. Mais hematomas. No entanto, tais agressões ficavam maiores conforme os meses passavam.

— Esqueceu de me chamar de "senhor", seu verme! — Tubarão cuspiu no chão. — É assim que me tratas? Te dou nome, um abrigo e um par de botas e me tratas como se eu fosse um zé ninguém?

— Tubarão é o nosso rei! — Guelra gritava sarcasticamente.

— Para o inferno, Guelra! — Tubarão bravejou, quase caindo de cima do rochedo.

       Barbatana logo concluiu que toda aquela agitação era por conta de Tubarão estar deveras ébrio. Podia ver claramente no fato das bochechas do rapaz estarem rosadas em demasia e seu olhar parecer sonolento. Levantou-se, ficando cabisbaixo. Tubarão levou a mão ao alforje na cintura, mexendo nas moedas que ali haviam.

— O que queres, senhor? — A última palavra saíra amarga da boca de Barbatana. Sua mão massageava a bochecha dolorida.

— Está vendo isto aqui? — Prendeu a moeda brilhante entre o dedo indicador e polegar. — Não vais ganhar um centavo pelo mau serviço!

       Barbatana queria lhe falar que o dinheiro pouco lhe importava. Que engolisse aquela maldita moeda de ouro! Apenas satisfazia-se com o estômago cheio. Mas era difícil falar com a face em dor.

— E quanto a nós, Sr. Tubarão? — Olho de Peixe questionou o líder.

— Raios que o parta! É tudo meu. São ajudantes inúteis e não merecem sequer o prato que comem! — Cambaleou. — Barbatana é um péssimo ladrão! Nem mesmo quis nos ajudar ontem!

       O assalto ao coche luxuoso viera de relance à mente de Barbatana. Renderam uma família e surrupiaram suas joias e ouro. Exceto Barbatana que nada fizera. Ficara estático como uma estátua vendo seus comparsas agirem como bestas-feras.

— Verdade, Barbatana. Por que você não roubou o colar de pérolas daquela velhota? — Olho de Peixe questionou o amigo.

— Eu não quero ser ladrão... Minha mãe não ia gostar de me ver roubar. — desviou os olhos rubros.

      Recordar-se da doce imagem da mãe, sendo dominada por tons de vermelho, doía demais.

— Oh, ele é o filhinho da mamãe. — Guelra caçoava dele, com as mãos nas bochechas.

      Barbatana o fitava com rancor. Maldito seja Guelra!

— A tua mamãe não está aqui e se eu mando roubar deves me obedecer! — Tubarão segurou o colarinho da camisa de Barbatana. — Deves a tua vida a mim!

      O rosto de Barbatana endureceu. Seus olhos vermelhos pareciam mais ameaçadores do nunca.

— Não devo nada a ti! — Barbatana exclamou em uma voz potente.

       Outra vez uma agressão. Barbatana levou em cheio um soco no rosto. A visão do olho direito desfocara e logo as pálpebras tornaram-se inchadas.

— Me afronte de novo e eu te mato! — Berrou. — Não deveria ter te nomeado "Barbatana", mas sim de "Verme", pois está te parecendo como um!

— Meu nome não é esse! — Falara entre dentes, ameaçando-o com o olhar. — Eu tenho um nome!

— E eu importo-me com isso?! — O garoto bêbado dera de ombros.

       O líder embriagado retirou-se caminhando pela vasta campina, avisando-os para prepararam-se para a noite. Barbatana o odiava cada vez mais. Almejava que bebesse rum estragado e morresse. Desejava uma morte lenta e dolorosa à ele, mesmo sabendo que isso era pecado. Olho de Peixe o ajudou a levantar-se da grama, a fazer careta para o olho machucado de Barbatana que parecia sacar da face.

— Xi... Isso vai ficar feio amanhã.

— Sério? — Barbatana perguntou com gravidade. — Obrigado, juro que não sabia! — debochou sem permitir que um sorriso surgisse, batendo as folhas de grama presas na bermuda.

— Calma, guri. Fala tudo com tanta seriedade. Ei, Barbatana por que não tenta rir? — Olho de Peixe dera cutucões com o cotovelo em suas costelas.

         Barbatana nunca sorria. Nunca abriu um sorriso desde que entrara para o bando. Não havia motivos malditos para rir. Maldição! Acaso era algum palhaço para ter um sorriso estampado na face? Rasgou parte da camisa de tecido gasto, formando uma faixa fina envolvendo-a em sua cabeça, fazendo-a cobrir o olho roxo e inchado. Raios! Sua cabeça estava toda enfaixada. Sentia-se como uma múmia egípcia.

— Agora você parece um pirata carrancudo. — Olho de Peixe gargalhava alto.

— Devemos tomar cuidado com estes furtos. A não ser que estejamos a fim de morrer na forca, por causa de nosso insensato líder. — dissera com a cautela de um adulto.

— Tenho minhas dúvidas se você ainda é uma criança, Barbatana.

      E mesmo com aquele comentário, Barbatana sequer esboçou um sorriso.

       Não, ele não considerava-se mais uma criança. Sua pureza morrera no mesmo instante em que testemunhou sua família ser ceifada.

        Ao cair da tarde, Barbatana fora até outra extremidade do campo e deitou-se na grama. Colocou as mãos atrás da cabeça servindo de apoio e vislumbrou o céu em tons de lilás e azul quase acinzentado.

        Observava as nuvens e imaginava formas à elas. Fazia isso sempre com sua irmã gêmea, Natasha. Eram reflexos um do outro. Ela nascera minutos antes que ele, e por esta razão, considerava-se a irmã mais velha. Era extremamente autoritária. Natasha também tinha olhos cor de sangue e quando sorria, em seu rosto apareciam covinhas, porém somente surgiam quando sorria com sinceridade. Viviam discutindo e brigando, mas volta e meia eram grandes amigos.

       Em dias de verão, os irmãos deitavam-se em uma toalha, no jardim de casa, e competiam para ver quem conseguia enxergar mais desenhos nas nuvens.

      Natasha sempre falava que avistava coelhos e gatinhos. Mas ele enxergava outra coisa; uma casa, uma família de mãos dadas, um caminho para um lugar melhor. Fechou o olho, sentindo a brisa refrescar-lhe o rosto. 

       Adormeceu.

(...)

— Hora de acordar, neném! A gente já vai partir. — Guelra o chutou.

Assim que Barbatana abriu os olhos, contemplou o céu estrelado sobre ele. Ergueu-se com o braço dolorido e fitou Guelra afastando-se a rir destrambelhado, desejando dar o troco naquele infeliz que tanto o afligia.

— Andando, cane rognoso! Tubarão não admitirá mais um atraso.

       Barbatana sabia porque o garoto de sorriso escarnecedor o tratava como um cão sarneto. De alguma forma, seus olhos escarlates causavam medo em Guelra. O garoto arrogante não demonstrava, mas bem no fundo, Barbatana sabia que ele sentia medo.

       Ao menos, ele tinha uma origem. Era visivelmente italiano, por conta dos olhos castanhos em um tom claro e o nariz adunco. Já Barbatana não sabia sua origem. Seu queixo era quadrado e o pescoço grosso, lábios finos e nariz reto. Sem contar os olhos de cor estranha. Era indigente e sem origem. Sem identidade. 

     Retirou a faixa que cobria o olho machucado, relutando em seguir os companheiros.

       E, aconteceu, naquela semana, algo inesperado pelo bando. Tubarão fora pego pelos guardas. Passaram os temidos grilhões em seus pulsos e o lançaram para dentro da escuridão de um grande comboio preto. Não seria levado à forca por ser jovem, mas trabalharia quebrando pedras. Barbatana ficara contente. Livrou-se do líder tirano, no entanto, Guelra tomara seu lugar e iria tornar-se tão cruel e abusivo quanto o antigo líder. Transformou-se em um algoz para Olho de Peixe e Barbatana, sempre humilhado-os por serem menores que ele.

     Era pior que Tubarão. Não os deixava alimentar-se, a menos que roubasse para ele. Caso fizessem isso, tinha direito a um prato escasso de feijão azedo. Fazia-os dormir ao relento e muitas vezes, espancava-os e dizia que era apenas por diversão.

       Certa vez, surgira com uma ideia tresloucada. 

— Vamos saquear na ponte antiga, acima daquele rio fedorento. — Guelra parecia estar sóbrio. Parecia. Ganhara o péssimo hábito do líder anterior de embriagar-se. E era tão jovem. — Há muita gente rica que passa de carruagem por lá... Vamos roubar até encher os bolsos!  

      Barbatana achou que talvez fosse por conta de estar a alimentar-se mal que Guelra não raciocinava bem. Não era nada discreto em seus furtos e colocava os companheiros em perigo, mas aquela ideia precisava ser confrontada. Olho de Peixe parecia incomodado. Pisava o pé esquerdo no direito, fitando o chão de terra do barracão. Não tinha coragem para encarar o novo líder, que parecia envenenado pelo poder.

— Isso é loucura! — Barbatana retrucou. Não havia tremor em sua voz.

— O que dissestes, verme? — Guelra se aproximou de Barbatana, encarando de cima, curvando o pescoço para o garoto pequeno.

— Disse que é uma loucura! — Barbatana afirmou sua opinião, encarando o líder. — Está querendo nos condenar à forca?! 

— Isso é balela! Ainda acreditas nisso? Pareces um bebê chorão!

— Não estás sendo discreto. Vais acabar preso igual como Tubarão foi!

— Tubarão foi um líder fraco e com visão de formiga. Eu, porém, pretendo encher vossos bolsos com ouro — dera um sorriso maquiavélico. — Vê este punhal?

      Mostrou o objeto prateado para o garoto com algumas pedras verdes e vermelhas cravadas no cabo. Barbatana podia contemplar tal arma de perto, e admirou-se por Guelra portá-la.

— É de Tubarão...

— Era de Tubarão! — corrigiu-o. — Agora é meu punhal, e enquanto eu carregar isso, significa que devem obedecer a mim.

       Barbatana quis replicar, no entanto Olho de Peixe segurou seu braço, negando com a cabeça. Não deveriam agir sem pensar, e muito menos discutir com um garoto embriagado.

— Ainda quer abrir a sua maldita boca para falar besteiras, Barbatana? — O líder o interrogou.

       Acenando em uma negativa, Barbatana aceitou a derrota, e saindo do barracão, os seguiu pela escuridão da noite.

  ✦  

            Andaram sem rumo, por vielas desconhecidas, até chegar a ponte. Barbatana estava cansado do destino, de ser fraco, de ser um rejeitado condenado a viver de furtos. Sua mãe não iria gostar nada de vê-lo roubando. Ficaria envergonhada. Barbatana fizera o sinal da Santa Cruz. Que Deus a tivesse ao seu lado. Era uma boa mulher e vivia em seus pensamentos estilhaçados. O menino recordava-se da sua gentileza para com todos. Lembrou da avó, que era tão meiga e pequena por andar sempre curvada, e contava-lhe lindas histórias com finais felizes. Mas tais finais não existiam na vida real. Princesas não beijavam sapos, e estes não viravam príncipes. Na realidade, princesas tinha nojos de sapos e de meninos de ruas. 

        Retornando para lembranças esquecidas, enquanto seus pés tocavam a ponte, Barbatana tinha certeza que seu pai era única pessoa da qual jamais conseguia lembrar-se. O seu rosto sempre aparecia borrado quando tentava resgatá-lo na memória, e nem mesmo ele entendia o por quê. Existia apenas uma recordação em sua mente, de quando seu pai passou pela porta e nunca mais voltou, ainda assim não conseguira ver o seu rosto, apenas um vulto. Talvez, seu pai fosse um herói de guerra. Talvez, seu pai não amasse a esposa e nem os filhos. Tal razão era desconhecida para o garoto. Se pelo menos, o seu pai estivesse presente naquele maldito dia, sua mãe, sua irmãzinha e a sua avó não estariam mortas! 

— Droga! — Barbatana ralhou, posicionando a mão no peito.

— Está tudo bem contigo, guri? — Olhou de Peixe, que andava mais na frente, volveu-se para ele.

— Estou bem... — Baixou a cabeça e voltou a andar.

      A razão para seu arquejo de dor fora porque a cicatriz em seu peito começara a doer. O menino continuou com a mão aberta contra o peito. Por que o seu coração tinha que ficar justo do lado oposto? E por que aquela maldita marca ainda lhe causava dor?

       Já era noite, contudo ninguém se importava por ver três crianças de rua, perambulando sozinhas. Barbatana parou de andar, e debruçou-se sobre a balaustrada da ponte, observando uma imagem distorcida refletida no rio. Manchada, alva, iluminada. Era a Lua. Ergueu a mão pequena, em uma tentativa infante de tocá-la. Seus olhos vermelhos, admiravam a coisa branca arredondada que resplandecia majestosa. Cisnes nadavam tranquilamente no rio, enquanto um casal de namorados, desfrutava de um passeio em um barco. 

      Por um segundo, o menino tivera um encontro com a paz. Por um segundo apenas.

— Andem, suas lesmas! — esbravejou Guelra, muito impaciente. — Vem vindo alguém!

        Olho de Peixe e Barbatana agacharam-se para perto dos balaústres, aproveitando a escuridão na ponte já que os postes que adornavam a balaustrada estavam sem lamparinas. Guelra segurava o punhal, perturbado.

       Naquela mesma ponte, um homem passeava por ali. Alto, trajava uma capa azul-marinho e roupas apresentáveis, dignas de um cavalheiro. Mancava um pouco e a bengala servia perfeitamente como apoio. Sua cartola escondia boa parte do rosto fazendo sombra, porém era possível avistar a barba um pouco grisalha. A bengala o deixava ainda mais velho, todavia dava um ar misterioso para ele. Mal sabia, que estava sendo observado por três pivetes, maltrapilhos e desnutridos.   

— Parado aí, velhote! — Gritou Guelra com uma voz estridente e fanha, brotando da escuridão apontando a lâmina do punhal para ele.

     Na escuridão, Barbatana tremia. Sabia que Guelra estava bêbado o que tornava-o perigoso o suficiente para ceifar uma vida.

      O homem elegante de cartola e bengala não esboçara nenhuma reação. Enquanto Guelra ficou em posição de ataque, fizera um breve sinal para que Olho de Peixe fosse esvaziar os bolsos do cavalheiro.

  — Passe tudo o que tem, coroa, ou vai ver as suas tripas no chão! — Guelra ameaçara em uma voz, que deveria ser sinistra, no entanto saíra fina.   

— Se eu fosse vós, não faria tal coisa. — olhou duro para o pirralho de cabelo loiro e emaranhado que aproximava-se, e logo encolheu-se com medo.

      O homem passava os dedos no bigode, completamente despreocupado, arrumando a aba da cartola em sua cabeça. Não demonstrava pânico e tampouco medo. Podia ter até mesmo a impressão de que estavas sorrindo, debochando daquele ridículo assalto, feito por duas crianças magras e pálidas. Olhara para cima, avistando a lua cheia. Suspirou, imaginando maneiras perfeitas de imobilizar aqueles jovens tão inábeis. Com a voz suave e baixa, prosseguiu:

— Não passam de mortos de fome. Sumam da minha frente! — Retirava a luva branca da mão esquerda, com o semblante monótomo. Parecia preparar-se para uma luta.

— Você é surdo ou o quê?! Passa logo tudo o que tem! — O meliante exigia. Queria ser temido.

— Achas que tenho medo de tuas parvoíces? Que patético. — O homem de capa azul, abria um sorriso de desdém.

— Eu vou te matar, desgraçado!

       Barbatana sentiu a espinha gelar. 

Eu vou te matar, desgraçado. Mate elas! Mate a todos! Não deixe escapar ninguém com vida. Recordações daquele dia sangrento ressurgiam. Não poderia acovardar-se novamente. Não iria deixar mais uma vida ser ceifada frente à seus olhos.

       Guelra avançou o punhal o que foi suficiente para Barbatana atracar-se em seu braço, impedindo-o de furar o abdômen daquele homem. Reunira toda a força que tinha, lutando contra Guelra.

— Não faça isso, Guelra! Deixem ele em paz! — Segurava os pulsos do garoto maior que ele.

— Ora, veja se o vermezinho não quer bancar o herói? — empurrou Barbatana. — Cai fora, senão, esfaqueio a ti também!

      Barbatana retornou a avançar sobre ele, e ambos caíram no chão, lançando longe o punhal. Barbatana aproveitara para ficar sobre o corpo de Guelra, segurando seus braços.

— Por favor, Guelra, eu não quero te machucar! — O menino dos olhos rubros abaixara a vista.

— Ah, mais eu quero te machucar, seu verme traidor! Eu quero ver sangue! 

      Guelra, tomado de fúria, lançou o garoto de cima de seu corpo, jogando sobre as balaústres da ponte. Alcançou o punhal e o avançava na direção de Barbatana como um domador de leões. O menino de olhos rubros apenas esquivava-se, percebendo que em vez de fugir, o homem da capa azul estava a espiar a luta, como um espectador deslumbrado por uma peça teatral, demonstrando curiosidade e entusiasmo. Olho de Peixe olhava para o embate, perplexo, vendo seus dois amigos digladiando-se como inimigos mortais.

       O garoto esquelético avançara sobre Barbatana, cortando o seu braço direito. Gritou, mirando o filete de sangue que escorria pelo braço fino. Depois de minutos de esquivas para evitar mais um corte, o menino sentira um extremo cansaço, como se toneladas de pedras esmagassem seu corpo frágil. Estava fraco. Com fome. Barbatana arfava sem fôlego. O cavalheiro de capa azul, que ainda estava a ver a luta com bastante interesse, o chama:

— Ei, garoto! Pegue! — Jogara para ele a bengala, que caiu a poucos centímetros de seus pés.

      Assim que segurou a bengala, e sentiu que era um pouco pesada, o garoto imaginou o que faria com aquilo. Guelra tinha um punhal letal, e ele, uma patética bengala.

— Lute, seu merda! — Guelra bravejou com raiva.

— Eu tenho um nome! — Advertiu entre dentes.

      Aproveitando a distração do inimigo, Barbatana dera lufadas de ar, correndo em direção à Guelra e como um cavaleiro dos tempos medievais, imaginou que a bengala em suas mãos fosse uma espada e reuniu novamente toda a energia que lhe restara. Em um único golpe com a bengala daquele senhor, quebrara o braço do oponente. Barbatana não conseguia acreditar na adrenalina que experimentou e no prazer ao ver o rosto de Guelra transfigurado em dor, de joelhos ao chão, aos berros enquanto as lágrimas teimosas corriam pelo rosto do mesmo. 

       Depositou uma das mãos, sobre o lado direito do peito abrasado. Sentira algo novo, diferente, dominador! E fora bom sentir tal sensação prazerosa, quando quebrou o braço do rival. Era como um  poderoso fogo queimando em seu peito.

      Olho de Peixe correra até ao amigo derrotado, a fim de o convencer a fugir. Vencido e humilhado, não restara outra saída a Guelra a não ser recuar. Olho de Peixe ainda dera uma última olhada para Barbatana, que negava veemente com a cabeça. Não iria acompanhá-los. Estava livre. Olho de Peixe entendera e apoiou o amigo ferido no dorso, instigando a levantar-se. E fugiram, assustados com a atitude do desertor.

         O menino dos olhos rubros esgotara as últimas reservas de energias do seu corpo naquela luta. Fraco e cansado, fora perdendo o equilíbrio, quase desmaiando. Deixara a bengala deslizar de sua mão, caindo ao chão. Antes de render-se à fraqueza, a figura masculina o segurou com delicadeza. O homem ficara extasiado com a cor dos olhos do menino. Escarlates! Tal como um rubi bruto.

      Aquele menino demonstrou valor naquela luta. Lutara bravamente para defender um estranho, indo contra os companheiros. O resultado da luta poderia ter sido diferente, outrora a sua coragem se sobrepôs e ele fora o vencedor. Só havia uma coisa a ser feita:

— Menino, como te chamas? 

      Não havia mais ninguém para lhe dar alcunhas ridículas ou nomes depreciativos. Diria o seu nome. O nome que lhe fora arrancado e substituído tantas vezes, por pessoas que o menosprezavam. Um nome que era seu, por direito. 

— Vin... Vincent...

       E Vincent desmaiou.

Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro