Capítulo 11
Uma voz infantil e angelical soou, irrompendo pelo campo de margaridas.
— Vovó, achei uma borboleta — dissera uma menina de gentis olhos vermelhos, com covinhas formadas pelo sorriso meigo. Seu ondulado cabelo castanho acompanhava a brisa. Tinha nas mãos uma borboleta azul.
— Estou vendo, minha netinha. — replicou uma senhorinha de cabelo branco e rosto parecido com uma ameixa seca. — Agora solte-a, para que voe livre.
Vincent coçou os olhos, boquiaberto. Era Natasha e Nina. Sua irmã estava viva e ainda era uma pequena de seis anos de idade. E a sua avó continuava do jeitinho que ele recordava-se.
— Nathas... — interrompeu-se ao olhar para o outro lado do campo de margaridas.
Por pouco, Vincent não chorou.
Era Enna Bellini, sua mãe. Tão linda e serena. Para Vincent, sua mãe era uma mulher tão bela e bondosa que nem mesmo a formosura de uma rainha chegava a vossos pés.
— Meu filho. Estás tão grande. — Enna aproximou-se do rapaz sentado ao chão.
— Vince cresceu mais do que eu! — Natasha cruzou os braços, fingindo estar com raiva. — Eu nasci primeiro! Não é justo!
— Meu neto está um verdadeiro rapagão! — Nina tecia agilmente uma coroa de margaridas.
Levantando-se da erva verdejante, Vincent ainda encarava pasmo, aquelas figuras do seu passado. Não era possível!
— Vincent, estou tão feliz por tu estar aqui. — Enna repousou ambas as mãos sobre o rosto do filho. E suas mãos estavam frias.
Beijara a testa do rebento, fazendo os cabelos roçarem sobre o rosto de Vincent, instigando-o à soltar as lágrimas, por conta da emoção daquele momento.
Sua família estava viva. Não precisava de mais nada.
Um estrondo ressoou nos céus e o manto que era azulado tornou-se vermelho como o sangue. Um vento forte soprou na campina, murchando as margaridas. Natasha dera um grito estridente, agarrando-se à avó, e Nina estava tão assustada quanto a menina.
E, então, Enna virou-se para o filho com os olhos alarmados.
— Vincent, fuja!
Vincent acordou de supetão, com o rosto muito suado e com o corpo todo trêmulo. Arfou, em uma vã tentativa de voltar a respirar normalmente.
Era tudo um sonho. Sua amada família, continuava morta. Fora enganado por um sonho tão real... Fora transportado para a fleuma de um belo sonho que tornou-se um cruciante pesadelo.
A primeira coisa que deparou-se foram as paredes de seus aposentos, revestidas em barro, e a janela, que era apenas um buraco na parede com dois pedaços de pau, formando uma cruz. Era o seu local de descanso. Pequeno, com chão de terra e com cheiro de incenso. Seu leito era feito de palha, cobrindo uma tábua dura que lhe servia como cama.
O rapaz sentou-se na beira da cama, friccionando as mãos no rosto. Sua mente trabalhava devagar e logo tornou-se clara como água. Fitou as palmas das mãos, muito calejadas, e os braços com cortes de lâmina. A memória retornou com rapidez.
Rememorou-se dos acontecimentos anteriores.
Residia em Jerusalém, na guilda dos Assassinos, no atual momento, juntamente à Harrington pois ainda era um foragido da justiça. Como Vincent poderia esquecer daquele calor infernal, que o acompanhava por cinco meses ou dos treinamentos insanos das quais era submetido?
Suspirou, calçando as botas e trajando uma larga camisa. Um pouco tonto, deixara os aposentos da guilda para pensar um pouco.
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Todos treinavam debaixo daquele sol escaldante de domingo. O aço das espadas tiniam e combatentes lutavam corpo a corpo, misturando o suor à areia. Vincent andara arrastando os pés sobre a areia da guilda, refletindo sobre o sonho que tivera. Aquele sonho... realmente mexera consigo. Não somente isto, mas por alguma estranha razão, a estigma em seu peito doía.
Precisava acalmar-se ou desmaiaria sobre as areias quentes.
Achegando-se à uma árvore, uma oliveira de caule extremamente seco, Vincent deslizou seus dedos sobre o caule áspero e de aparência resistente. Desejava ser como aquela árvore. Não sentir dor, não sentir medo, e nem arrependimento. Vincent dera um soco no tronco. Olhara para os ossinhos da mão ainda fechada. Ficaram vermelhos. Estava doendo, porém o jovem não se importava. Desferiu outro soco, dessa vez com uma velocidade maior.
Vincent apenas socava o tronco da árvore, com ódio, com fúria.
Desferia um, dois, quatro, seis, dez socos. Os ossos de sua mão estavam dormentes. O rapaz parou, arfando, encostando a testa no caule da árvore. Não queria mais ser fraco.
— Não sentir. Não fraquejar... Não voltar atrás. — sussurrou, arfante.
Volveu a face, com a testa ainda recostada no tronco de oliveira, fitando a garota de véu branco, de vívidos olhos verdes que o olhava com tamanha curiosidade. Esmeralda segurava em suas mãos um jarro de barro. Atracou o antebraço esquerdo ao redor do jarro, em um complicado malabarismo, levando a mão desocupada à bolsinha de lona que jazia entrelaçada ao corpo delgado. Retirou dela, um pão de mel.
— Quer um? — Esmeralda solevou o pão de mel em direção ao garoto.
Vincent arqueou uma sobrancelha.
— Ghalib me disse que as pessoas ficam mais zangadas quando estão com fome. — Seus olhos estreitos permaneciam serenos.
— Não estou zangado, Esmeralda! — Vincent virou a face, desviando os olhos rancorosos para a areia.
Esmeralda, silenciosamente, continuou a oferecer o pão de mel para Vincent. Vencido pelo olhar sereno daquela garota tranquila, segurou o pão, cuja cobertura açucarada grudava nas pontas dos dedos. Levou-os à boca e mastigou-os, deliciando-se do sabor daquele pão de mel.
— Eu quem fiz. — Esmeralda falara, abrindo um meigo sorriso para rapaz.— Se quiseres, Vincent, eu tenho mais pão de mel! — Ia recolocar a mão na bolsa, mas Vincent a deteve, segurando em seu braço.
— Deixe para mais tarde. — olhou profundamente nos olhos verdes de Esmeralda. Só então, percebera que ainda segurava no braço da menina, e a soltou, muito acanhado. — Pretendo ver as estrelas hoje. E gostaria muito que viesse comigo.
— Vais ficar sobre a muralha novamente? — Esmeralda indagou calmamente, enquanto o rapaz assentia. — Ghalib disse-me que todos na guilda tem que estar vigilantes, e jamais vacilar. Já imaginou se algum inimigo dispara uma flecha em um de nós dois?
— Não deixarei que ninguém a machuque. Sabes disso. — Vincent tinha um semblante de determinação. — És a minha amiga. A minha melhor amiga. — confessou, em um timbre retraído. A amizade de Esmeralda tornou-se maciça para ele. Era sincera e pura.
— Sei disso, Vincent. — abraçou o jarro contra o peito, sorrindo com júbilo. — És o meu amigo também!
Por um momento, o deserto não pareceu ser tão infernal quando aquela doce menina lhe sorria.
Esmeralda retornou ao seu caminho, e logo virou-se novamente para o rapaz de olhos rubros.
— Estou indo para o rio Jordão, buscar água boa para beber. Queres ir comigo? — o convidou.
Vincent acenou com a cabeça, andando lado a lado com a garota de túnica longa.
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— Por que queres tanto ser uma sacerdotisa, Esmeralda? — Vincent perguntou do nada, com as mãos nos bolsos da calça larga.
— Bom — fez uma breve pausa —, creio que isso deixaria meus pais felizes se estivessem vivos. Quero honrar a memória deles. Estou seguindo os passos dos meus ancestrais.
— Não enxerga isso como um fardo? — havia um pouco de tristeza no questionamento de Vincent.
— Não. — fora tudo o que dissera.
Esmeralda não via o fato de tornar-se uma sacerdotisa como um fardo ou um castigo. A garota parecia deveras gostar de tudo aquilo. Era honroso para ela, de alguma forma.
— E você? Ainda pensa em desistir de ser um Assassino? — sua pergunta soou como um desafio.
— Eu não sei. Às vezes pergunto-me por que ainda estou aqui. Mas... — suspendeu sua fala. Lembrou do sonho, de sua família, da honra manchada. Era óbvio! Estava ali por elas, e por não pertencer mais a lugar algum.
— Mas?— Esmeralda pôs-se à frente de Vincent.
— Era tolice a minha. Esqueça. — Baixou a vista. — Fale mais sobre teu futuro como sacerdotisa. Gosto quando falas sobre isso.
— Falas a sério? Ghalib disse-me que não suporta minha falação.
Para Vincent, era bom quando Esmeralda falava. Preenchia o ambiente com sua voz harmoniosa e serena, acalmava os ânimos de Vincent, e o fazia esquecer de certos dissabores.
— Deixe-me pensar... — posicionou o dedo indicador sobre os lábios, meditando. — As sacerdotisas não podem se casar!
— Por quê não?
— Não sei — sorriu. — É uma regra tão boba. Deve ser muito chato ficar sozinha no Templo, apenas cuidando da biblioteca da guilda, vendo a vida passar e ficar velha sem ter constituído uma família. Mas, ao mesmo tempo, é algo magnífico ficar perto de tanto conhecimento. Muitos nunca terão a oportunidade de ler tantos livros, e os poucos que contemplaram o verdadeiro saber, ficaram deslumbrados com a sua glória.
— Desejas vê-la, não és?
— Com toda certeza — soltou um suspiro amoriscado. — Seria um sonho.
Em poucos minutos, o casal já encontrava-se perto do rio Jordão. Vincent saía pouquíssimas vezes da guilda. Não podia escapar dos treinamentos. Mas, Esmeralda o convidara. Não iria recusar o convite de uma amiga. Além disso, queria ampliar os horizontes, ver bem mais do que areia e ruínas. O rio era como uma linha pacífica e azulada em meio às cores quentes e ariscas do deserto.
A garota saltitou sobre as rochas a margem do rio, mergulhando o gargalo do jarro nas águas do rio Jordão. Tudo que Esmeralda fazia, era feito com paciência e carinho. Naqueles cinco meses que ficara ao lado dela, Vincent jamais a ouviu reclamar ou mesmo ficar entristecida. Vincent sabia que ela não tinha pais, irmãos, primos, tios, mas como uma Anore, carregava o legado de sua família e a missão nada fácil de ser uma sacerdotisa.
Terminou de encher o jarro, e o pôs sobre uma pedra de superfície lisa, e Esmeralda mergulhou as mãos em forma de concha nas águas, bebendo-a. Voltou a mergulhar a mão em forma de concha, atirando água sobre o rosto abrasado pelo sol.
Retirou o véu da cabeça, e pela primeira vez, Vincent contemplou os cabelos de Esmeralda; eram loiros e ondulados. Aparentava ser um manto dourado cobrindo vosso dorso. E como ficava bonita sem véu. Algo agitou-se no peito de Vincent, e o rapaz constrangeu-se quando Esmeralda olhou direto para ele, com um inocente sorriso no rosto.
Questionou-se, pela primeira vez, se os anjos tinham olhos verdes.
— Vincent — Esmeralda molhava a nuca muito avermelhada —, não diga para Ghalib que retirei meu véu. Ele pode ficar zangado.
Vincent assentiu, canhestro.
— Não estais com sede?
O rapaz negou com a cabeça, desviando o olhar para as águas correntes do rio Jordão.
Esmeralda recolocou o véu sobre a cabeça, ocultando os cabelos, escondendo cada mecha dourada. Recolheu o jarro de cima da pedra, e saltitou sobre as rochas do rio, caminhando até o rapaz que ainda a olhava, um tanto perplexo.
— O que foi? — Esmeralda o questionou. — Tem alguma sujeira no meu rosto?
— N-não... — Vincent coçou a bochecha, sentindo-se um parvo. Era só Esmeralda, apenas isso. — Deixe-me levar este jarro para ti. Deve estar pesado.
— Obrigada. — repassou o jarro para o rapaz trêmulo.
(...)
Assim que chegaram na guilda, nos aposentos de Ghalib, Esmeralda encontrou o padrinho e Harrington, no famigerado narguilé, acomodados nos divãs de veludo, entre muitos pergaminhos, quase a falar em códigos. Assim que viram os jovens plantados na soleira da porta, o vecchio e o árabe detiveram-se em sua falação, fingindo que nada estavam a discutir.
— Esme — Ghalib a chamou —, já buscastes água no rio?
— Sim, padrinho. — apanhou o jarro das mãos de Vincent, e o levou para depositar na mesa da cozinha.
Com o tempo que passou na guilda, Vincent descobriu que Ghalib não era o Mestre dos Assassinos. Mas era ele quem os treinava e os escondia. Era como protetor dos Assassinos. O verdadeiro Mestre, como Harrington costumava referir-se, vivia no clã da Itália.
Vincent apenas observava a amiga andar de um lado para o outro, sendo caseira e hospitaleira com Harrington, lhe oferecendo chá de hibisco com pães de mel.
— Ora, é esta a pequena sacerdotisa? — Harrington degustava do pão de mel. — Como se chama?
— Esmeralda. Minha afilhada. — Ghalib a apresentou, soltando fumaça pelas ventas.
— Sua amiga, Vincent? — Harrington questionou ao pupilo.
— Sim... — o rapaz baixou a vista, olhando para as botas empoeiradas.
— Apenas amiga? — Harrington questionou, bastante intrigado.
Esmeralda atravessara a sala, muito atarefada e Harrington não perdera a oportunidade de recorrer à ela.
— Vincent é apenas teu amigo, menina Esmeralda?
A face da garota ruborizou diante do questionamento do vecchio, ou poderiam ser apenas queimaduras de sol. As bochechas de Esmeralda estavam elevadas em um sorriso. Assentiu rapidamente, e logo correu para a cozinha novamente.
— Esmeralda, afilhada minha, não te esqueças de comprar tâmaras. — Ghalib berrou da saleta. Pareciam pai e filha.
— Irei comprar agora mesmo, padrinho. — fora apressada até a porta. — Vem comigo, Vincent?
Assim que o rapaz deu um passo a diante, com o coração contente, para seguir Esmeralda, Harrington rapidamente descansou a mão pesada sobre o ombro do rapaz, apertando os dedos sobre sua clavícula, impedindo-o de dar mais um passo.
— Desculpe-me, pequena Esmeralda, mas Vincent estará muito ocupado hoje à noite. — Harrington inclinou-se ficando da mesma altura de Vincent, abrindo um sorriso de olhos fechados para Esmeralda.
Esmeralda suspirou, muito compreensiva, e partiu para comprar as tâmaras.
Vincent podia sentir uma sombra cobrir sua alma. A mão do vecchio ainda estava sobre seu ombro, demonstrando como se Vincent fosse sua propriedade. E odiou sentir isso.
— Não o vi nos treinos matinais, Vincent. — Harrington o interrogou.
— Estava ajudando Esmeralda. — replicou em um tom áspero.
— Ela não precisa de tua ajuda. — largou o garoto, entregando à ele um pedaço de pergaminho. — Quero que faça algo para mim.
— Fazer o quê? Algum trabalho sujo? — Vincent passava os olhos sobre o papel amassado. — Queres que eu seja um cane rognoso.
— Cane rognoso? De onde diabos tirastes isto?
Harrington repousou o dedo indicador e o polegar na ponte entre a testa e o nariz, desejando que o jovenzinho fosse, ao menos, complacente. Ghalib continuava a fumar o narguilé, apenas negando com a cabeça a conversa do rapaz com o vecchio.
— Oh, Vincent, eras tão compreensivo quando criança...— Harrington lamentava-se.
— Já estou crescido, Sr. Harrington! Tenho doze anos! E acho que posso, sim, decidir o que eu quero para mim.
— Se fosse mais esperto, me ouviria atentamente, e escutaria as informações que tenho sobre seu alvo.
— Meu alvo? — Vincent repetira a palavra dita pelo tutor. E parecia apreciá-la.
— Escute-me, rapaz, pois o que tenho para dizer é aterrador. — Harrington segurava a bengala com tanta força, fazendo as pontas de seus dedos ficarem pálidas.
✦
Vincent encontrara a tal casa que Harrington lhe indicara, construída com paredes de barro e teto de folhas de palmeira. Suas roupas escuras serviram como uma camuflagem perfeita. Não eram os trajes tradicionais de um Assassino, foram vestes simples que Harrington designara à ele para que trajasse, a fim de cumprir a missão. O capuz da capa cobria completamente o seu rosto, ocultando até mesmo seus olhos flamejantes, e o cachecol preto de lã, mantivera-se alteado, cobrindo o nariz e a boca.
Carregava atado ao cinto, um punhal de lâmina fina e mortal. A lâmina que logo ceifaria a vida de alguém.
Adentrou a casa sem fazer nenhum tipo de barulho, reparando nos móveis escassos e nas crianças, todas meninas, que dormiam em um quarto sem porta.
O rapaz queria apenas terminar o serviço, e retornar para a guilda para ver as estrelas com Esmeralda.
Ela deve estar me esperando sentada na muralha. Controlava o respirar.
O alvo, pai delas, dormia na cama, como se fosse um rei, usufruindo de um bom sono, sem pesar a consciência o trabalho escravo que obrigava as filhas a fazerem por ele. E não apenas isso. Ele fazia coisas repulsivas à elas. Era um demônio!
Termine sua missão e volte para a guilda. Esmeralda o espera! Arregalara os olhos, tentando enxergar algo na escuridão e torcendo para não tropeçar em nada.
Naquele momento, Vincent jazia com o punhal em mãos, tremendo-se mais do que o álamo, segurando o punhal pouco acima da cabeça do homem repugnante.
Apenas faça! Faça!
E então, ele abriu os olhos...
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Vincent sentia-se um mero fantoche. Seus passos eram arrastados ao retornar para a guilda. Ele fez. Fora tão rápido e excêntrico. Ele cometeu um assassinato. A lâmina do seu punhal cravou várias vezes o corpo daquele homem, até ficar completamente retalhado.
O rapaz parou de andar, repousando as mãos sobre os joelhos, e retirou rapidamente o cachecol que cobria a boca, vomitando muito. Aquela morte fora diferente das que cometera na campina. Ele matou para defender-se de Aaron. Porém, no atual momento ao lembrar-se daquela morte que fora encomendada, algo rebolia dentro de seu corpo. Matou por obrigação. Matou para libertar almas aflitas.
Andou mais um pouco, quase cambaleando por conta das pernas estarem tremidas.
Que horas eram aquelas? Meia-noite? Duas da manhã? Ele não sabia. Apenas sabia que fizera o que lhe fora ordenado. Ouviu tudo que Harrington tinha para lhe contar. Seu alvo morava em uma aldeia distante de Jerusalém. Seu alvo fazia coisas inescrupulosas com as filhas, coisas imperdoáveis. Um pai devia proteger as filhas e não submetê-las a humilhações e destruir suas vidas.
Mas, agora, elas ficaram sozinhas no mundo. Desamparadas.
Apertou as mãos nos joelhos, chorando. Suas lágrimas pingavam na areia, formando pequeninas crateras. Quanto mais tempo passava em Jerusalém, mais descobria o lado sujo das pessoas.
E, consequentemente, naquele instante, Vincent sentiu-se uma mera casca vazia, indigno de piedade ou compaixão.
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