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Entre a Forca e a Coroa

O inverno também passou, e com ele, as buscas pela Rainha foram oficialmente encerradas. Sua Majestade só podia estar morta. Não havia outra explicação para ter abandonado o marido, o Reino, e, sobretudo, a filha.

As línguas mais maldosas começaram a especular a respeito de uma possível maldição envolvendo o Rei. Era a segunda esposa que desaparecia sem explicação.

Supostamente, a primeira esposa do Rei, a Rainha Leda caíra num lago congelado. O cachecol que ela usava fora de fato encontrado enroscado num buraco no gelo, mas seu corpo jamais foi recuperado. E agora, a Rainha Morgana, sua segunda esposa, desaparecia misteriosamente na noite em que dera à luz sua filha.

E ainda havia este enredo sombrio, agravando ainda mais aquela noite fatídica: uma mulher misteriosa atentando contra a vida da criança. A criada que recebera o golpe em seu lugar recuperara-se. A adaga a ferira no ombro, e ela nunca mais pudera movimentar direito aquele braço, mas sobrevivera. Quanto ao bebê, a menina foi posta sob estreita vigilância, e jamais era vista desacompanhada dentro ou fora do castelo.

Conforme crescia, tornava-se mais encantadora. Como a mãe não tivera tempo de escolher seu nome, o Rei decidira aceitar a sugestão bem humorada da mesma criada que salvara sua vida, chamando-a de Branca de Neve.

Uma adaga similar à que fora usada contra a criança fora encontrada por uma das criadas encarregadas da limpeza, debaixo da cama do Rei, o que somente agravou a suspeita de que a mulher tinha toda a família real como alvo de morte naquela noite. Mas, se ela atentara contra ele primeiro – ao menos, era a impressão que a presença da adaga em sua alcova fornecia –, então, por que não o matara?

Todos os dias os guardas interpelavam o Rei a respeito da sentença da prisioneira, e todos os dias ele adiava sua condenação. Parecia não se importar com o fato de ela ter atentado contra a vida de sua filha, e, possivelmente também de sua esposa. Sua esposa adorada, cuja morte ou desaparecimento aparentemente não o perturbara. Cada vez que a prisioneira era mencionada, o rosto do Rei readquiria aquela expressão enfeitiçada com que a olhara na noite em que foi presa. E mais do que qualquer coisa, os guardas e o povo temiam as consequências desse encantamento.

Foi só no terceiro aniversário de Branca de Neve que o Rei finalmente decidiu o destino da prisioneira. Mas não foi a sentença de morte que esperavam.

O Rei foi pessoalmente à masmorra para dar à assassina uma escolha: ele ordenaria naquele mesmo dia seu enforcamento, a não ser que ela se casasse com ele.

Não é de estranhar qual tenha sido a resposta dela.

Para salvar o próprio pescoço, Katherina aceitou a proposta do Rei, e naquele mesmo dia ela foi transferida da masmorra para o antigo aposento da Rainha Morgana.

O casamento, porém, não poderia ser realizado imediatamente, pois havia uma lei a cumprir: para todos os efeitos, o Rei era um homem casado, e sua esposa estava desaparecida; caso a Rainha Morgana não reaparecesse dentro de sete anos, ela seria considerada morta, e o Rei estaria livre para se casar novamente.

Assim, Katherina esperou. E enquanto aguardava que se cumprisse o tempo para declarar a feiticeira morta, ela se viu apenas numa prisão diferente: da fria e tenebrosa masmorra, agora ela era prisioneira num quarto quente e luxuoso. Mas ainda uma prisioneira.

Secretamente, ela sabia que só precisava esperar. Depois que se casasse com o Rei, os guardas não poderiam mais mantê-la presa no quarto. E então, ela buscaria uma nova oportunidade para matar Branca de Neve.

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