Capítulo único
— Tem certeza de que sabe onde fica o lugar que mencionou? Já faz um bom tempo, pode ter esquecido ou
— É claro que sei e que lembro onde fica. - Bryana fuzilou Lugh com os olhos, o interrompendo.
— Desculpe, é que já caminhamos um trecho longo demais para a sua condição. - O rei levantou as mãos, em defesa.
— Não caminhamos tanto assim e minha condição não é uma doença. Deixe de exageros. Veja, chegamos.
Lugh estendeu um tecido retangular no local indicado pela esposa, para ambos sentarem, e posicionou a pequena cesta de frutas, a qual traziam consigo, próxima a eles. Bryana ajeitou-se entre as pernas dele, encostando as costas em seu tórax. Ele relaxou os braços ao redor dela, abraçando-a. Ao redor do casal, havia guardas velando por sua proteção, apesar de ser uma área verde reservada à realeza.
— Não é bonito? - Perguntou Bryana, respirando fundo, desfrutando do momento de sossego.
— De fato. Não dava muito por este lugar, parecia ser como todos os outros bosques que conheço, mas você nos trouxe a um ponto bem específico. Cada componente daqui se encaixa: flores, arbustos, árvores, vegetação, córrego... tudo se combina para formar uma bela paisagem.
— Muito bem observado, meu rei. - Disse a rainha, em tom divertido. Lugh sorriu para ela. — Minha mãe não tinha uma participação muito ativa na Coroa, pois meu pai preferia centralizar tudo em si mesmo. Ela era mais como um adorno que ele exibia ao povo e aos outros reis. Sendo assim, ela tinha bastante tempo para mim. Pique-nique era uma das nossas tradições, minha e dela. Fazíamos no jardim de nosso castelo.
— Podem fazer isso novamente, quando formos a Amonat. Ou quando a rainha Aurora nos visitar.
— Decerto farei. Minha mãe deve vir em breve, pelo que respondeu à minha carta.
— Com certeza, virá. Duvido que ela se deixe perder um momento tão importante.
— Verdade. Nossa, estou com uma fome!
— Estranho seria se não estivesse com fome, agora come por dois. - O monarca sorriu, feliz. — Qual fruta quer?
— Qualquer uma.
Lugh rotacionou o tórax à sua diagonal, a fim de apanhar a pequena cesta. Porém, ao abri-la, viu que estava vazia. "Como isso é possível? Tenho certeza de que estava cheia", pensou. Vasculhou ao redor, pensando que as frutas poderiam ter caído, em algum descuido, mas deparou-se com outra realidade. Notou dois texugos adultos correndo para longe deles, com o alimento. O casal estava tão distraído, conversando, que não percebeu a presença dos animais. Nem mesmo os guardas, ocupados com a vigia ao redor, os viram.
— Droga! Como não percebi? - Resmungou o rei, levantando-se.
— O que houve? - Perguntou a esposa, sem entender.
— Espere-me aqui!
— Até parece que ficarei aqui. - Resmungou ela, observando o marido se afastar.
O monarca correu na direção dos animais acompanhado de dois guardas, enquanto os outros ficaram para trás, fazendo companhia à rainha. Confusa e preocupada, Bryana levantou, com a ajuda de um dos homens, e caminhou o mais rápido que pôde, seguindo seu marido. Quando finalmente o alcançou, encontrou Lugh abaixado, observando o chão.
— O que está fazendo? - Perguntou Bryana, colocando sua mão no ombro do marido. Ele levantou o olhar e a encarou, surpreso.
— O que faz aqui? Pedi que esperasse por mim.
— Admita, nem você mesmo acreditou que eu ficaria parada, o esperando. Já me conhece o suficiente.
— Apenas não queria que forçasse tanto seu corpo, apressando-se até aqui.
— Entendo que se preocupe conosco, mas estou bem. O que está fazendo abaixado?
— Encontrei os animais que roubaram nossas frutas. Veja.
Lugh ajudou Bryana a abaixar-se ao lado dele. Ela observou os dois mamíferos adultos com alguns filhotes, escondendo-se no interior de uma toca. Estavam acuados, com medo dos humanos que os encaravam.
— É uma família de texugos! - Exclamou Bryana, sorrindo.
— Por isso pegaram as frutas, para trazerem até os filhotes e os alimentarem.
Bryana observava os animais, compadecida.
— Eles têm uma família, assim como estamos iniciando a nossa. Que fiquem com as frutas.
— Pensei a mesma coisa. - Comentou Lugh.
— Estou cansada. Podemos voltar ao castelo? - Perguntou ela.
— Claro que sim. Vamos aonde quiser.
Após o jantar, Bryana deitou-se, levemente inclinada em travesseiros altos. Lugh massageava seus pés inchados, enquanto conversavam a respeito do dia que tiveram. Ela suspirou, pensativa, e, a seguir, acabou rindo com seus pensamentos.
— O que foi? - Perguntou ele, franzindo o semblante, sem entender.
— Estava pensando... mesmo quando tentamos ter um dia comum e calmo, longe dos deveres da Coroa, acabamos tendo um dia agitado. Não conseguimos algo tão comum, como fazer um simples pique-nique. Queria tanto! Pelo menos, a família de texugos aproveitou as frutas. -
Ambos riram.
— Ainda teremos outros pique-niques. Em família. - Ele sorriu de canto.
— Verdade. - Bryana olhou para o próprio abdômen, com a expressão apreensiva. — Prefere que seja um herdeiro homem?
Lugh olhou para a esposa, com ternura, e acariciou a barriga que ela encarava.
— Não tenho preferência. Acreditava que nunca teria herdeiros e agora você me dará um filho. Você está me proporcionando mais do que sonhei ter. Não há mais nada que eu possa querer.
Bryana fitou o rosto do marido e lhe sorriu.
— Amo você. - Disse ela, com carinho.
Lugh beijou a barriga volumosa da esposa. A seguir, depositou um beijo em sua testa e outro em seus lábios. Por fim, deitou-se ao lado dela, que pousou a cabeça em seu peito, aninhando-se em seu braço.
— Também a amo. Muito. - Ele olhou para baixo, pousando a mão no ventre da mulher. — E você também. - Disse Lugh, baixinho. O bebê chutou, como se respondesse.
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