𝐂𝐡𝐚𝐩𝐭𝐞𝐫 𝐒𝐞𝐯𝐞𝐧: 𝐓𝐫𝐚𝐢𝐧𝐢𝐧𝐠
"Morrer para vencer e arriscar a morte para vencer são coisas completamente diferentes."
— Treinamento
Akari sempre pensou que, depois de revidar os ataques que sofria na escola, tudo em sua vida mudaria para melhor. Ela acreditava que toda a raiva acumulada finalmente se dissiparia, trazendo alívio e paz. No entanto, lá estava ela novamente, sentada nas escadas do lado de fora do dormitório, com o coração amargurado e a mente atormentada.
A noite estava silenciosa, com apenas o som distante do vento e dos insetos noturnos. As luzes do dormitório lançavam sombras longas e inquietantes no chão. Akari abraçava os joelhos, sua expressão sombria refletindo a tempestade de emoções dentro dela. As palavras ofensivas ecoavam em sua mente, como um disco riscado que se recusava a parar.
— Inútil, — sussurrava uma voz em sua cabeça. — Burra. Estranha. Impulsiva.
Essas palavras, lançadas por colegas cruéis, pareciam ter se gravado em sua psique, como cicatrizes invisíveis que não cicatrizavam. Akari se perguntou como a mente poderia ser tão facilmente atingida por palavras tolas, ditas por pessoas que mal a conheciam. Era como se cada insulto tivesse construído uma parede de insegurança ao seu redor, tornando difícil enxergar além dela.
Akari abraçou seus joelhos, se encolhendo na escada, suas mãos tremendo levemente pelo ódio que sentia. Poderia ter feito mais, ela sempre se martirizava. Mas a questão é que nunca fazia. Seu corpo sempre parecia estagnado no mesmo lugar, enquanto ela implorava mentalmente: "Se mexe, reage". Mas ficava lá, paralisada. Querendo ou não.
A frustração e a raiva ferviam dentro dela, criando uma tempestade de emoções que não conseguia dissipar. Era como se estivesse presa em uma jaula invisível, construída pelas palavras cruéis e pelas suas próprias inseguranças.
Apesar de querer muito, não conseguia avançar. Sempre presa no mesmo lugar no fundo de sua mente, incapaz de romper as correntes que a seguravam. A sensação de impotência a consumia, fazendo-a questionar suas próprias capacidades e valor. A realidade cruel é que ela se sentia sozinha, isolada em seu próprio sofrimento, sem saber como sair daquele ciclo vicioso de autocrítica e desesperança.
Depois que Sukuna entrou onde não devia, tudo parecia rachado. Akari sentia como se uma fenda profunda tivesse sido aberta em sua mente, um abismo sombrio onde suas memórias e emoções mais dolorosas escapavam, a cada momento, sem aviso. Era como se a presença de Sukuna tivesse desencadeado uma inundação, e agora ela estava se afogando em lembranças que preferia manter enterradas.
As memórias invadiam sua mente com uma força implacável. O som das risadas cruéis, os olhares de desprezo, as palavras venenosas que a tinham dilacerado repetidas vezes. Cada insulto, cada gesto de rejeição, tudo voltava com uma intensidade esmagadora, deixando-a instável, incapaz de encontrar um porto seguro em meio à tempestade emocional.
"Odeio eles... odeio esses primatas," ela murmurava para si mesma, sua voz carregada de amargura e ressentimento. O ódio queimava dentro dela como um fogo inextinguível, alimentado por anos de dor e humilhação. Aqueles que a haviam atormentado, que a haviam feito sentir-se pequena e insignificante, estavam gravados em sua mente como cicatrizes que nunca se curavam.
Toda a tristeza de Akari se transformava em raiva rapidamente. Era como uma tempestade interior que ganhava força a cada lembrança dolorosa, a cada insulto que ela havia suportado. Com o passar do tempo, ela finalmente entendeu como as massas podiam ser repulsivas, como a crueldade humana não tinha limites. E mesmo assim, ela escolheu ser uma feiticeira jujutsu, determinada a proteger aqueles que não podiam se defender.
Mas às vezes, Akari se questionava se havia feito a escolha certa.
Ela carregava três grandes legados em seus ombros: Satoru Gojo, Souka Saito e Suguru Geto. Cada um deles era uma lenda por direito próprio, e a expectativa de estar à altura desses nomes a pressionava constantemente. O peso dessas heranças era imenso, e a responsabilidade parecia esmagadora.
"O que eu... devo fazer afinal?" ela se perguntava, sentindo-se perdida em meio a tantas expectativas. Satoru Gojo, o homem mais forte do mundo jujutsu, era seu pai. Souka Saito, sua mãe, uma feiticeira de habilidades incomparáveis. E Suguru Geto, uma figura controversa, mas que tinha sido um mentor e um protetor em sua vida.
Cada um deles havia deixado uma marca profunda em seu ser, e Akari sentia a necessidade de honrar esses legados, de ser digna de suas histórias. Mas a dúvida corroía seu coração. Ela realmente poderia seguir seus passos? Seria capaz de encontrar seu próprio caminho, ou estava condenada a viver à sombra dessas grandes figuras?
Esses pensamentos a assombravam, especialmente nos momentos de silêncio, quando a escuridão se tornava mais intensa e a solidão mais palpável. Ela lutava contra o desespero, tentando se lembrar do motivo pelo qual havia escolhido ser uma feiticeira jujutsu.
Ela suspirou profundamente, observando o sol nascer aos poucos. O céu, antes azul-escuro, agora ganhava uma cor alaranjada, enquanto os primeiros raios de luz tocavam a paisagem. Akari se perdeu em pensamentos, sem saber as respostas para suas próprias perguntas, até ser tirada desse devaneio pela voz de Kugisaki.
— Já acordou? — a voz sonolenta de Kugisaki quebrou o silêncio, fazendo Akari se virar para encarar a figura ruiva.
— Queria me preparar para o treino de hoje — ela sussurrou, esticando as pernas sobre a escada, tentando se concentrar.
Kugisaki se aproximou, esfregando os olhos para afastar o sono.
— Deixa eu perguntar... você é mesmo filha do Sensei Gojo?
Akari soltou um pequeno riso, algo entre o desconforto e a aceitação.
— Aah... sou sim.
Kugisaki se sentou ao lado dela, observando o nascer do sol por um momento antes de continuar.
— Isso é incrível, sabe? Sempre imaginei que alguém como ele teria filhos superpoderosos. Deve ser demais!
— É... — Akari murmurou, seu olhar perdido no horizonte. — Tem os seus momentos de glória.
Elas ficaram em silêncio por um momento, apenas observando o sol nascer devagar. A quietude da manhã era quase reconfortante, um breve momento de paz antes do início de mais um dia de treinamento árduo.
— Ei, pirralhas! — a voz confiante de Maki Zenin quebrou o silêncio, fazendo as duas se virarem. Ela apareceu segurando seu bastão, com um sorriso decidido no rosto. — Cadê o Megumi?
— Tô aqui, Zenin — ele resmungou, saindo do dormitório com uma expressão sonolenta.
Maki estreitou os olhos, cruzando os braços.
— Aí, pirralho! Não me chama pelo sobrenome!
Megumi revirou os olhos ignorando seu pedido como sempre.
— Vamos logo, me acompanhem. Hoje vai ser um dia intenso — ela resmungou.
Os três caminharam juntos, deixando o dormitório para trás. O sol estava agora plenamente visível no horizonte, banhando a escola Jujutsu em uma luz dourada.
O treinamento começou com alongamentos e corridas pelo campo de treinamento. O ar da manhã estava fresco, e a grama ainda úmida do orvalho brilhava sob a luz do sol nascente. Akari aproveitou a oportunidade para distrair a mente dos pensamentos cruéis que a assombravam. Concentrando-se na respiração, ela tentava manter o ritmo e esquecer as preocupações, pelo menos por um tempo.
Enquanto ela corria, sentiu o corpo aquecer e os músculos se esticarem, um alívio bem-vindo da tensão acumulada. Ao seu lado, Megumi e Kugisaki também se esforçavam para acompanhar o ritmo estabelecido por Maki. A determinação nos olhos de todos era palpável; o evento de intercâmbio se aproximava rapidamente, e eles sabiam que precisavam estar no seu melhor, precisavam ser mais fortes.
Logo, Panda e Inukami se juntaram ao grupo, observando os calouros se aquecendo. Panda, sempre animado, deu um sorriso encorajador.
— Bom trabalho, pessoal! Vamos dar nosso melhor hoje.
Inukami assentiu, oferecendo um breve "Salmão" em aprovação.
Maki, de braços cruzados, olhou para seus alunos com uma mistura de orgulho e exigência.
— Vamos lá, sem moleza! Quero ver todos se esforçando ao máximo. Vocês sabem o quanto esse treinamento é importante.
As corridas continuaram, e logo seguiram para uma série de exercícios de força e resistência. Flexões, abdominais, agachamentos... cada movimento era uma batalha contra a fadiga, mas também um passo em direção ao fortalecimento. A respiração de todos se sincronizava com o ritmo dos exercícios, criando uma espécie de harmonia no esforço coletivo.
Após uma hora intensa de treinamento físico, Maki deu um breve intervalo.
— Bom trabalho até agora. Vamos beber água e recuperar o fôlego. Daqui a pouco começamos o treino de combate.
Enquanto todos se reidratavam e recuperavam, Akari olhou ao redor, vendo o mesmo cansaço e determinação refletidos nos rostos de Kugisaki e Fushiguro. Com um último gole de água, ela se preparou mentalmente para a próxima etapa do treinamento.
Akari agora olhava para Fushiguro, frente a frente em posição de luta. Os olhos de ambos estavam cheios de determinação e uma tensão palpável preenchia o ar entre eles. As palavras não ditas, as dúvidas, e os ressentimentos acumulados ao longo dos anos agora pareciam que iam explodir em seus punhos naquele campo de treinamento.
— Vem pra cima, Fushiguro! — Akari disse sorrindo, a adrenalina brilhando em seus olhos.
— Não vou pegar leve com você, Gojo! — ele desdenhou, mantendo sua postura firme.
— Seria um tolo se fizesse isso — ela replicou, com um olhar desafiador.
Eles avançaram novamente, seus movimentos rápidos e precisos, cada golpe trocado com a mesma intensidade das palavras que não conseguiam dizer. Akari desviou de um soco, girando com agilidade para contra-atacar, seus punhos encontrando o caminho até a defesa de Fushiguro.
Megumi avançou com um soco ágil, mas o golpe foi parado pela barreira do mugen de Akari. Ele rangeu os dentes, frustrado pela defesa impenetrável. Akari aproveitou a brecha e se moveu rapidamente, desferindo um chute forte em suas costas, fazendo-o cambalear para frente.
— Você não é mais aquela garota frágil, Akari — ele disse a provocando, lançando um chute rápido.
— Mas você continua sendo um covarde de merda! — ela rebateu, bloqueando o ataque e avançando com um soco que fez Fushiguro recuar.
Eles se encararam por um momento, a tensão no ar era palpável. Megumi avançou novamente, desta vez tentando um ataque lateral. Akari, preparada, desviou habilmente e contra-atacou com um soco que ele bloqueou a tempo.
Ela podia sentir o coração batendo com força no peito, cada batida ecoando os sentimentos que guardava. Fushiguro, com os punhos cerrados e o olhar fixo nela, refletia a mesma intensidade. Ambos se recusavam a perder, mas, ao mesmo tempo, pareciam incapazes de alcançar uma verdadeira compreensão um do outro, mergulhados no caos de suas próprias emoções e inseguranças.
O suor escorria pela testa de Akari, misturando-se à determinação em seus olhos. A raiva e a frustração de anos, a dor das lembranças, tudo estava ali, prestes a ser liberado. Fushiguro, por sua vez, sentia o peso da culpa e a pressão de suas próprias expectativas. Cada movimento, cada golpe trocado, era carregado com a intensidade de suas histórias pessoais.
Eles avançaram, os golpes rápidos e precisos, cada impacto ecoando as palavras que não conseguiam expressar. Era uma batalha não só de habilidades, mas de almas feridas, de corações que ansiavam por redenção e compreensão. A cada troca de golpes, a cada defesa, parecia que um pouco mais de suas barreiras internas se quebrava, revelando a dor e a luta interna que ambos carregavam.
— Isso parece intenso... — Kugisaki murmurou ao lado da Zenin que observava de longe.
A frustração em Akari era evidente. Apesar de acertar seus golpes, a raiva apenas crescia dentro dela como uma combustão prestes a explodir. Com um movimento rápido, ela chutou Megumi novamente, conseguindo derrubá-lo. Num instante, ela estava em cima dele, respirando ofegante, seus olhos queimando de fúria.
Megumi tentou se mover, mas antes que pudesse fazer qualquer coisa, Akari segurou firmemente seus braços, imobilizando-o. Seus rostos estavam próximos, ambos ofegantes, o calor da luta ainda pulsando em suas veias.
— Você sempre vai ser um covarde! — ela disse com ódio, as palavras saindo como um veneno.
Megumi a encarou, vendo a intensidade nos seus olhos violetas, aqueles olhos malditos que o perseguiam por anos.
— E você ainda é mais aquela garota fraca que tá sempre precisando da ajuda de outras pessoas!
A raiva dentro dele cresceu, aproveitando a proximidade, ele bateu a cabeça contra o nariz dela, desestabilizando-a. Com um movimento rápido, ele inverteu as posições, ficando por cima dela.
Akari soltou um gemido de dor, seu nariz sangrando levemente, mas a raiva em seus olhos não diminuiu. Ela olhou para ele, desafiadora, ainda segurando seus pulsos com força.
— Você acha que pode fugir de tudo, Fushiguro? — ela disse, a voz cheia de rancor. — Acha que pode simplesmente ignorar tudo e seguir em frente?
Antes que Fushiguro pudesse responder, Akari pegou um punhado de areia do chão e jogou em direção aos olhos do rapaz. Ele gritou de dor e ardência, levando as mãos aos olhos. Foi o tempo necessário para que ela chutasse seu estômago e se levantasse.
— Porra... me desculpe sua idiota! — ele gritou, ainda coçando os olhos.
Akari parou, surpresa e magoada, encarando-o com um misto de surpresa e dor. Respirando pesadamente, ela deu um passo em direção a ele, mas foi rapidamente parada por Maki Zenin, que se colocou entre os dois.
— Já chega, vocês dois! — Maki ordenou, sua voz firme. — Vão para a enfermaria agora.
E então, por um breve momento, eles pararam. Ofegantes, exaustos, mas talvez, finalmente, começando a ver um ao outro verdadeiramente. O campo de treinamento silencioso ao redor, o mundo parecia suspenso no tempo, dando a eles um instante de clareza. No fundo, ambos sabiam que essa luta não resolveria tudo, mas era um passo em direção à compreensão mútua, e à possibilidade de um futuro onde pudessem ser mais do que apenas feiticeiros perdidos em suas próprias batalhas internas.
— Vocês ouviram a Maki — disse Panda, que havia observado a cena de longe, aproximando-se com um olhar preocupado. — Vocês precisam de um tempo para esfriar a cabeça.
Enquanto Akari e Fushiguro se dirigiam à enfermaria, o silêncio entre eles era pesado, carregado de emoções não resolvidas. A caminhada parecia interminável, cada passo ecoando as palavras não ditas e os sentimentos reprimidos.
Ao chegarem na enfermaria, Shoko os recebeu com um olhar sério, mas compreensivo. Ela gesticulou para que se sentassem e começou a tratar dos ferimentos de ambos em silêncio. Akari desviou o olhar, sentindo-se exausta, tanto fisicamente quanto emocionalmente. Fushiguro suspirou, fechando os olhos enquanto Shoko limpava a areia de seus olhos irritados.
O silêncio na sala era apenas quebrado pelo som suave dos instrumentos médicos de Shoko. Era um momento de calma após a tempestade, mas também uma oportunidade para refletir sobre tudo o que havia sido dito e feito.
— Por que pediu desculpas? — Akari questionou baixo, as palavras escapando de seus lábios antes que pudesse contê-las.
Megumi a encarou com intensidade, seus olhos brilhando com uma mistura de sentimentos.
— Porque... eu sinto muito por não ter feito nada.
— Não quero suas desculpas! — Akari respondeu, a voz carregada de raiva e dor.
— Então o que diabos você quer, Akari? — Megumi perguntou, a frustração evidente em seu tom.
Ela se calou, pois não tinha a resposta para aquela pergunta. Não sabia de quem sentia raiva, se queria culpar Megumi, ele tinha culpa afinal? Ou ela era a culpada por tudo? Ela engoliu suas frustrações, sentindo um nó na garganta.
— Eu não sei — ela admitiu, sua voz quase um sussurro.
O silêncio entre eles era pesado, carregado de emoções não resolvidas e mágoas acumuladas ao longo dos anos. Shoko continuava seu trabalho em silêncio, respeitando o momento de vulnerabilidade entre os dois jovens.
Megumi suspirou, passando a mão pelos cabelos, tentando organizar os pensamentos.
Akari sentia um profundo desespero, uma sensação esmagadora que a fazia questionar se algum dia conseguiria escapar das lamúrias do passado. As memórias e as dores estavam sempre presentes, como sombras que a perseguiam incessantemente. Ela se perguntava se algum dia seria capaz de perdoar Megumi, mas, mais do que isso, se seria capaz de perdoar a si mesma por permitir que tudo aquilo a afetasse tão profundamente. As dúvidas e a culpa a sufocavam, tornando cada respiração um esforço.
— Eu não culpo você... eu só... não sei — ela sussurrou, sua voz trêmula com a emoção contida. — Você está certo, não era sua responsabilidade me ajudar...
Megumi deu um passo em sua direção, mas hesitou, não querendo invadir seu espaço.
— Eu deveria ter feito algo, qualquer coisa — ele murmurou, sua voz carregada de arrependimento.
Akari respirou fundo, tentando acalmar o turbilhão dentro dela.
— Talvez... mas não fez, e agora estamos aqui — ela disse, seus olhos finalmente encontrando os dele, cheios de uma dor profunda. — Não importa mais, somos feiticeiros jujutsu devemos nos focar em nosso trabalho.
Megumi assentiu lentamente, sentindo o peso das palavras dela.
— Mas eu estou aqui agora Akari... — ele sussurrou — e não vou a lugar nenhum.
Ela tentou sorrir, mas a expressão era mais triste do que alegre.
— eu espero que não.
E naquele momento, talvez as coisas pudessem enfim melhorar.
Os olhos de Akari encontraram os de Megumi, e pela primeira vez em muito tempo, ela sentiu uma centelha de esperança. O peso do passado ainda estava lá, mas a promessa de um futuro diferente começava a surgir entre eles. E por enquanto parecia ser o bastante.
Satoru abriu os olhos depressa, sentindo o coração disparar assim que percebeu que novamente estava mergulhado em lembranças do passado. Seus músculos ainda estavam tensos, como se revivessem cada momento doloroso. Ele levantou a venda por um segundo, fixando seus olhos azuis no teto. O silêncio do escritório parecia amplificar o tumulto em sua mente.
"Se eu sou tão forte e autossuficiente, por que... porque esse sentimento de vazio me domina tão profundamente?" A pergunta ecoava na sua cabeça, trazendo uma sensação de desespero. Ele sempre foi o mais forte, o invencível, mas ali, naquela quietude, se sentia frágil e exposto. As memórias de perdas e escolhas pesavam sobre ele, lembrando-o de que, apesar de seu poder, ele era humano, com emoções e cicatrizes profundas que o poder não conseguia curar.
Ele se levantou da cadeira, espreguiçando o corpo. Apesar de poderoso, nem ele era imune às dores nas costas. Sentia-se perdido enquanto caminhava pelos corredores silenciosos, os passos ecoando na escuridão. Cada parede, cada porta que passava, parecia sussurrar as memórias e decisões que o haviam trazido até ali.
Satoru estava em busca de algo que parecia sempre fora de alcance. "O que falta para eu me sentir completo?" Ele se perguntou, os olhos azuis escaneando o vazio ao redor. O poder nunca havia sido a resposta para suas dúvidas mais profundas.
Satoru sabia que era incrivelmente poderoso, arrogância à parte, ele realmente era. Mas por que não parecia ser suficiente? Ele sempre soubera que a solidão fazia parte da vida de um feiticeiro poderoso, que no final, morreria sozinho. Mas por que essa ideia o assustava tanto agora?
Por que apenas ser Satoru Gojo não bastava mais? O que faltava em sua patética vida, afinal? Ele refletia sobre isso, a inquietação crescendo dentro dele. Talvez fosse o peso das responsabilidades, as perdas acumuladas, ou o simples desejo de uma conexão verdadeira.
Enquanto caminhava pelos corredores silenciosos da escola Jujutsu, Satoru se lembrava das pessoas que tinham passado por sua vida, aquelas que ele perdeu e aquelas que ele ainda protegia. Ele pensou em Akari, em Souka, em Suguru. Cada um deles, de alguma forma, representava partes de si que ele não conseguia compreender totalmente.
Ele parou em frente a uma janela, observando o horizonte que começava a clarear com o amanhecer. A luz suave do sol nascente parecia prometer um novo começo, mas ele se perguntava se realmente estava pronto para mudar. Se realmente estava disposto a deixar suas paredes emocionais caírem e permitir que as pessoas entrassem.
O que faltava? O que ele precisava?
Satoru sentiu o coração disparar ao ver Souka se aproximar. Ela parecia iluminar tudo ao redor, mesmo com aquele biquinho carrancudo que ele sempre achou adorável. Seus passos eram confiantes, cada movimento refletindo a força e determinação que ele tanto admirava nela.
— Souka... — ele a chamou, a voz carregada de um misto de alívio e ansiedade.
Ela parou a alguns centímetros dele, as mãos enfiadas nos bolsos de seu casaco de couro. O vento balançava levemente seus cabelos, criando uma imagem que parecia saída de um sonho.
— É solitário, não é? — ela questionou com calma, a voz suave contrastando com a intensidade do que estava implícito em suas palavras.
Satoru piscou, surpreso pela clareza da pergunta. Era como se ela tivesse olhado diretamente em sua alma, tocando suas feridas mais profundas.
— O que? — ele devolveu incrédulo, a confusão em sua voz evidente.
Souka voltou a encará-lo, seus olhos penetrantes encontrando os dele. Havia uma mistura de compreensão e dor neles, algo que ele raramente via nas pessoas ao seu redor.
— Ser Satoru Gojo. — ela completou, suas palavras atingindo-o como um golpe certeiro.
Ele ficou em silêncio por um momento, processando o que ela havia dito. Ser Satoru Gojo, o feiticeiro mais poderoso, o símbolo de invencibilidade. Quantas vezes ele havia desejado que alguém pudesse entender o peso que isso trazia?
— É... — ele finalmente admitiu, a voz mais baixa do que pretendia — É solitário.
Satoru olhou profundamente nos olhos de Souka, uma tempestade de emoções passando por seu rosto. Ele queria dizer as palavras, queria confessar o quanto a ausência dela o tinha devastado, mas as palavras ficaram presas em sua garganta.
"Terrivelmente solitário porque não tenho você. Passei dezesseis anos da minha vida ansiando por você, Souka," ele pensou, mas não teve coragem para dizer em voz alta.
Souka percebeu a luta interna dele, vendo a vulnerabilidade que ele raramente mostrava a ninguém. Seus olhos se arregalaram um pouco de surpresa, pela sinceridade que ele demonstrava sem palavras.
Souka levantou uma sobrancelha, seu olhar divertido e curioso enquanto observava Satoru.
— O que foi, Satoru? Está pensando demais — ela disse sarcasticamente, tentando aliviar a tensão entre eles.
Satoru engoliu em seco, sentindo um turbilhão de emoções dentro de si. Ele queria dizer tantas coisas, expressar todos os sentimentos que guardara por tanto tempo, mas as palavras pareciam insuficientes naquele momento. Olhando para Souka, ele percebeu que precisava fazer mais do que apenas falar. Precisava mostrar a ela, com ações, o quanto ela significava para ele.
Ele sorriu, passando a mão pelos cabelos negros dela, bagunçando-os ligeiramente. Precisava ir com calma.
— Vem comigo, vamos ver se o pirralho tá se saindo bem — ele disse, suspirando e estendendo a mão para ela.
Souka encarou a mão estendida por um minuto, sentindo seus batimentos acelerarem. Mas então, com um pequeno sorriso, ela aceitou, entrelaçando os dedos dele nos seus.
Enquanto caminhavam juntos, o silêncio entre eles não era desconfortável. Havia uma sensação de paz e esperança, como se ambos soubessem que estavam no caminho certo para reconectar seus corações. Satoru apertou a mão dela levemente, transmitindo uma segurança silenciosa. Souka sentiu-se estranhamente à vontade, como se a proximidade dele trouxesse um calor que há muito tempo não sentia.
— Sabe, eu estava pensando... — começou ele, quebrando o silêncio confortável entre eles. — Talvez devêssemos encontrar um lugar tranquilo para treinar juntos. Só nós dois. O que acha?
Ela riu baixinho, apertando a mão dele um pouco mais forte.
— Tá louco pra levar porrada, não é? — Souka perguntou rindo, uma leve provocação dançando em seus olhos.
Satoru gargalhou, aquele som profundo e contagiante que ela tanto amava ouvir.
— Se for você que vai bater, acho que estou, sim — respondeu com um sorriso travesso.
Ela revirou os olhos, mas não conseguiu conter o riso que escapou.
— Você é impossível, Satoru.
Ele deu de ombros com um sorriso.
— E você adora cada segundo disso.
— Isso é o que você acha — respondeu, tentando soar indiferente, mas a ternura em seus olhos a traía — Seu convencido.
— O convencido que você escolheu, lembra? — ele retrucou, um brilho malicioso nos olhos.
Akari andou calmamente pelo campus da escola Jujutsu, procurando por Itadori. Sua mente ainda estava presa na conversa com Megumi, mas ela esperava que agora as coisas pudessem mudar. Talvez ela conseguisse deixar o passado para trás, mesmo que fosse difícil.
Ela entrou no cômodo e viu Itadori deitado, abraçando um dos corpos amaldiçoados do diretor Yaga enquanto assistia televisão.
— Yuji? — ela chamou baixo, encostando-se na parede.
O garoto desviou o olhar da televisão, um sorriso alegre surgindo em seu rosto ao ver Akari. Ele soltou o bichinho no sofá sorrindo.
— Akari, você veio! — disse ele, cheio de entusiasmo.
Antes que pudesse dizer mais alguma coisa, o urso de pelúcia pulou e acertou um soco na cara de Itadori, que resmungou dolorido, esfregando o local atingido.
— É um corpo amaldiçoado do diretor? — ela questionou, rindo suavemente.
Itadori sorriu, mesmo com a dor evidente. — É, ele tem uma mão pesada, foi ideia do sensei gojo e da sensei Saito.
Akari se sentou silenciosamente, sentando-se ao lado dele no sofá.
— Como você está? Parece que está sendo muito difícil treinar.
Itadori deu de ombros, tentando parecer despreocupado.
— Tá tranquilo, Kari. Vou ficar mais forte, eu prometo! — Seus olhos brilhavam com determinação.
Era quase angustiante para Akari olhar para Itadori, porque de alguma forma ele a lembrava de Suguru. Era uma lembrança quase abstrata, uma sensação que não conseguia descrever completamente. Ver Itadori lutar contra as maldições a fazia pensar em Suguru e no peso das responsabilidades que ele carregava. Só eles sabiam o verdadeiro gosto de uma maldição, um fardo terrivelmente triste que poucos entendiam.
E ainda assim, em meio a toda essa angústia que os envolvia, ambos continuavam a sorrir. Esse sorriso, apesar de tudo, era um ato de resistência, uma forma de mostrar ao mundo que, mesmo sob o peso das maldições e das dores do passado, eles ainda podiam encontrar motivos para seguir em frente. A lembrança de Suguru, sempre presente, era uma mistura dolorosa de tristeza e inspiração, um lembrete constante de que mesmo nas trevas, a luz de um sorriso podia fazer toda a diferença.
— Eu sei que você vai — ela sussurrou, sorrindo. — Itadori... se me permite perguntar, você conversou com Sukuna antes de voltar?
— Talvez — a voz de Sukuna ecoou, causando um arrepio na pele de Akari.
A energia maldita se fez presente de imediato. No lugar do sorriso doce de Itadori, agora estava um sorriso perverso e ameaçador. Akari sentiu o ar ao redor se tornar pesado, mas manteve sua postura firme, o encarando.
— Eu soube assim que Itadori retornou — ela murmurou, os olhos fixos nos de Sukuna. Apesar da proximidade, ele não parecia querer atacá-la. — O que você propôs para ele aceitar o pacto?
Sukuna riu, uma risada sombria que ecoou pelo quarto, fazendo os pelos da nuca de Akari se arrepiarem.
— Ah, pequena Akari... — ele sorriu, pegando uma pequena mecha branca de seu cabelo e afastando-a do rosto dela com uma delicadeza sinistra. — Isso só diz respeito a mim e a ele... mas devo dizer, você continua astuta, querida.
Akari o encarou, seus olhos vermelhos brilhando com uma intensidade quase hipnótica. Seu coração batia rápido, um tamborilar frenético em seu peito, mas ela não recuou, mantendo-se firme, a pouca distância entre eles preenchida por uma tensão palpável.
— Mas preciso me apressar, não tenho muito tempo de domínio — ele desdenhou, um sorriso cruel curvando seus lábios. — Não esqueça a promessa que eu fiz a você, minha doce Akari. Matarei todos que você ama.
A raiva queimava nas íris violetas de Akari. — Vou acabar com você antes disso!
Sukuna riu novamente, a risada reverberando pelo ambiente, carregada de malícia. — A cor dos seus olhos mudou, mas eu até que gostei — ele murmurou, lambendo os lábios de forma provocativa.
A proximidade entre eles fez o ar ao redor parecer eletrificado. Akari sentia a pressão da presença de Sukuna, uma força avassaladora que ameaçava engoli-la. Mas, ao mesmo tempo, sentia uma chama de determinação crescendo dentro dela, uma força que se recusava a ser subjugada.
Itadori voltou com o controle do corpo, piscando de forma desconexa e levando a mão à cabeça.
— O que foi isso!? — ele questionou, a confusão evidente em seus olhos.
Akari soltou a respiração que nem sabia que estava segurando, ainda sentindo o peso das palavras de Sukuna.
— Eu quem te pergunto! — ela respondeu, tentando recuperar a compostura — Você não consegue se lembrar do pacto que fez com ele?
O rapaz negou frustrado.
— Tenho apenas uma sensação de que algo assim aconteceu... apenas isso — ele murmurou, a frustração evidente em seu rosto.
Akari semicerrou os olhos, percebendo claramente que Sukuna havia colocado uma cláusula no pacto para que Itadori esquecesse o que tinha sido acordado. Ela suspirou, sentindo um misto de raiva e impotência.
— Bom... vamos ver algum filme bom — ela resmungou, tentando desviar a atenção dele para algo mais leve, enquanto olhava os DVDs espalhados pela mesa.
Itadori resmungou, voltando a segurar o boneco amaldiçoado e concentrando sua energia amaldiçoada.
— Podemos ver "Minhoca Humana"? — ele sugeriu, com um leve sorriso.
— Eca, não! — Akari fez uma careta, quase rindo da sugestão. — Vamos escolher algo que não seja tão nojento, por favor.
Itadori riu, aliviando o clima tenso que pairava sobre eles. Akari, sentindo-se um pouco mais leve, decidiu aproveitar o momento de calma e começou a selecionar os filmes para assistir naquela madrugada ao lado do amigo.
Eles passaram a madrugada assistindo a filmes, rindo e conversando, cada momento ajudando a dissipar a sombra de morte e de Sukuna sobre eles. Akari se sentiu grata por aquele momento de calmaria depois de tudo.
— Olá feiticeiros e Maldições!
— Vocês estão bem?
— A cada passo que souka e Satoru dão eu fico mais feliz com meus pais 😭😭😭😭
— Akari e a Megumi são o auge sou apaixonada neles nesse ódio 🙏
— AGORA SUKUNA?? AIN🫦🫦🫦🫦 fico fraquinha com esse maldito.
— Eu espero que tenha vocês tenham gostado!
NAO ESQUEÇAM OS VOTOS E COMENTÁRIOS
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