𝐂𝐡𝐚𝐩𝐭𝐞𝐫 𝐅𝐨𝐮𝐫𝐭𝐞𝐞𝐧: 𝐭𝐡𝐞 𝐨𝐫𝐢𝐠𝐢𝐧
"Alguém que não pode fazer sacrifícios nunca pode mudar nada."
— A origem da desobediência cega
Akari estava inquieta desde que seu pai, Satoru Gojo, a proibiu de participar da segunda fase do intercâmbio. Ele alegou que, devido à sua recente dor de cabeça, ela precisava descansar e se recuperar completamente. A contragosto, ela aceitou, mas a teimosia que herdou de seu pai não a deixava em paz. Ela não aceitava simplesmente ficar deitada, sabendo que seus colegas estavam levando a vitória sem a sua presença.
Com determinação, Akari esperou o momento oportuno. Assim que o jogo de beisebol começou, ela escapou da vigilância médica de Shoko e das ordens claras de seu pai e foi assistir ao jogo, escondida nas arquibancadas.
E eles não decepcionaram. A escola de Tóquio levou a vitória, consagrando-se campeã do intercâmbio pelo segundo ano consecutivo. Sentada à beira do campo, Akari sentiu uma onda de satisfação ao assistir os colegas comemorando, o orgulho inflamando seu peito.
Agora Akari estava passando a mão sobre o tecido do uniforme de maneira distraída, sentindo cada linha da costura, enquanto sua mente vagava pelas mudanças que sua vida havia enfrentado nos últimos meses. Era surreal pensar em como tudo parecia tão diferente agora. Ela tinha um pai presente, ou ao menos, relativamente presente, algo que ela nunca imaginara ter tão fortemente em sua vida antes. Tinha amigos, algo que sempre foi um conceito distante e quase ilusório para ela. E, acima de tudo, havia Megumi.
O pensamento de Megumi a fez sorrir de leve, de um jeito que iluminava sua expressão normalmente reservada. E pensar nisso a fez refletir sobre como, não muito tempo atrás, suas únicas companheiras eram Nanako e Mimiko. Ela sentia falta das suas irmãs postiças, aquelas que, de certo modo, a haviam ajudado a não se sentir completamente sozinha durante os tempos mais obscuros.
Apesar dessas mudanças positivas, Akari sabia que uma parte sombria de si ainda estava ali. Sentia o peso daquela escuridão persistente, uma sombra que espreitava em seu interior, esperando apenas o momento certo para dominá-la, para levá-la a um caminho que ela sabia ser perigoso. Ela sabia que desprezava os não-feiticeiros, o rancor que crescia em seu peito sempre que pensava neles. Ainda assim, ela lutava contra isso. Ela não queria ceder àquele pensamento, mesmo que, às vezes, a linha entre resistência e rendição parecesse tênue.
Akari sabia que, por enquanto, ainda podia se segurar à luz.
Akari piscou algumas vezes, sendo arrancada de seus pensamentos quando sentiu o toque firme de Nobara em seu braço.
— Ei, Akari, tá viajando é? — Nobara a cutucou, o tom levemente impaciente, mas também cheio de familiaridade.
Akari levantou o olhar, ainda meio atordoada por seus pensamentos, encarando os olhos animados da amiga. Ela soltou um suspiro, percebendo que havia se desligado do que acontecia ao seu redor.
— Bora, tem missão nova pra gente! — Nobara anunciou com um sorriso determinado, a energia dela sempre contagiante.
— Que maneiro! — Itadori apareceu ao lado delas com sua animação habitual, os olhos brilhando de expectativa. — Tô doido pra caçar maldições com vocês de novo!
Akari deu um pequeno sorriso para Itadori, esticando o corpo preguiçosamente, sentindo os músculos se soltarem enquanto se desgrudava da parede em que estava apoiada.
— Vamos lá... — resmungou, tentando afastar os pensamentos pesados que ainda rondavam sua mente. Ela não queria perder o foco, não quando estava prestes a sair em uma missão com seus amigos.
Os três seguiram juntos até o carro, onde Megumi já os aguardava com sua típica expressão séria, encostado na lateral do veículo. O olhar dele se encontrou brevemente com o de Akari por um instante, um olhar intenso e cheio de preocupação.
— Finalmente — Megumi murmurou quando eles se aproximaram, o tom calmo, mas familiar, enquanto dava um leve aceno de cabeça para a assistente, que já estava no volante, pronta para levá-los ao local.
O quarteto entrou no carro, ajustando-se no espaço apertado com a familiaridade de quem já fez isso inúmeras vezes. Akari se acomodou silenciosamente ao lado da janela, deixando sua cabeça repousar contra o vidro frio. Seus olhos seguiam distraidamente a paisagem que passava rapidamente do lado de fora, árvores, prédios, estradas vazias, tudo se misturava em um borrão que parecia distante de sua realidade interior.
Enquanto a assistente ao volante explicava o caso com uma voz firme, descrevendo detalhes sobre o que eles iriam investigar, Akari mal ouvia. Seu foco estava dividido entre as vozes ao redor e seus próprios pensamentos, que iam e vinham como uma brisa, trazendo consigo ecos de preocupações e lembranças de missões anteriores.
O carro parou suavemente em frente à escola, e Akari ficou por um momento imóvel, olhando pela janela. Era estranho estar de volta a um ambiente como aquele, tão diferente do mundo que ela agora conhecia. Fazia anos desde que ela pisara em uma escola de não-feiticeiros, e só de olhar para a fachada, uma leve nostalgia se misturava com a ansiedade. Respirando fundo, ela desceu do carro e seus olhos percorreram o prédio com uma expressão pensativa. Ao seu lado, Megumi permanecia atento, observando cada reação dela sem dizer uma palavra, mas seus olhos denunciavam a preocupação.
— Ei! Olhem só aqueles vagabundos! Vamos dar uma liçãozinha neles? — Nobara exclamou com seu típico tom provocador, já se movendo em direção a dois estudantes que pareciam estar à toa.
— Hum? Pra que isso? — Itadori perguntou, surpreso e confuso com a súbita decisão de Nobara.
Os adolescentes, que inicialmente tinham um ar de irritação ao ver Megumi e os outros se aproximando, logo mudaram de atitude. Suas expressões endurecidas deram lugar ao reconhecimento e ao respeito. Curvaram-se com formalidade.
— Meus cumprimentos! — disseram em coro, inclinando-se de forma quase exagerada.
Akari franziu as sobrancelhas, surpresa. Ela não sabia o que era mais curioso: o fato de eles reverenciarem Megumi ou a expressão desconcertada no rosto dele. Megumi parecia… envergonhado?
— Hunf, estamos com tanta moral por aqui — Nobara se gabou, jogando os cabelos para trás de forma dramática.
— A gente tenta esconder, mas não dá pra segurar a nossa aura — Itadori acrescentou, rindo e claramente se divertindo com a situação.
Akari não conseguiu conter um sorriso. Cobriu a boca com a mão, mas o brilho em seus olhos entregava sua vontade de rir.
— Que mico… — murmurou, brincando.
Nesse momento, um dos alunos que havia se curvado se aproximou, ainda um pouco envergonhado, mas curioso.
— Faz tempo que não nos vemos desde a formatura, né, Fushiguro? — o garoto comentou, olhando para Megumi como se estivesse se dirigindo a uma celebridade.
Nobara e Itadori ficaram boquiabertos, os dois formando um perfeito "O" de surpresa. Eles se entreolharam, tentando processar a informação.
— Eu... fiz o ginásio aqui — Megumi respondeu, com o rosto levemente corado, tentando disfarçar o desconforto.
Nobara não perdeu tempo. Com um sorriso travesso, ela se jogou em cima de Fushiguro, agarrando-o pelos ombros e quase derrubando-o.
— A parada não é essa! Olha pra mim! — ela exclamou, os olhos brilhando de curiosidade. — O que você fez? O que você fez no ginásio?
Enquanto Megumi tentava afastá-la sem muito sucesso, Itadori se aproximou e, sem aviso, agarrou as bochechas de Fushiguro, apertando-as de maneira infantil.
— É mais fácil perguntar pra eles! — Itadori sugeriu, virando-se rapidamente para os dois estudantes que ainda estavam ali, observando a cena com sorrisos contidos.
— Ei, babaca 1 e babaca 2, o que esse cara fez no ginásio? — Nobara perguntou sem cerimônia, cruzando os braços e encarando os alunos com um olhar inquisitivo.
Os dois adolescentes hesitaram por um segundo, trocando olhares antes de um deles finalmente responder, meio nervoso.
— É que... todos os delinquentes e membros de gangue foram espancados pelo Fushiguro.
O choque no rosto de Akari foi instantâneo. Seus olhos violetas se arregalaram, piscando rapidamente enquanto tentava processar a informação. Ela encarou Megumi em completo silêncio por alguns segundos.
Antes que Nobara e Itadori pudessem explodir em mais perguntas, uma voz cortou o ar.
— Quem são vocês? Alunos de outras escolas não podem entrar! — um senhor, visivelmente aborrecido, apareceu no local, olhando para o grupo com desconfiança.
A assistente se adiantou, mostrando seu crachá rapidamente.
— Nós temos permissão para estar aqui — disse ela com firmeza.
O senhor, ao reconhecer o crachá, relaxou um pouco e murmurou:
— Ah, então são vocês? Como são jovens... Oh... e o Fushiguro!
— Oi, Takeda — Megumi murmurou, visivelmente desconfortável com toda a atenção.
Akari, olhou de volta para o senhor.
— Ele trabalha aqui há muito tempo? — questionou.
— Talvez, o Takeda é um funcionário permanente. — Megumi respondeu com um suspiro resignado, já antecipando mais perguntas do grupo.
A assistente esboçou um sorriso leve e brincalhão, enquanto entregava a responsabilidade da situação a Megumi.
— Bom, vou deixar com você agora, Fushiguro! — disse ela, se afastando com um aceno discreto.
O ar parecia mais pesado, como se a conversa trouxesse à tona algo mais profundo e perturbador. Takeda esfregou o queixo, tentando lembrar de todos os detalhes, enquanto o grupo se aproximava, formando um círculo ao redor dele.
— Bom... o que exatamente querem saber? — Takeda perguntou, o olhar perdido em memórias.
— Boatos sombrios, conexões com adultos ruins, qualquer coisa que pareça fora do normal... — Akari murmurou, sua voz carregada de uma curiosidade inquieta.
Takeda franziu a testa, balançando a cabeça.
— Boatos sombrios? Eles eram problemáticos, sim, mas, no fundo, eram apenas estudantes. Nunca se envolveram em nada realmente sério... — ele parou por um momento, pensativo, como se algo em sua memória estivesse voltando lentamente. — Mas, agora que você mencionou... Sinal sinistro?
Antes que ele pudesse continuar, um dos estudantes interrompeu, com a voz trêmula.
— E aquela história do bungee jump da ponte Yasohachi? — ele murmurou, olhando de soslaio para o grupo, como se falar o nome da ponte trouxesse algo sombrio à tona.
— Que ponte Yasohachi? — Itadori perguntou, confuso, sua curiosidade naturalmente acesa.
Megumi suspirou, cruzando os braços, claramente já familiarizado com o assunto.
— É um ponto de suicídio famoso. Um local mal-assombrado bem conhecido por aqui. — Fushiguro murmurou com uma voz grave, suas palavras carregadas de seriedade.
— Ah, verdade! — Takeda exclamou, como se finalmente tivesse se lembrado de algo importante. — Naquela época, os delinquentes adoravam fazer bungee jump na ponte Yasohachi à noite. Era um dos testes de coragem.
Akari revirou os olhos.
— Que gente esquisita... — ela resmungou, com uma careta de desgosto. Primatas...
Itadori, sempre otimista, não pôde deixar de rir um pouco.
— Me surpreende ter gente mais burra do que eu... — ele comentou com um sorriso despretensioso.
Mas Megumi, sempre atento aos detalhes, estreitou os olhos.
— Como eles amarraram a corda? — ele perguntou, sua voz mais baixa, quase como se estivesse tentando juntar as peças de um quebra-cabeça invisível.
O ar parecia mais pesado à medida que Takeda começava a contar a história sobre o incidente na ponte Yasohachi, envolvendo os jovens quase uma década atrás.
— E é isso. Foi o que aconteceu naquela época — Takeda concluiu, com um suspiro cansado. Megumi acenou com a cabeça em agradecimento e todos começaram a caminhar de volta para o carro, a mente de cada um ainda perdida nas implicações do que tinham acabado de ouvir.
— Acho que é isso — a assistente murmurou, pensativa, olhando para os alunos com um semblante cauteloso.
Megumi, com os olhos fixos no chão, resmungou em voz baixa.
— Eu também fui lá, na ponte Yasohachi.
Itadori, sempre disposto a quebrar a tensão, olhou para ele com curiosidade e perguntou, com um sorriso inocente:
— Pular de bungee jump?
Antes que pudesse dizer mais alguma coisa, Megumi cerrou o punho e acertou um leve soco na cabeça de Itadori, que soltou um gemido fingido de dor, seguido de uma risada suave de Akari.
— Aí... pra que isso... — Itadori resmungou, esfregando a cabeça com uma expressão de falsa indignação.
Megumi respirou fundo e voltou a falar, ignorando o protesto do amigo:
— É muito fácil para maldições se arraigarem em lugares mal-assombrados. — Sua voz estava firme, mas havia um tom de preocupação, como se ele soubesse que algo muito mais perigoso os aguardava. — Então as escolas jujutsu fazem patrulhas regulares. Mas, naquela época, não havia nada de incomum. A ponte pode ser um ponto famoso, mas ainda é usada como uma ponte normal.
— De qualquer forma, precisamos ir lá. — Nobara resmungou.
Todos pareciam concordar silenciosamente.
— Bom, eu espero que tenham uma corda... — disse Akari com um brilho brincalhão nos olhos.
A noite estava finalmente densa quando o quarteto chegou à ponte Yasohachi. O vento frio cortando o ar e fazendo a ponte ranger levemente. Akari encostou-se à grade da ponte, seus dedos sentindo o metal gelado enquanto ela olhava para o céu, onde poucas estrelas apareciam. Havia uma tensão no ar, algo que a fazia sentir um arrepio na espinha, mas ela não deixou transparecer.
— Quem vai saltar? — Nobara perguntou, segurando uma corda velha e desgastada, o sorriso de provocação estampado em seu rosto.
Akari franziu o cenho, olhando para a corda com desconfiança.
— Não confio nessa corda aí não... — disse, fazendo uma careta de desgosto.
Nobara riu alto.
— Deixa de ser medrosa! — ela disse, balançando a corda como se fosse a coisa mais segura do mundo. — Você quer viver para sempre?
Akari arqueou uma sobrancelha, não perdendo a oportunidade de devolver a provocação:
— Manda o Megumi! — sugeriu, apontando para o moreno com um sorriso travesso nos lábios.
Megumi, que até então observava tudo em silêncio, revirou os olhos, claramente sem paciência.
— Eu não... O Itadori que vai pular — murmurou, tentando evitar o confronto.
Itadori, que estava distraído olhando para a escuridão embaixo da ponte, virou-se rapidamente ao ouvir seu nome. Suas sobrancelhas se franziram ao ver Nobara e Akari já preparando a corda, amarrando-a ao redor de sua cintura de forma decidida.
— Espera aí, gente! — Itadori exclamou, os olhos arregalados de surpresa e um pouco de pânico.
Nobara riu, puxando a corda para verificar se estava firme, enquanto Akari ajudava, ambos ignorando os protestos de Itadori. O clima de tensão foi quebrado por um leve toque de camaradagem entre eles, algo que sempre conseguia aliviar o peso das missões.
— Assim está bom? — Nobara perguntou, puxando a corda uma última vez para garantir.
Fushiguro olhou para Itadori, os braços cruzados, e respondeu com seu habitual tom despreocupado.
— Ele vai sobreviver — murmurou, sem emoção, mas com uma pontada de humor escondida.
Akari soltou uma risadinha enquanto Itadori tentava processar a situação.
— Vai com calma lá embaixo, herói — ela disse, piscando para ele.
A missão parecia ter chegado a um beco sem saída. Eles tentaram de tudo, fizeram Itadori saltar de bungee jump, atravessar a ponte várias vezes, mas nenhuma pista de energia amaldiçoada se manifestou. Agora, os quatro estavam encostados na grade da ponte, mergulhados no tédio, o ar noturno tornando-se pesado com a quietude. O vento frio que antes trazia um toque de inquietação agora soprava apenas a sensação de frustração.
Megumi observava em silêncio, sem se mover muito. Seus olhos, entretanto, focaram em Akari. Ela estava como sempre: pensativa. O rosto virado para frente, mas a mente parecia a quilômetros de distância, perdida em labirintos internos que ele sabia serem difíceis de desvendar. Algo na forma como ela franzia as sobrancelhas deixava claro que os pensamentos eram densos, talvez pesados. Ele já a tinha visto assim tantas vezes antes, e mesmo sem querer, seus olhos sempre acabavam atraídos para ela, como se houvesse uma força invisível que o compelisse a observá-la.
Era impossível para Megumi não notar as nuances nas expressões dela. Ele sabia quando a mente de Akari a levava ao passado, as pequenas lágrimas que, discretamente, se acumulavam no canto de seus olhos violetas. A raiva que aparecia em seguida, escurecendo as íris, era tão nítida quanto o brilho que seus olhos carregavam quando estavam calmos. Ele conhecia essas mudanças, quase como se fossem suas próprias emoções refletidas nela.
E por mais que tentasse evitar, uma pergunta silenciosa sempre voltava à sua mente: porque Akari o atraía dessa forma? Não importava onde estivesse ou o que estivesse fazendo, ele sempre acabava se pegando observando-a, curioso, preocupado, fascinado. Algo em sua presença o fazia sentir que ela carregava muito mais do que deixava transparecer, e isso o mantinha preso, incapaz de desviar o olhar.
— No que está pensando? — Fushiguro quebrou o silêncio com um tom baixo e sério, tentando disfarçar a inquietude que sentia ao observá-la tão imersa em seus pensamentos.
Akari piscou, sendo tirada de sua contemplação. Seus olhos, de um roxo profundo, encontraram os de Megumi, e por um momento ela hesitou antes de responder.
— Acho que... só estou preocupada com a missão, só isso — murmurou, desviando o olhar de volta para o céu. A escuridão parecia abraçar seus pensamentos, mas havia algo mais, uma inquietação que ela não conseguia expressar completamente.
Fushiguro, ainda observando-a de canto de olho, notou o brilho particular de seus olhos sob a luz da lua. Havia algo naquela profundidade que sempre o intrigava, como se suas íris carregassem histórias que ela nunca deixava escapar por completo.
— Seus olhos... — ele começou, mas as palavras morreram em sua garganta.
— Hum? O que tem? — Akari perguntou suavemente, sem desviar os olhos do céu. Havia uma leveza em sua voz, mas Megumi sabia que ela notara a hesitação em sua fala.
Ele engoliu seco, tentando esconder o que queria dizer. Havia tantas coisas que ele podia falar sobre aqueles olhos, como eles pareciam refletir sua dor e raiva, mas também uma vulnerabilidade que poucas pessoas conseguiam ver.
— Nada... — respondeu, desviando o olhar para o chão, sentindo o peso do que não ousava confessar.
Akari respirou fundo, enfiando as mãos nos bolsos para afastar o frio da noite e a tensão que se acumulava no ar entre eles. Um sorriso suave apareceu em seus lábios, enquanto ela tentava aliviar a atmosfera.
— Então você virou defensor dos mais fracos no ensino médio, hein? — murmurou, brincando levemente, mas havia um carinho subentendido em suas palavras.
Megumi, pego de surpresa, apenas revirou os olhos, mas não conseguiu evitar um pequeno sorriso também.
— Eles nunca iam aprender se eu não os ensinasse, pessoas boas merecem viver uma vida boa e tranquila — disse Megumi, sua voz séria, mas carregada de convicção.
Akari assentiu lentamente, absorvendo as palavras dele. Por mais que não dissesse nada, uma parte dela sabia que Megumi estava tentando justificar suas ações, manter a calma e o controle em um mundo cheio de caos. Mas aquela sensação de desconforto não a abandonava.
— Eu acho que está certo... — Akari começou, sua voz mais suave, quase pensativa. — Mas você acha que isso resolve? Apenas eliminar as massas ruins?
As palavras saíram de seus lábios antes mesmo de ela se dar conta, e de repente, a pergunta flutuou no ar entre eles. O vento frio da noite fez seu cabelo branco balançar, e seus olhos violetas escureceram com algo que ela não sabia nomear, mas que sentia profundamente. Raiva? Tristeza? Incerteza? Talvez tudo isso misturado.
Megumi virou o rosto para ela, seus olhos azuis intensos a estudando com cuidado. Ele sentiu algo estranho na pergunta dela, Ele sabia. Sabia o que ela estava insinuando, mesmo que Akari tentasse esconder.
— Eu vejo o ódio em seus olhos, Akari... pelos não feiticeiros — ele afirmou, sua voz baixa, mas penetrante.
Akari sentiu um choque passar por seu corpo. Ele a encarava de uma forma que a fez sentir-se nua, exposta. Por um momento, seus lábios tremeram, e ela desviou o olhar para o chão, tentando mascarar o turbilhão que estava crescendo dentro dela.
— Não sei do que está falando — ela sussurrou, mas a fraqueza em sua voz traiu suas verdadeiras emoções.
Mas ela sabia. E ele também. O peso de tudo o que vivera, das injustiças que enfrentara, da dor acumulada em cada recanto de seu ser... estava sempre ali, à espreita. Aquela raiva que queimava silenciosamente dentro dela, que a fazia questionar se o mundo dos não feiticeiros realmente merecia ser protegido.
Megumi respirou fundo antes de falar, sua voz baixa, carregada de uma sinceridade contida.
— Acho que em algum momento eu também me perguntei se o que estava fazendo era certo — murmurou, sua mente vagando por memórias passadas, momentos que o fizeram questionar suas decisões. — Mas existem pessoas que merecem ser salvas, como o Itadori.
Seus olhos vagaram até Itadori, que, um pouco mais à frente, estava rindo despreocupadamente enquanto Nobara tentava lhe acertar um chute.
Akari acompanhou o olhar de Megumi, observando Itadori com a mesma leveza, mas algo dentro dela não se aquietava. Seu coração pesava, e o questionamento que vinha crescendo dentro de si finalmente encontrou voz. Ela virou-se lentamente para encará-lo, seus olhos violetas cintilando na escuridão.
— Como a sua irmã? — perguntou suavemente, cada palavra carregada de uma compreensão que ia além do que Megumi estava pronto para admitir.
As palavras pairam no ar como uma brisa fria, e Megumi endureceu levemente, seus olhos escurecendo com a menção de sua irmã. O rosto normalmente calmo dele se fechou por um instante, um breve lampejo de dor cruzando suas feições. A menção de Tsumiki era sempre um golpe certeiro, algo que ele tentava manter enterrado para não se perder na culpa e impotência.
— Sim... — ele respondeu, sua voz quase um sussurro. — Como a Tsumiki.
Akari observava atentamente, sentindo o peso daquele nome, daquela história. Ela não precisava que ele dissesse mais nada.
— Algumas pessoas... — Megumi continuou, ainda encarando o horizonte como se estivesse falando consigo mesmo — ...elas não têm escolha, Akari. Não escolhem nascer num mundo como esse. Elas merecem uma chance de viver sem medo, de encontrar alguma paz.
Akari respirou fundo, tentando absorver as palavras de Megumi enquanto seus olhos vagavam pelo horizonte escuro. A raiva, sempre presente, queimava silenciosamente dentro dela, como uma chama que nunca se apagava. Era como uma segunda pele, tão natural e enraizada que livrar-se dela parecia impossível. Ela sabia que, em algum lugar, essa escuridão a impedia de seguir em frente, mas não conseguia encontrar uma saída.
— Eu espero que sua irmã melhore — disse, a voz mais baixa, quase como se estivesse falando mais para si mesma do que para ele. Não sabia ao certo como oferecer consolo, mas essas palavras eram as mais sinceras que podia dar.
Megumi a observou, um misto de emoções atravessando seus olhos. Ele não esperava ouvir isso de Akari, ainda mais com aquele tom suave que raramente usava. Suas sobrancelhas se franziram ligeiramente, e ele respondeu num sussurro quase inaudível.
— Eu também... — pausou por um segundo, seus olhos fixos nela, carregados de uma preocupação profunda que ele tentava esconder, mas que sempre escapava quando se tratava de Akari. — Eu espero que você também melhore, Akari.
Essas palavras a atingiram com força. Akari suspirou, um peso invisível pressionando seu peito. Ela cruzou os braços, em uma tentativa de se proteger das emoções que começavam a transbordar. As palavras de Megumi soavam verdadeiras, mas ela não conseguia aceitar aquilo para si mesma. Não se via como alguém que merecia redenção, muito menos salvação.
— Não sou uma boa pessoa, Fushiguro — ela murmurou, a voz um pouco rouca, deixando escapar um rastro de amargura. Seus olhos, normalmente afiados, estavam mais suaves agora, mas ainda assim, carregavam a dor e a dúvida que ela tentava esconder. — Não sou dessas pessoas que você gostaria de salvar.
Akari se afastou lentamente, suas botas rangendo levemente contra o chão da ponte enquanto ela se dirigia para onde Nobara e Itadori estavam, deixando Megumi para trás, sozinho com seus pensamentos. Ela não olhou para trás, mas sentia o peso do olhar dele, observando cada passo que dava.
Akari bocejou, sentindo o cansaço tomar conta de seu corpo. Ela encostou no capô do carro, esfregando os olhos, tentando afastar o sono que a envolvia. O vento frio da noite batia em seu rosto, trazendo uma leve sensação de desconforto que, de alguma forma, a mantinha alerta.
— Não achamos nada, nenhum rastro de energia amaldiçoada — ela murmurou, inclinando-se para o lado, apoiando a cabeça no ombro de Nobara, que a recebeu com um sorriso leve, quase maternal.
Nobara revirou os olhos, mas havia compreensão em seu gesto. Ela passou a mão no cabelo de Akari, bagunçando-o suavemente como um irmão mais velho faria enquanto suspirava.
— Então voltamos à estaca zero... — disse a assistente, sua voz soando derrotada.
O grupo ficou em silêncio por um momento, as palavras da assistente ecoando no ar, enquanto a frustração se instalava em cada um deles. Todos tentavam pensar em uma solução, mas as ideias pareciam escassas naquela noite. O som do vento e o movimento suave das árvores ao redor criavam uma melodia quase melancólica, que refletia o estado de espírito deles.
Megumi, como sempre, manteve a postura séria e controlada, mas seus olhos vagavam insistentemente em direção a Akari. Ele a observava silenciosamente, como se buscasse alguma resposta ou reação que pudesse aliviar a preocupação que sentia. Ela, por outro lado, parecia alheia aos seus olhares. Estava perdida em seus próprios pensamentos, talvez lutando contra seus próprios demônios internos.
Os calouros chegaram de bicicleta, com uma garota na garupa. O som dos pneus arrastando na terra chamou a atenção de Megumi, que os encarou com uma expressão confusa. O grupo virou-se para olhar, surpreso com a chegada inesperada.
— Vocês estavam falando da ponte Yasohachi, né? Cheguei a tempo — murmurou o garoto enquanto descia da bicicleta.
— Fujinuma? — Megumi perguntou, ainda tentando entender a presença dele.
O calouro apontou para a garota que estava com ele.
— Minha irmã mais velha! — ele respondeu, como se aquela fosse a explicação mais óbvia do mundo.
A garota desceu da bicicleta com um movimento ágil, e seus olhos pousaram em Megumi, uma expressão quase tímida em seu rosto.
— Fico feliz que tenha lembrado de mim — ela sussurrou, sua voz baixa e um tanto trêmula. — Meu irmão me contou que vocês estavam investigando sobre a ponte Yasohachi... e o Morishita. Comecei a me perguntar se as coisas estavam conectadas.
Megumi franziu a testa, visivelmente confuso.
— Mas que coisas? — ele perguntou.
Ela olhou diretamente para ele, os olhos carregados de um temor profundo, quase sufocante. A hesitação estava estampada em seu rosto, mas algo nela parecia querer desabafar.
— A morte do Morishita... e a ponte Yasohachi — respondeu, a voz agora mal passando de um sussurro.
— Não, não estão ligadas... — Fushiguro começou a dizer, mas foi interrompido.
— É que... eu fui lá... — ela murmurou, a voz falhando de medo. — No oitavo ano... fui à ponte Yasohachi... à noite.
O grupo ficou em silêncio por um momento. Nobara fez uma careta de leve, sentindo a tensão aumentar ao redor.
— Eita... — disse Nobara, rompendo o silêncio pesado que havia se formado, enquanto o olhar de Akari se estreitava, observando cada detalhe da expressão da garota.
— Quem... quem mais estava com você? — Akari perguntou, a voz baixa, mas cheia de uma urgência quase desesperada.
A garota hesitou, seu olhar nervoso passando de um rosto a outro antes de responder, com a voz trêmula.
— Umas amigas da época... a Tsumiki estava também.
O choque foi instantâneo. Todos congelaram no lugar, os olhos imediatamente se voltando para Megumi. Seu rosto, que normalmente exibia um controle frio e calculado, agora estava vazio, sem expressão. Era o tipo de ausência que ocultava um turbilhão de emoções por trás de um semblante estoico. Ele fechou as mãos em punho, mas não disse nada por um momento.
— Bom... eu vou falar com ela — Fushiguro murmurou, ainda sem expressão, tentando esconder o tumulto interno. Ele se virou, pronto para se afastar, mas algo na forma como ele se movia denunciava o quanto aquilo o afetava.
Megumi se afastou lentamente, o celular já em mãos, enquanto o restante do grupo observava em silêncio. A noite parecia mais fria de repente, o ar denso com a tensão do que acabavam de ouvir. Akari cruzou os braços, sentindo o peso da situação. Seus olhos estavam presos na figura de Megumi, que agora, à distância, falava ao telefone. Seu rosto continuava inexpressivo, mas ela sabia que cada palavra dita por ele carregava uma mistura de medo e preocupação.
Nobara se aproximou de Akari, suspirando pesadamente.
— Isso não parece bom... — ela comentou, os olhos também fixos em Megumi.
Fushiguro soltou um suspiro pesado ao terminar a ligação. Quando voltou até onde o trio o aguardava, seus olhos estavam carregados de algo mais denso, quase sombrio. Ele sabia que teria que afastá-los dali, mas não era uma tarefa fácil, especialmente com a preocupação evidente nos rostos dos amigos.
— Vocês precisam ir embora — ele disse, a voz firme, mas com um peso subjacente.
— O que? — Itadori exclamou, sua confusão e surpresa óbvias.
— A missão mudou, outros feiticeiros vão assumir o caso — Fushiguro manteve a postura séria, sabendo que precisaria ser direto.
O trio se entreolhou, as sobrancelhas franzidas em descrença. Algo não estava certo, e eles sentiam isso. Nobara foi a primeira a quebrar o silêncio.
— Mas... você não vem com a gente? — ela perguntou, a preocupação clara em sua voz.
Fushiguro desviou o olhar por um momento, como se aquilo fosse difícil demais de admitir. Ele soltou outro suspiro, mais longo desta vez.
— Vão na frente... Vou me despedir do Takeda primeiro — ele disse, já começando a se afastar, sem dar chance para mais perguntas.
Akari, com os braços cruzados e uma expressão indecifrável, observou Megumi se distanciar. Algo dentro dela revirava, aquela sensação incômoda de que ele estava escondendo algo maior. Seu olhar ficou fixo nele por mais alguns segundos, até que ela falou, quase num sussurro.
— Não vamos, né?
Itadori, ao seu lado, balançou a cabeça, sua expressão séria pela primeira vez naquela noite.
— Com certeza não.
— Olá Feiticeiros e maldições!
— Vocês estão bem?
— Conversa tensa entre Megumi e Akari 😔☝️ (eu amei viu)
— O Itadori o capítulo todo: 😀😃KSKDKAKD UM AMOR.
— Próximo capítulo será o último ☝️
— Atenção, vou postar duas shotfic do Suguru 😃☝️ E sim a protagonista é a Souka, amou? Se não amou passe reto ❤️
— Uma especial de Halloween (Ghostface) e um friends tô lovers! Quem quiser ler fique de olho nas notificações ou eu posso marcar 💕
— Também tenho disponível uma one-hot de satoru&Suguru X Souka quem quiser tá disponível no perfil☝️
— Até a próxima amores 💕💕
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