* ˚ ✦ CAPÍTULO 03
Capítulo três . 003
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ADORMECER PARA DESPERTAR
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O sol mergulhava no horizonte, pintando o céu com tons de laranja e vermelho, enquanto o campo de treinamento continuava pulsante com a intensidade dos combates. Rainha Hippolyta, com um olhar orgulhoso e, ao mesmo tempo, melancólico, acompanhava a feroz determinação de sua filha de onze anos, Callista.
O treinamento tornara-se mais intenso e rigoroso, moldando Callista em uma guerreira voraz. Cercada por amazonas, ela enfrentava diversas adversárias simultaneamente, demonstrando habilidades notáveis. A jovem princesa não se acanhava diante dos golpes, respondendo com uma força que surpreendia a todos.
As guerreiras investiam ferozmente, empunhando espadas e lançando flechas em direção à jovem princesa. Entretanto, Callista desviava-se com agilidade, utilizando saltos e cambalhotas para escapar dos golpes certeiros.
Equipada com um escudo e uma espada, ela defendia-se valentemente, girando seu laço no ar com destreza, desarmava e afastava as amazonas que se aproximavam. Em meio à batalha, Callista não se intimidava, levantava-se com rapidez e retaliava com golpes precisos. A cada ataque, ela demonstrava uma resiliência admirável, disposta a superar qualquer desafio.
Apesar das investidas vorazes das amazonas, a jovem princesa respondia com uma mistura de bravura e estratégia, deixando claro que seu treinamento intensivo havia aprimorado suas habilidades.
A rainha, sabendo que aquele dia marcava o último treinamento de Callista com as amazonas por um longo período, permitiu que sua filha aproveitasse ao máximo cada momento. Observando com orgulho e extrema tristeza, Hippolyta via Callista apanhar e bater, mas cada desafio a moldava ainda mais como guerreira.
Enquanto o campo de treinamento ecoava com os sons de lâminas se chocando e guerreiras se movendo, a rainha sabia que a noite traria consigo a revelação do destino de Callista. O dia, repleto de intensos combates, tornava-se um precioso prelúdio para a difícil conversa que teriam. O sol se despedindo no oeste, Hippolyta se preparava para enfrentar a dolorosa tarefa de contar à sua amada filha sobre o longo sono que a aguardava.
O crepúsculo pintava o céu com tons dourados, enquanto as amazonas se esforçavam para criar uma atmosfera alegre e festiva para a princesa Callista, que, alheia ao destino que a aguardava, mergulhava na alegria do momento. Antíope chegou e, ao lado de sua irmã, observava com olhar atento e coração pesado. As amazonas, cientes do destino iminente, empenhavam-se em tornar aquele dia inesquecível para a jovem guerreira.
Antíope, ao perceber uma lágrima escapar dos olhos da rainha, que se debatia entre a coragem e a tristeza, questionou: ━ Realmente não havia outra opção?
A resposta da rainha foi um olhar de desespero misturado com resignação. ━ Eu tentei tudo, implorei a Zeus, ajoelhei-me diante dele. Chorei por misericórdia, mas foi a melhor opção. Ele a teria matado por causa de uma profecia.
O olhar de Antíope se voltou novamente para Callista, lá do alto onde observava. ━ Será que ela aceitará isso pacificamente ou lutará contra esse destino?
A rainha respondeu, com a voz embargada: ━ Callie é uma boa menina. Ela compreende a implacabilidade dos deuses e que desobedecê-los pode levar a um destino ainda pior. Ela sabe que cuidaremos dela, mas ainda ficará triste, assim como todas nós. Não teremos mais nossa garotinha correndo risonha, fugindo das tutoras apenas para observar o treinamento das guerreiras.
As palavras da rainha eram acompanhadas por lágrimas que refletiam a dor de uma mãe diante da iminência de perder sua filha. Antíope, geralmente reservada, viu sua irmã desmoronar e a puxou para um abraço reconfortante. A general esfregou as costas da rainha, assegurando-a: ━ Vai ficar tudo bem. Ela não vai dormir para sempre. Um dia acordará, e você estará aqui para aproveitar tudo junto com ela. Ela voltará para nós.
O abraço, repleto de compaixão e conforto, testemunhava a solidariedade entre as irmãs em meio à adversidade. A rainha, soltando-se dos ombros de Antíope, confessou com a voz embargada: ━ Eu sei, mas ainda dói tanto.
Antíope, sem palavras diante da dor de sua irmã, continuou a oferecer conforto em um abraço que transcendia as palavras, mas prometia apoio incondicional.
O sol mergulhava no horizonte, tingindo o céu com tons dourados enquanto Callista, suja de terra e suor, exibia um sorriso radiante por ter finalmente vencido todas as Amazonas. Seu estado desgrenhado e as marcas da batalha em seu corpo eram insignificantes diante da glória que sentia. Acenou e sorriu ao avistar sua amiga Doric, cujos chifres marrons refletiam a beleza do crepúsculo.
━ Oi Doric, você viu? Eu finalmente derrotei todas elas ━ Callista proclamou com entusiasmo, mas a resposta de Doric carregava um tom tristonho.
━ É, eu vi. Parabéns, Callie. Você finalmente está melhorando. Você vai se tornar uma guerreira incrível. Tenho certeza disso.
O sorriso de Callista desvanecia à medida que percebia a tristeza na voz de sua amiga. ━ Ei, tá tudo bem? Parece triste.
Inquieta, Doric tentou dissipar a melancolia. ━ Não, eu estou ótima, claro que eu estou ótima. E super feliz.
━ Uma pena que o dia tá acabando, não é? ━ a princesa disse com uma melancolia sutil que permeava suas palavras, revelando uma consciência sombria que pairava sobre o momento.
Doric, ciente do destino iminente da princesa, lamentava interiormente a perda iminente de sua única amiga. Sabia que em breve não teria com quem conversar, sem um ombro para chorar. Seria uma serva vazia, desprovida da luz da amizade que irradiava de Callista. Não era justo. A princesa não merecia ser privada da vida que ansiava, aprisionada pelo inexorável fluxo do tempo.
━ É, é uma pena o dia tá acabando ━ concordou Doric, ocultando sua tristeza. As palavras eram um eco silencioso do peso do futuro iminente. No entanto, ela rapidamente mudou o foco, sugerindo: ━ Venha, minha princesa. Você precisa de um banho. E depois de uma ótima comida, aí um... Uma boa noite de sono.
Doric segurou firme na mão de Callista, apertando-a como se quisesse prender aquele momento no tempo. Cada gesto era um esforço para aproveitar cada minuto ao lado da princesa. Conduziu-a suavemente em direção aos aposentos, consciente de que em breve a solidão se tornaria uma amarga companhia. Doric não podia deixar Callista sozinha, não podia suportar a ideia de perdê-la. Enquanto caminhavam, a amiga não soltava a mão da princesa, como se estivesse determinada a protegê-la da escuridão que se aproximava. Cada passo era um lembrete doloroso de que o tempo era um luxo que logo seria roubado, e Doric estava decidida a fazer cada momento contar.
A água quente envolvia Callista, dissipando a sujeira da batalha e oferecendo um conforto temporário em meio à incerteza que pairava sobre seu destino. Doric, com dedicação silenciosa, ajudava a princesa a se despir, preparava o banho e, com suavidade, a conduziu até a banheira. Enquanto esfregava suas costas, Doric não conseguia conter as memórias dos momentos compartilhados com Callista.
Recordou das vezes em que a princesa a defendeu das injustiças que sofria por ser uma mistura de demônio e mortal, uma anomalia em um mundo de mulheres guerreiras. Cada vez que Callista se interpunha entre Doric e o preconceito, fortalecendo sua amizade com gestos corajosos e palavras de apoio. Era uma amizade rara e preciosa.
Incerta sobre como abordar a questão que pairava sobre elas, Callista quebrou o silêncio. ━ Por que você e as outras amazonas estão estranhas o dia todo? Parece até que eu vou morrer. Estão me tratando com toda a gentileza do mundo, e sempre que olham para mim parece que vão chorar.
Doric, gaguejando um pouco, tentou esconder a verdade por trás de um sorriso forçado. ━ É impressão sua, minha princesa. Hoje o dia foi ótimo. Acho que todo mundo acordou de bom humor.
━ Não sei. Acho que é estranho.
━ Não se preocupe com isso. Vai ficar tudo bem.
Seus olhos se encontraram por um breve momento, e Callista percebeu a agonia escondida nas profundezas da expressão de Doric.
Então, com a água a envolvê-la e a luz suave do ambiente, Callista olhou por cima do ombro e questionou ━ Por que nada ficaria bem, Doric?
A amiga, em um momento de hesitação, respondeu rapidamente, ━ Nada. Nada. Eu só me atrapalhei com as palavras. Não se preocupe com isso, Princesa.
Diante da pergunta sincera de Callista, Doric sentiu o peso da despedida iminente. Com a costa da princesa sob suas mãos, ela ansiava compartilhar mais uma conversa do coração. As palavras fluíram, revelando o aperto que Doric sentia em seu peito ao pensar na iminente despedida. Uma conversa de despedida disfarçada, onde a amiga tentava transmitir seus sentimentos sem revelar totalmente a verdade que se aproximava. E, entre diálogos e gestos, o ambiente se desenrolou como um suave poema de despedida entre duas almas ligadas pela amizade.
O aroma suave do banquete ainda pairava no ar quando Hippolyta guiou sua filha para o quarto. Sentindo o peso da iminente despedida, ela começou a pentear os cabelos de Callista, entoando uma canção de ninar que embalou muitas noites de infância.
Nas estrelas do Olimpo a brilhar,
Musas divinas a sussurrar,
Callista, minha doce flor,
Sob a luz de Zeus, guardiã do amor.
De Morfeu os sonhos virão,
Como suaves penas que tocam o chão,
Feche os olhos, minha pequena estrela,
Os deuses velam por ti, em cada senda.
Afrodite tece fios de ternura,
Apolo guarda o sol para o seu despertar,
Dorme, minha guerreira destemida,
Aos deuses confio teu acordar.
Ártemis, na lua, vigia a noite,
Héstia aquece com a chama aconchegante,
Sob o manto divino, descansa em paz,
Que os deuses te envolvam, sem disfarce.
No abraço de Hipnos, sereno deus do sono,
Encontra repouso, sonhos risonhos,
Dorme, Callista, como estrela a brilhar,
Os deuses velam, tua alma a guardar.
Que a melodia suave embale teu coração,
Neste reino de sonhos, nossa ligação,
Descansa, minha filha, sob divina proteção,
Os deuses sussurram: paz e devoção.
Ao concluir, uma coroa de flores adornou os cabelos dourados da princesa antes de ser acomodada na cama.
No silêncio do quarto, Callista notou a presença discreta de Doric e Antíope, observando da sombra. A desconfiança cresceu, e ela não pôde mais ignorar a pergunta que fervilhava em sua mente.
━ Ok, por que Doric e Antíope estão aqui? É só você que me coloca para dormir, mamãe?
O olhar de Hippolyta encontrou Antíope, que acenou afirmativamente. Com as mãos segurando as de Callista, a rainha decidiu abrir o véu da incerteza. ━ Uma coisa aconteceu ontem à noite.
O olhar da princesa encontrou Doric, depois Antíope e finalmente sua mãe. ━ Eu desconfiei que algo tinha acontecido. Vocês todas estavam muito estranhas. O que foi que aconteceu, mamãe?
Hippolyta compartilhou sobre a visita de Zeus, a profecia iminente e a solução proposta para evitar o destino fatal. Callista absorveu as informações, e sua expressão questionadora pressionou a rainha a continuar. ━ Eu tentei, eu implorei ao seu pai para que tivesse alguma chance, outra opção.
Um momento de revelação se seguiu quando Callista interrompeu, afirmando a natureza de sua origem. ━ Ele não é meu pai. Eu nasci do barro. Ele só me deu vida. Você é minha mãe, só você. Eu não quero ser filha de um homem que ia matar uma garota por causa de uma profecia estúpida.
Hippolyta, mesmo resistindo à negação de sua filha, afirmou ━ Ele é seu pai, quer goste ou não. Eu sei que você não nasceu de uma maneira natural, e que isso pode não entrar na sua cabecinha, mas ele é seu pai.
A negação de Callista foi firme, e Hippolyta tentou novamente entender o sentimento de sua filha. ━ O que você acha sobre tudo isso? ━ A resposta, carregada de raiva, expressou a sensação de impotência diante de uma decisão imposta.
━ E eu tenho escolha? Nem opinião eu tenho sobre isso, então o que adianta você me perguntar? Se eu vou ter que dormir ou não, de todo jeito?
A dor transparecia na voz da princesa, enquanto Hippolyta suspirava tristemente.
E assim, a rainha explicou a temporariedade do sono profundo, buscando assegurar que, no fim, Callista acordaria e ela estaria lá. ━ Um dia você vai despertar, e eu estarei aqui com você, minha querida filha.
A resignação suavizou o olhar de Callista, e ela admitiu, ━ Eu vou sentir falta de todas vocês.
Antíope aproximou-se da cama, expressando seu carinho e reconhecimento pela incrível guerreira que Callista havia se tornado nos últimos anos.
━ Callie, você foi a melhor guerreira que eu tive a honra de treinar nesse últimos mil anos… eu te amo, minha sobrinha querida.
━ Eu também te amo, tia Antíope… amo todas vocês.
Callista, com uma risada suave, agradeceu e expressou seu amor por todos.
Doric, emocionalmente abalada, sentou-se ao lado da princesa, segurando sua mão. ━ Obrigada por ter sido minha amiga por todos esses anos. E saiba que quando você acordar, eu estarei aqui. E enquanto você dormir, eu zelarei pelo seu sono. Eu te cantarei canções, lerei livros, contarei o sobre meu dia. Comigo ao seu lado, você nunca vai ficar só. Nem entediada.
O sorriso de Callista ecoou a promessa silenciosa de uma amizade eterna, e a cena se desenrolou como uma emocionante despedida entre almas que compartilharam risos, lágrimas e inúmeras aventuras.
Doric limpou uma lágrima e pegou seu bandolim. ━ Eu te preparei uma última canção.
Ela fungou e dedilhou os acordes suavemente.
Na noite estrelada, sob o manto do luar,
Nossa princesa adormece, em sonhos a flutuar.
Aceita, corajosa, o destino que vem,
No reino do sono, onde a magia se tem.
Seus sonhos serão versos de encanto e poesia,
Bordados por estrelas, numa doce melodia.
Nesta canção, prometo guardá-la com zelo,
Enquanto o tempo passa, num repouso singelo.
Ela é corajosa, aceitando o que o destino traz,
Num sono profundo, sob constelações em paz.
Sonhos como contos, revelando-se a tecer,
Na espera do dia que a fará renascer.
Quando o sol despertar, pintando o horizonte,
Nossa princesa, enfim, emergirá suavemente.
Com o mundo à espera, livre e serena,
Doric estará lá, amiga terrena.
Callista limpou os olhos e fungou. ━ Eu.. eu amei, Doric.
As duas se abraçaram com força.
Callie olhou para as duas mulheres e disse ━ Tratem bem a Doric, ela é o meu tesouro.
Hippolyta assentiu com um sorriso em meio às lágrimas.
Callista, deitada na cama, olha uma última vez para Doric, Antíope e Hippolyta, tentando gravar cada expressão em sua memória antes de entrar no sono profundo. Ela sorri levemente, como se quisesse levar consigo o calor daqueles rostos familiares para os sonhos que viriam. Pensamentos de gratidão e amor permeiam sua mente, sabendo que aqueles momentos seriam preciosos durante seu longo repouso.
Ao se ajeitar na cama, ela limpou os últimos vestígios de lágrimas do rosto, determinada a enfrentar o destino que lhe foi imposto. Seu olhar se volta para Hippolyta, sua mãe, e com uma expressão serena, ela diz: ━ Estou pronta.
A Rainha Amazona, com um gesto suave, deposita um beijo na testa de sua filha, transmitindo carinho e coragem.
Hippolyta pega o frasco com o líquido verde, mistura-o na bebida favorita de Callista, despejando-o em um cálice de ouro. Callie observa o líquido brilhante e murmura: ━ Vou sentir saudades de vocês.
Antíope responde com sinceridade: ━ E nós sentiremos a sua.
Com um sopro de coragem, Callista leva o cálice à boca e bebe rapidamente o líquido. Hippolyta, cuidadosa, pega o cálice da mão de sua filha e acaricia suavemente seus cabelos. Os olhos de Callista se fecham lentamente, mergulhando no sono profundo que a esperava. A Rainha Amazona acena para Doric e Antíope saírem do quarto, ficando sozinha para testemunhar o descanso de sua amada filha.
No limiar da porta, Hippolyta observa Callista repousando, uma mistura de tristeza e esperança em seu olhar. Então, com um suspiro, ela fecha a porta, desejando que o dia em que Callista fosse necessária por Zeus chegasse logo, mas ao mesmo tempo temendo o desafio que o futuro reservava. A rainha fica ali, por um momento, perdida em pensamentos, antes de se afastar silenciosamente.
Não esqueça seu voto ou comentário ☺️
Avisando que vou misturar cenas da série com o livro.
Adoro escrever canções de bardo. Doric me lembra uma versão feminina do Apolo com seus haicai
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