Borboletas
Meu amor é como um jardim. Belo, agradável e de cheiro doce.
Hoje, meu amor sorriu para mim e, como em um jardim, eu me enchi de borboletas.
Elas são como eu, apaixonadas pelo meu amor. Elas são como meu coração, se agitam e tentam sair pela minha boca quando passo pelo meu amor.
Eu espero que elas não saiam realmente quando eu for beijá-lo.
Meu amor beijaria alguém que possui borboletas em seu estômago?
- Você deveria confessar. - Ouço as várias borboletas dizerem nos meus ouvidos, com suas voizinhas dóceis e finas, provavelmente são milhares delas em mim.
- Não quero. - rebato.
- Queremos sair logo daqui para amar. - Outras milhares dizem, no meu outro ouvido.
- Não vão!
- Nem mesmo sabemos se é Ele ou Ela. - ouço algumas centenas sussurrarem à minha nuca.
- E isso importa? - bufo.
- Por que você nos esconde do Amor? - dessa vez, todas elas dizem em uníssono.
- Porque vocês vão assustá-lo. - respondo, respirando ofegante, tentando acalmar meu frenético coração após ter esbarrado em meu amor.
Aquele seu lindo sorriso se abriu para mim, e sua voz maravilhosa proferiu essa curta palavra, que ecoa em minha mente desde então, que me obrigaram a me esconder na minha casa fechada para acalmar o enxame de borboletas que despertou com sua proximidade: "Olá."
Ah, meu amor, se você soubesse o quanto dói quando está longe, você teria misericórdia e ficaria perto mim mais vezes?
Minha respiração sai pela boca, enquanto as asas irritadas das borboletas ainda me fazem cócega por dentro. Ao tentar puxar mais ar do que consigo, engasgo, tusso.
Uma das borboletas consegue sair.
Ela olha para mim, não consigo ver seus olhos, mas sinto seu olhar. É branca, pura e possui uma aura brilhante.
- Por favor, não. - suplico, sentindo meu corpo despreparado para correr atrás dela.
- Eu quero ver o Amor. - ela diz, em tom de desculpas, e atravessa a porta sem esforço.
Merda.
Minhas borboletas declararam guerra contra mim.
Enquanto eu comecei a correr atrás da fujona, todas as outras centenas de milhares decidiram sair do meu estômago e voar por todo o meu corpo, travando as minhas pernas, me fazendo mergulhar em dor. Eu caí, grunhindo.
O rosto do meu amor brotou na minha mente nublada. O que ele diria se aquela borboleta lhe contasse tudo? Ele teria medo? Ele me amaria de volta?
Talvez ele tenha borboletas por mim também?
- Queremos ver o nosso amor. -Ouvi as borboletas, elas começaram a afrouxar, pousando e deitando comigo, diminuindo a minha dor. Aquele rosto se tornou mais nítido, meu coração se aqueceu e eu cedi.
Eu queria ver o meu amor agora.
Antes que eu pudesse trancar esse pensamento, as borboletas no meu coração ouviram e ordenaram que as outras erguessem vôo.
E então, eu levitei.
Olhei o meu corpo flutuante num espelho, ele brilhava como uma gaiola de borboletas iluminadas - O que, ironicamente, era isso que ele era.
As borboletas queriam ver o meu amor, não importava se era através dos meus olhos. Cansadas demais de esperar pela minha coragem, minhas borboletas me arrastaram com a delas.
Eu tentava voltar ao chão, uma borboleta poderia ser confundida com um inseto normal, mas alguém voando com milhares delas? Meu amor com certeza teria medo. Meu amor teria medo de mim, sendo que foi ele quem fez as borboletas surgirem. O medo me preencheu.
- Como você pode dizer que ama se tem tanto medo de mostrar? - todas, novamente em uníssono.
Não encontrei uma resposta, eu queria amá-lo, eu precisava, o amor era a única coisa que explicava toda aquela loucura.
Suspirei, desistindo, flutuando e, finalmente, me entregando.
Por que o amor tinha que ser tão cruel?
Eu ouvia os gritos de espanto das pessoas abaixo de mim quando as borboletas me levitaram para fora. Dezenas de pessoas, apontando para a única que não tinha mais forças para lutar contra o enjôo, a dor e o cansaço que é ter milhões de borboletas no estômago.
Todas as pessoas possuem borboletas, porque todas as pessoas amam, todas já enlouqueceram com a voz de suas borboletas, todas já viram uma ou outra escaparem, todas já foram imobilizadas pela insistência de todas.
Por que elas estão tão surpresas em me ver entregue às minhas?
Mesmo esvaindo em cansaço, eu me entreguei ao amor.
E eu amei estar entregue.
Nós voamos o mais alto que podíamos.
O céu era incrivelmente azul, me senti capaz de tocar as nuvens, abraçar sua maciez, pegar um pedaço e entregar de presente ao meu amor.
Ouvindo meus pensamentos, elas voaram mais alto, exigindo que eu abraçasse uma pequena nuvem. O fiz, sentindo o vapor escapando de meus dedos e a água pingando de minhas mãos no meu rosto. Sorri, virando de cabeça para baixo, olhando a extensão do mundo, pensando em como seria voar novamente, mas com a mão do meu amor na minha.
- Me levem, me levem até o nosso amor. - pedi, sentindo o sorriso grande no meu rosto.
E então, elas mergulharam de volta ao chão, o frio na barriga me fez rir, eu me sentia incrível. Eu me sentia livre. Essa era a sensação de amar? Se sim. Eu amava amar.
Como se soubesse exatamente onde meu amor estava, meu coração acelerou cada vez mais enquanto eu pousei. Meu amor estava perto. Meu amor me ouviria. Meu amor me amaria, não amaria? Com todas as minhas borboletas, com toda a minha devoção, ele se sentiria bem com o meu amor?
Quando pousei, comecei a correr, sentindo as batidas frenéticas e ainda dolorosas do meu coração aumentarem, eu sentia que estava perto.
Eu não queria mais me esconder. Eu não queria mais sufocar. Eu não iria mais repreender as minhas borboletas, não iria mais fugir do meu amor.
Vi sua silhueta, suas cores e seus contornos no horizonte. Meu coração se encheu. Corri mais rápido, me senti flutuar na direção do meu amor.
- Saiam todas! - gritei quando me aproximei mais, elas saíram de mim rapidamente, voando como um jato na direção do meu amor.
Mas, de repente, pararam.
- O que foi? - sussurrei, elas formaram um muro à minha frente, cobrindo toda a minha visão.
Elas não se moveram. Meu coração se apertou.
Suas luzes estavam se apagando.
Atravessei sua muralha.
Meu amor estava com a minha primeira borboleta em seu dedo, estava sorrindo da forma bela como sempre sorria, talvez de uma forma ainda mais amável.
Mas era para outro alguém.
Sem notar a minha presença.
Meu amor deu a minha borboleta para outra pessoa.
Meu amor beijou outra pessoa.
Quando seus lábios se encostaram, eu pude ver o meu amor flutuar.
Luzes brilharam em seu corpo. Eram borboletas.
Meu amor tinha borboletas por outras pessoas.
Assim, minhas borboletas apodreceram, morreram.
No fundo, eu me senti da mesma forma.
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