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Mas Ictar não voltou no dia seguinte, nem no próximo nem no outro e no décimo dia, Ivela trouxe para Felps uma carta.
Felps reteve o olhar com carinho sobre a palavra "Borboleta". Ictar tinha um 'B'gorducho, com uma barriga redonda como a dele próprio. Quase pôde ver os olhos grandes e castanhos, o sorriso fácil. A barba dividida em duas tranças volumosas.
–Chegou noite passada. – Fez Ivela interrompendo a memória boa.
–Deviam ter me entregado na hora.
–Hum...Está com saudades?
–Eu me preocupo. Ele parece tão...
–Bonito?
–Eu ia dizer doce. – Sorriu.
–E é. – Fez Ivela entusiasmada – Dom Caçador passa mais tempo entre os criados do que com a família. Parece até que não é do mesmo sangue que eles. Nem mesmo se parecem, não é? Digo, Marion e Lolá têm a mesma cara de fuinha, mas Caçador é todo castanho, grande, gordão... Ninguém entende. Mas não discutimos isso.
–Mentirosa.– Acusou Felps com um olhar brincalhão.
Ivela riu.
–É claro que discutimos isso, mas não fica bem contar pra você.
– Pois experimente.
Felps se sentou em frente ao espelho para que Ivela pudesse fazer-lhe a trança.
–Alguns dizem que Dom Caçador veio para cá numa cesta de carne,outros que foi vendido pela mãe, já que ela não tinha o que comer. Há até criados que contam que a família de Dom Caçador perdeu tudo na guerra, e então ele vagou por dias sozinho, pobrezinho, um bebê entre os dejetos, até que a senhora teve piedade dele, e o adotou.
–Isso é tão...Se for verdade, ele nunca seria mesmo enviado para Belvereth, não é?
–Alguma dessas histórias pode ser a verdade. – Ponderou Ivela –Ou talvez nenhuma delas seja, e a senhora Macnamara só teve um filho diferente dos outros.
–Pode ser.
Felps dobrou a carta e enfiou-a no corpete do vestido. Nos últimos dias tomava o cuidado de não sair do pequeno aposento porque tinha medo de encontrar Marion pelos corredores. E não importava que Caçador lhe tivesse dito para não se dirigir á Felps novamente, Marion não parecia o tipo que obedecia.
E de fato ele voltou num dia, e entrou no quarto da mesma forma como havia feito antes, e dessa vez não havia Ictar, mas Ivela correu para Felps fitando com raiva indisfarçável o ramalhete de flores lilases que Marion empurrou para as mãos do rapaz com um sorriso cínico.
–Eu sinto muito por ter te assustado naquele dia, garoto.
Felps sentiu-se agarrar a mão de Ivela.
–Você não pode estar aqui.
–Eu não posso, não é? Olha, eu não sou bom nesse negócio de cumprir ordens, como deve perceber. –Ele ofereceu-lhe o braço. –Venha Borboleta, você está nesse lugar desde que Ictar partiu,precisa respirar ar puro.
Mas Felps se encolheu.
– Não vou a lugar nenhum com você.
– Ela não vai deixar o quarto enquanto Dom Caçador não...
– E se ele nunca mais voltar, Ivela? Han?– Falou Marion–E se ele não vier mais? E se estiver em Belvereth agora mesmo e simplesmente decidir ficar por lá, já pensou nisso? – Se voltou para Felps quase com raiva– Você ficará trancado aqui, no seu calabouço para sempre, esperando por ele como um idiota.
–Ictar só está no porto.
Marion fez subir uma das sobrancelhas.
–Foi o que ele lhe disse, Borboleta?– Debochou –E confia nele em tudo? Não lhe parece estranho que alguém passe duas luas num lugar que fica só à algumas horas de Portão Branco?
Houve um instante de silêncio em que Felps mordeu o lábio odiando o fato de concordar com o outro. Mas e se fosse verdade? E se Dom Caçador tivesse mesmo ido para as Marcellas e ficado por lá no fim das contas?
Talvez os Belvereth tivessem gostado dele."Eu lhe deixei Ivela",tinha dito no Jardim Anão. "Ela cuidará de você." Então lhe dera seu beijo porque talvez achasse que não teria outra chance.
–Por isso está aqui. – Falou Ivela com os olhos estreitados de desconfiança – Está com raiva? Acha que o seu irmão tomou o seu lugar no norte?
Felps esperou para ouvir a resposta, mas Marion apenas deu de ombros
–Você é abusada e burra. – Ele retrucou – As pessoas exageram quando falam de mim e erram quando se referem à Ictar. Venha – Puxou Felps com força. – Você vai gostar do que tenho a mostrar.
–Não vou com você nem que...
–Então não me dá outra escolha.
E dizendo aquilo Marion arrastou-o para a direção da janela sem se importar que Felps esperneasse agitando os punhos e tentando se livrar de suas mãos.
–Eu não precisaria te apertar desse jeito se você não se torcesse tanto... – Resmungou o Dom com dificuldade tentando ao mesmo tempo contê-lo e abrir o trinco da janela. Nalgum ponto atrás deles Ivela gritava agudamente.
–Cala a boca, sua burra, eu vou só roubá-lo um pouco! – Concluiu Marion rindo, então empurrou Felps no vazio e uma lufada de morte gelada sacudiu-lhe o estômago quase no mesmo instante em que o piso da sacada inferir o recebeu. Marion caiu em pé ao seu lado. Estendeu-lhe a mão.
– Se machucou?
– Você é louco!
Felps sentia doer a coxa que atingira o chão e o ombro mordido dias atrás voltara a latejar, mesmo assim, tentou se levantar e correr, mas o outro o segurou pelo tecido do vestido.
–Te peguei de novo, garoto.
Marion o fez atravessar a porta da sacada para dentro do aposento largo onde dezenas de mulheres se ocupavam em dobrar peças enormes de tecido branquíssimo. Elas gritaram quando os viram entrar mas o Dom lhes fez uma reverencia leve completando com um sorriso:
–Vocês não nos viram. – Ao que elas voltaram ao que estavam fazendo.
Depois disso saíram para um corredor mal iluminado onde o Dom escolheu outra porta e também atravessou uma cozinha para por fim, cruzar por uma saída de criados que desembocava num largo a céu aberto, quase uma espécie de praça de vila onde pequenos chalés, e torrinhas se erguiam do chão e varais de roupas passavam sobre as cabeças deles,com calçolas e lacernas pingando água gelada.
–Vem, Borboleta. –Marion Finalmente largou Felps ali e apontava indicando o rumo de uma viela.
–Não me chame assim.
–Não? E como quer que eu o chame?
–Não quero que me chame! Onde está me levando?
–É uma surpresa. Ande, venha logo. – E tornou a agarrá-lo pelo punho.
E depois da viela de pedra, sob o céu nublado, Felps pôde ver que tinham finalmente saído de dentro dos limites do palácio porque tudo ali era diferente, os cheiros, as cores, até as pessoas pareciam mais carrancudas e apressadas e um homem gordo e sujo de carvão esbarrou em seu vestido rosa claro, manchando-o horrivelmente.
–Oh meu deus, a renda de Bir!
–Não se vem ao Pulgueiro com um vestido de boneca como esse. –Falou Marion.
–Eu não vim porque eu quis!– Retrucou Felps com raiva.
E ouvindo-o Marion riu alto, e correu ainda mais, acenando cordialmente para algumas pessoas que lhe saudavam das janelas. E Felps decidiu parar de falar com ele, até que finalmente entraram num novo beco,ainda mais mal iluminado que o anterior. Seguiram até o final dele,e Marion parou em frente a uma porta redonda enegrecida de fuligem.
–Onde estamos? – Disse Felps massageando o punho que o outro largara para poder tocar a sineta.
–Você vai ver.
E quase no mesmo instante dois olhos dourados apareceram através de uma abertura improvisada na madeira.
–Marimac!–Exclamou lá de dentro uma voz roufenha e animada. Aporta se abriu com um rangido agudo como um grito de alerta – Todo mundo disse que você já tinha ido embora!
–Eu ainda estou aqui, Gong.
Marion foi abraçado pelo homem largo e suas mãos mal puderam dar a volta nele, já que o corpanzil não se permitia contornar. Mas o que prendeu a atenção de Felps foi a longa e única asa branca que saía das costas do outro. Por cima dos ombros de Marion o olhar dourado de Gong encontrou o seu com simpatia.
–E quem é essa coisinha preciosa? – Perguntou bem humorado e depois puxou Felps para um abraço também. O homem tinha cheiro de temperos e fumaça.
–Veio de aldeia Vermelha, meu irmão está brincando de vesti-lo. –Disse a voz de Marion – Você sabe como ele é.
–Ah o Farejador... Aquele velho esquisito. Venha, criança, hoje você pertence ao velho Gorgoncor aqui, e ao nosso bom Marimac. Esqueça as manias daquele maluco por um segundo.
Felps não sabia se queria pertencer a Gorgoncor e a "Marimac",mas o interior do prédio se revelou uma taberna repleta de música e cheirava a comida da terra, e Felps nunca tinha estado numa taberna antes.
–Está com fome? – Perguntou Marion, mas Felps não lhe respondeu.
–É a botahonha –Explicou Gorgoncor. –Ninguém faz uma botahonha como a minha Siri. Vamos, escolham uma mesa, eu já vou trazer.
E Felps escolheu um lugar escuro perto da parede, onde ninguém o ficaria encarando, mas Marion o puxou para bem diante do flautista e trocou algumas palavras bem humoradas com ele, num idioma que Felps não conhecia.
– Esse é o melhor lugar para se comer em toda Afig. – Ele comentou tornando a se voltar para o rapaz enquanto puxava uma cadeira para si– Precisa ver como isso fica na época das hordas. O exército passa por aqui e não vai embora até ter comido tudo o que Siri puder preparar. É bom pra esses honrados protetores de Portão Branco, mas também é excelente pra vila. Ganham muito ouro, sabe?Anda, senta também, não percebeu? Somos todos amigos aqui.
–São todos como...? Como eu? – Felps disse aquilo porque ao se sentar notou sobre os olhos do musico que pareceram-lhe um tanto amarelados,mas não tinha certeza se vira o certo.
– Puros e mestiços? – Fez Marion – Nem todos, alguns são só...Livres.Homens que não obedecem á Belvereths, nem à Macnamaras, nem mesmo a Imperatriz.
–E como eles sabem a que leis devem seguir...?
–Ora, são donos de si mesmos e fazem o que querem.
–São ilegais?
Marion fitou o flautista por um segundo, talvez sem vê-lo, porque depois disse:
–Vou sentir falta daqui quando estiver em Belvereth.
–Você disse que... Que ele ia ficar no norte...
Marion riu.
–Ictar?Por deus, não. Ele não suportaria. Talvez Lolá, mas ela não tem boas recordações de momentos com darfs, você sabe, um deles comeu a mão dela.
–Mas você disse...
Nessa hora o enorme Gorgoncor deixou seu posto no balcão e veio trazendo numa bandeja duas tigelas da chamada "botahonha". Ele entregou para Marion e Felps colheres de madeira e um grande pedaço de pão amarelado e macio que colocou entre eles na mesa.
–Só me chamem aqui para pedir mais – Disse rindo e voltou pelo seu caminho, a asa deslizando grosseiramente no rosto de Felps.
Despreocupado, Marion começou a comer assim que o homem se foi e o fazia com demasiada graça. Era delicado e se movia com leveza. De modo que era impossível não comparar seus modos aos do irmão que se mexia,vestia e cheirava como um animal selvagem, no entanto parecia muito menos ameaçador que o fidalgo.
–Não vai comer?
–Você me disse que Ictar devia estar no norte.
–Aquilo foi só pra deixar você triste o suficiente pra me seguir por vontade própria.
–Eu nunca o seguiria por vontade própria.
–Por isso eu tive que te empurrar por uma janela, mas estamos aqui e agora você já sabe que não precisa ter medo de Gorgoncor ou da botahonha, não é? – Marion disse aquilo depois encarou Felps analiticamente por um instante antes de completar – Espere...Está com medo ainda? Puxa você tem medo de tudo.
–Tenho medo de você!
–De mim? – Ele repetiu seu sorriso cínico e graciosamente umedeceu seu pão na botahonha – Ora, mas por que?
–Ameaçou me matar mais de uma vez, tentou me fazer comer aquela coisa e me empurrou de uma janela!
Marion levou o pão até a boca e o mastigou delicadamente. Fitando Felps com seus olhos cor de chá, depois tirou um lenço de seda de um bolso interno do casaco aveludado e limpou os lábios com ele antes de retorquir:
–Teria vindo comigo se eu não te agarrasse na floresta? Quanto tempo achaque duraria fugindo daquela horda? E hoje? Teria vindo se eu convidasse gentilmente?
–Eu estava...
–Estava perdido, confesse. – Mandou.
–Não é verdade.
Marion riu e voltou sua atenção para a tigela.
Felps experimentou a sua. A comida cremosa tinha um sabor que lembrava várias ervas ao mesmo tempo, e por uns segundos ficou brincando consigo mesmo de tentar adivinhar todas elas.
O aroma enchia o coração de alegria e pensou que gostaria que todas as pessoas pudessem experimentar a botahonha de Siri. Talvez os darfs fossem menos violentos se o fizessem. A carne que engoliam era quase sempre arrancada à dentadas, com rispidez, e guinchava e tinha medo,sangrava e sentia dor, talvez estas sensações os contaminassem.
–Tentou me obrigar a comer partilha. – Reclamou timidamente.
–Já se olhou no espelho? – Foi a resposta de Marion.
Felps piscou.
Marion tornou a limpar os lábios na sua seda antes de completar:
–Um mestiço não é tão... Bom, não é como você. Reparou em Gorgoncor? Eles têm asas tortas, ou outras partes diferentes, e ficam com alguns sinais não muito bonitos de se ver... Você não. Nenhuma asa, nem nada que o diferencie dos humanos exceto essa cornos seus olhos. Sabe quem é assim? Os darfs. Eu achei que você podia ser uma mistura dos dois, sabe? E eu não queria um meio canibal passando tempo com o meu irmão.
–Achou que eu machucaria Ictar?
–Você é meio darf, não é?
Felps não respondeu àquilo.
–Eu falei com Lolá a respeito e ela concordou. Sabemos que assim que um darf experimenta a partilha, eles... Eles ficam alucinados, loucos por mais. Então você se revelaria um insano violento e Ictar teria de mandá-lo para a reserva mesmo que não quisesse.
–Eles me matariam lá.
–Antes você do que o meu irmão. – Deu de ombros – Mas no fim das contas parece que eu estava errado e você é só um mestiço bonito.
Um mestiço bonito. Já tinha ouvido aquela expressão antes e não gostava dela. Era como se não pudesse ser uma pessoa de verdade, mas tivesse sorte em se parecer com uma.
–Eu tive asas um dia e assim como tive asas, eu comi carne também. –Confessou. – É isso o que sou. Mas não quero ser todas as coisas que sou, eu acho. Prefiro ser só...Só eu.
Marion pousou a colher de madeira com cuidado, seu olhar estava muito sério quando perguntou:
– O que aconteceu com você quando comeu?
Tanto tempo se passara, que Felps achou que talvez pudesse narrar a coisa sem sentir o costumeiro nó na garganta. Então começou:
–Naquela época tentavam descobrir o que eu era e...Você sabe eles tinham que me mandar para algum lugar, então... Nem, me fizeram comer carne por um tempo, maseu fiquei muito doente...Tive presas e...Feridas na minha boca, minha língua quase se partiu na verdade e então acharam que tinham descoberto o que eu era. Então tiraram minhas asas de mim. E elas eram perfeitas, sabe? Não eram como você disse. Tortas nem...Bem, eram minhas. Minhas asas e eram... A guerra tinha acabado há pouco tempo, então ainda havia muito ódio entre os lados e eles acharam que...Seria mais fácil se todos pensassem que eu era só um darf.
Marion mordeu o lábio. Uma das mãos dele procurou a de Felps sobre a mesa e a tocou com gentileza.
– Eu sinto muito...
– Foi há muito tempo.
–Seus pais que fizeram isso com você?
– Oh, não, eu nunca os conheci. – Felps tentou sorrir –Mortos na guerra, eu acho. Alguém me deixou na vila e foi só.
Marion o encarou com arrependimento no olhar desbotado.
– Então foi criado em Vila Vermelha por humanos?
– Entre humanos. – Corrigiu-o – Eles me alimentavam e me deixam dormir nos estábulos com os seus animais. Vocês não são tão ruins quanto pensam, sabe?
Marion riu.
– Você não tem ideia do quanto está enganado, garoto. – Então ficou Sério.– Eu o assustei na floresta, e depois com a carne e você só... Eu sinto muito, garoto, muito mesmo.
Felps sorriu-lhe como pôde, depois recolheu a mão para separar um pedaço de pão e umedeceu-o no caldo.
– Vamoscomer antes que Gorgoncor venha ver se há algo errado com abotahonha. – Disse.
– Felps, escute...
–Não precisa. Não precisa mesmo.
Então Marion voltou sua atenção para o prato. E eles comeram e ouviram aflauta e estava quase anoitecendo quando o Dom decidiu que era horade voltar.
–Quer mesmo morar em Portão Branco? – Falou assim que Gorgoncor fechou aporta redonda ás costas deles.
–O que quer dizer? – Fez Felps prestando atenção no caminho, porque estava escuro e temia terminar de arruinar a seda nas poças largas que se formavam sobre as pedras mal niveladas do chão.
–Bem...Você poderia ficar por aqui até conseguir um trabalho se quiser...Aqui você pode ser uma pessoa livre de novo e então não pertenceria a ninguém.
–As pessoas ilegais são caçadas e enviadas para a reserva ou para o sul, não são?
–Sim.– Marion ofereceu-lhe o braço – Elas são, mas eu as protejo aqui. Todas elas. Eu as trago para a vila e elas podem tomar barcos e fugir, ou ficar aqui e trabalhar, como Gong. Eu jamais as entregaria para quem quer que fosse.
– Então elas são suas.
– Não, eu apenas...
–Poderia mandá-las para a reserva quando desejasse não é? Ou denunciá-las à Imperatriz?
– Sim, mas...
– Então pertencem a você.
– Eu não vejo dessa forma.
–Acho que isso me faz querer voltar para Portão Branco, se não se importar.
– Para pertencer ao seu Caçador?
– Eu não vejo dessa forma.
Marion estacou.
– Está apaixonado pelo Ictar ou só usurpando tesouros do idiota do meu irmão?
– Não fale assim.
–Ora, então responda.
Felps suspirou profundamente.
–Caçador foi a primeira pessoa que realmente me salvou, entende? Ele me faz sentir que tenho alguém, finalmente.
–E você sabe porquê ele é chamado assim? Sabe? – As sobrancelhas de Marion se inclinaram sobre seus olhos quando ele próprio se curvou para Felps, aborrecido – Meu irmão rastreia pessoas como você e as manda para as reservas onde são obrigadas a viver no gelo, diante dos olhos dos Belvereth. E ele é realmente bom nisso, sabe? Consegue farejar um mestiço à milhas de distância. Eu só posso proteger essas pessoas a muito custo e ainda assim... – Ele suspirou exasperado. – Eu perco muitos deles as vezes. Ouça, garoto, Ictar teria feito o mesmo com você se não fosse tão bonito. Ele teria te colocado num comboio e...
– Você me queimaria com um ferro!
– Você não sabe nada sobre Ictar. E também está errado sobre mim.
E antes que Felps pudesse responder qualquer coisa, Marion o beijou. E seu beijo raivoso era cheio de calor e fôlego que fervia, e ele não estava preocupado com suas sedas e suas rendas, mas empurrou Felps até a parede coberta de fuligem, no beco mergulhado na noite pressionando-o contra os tijolos.
–Pare!– Pediu Felps quando conseguiu fugir dos seus lábios por um momento, tremia, e quis gritar por socorro. O que era aquilo que ele estava fazendo? Durante as horas de conversa quase tinha se esquecido do quanto ele era louco, mas sim, Marion era louco! Só podia ser.
O Dom obrigou-o a subir a perna apertando-o na coxa sobre o vestido,enquanto sua outra mão retinha Felps pelo pescoço. Ele o fez aceitar seu beijo outra vez e o rapaz sentiu o rosto esquentar de vergonha, quando um gemido escapuliu dentre seus lábios.
–Você não quer que eu pare? – Marion, sorriu-lhe á um dedo de distância.
–Sim– Fez Felps, mas sequer convenceu a si mesmo enquanto o outro ria, escorregando uma mão por sua coxa e o procurando dessa vez sob o vestido.
–Quer mesmo que eu pare? – Perguntou Marion segurando-o numa mão. Apertou-o experimentando sua firmeza –Não parece...
–Eu não quero...
–Então não lute. –Mandou e o beijou na boca outra vez, o quadril fazendo pressão contra o de Felps –Dou minha palavra de que não vou machucá-lo muito.
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