Gaiola para Borboleta
E Marion aparecia quase sempre e o forçava a comer.
Em certa ocasião obrigara-o até mesmo a se lavar, assistindo-o com sua lâmina em riste, enquanto Siri lhe trazia mais água quente.
Aos poucos o Dom levou embora suas roupas de caçar e deu-lhe novas. Um vestido simples, de lã sem tingir, quase igual ao que Felps usava no dia em que ele o capturara. E roubou-lhe também a túnica de peles para dar-lhe outra, um casaco longo, feito com diferentes forros, quase idêntico ao que ele próprio usava, só que em tons de marrom e branco e por fim, lançou fora seus sapatos e não os substituiu.
–Você não precisa deles – Foi o que disse.
E após estas coisas, estava prestes á deixá-lo sozinho, no escuro, porque sempre partia levando o archote, quando Felps corajosamente pediu-lhe:
–Dom, Marion, me leve com o senhor esta noite?
Ao ouvi-lo o outro se voltou imediatamente. Sorria.
–Por que? – Disse – Para você fugir na primeira oportunidade que tiver?
Felps fez que não. Marion retrocedeu um passo.
– Eu sei que você escreveria uma mensagem para Ictar assim que eu o deixasse sozinho.
–Eu não quero mais ficar aqui. – Rebateu o rapaz e pelo menos aquilo era verdade – É solitário, escuro e eu tenho medo.
Marion se aproximou um pouco mais. Em pé, Felps passava um tanto da altura de seu peito, mas não tinha coragem de olhá-lo no rosto.
–E se eu finalmente concordasse em lhe dar um comboio? – Disse Marion de perto, ele segurou o rosto de Felps e o obrigou a encarar seus olhos iluminados pela chama do archote. Sob a luz do fogo eles pareciam vermelhos como lava. – O que você faria?
Uma armadilha, é claro, mas Felps sabia muito bem qual resposta deveria dar.
–Eu não poderia partir– Tremia – Não quando...Quando o senhor fez tudo isso pelo meu bem. Eu morreria...Eu morreria na estrada porque os homens me violariam e os darfs se alimentariam de mim.
Marion sorriu mais largo do que nunca.
–Então suponho que finalmente entendeu. Não é?
Felps fez que sim o outro se achegou mais.
–Você não correria na direção da morte assim que eu lhe permitisse sair, não é?
Felps abanou a cabeça fitando um dos botões perolados do casaco negro do Dom. Então Macnamara o beijou com sua odiosa pressa e seu cheiro de organização.
Felps pode sentir o calor do archote ás suas costas, quando o outro o apertou, obrigando-o a caminhar de costas até a cama que agora já tinha o formato exato de seu corpo sempre encolhido de medo.
Felps se sentou ali, vendo Marion apoiar a chama no suporte da parede próxima, para então desfazer os cuidadosos nós de suas calças.
Quis chorar, sentia-se tremer. Por que raios não tinha ouvido Ivela desde o início? Ela sempre lhe dissera, sempre avisara. Por que não a tinha ouvido?
Uma enorme vontade de chorar o fez apertar os lábios com toda força enquanto se despia do casaco, e mal tinha afastado o tecido quando Marion o segurou pelos ombros e o fez se deitar de bruços.
Ele não se importou de ter que levantar-lhe os panos e suas mãos mesmo enluvadas eram frias quando seu dedo fino como os dedos dos darfs, penetrou a nudez de Felps causando-lhe dor. Até a língua de Marion pareceu-lhe pontiaguda como uma lança, e sua lança moveu-se dolorida como uma faca.
Suportando o seu peso, Felps odiou-o mais ainda, abafando os soluços no travesseiro que cheirava à medo e lágrimas. Transformando cada um dos próprios gritos em gemidos fingidos, até que o outro finalmente rosnou, mordendo-o na orelha como um monstro.
Quando acabou, Marion se ergueu e tornou a atar calmamente os nós de suas calças dando atenção a cada um deles por tanto tempo que Felps não ousou se mover para ajeitar o vestido até que ele terminasse.
–Quer mesmo vir comigo?
– Sim, senhor. – Disse Felps com urgência limpando as lágrimas no casaco que tornava a vestir.
– Acha que eu sou um idiota? – Marion riu, então riu mais e mais ainda.
–Mas eu deixei o senhor...– Fez Felps apenas porque não havia nada mais para dizer.
–Talvez amanhã. Se fizer melhor do que fez hoje.
E o Dom retomou seu archote e Felps esperou que até ele partisse para poder gritar.
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